segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Se o Gim compra, a gente linka!

Para quem ainda não leu a fabulosa história de Gim Argello, que enricou magicamente em menos de 10 anos, é só acessar o link abaixo e conhecer o próximo doador de panetones do governo da capital.

reportagem da revista Isto É.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Livro bom x ruim

Ontem rolou um amigo oculto "da galera". É assim que eu e os meus amigos de 2 grau nos referimos uns aos outros e ao grupo. Esse amigo oculto já é tradição. Fazemos todos os anos no Natal e acho que já há uns 5 anos ou mais. A novidade desses últimos 2 anos é que eu entrei no mestrado e acabei abrindo mão dos presentes comuns e venho pedindo sempre livros na minha lista. Eu sempre gostei de ganhar livros de presente, mas poucas pessoas se arriscam a me dar um. Na minha família eu posso dizer que se não especificar que quero o livro "tal" ganho sempre uma roupa ou uma bijoteria de presente.

Eu já compreendi que no caso da minha família, como a maioria não gosta de ler, acha livro um presente demasiado sem graça. Tem ainda uma parcela dela que acha que como eu faço mestrado em Literatura, livro pra mim é trabalho e como a maior parte das pessoas está acostumada a trabalhar em algo que não gosta elas acham estranho a idéia de me dar trabalho de presente. Com os meus amigos é um pouco diferente. A maioria gosta de ler. Confesso que aqueles que não gostam me deixam um pouco sem opção, afinal, comecei a considerar dar roupas de presente algo muito pessoal. Mas para se dar um livro de presente é necessário conhecer um pouco o gosto literário da pessoa e aí está a dificuldade e a razão pela qual não ganho muitos livros de presente.

Quando as pessoas pensam em alguém que faz mestrado na área elas acham que essa pessoa só gosta de Literatura com L maiúsculo. E de fato não deve ser fácil escolher um livro que caiba nessa característica e seja de Literatura Brasileira que não seja Machado de Assis, pois esse todos sabem que eu odeio. Literatura mundial não ajuda meus amigos, pois só leio em português e francês. Posso achar que eles vão conseguir escolher algo nessas duas línguas, mas a dúvida que deve pairar neles é "qual autor ela pode gostar?". Afinal, sou uma pessoa esquizita. Não gosto do Saramago.

Penso então em outro problema para eles "Que tipo de coisa ela gosta?". Nem os famosos e nem os ditos "bons" cabem. Bom, acho que para o espanto do meu amigo oculto, 15 dos 20 livros que eu pedi, não se acha nas livrarias (nem eu imaginei que fosse tudo isso). Mas dentre eles tinha um considerado um best seller. Será que ele se chocou ao ver "As Crônicas de Nárnia" na minha lista? Acho que sim, pois ao me entregar o presente ele estava indisfarçavelmente espantado. Imagina, logo eu pedir um livro bobo para criança?

Não tenho preconceito quanto à literatura ou Literatura. Tudo depende da perspectiva que vc vai ler. Nesse aspecto eu concordo com o Compagnon quando diz que o próprio conceito de Literatura já é um juízo de valor e o que é considerado Literatura hoje pode ser bula de remédio ou filosofia amanhã. Se espera ler um cânone ou algo que queira pensar se tratar de Literatura universal, esqueça a maioria dos livros divertidos, das comédias e das coisas fáceis de ler. Mas se quer se distrair e se divertir qual o mau em ler um livro para crianças? Eu adoro contos fantásticos, como poderia abrir mão de conhecer um livro inteiro de crônicas desse tipo? Ainda não sei se são fantásticas, mas qual a melhor forma de descobrir? Tem horas que a gente cansa de finais infelizes, pessimismos pós-modernos e crítica social.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Férias!

Hoje e apenas hoje posso dizer que entrei de férias. Olheiras, dores de estômago, enxaquecas e tendinites a parte, estou de férias. Nada de viagens ou planos mirabolantes, só descanso. Como esperei por esse dia. Fico um pouco extressada ainda por não ter acabado toda a adrenalina que tive que usar para aguentar esse semestre, mas estou quase começando a relaxar.

Tenho certeza que estaria entendiada em duas semanas se não fosse um simples fato: não vou ficar à toa. Além do curso de inglês que vou fazer depois de passar uns 10 anos fugindo dele tenho ainda a minha gigante lista de livros. Se depender de mim ela vai cair pela metade. huahuahua! Estou doida pra ler pelo menos uns 3 que estão novinhos na estante e me deixam com aquela sensação de filme de suspense pausado na metade. Ai ai. Ainda tenho trabalho pra fazer, mas esse é igual ao hobby das férias, ler. Que beleza! Já vi que o bloguim vai ficar cheio... Quem sabe não faço umas resenhas para postar por aqui? Nada melhor que ler um livro indicado por alguém e ter a expectativa correspondida.

Resolução de final de ano? Virar uma traça (de livros)!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Minha resposta

Eu ia apenas responder nos comentários, mas meu texto ficou tão grande que tive que fazer um post.

O que é a decepção? Bom, simplesmente quando vc espera algo de alguém e não é correspondido. Pode ser tbm quando esse algo é muito diferente (na maioria das vezes pior) do que aquilo que esperava. Eu tenho muitos amigos de direita e essa não é minha posição política. nãou vou deixar de ser amiga de ninguém por causa disso, mas confesso sim que me decepciono quando tento expor o meu ponto de vista e sou rechaçada. Mas eu entendo bem o que é ser minoria. Ou quando tento defender a PCL 122 e ouço e outra amiga que é contra a lei pq acha que o homossexualismo é contra a religião dela e ela quer continuar proferindo a sua fé. Mas ressalta, estranhamente, não ter nada contra homossexuais.

Não penero os meus amigos por discussões ideológicas. Como vc pode perceber, não foi só a discussão política com vcs que me fez lembrar da frase da minha amiga. Fico um pouco decepcionada com algumas maneiras de pensar sim, mas vou respeitar sua opnião política/social/ideológica desde que a minha seja respeitada. Talvez a minha decepção seja do mesmo viés da sua, esperava uma postura diferente de vc, pelo menos.

Eu devolvo a vc a pergunta cadê a discussão? Praticamente tudo que eu disse teve como resposta uma crítica tbm obtusa. Desqualificar o interlocutor para ganhar na argumentação é uma estratégia que eu considero muito baixa. Eu tenho o direito de discordar. Tá aí a discussão. Eu não estou dizendo que vc está errado. Mas vc não me convenceu, bem como eu não te convenci, certo? Não adianta enumerar os feitos do Arruda para dizer que ele foi um bom governardor pq eu não concordo.

Como vc diz que eu não tenho noção de onde eu vivo? Eu ouço os fogos anunciando a chegada do crack na Asa Norte o tempo todo. Eu ando nos ônibus encapados que vcs veem por fora e acham que são novos pq tem a merdinha do adesivo do lado de fora falando que ele é novo. E mesmo quando o ônibus é novo é conduzido por um psicopata que acelera nos sinais vermelhos e disputa com o cobrador quantos passageiros ele consegue derrubar. Mas é claro que isso não tem nada a ver com a administração do Arruda. Eu sou tratada como o lixo e nem sou mais pobre. Vc acha que não tem difenrença entre as classes sociais e a maneira de pensar? E a visão política? E a experiência de vida? Vc acha q uma pessoa q sofreu com a voiolência doméstica reage a ela da mesma maneira que uma pessoa que não sofreu com ela? Nossas experiências de vida são muito diferentes, mas ao contrário de vc eu não subestimo a sua, mas vc não conhece a minha. Quando digo que passei fome e que dificuldade na vida muita gente não acredita, mas por que eu mentiria por conta disso? Eu pareço alguém que quer a piedade alheia ou levar vantagem? Realmente eu entendo vc considerar o Arruda um bom governador, mas nem por isso tenho que concordar. Vc se pergunta pq eu o considero um mau governador? Talvez tenha que ampliar mais o termo, considero-o um mau político desde o episódio da violação do painel do Senado. Ele é desonesto. Pode ser um bom administrador, mas ainda duvido pois pra mim bons administradores não desviam dinheiro da empresa pois correm o risco de leva-la a falência.

Eu baseio minhas críticas nas minhas experiências. Considero mais concreto até pq os números não servem de muita coisa. Vc acha, por exemplo que o Aécio melhorou a segurança em Minas? Bom, eu não li os maravilhosos DADOS, mas um amigo meu que é policial lá me contou que eles colocam metas de X relatórios. Não quer dizer que os crimes foram resolvidos ou investigados. Apenas foram relatados. É assim que eu formulo minhas opiniões aqui em Brasília. E comparando os feitos da administração pública, o governo federal tem sido mais eficiente na minha vida do que o local. Pelo menos ele contratou professores universitários e aumentou o valor das bolsas de pós. Posso estar errada, não discordo, mas ainda não concordo com vc e olha que eu ponderei seus argumentos.

Entendo tbm a enorme diferença entre a teoria e a prática. Mas o que eu entendo e que a maioria das pessoas não entende, em relação as teorias sociais, é que nós não conseguimos ter dados concretos ou provar algo pois não somos ciência. Não adianta submeter nosso conhecimento a essa dinâmica, não funciona. Por isso muita gente no fundo acha que não servimos para nada. Bom, mas os seres humanos se organizam em sociedade e isso tem um porquê. Estudar como essas sociedades são organizadas e as falhas nelas não serve apenas para produzir mais teoria. Todos nós queremos mudar a sociedade e eu não me iludo, sei que isso é muito difícil. Por isso até muitos de nós ficam apenas na teoria.

Porque eu defendi a manifestação? Bom, porque eu gostaria de ter estado lá. Eu acho que me sentiria mais cidadã. Acho que cidadania não é só votar e pagar impostos. Nós todos, e eu me incluo nisso, adoramos falar que tudo no Brasil acaba em pizza, mas muito poucas vezes nos manifestamos. Conseguimos juntar 3000 pessoas numa corrida da cerveja ou num carnaval fora de época, mas não conseguimos juntar isso numa manifestação pelo decoro na política. Porque eu não estava lá? Covardia? Talvez... Infelizmente no fundo no fundo eu acho que não adianta. Acho que já desisti da política. Fico na Literatura. Talvez eu seja mais uma alienada, quem sabe?

Decepção...

Dos políticos a gente espera o que vê de certo modo, mas e dos amigos? Eu passo a concordar cada vez mais com uma amiga que me dizia "Tenho cada vez menos amigos". No início eu achei graça da afirmação, disse a ela que estava exagerando. Pensei até que pela diferença de idade (uns 3 anos) ela deveria estar passando por uma fase que eu já passei e que normalmente precedem fins de relacionamentos duradouros. Mas infelizmente passo a achar que ela tinha mais razão do que eu imaginava.

Eu entendo que as pessoas acabam levando vidas diferentes, mas existem diferenças que vão parecendo cada vez mais abissais. Eu não quero ser uma pessoa intransigente, mas confesso que sempre tive uma tendencia a isso que policio com muito cuidado. Mas eu já passei por tanta coisa na vida que é muito difícil não ficar no mínimo um pouco amarga. Atualmente já me vejo impaciente com gente limitada ou preguiçosa.

Bom, eu estou estudando coisas que acredito realmente servirem para compreensão da sociedade que me cerca. Certo que pelo viés principal da teoria feminista, mas não é o único. O que indigna meus amigos, e me entristece, é que minha forma de ver a política é pelo cunho social e da teoria do discurso. Eu sei que muito gente não sabe o que é teoria do discurso. Mas se recusar a olhar outro ponto de vista é para mim irritante. O ponto de vista geral tá aí. Todo mundo sabe. Ele não precisa de defesa pois domina. É o status quo. Eu posso estar exagerando ao dizer que para mim vivemos numa ditadura velada? Posso, mas que o sistema político brasileiro é falho é. Dizer que nenhum sistema político é perfeito não vem ao caso, é chover no molhado. Eu acho que temos que buscar a justiça e a perfeição. Se defender se comparando ao resto do mundo como "Na Itália tem corrupção, na França tbm..." não resolve pois é aqui que vivemos. E não se iludam, quando não vivemos aqui, carregamos tudo isso para onde vamos.

Não entendo porque defender alguém que é falível (os políticos). Se nós falharmos, mesmo se desculpando por sermos humanos, acredito que a justiça nos punirá. Eu gostaria apenas que os políticos não abusassem do poder e da máquina pública como está acontecendo. Eu vejo sim muitas semelhanças entre o regime militar e a nossa atual "democracia". A principal diferença é que os governantes do regime eram militares, mas o poder continua nas mãos da elite e os privilegiados ainda são os mesmos. A diferença ainda que atualmente cedemos uma parte do bolo para a necessitada esquerda petista que não participava do esquema.

Mas é claro que existem questões muito mais pertinentes, por exemplo, ao fazer uma manifestação, meus caros, certifiquem-se de que preencheram todas as guias de permissão da polícia, ok? Façam a manifestação em lugar devidamente afastado, que não cause transtorno e de preferência no domingo para respeitar o final de semana dos nossos caros políticos. Ah, e não só dele, da digníssima população de pessoas que não liga para política mas não se acha alienada porque lê o Mainardi. Ah, outra coisa:
- Todos os manifestantes devem ter o mesmo objetivo, a mesma consciência política e o mesmo comportamento. Desvios não são permitidos! Após a dispersão dos manifestantes para a liberação da via para os tbm alienados não-manifestantes, estes não devem considerar abusiva a repressão da polícia. Afinal, eles estão apenas treinando para ocasiões mais importantes, como a Copa.

E em conclusão a minha triste constatação: em terra de cego quem tem um olho é o cego.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Democracia?



Poucas pessoas? 1500 manifestantes ou mais não significa nada?





Prestem atenção na diferença entre a quantidade de policiais e de manifestantes. E a velocidade que os cavalos avançam em cima da população.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

diferente?

...
Enquanto 5000 jovens atenienses protestam por uma morte ocorrida há mais de um ano apenas 150 jovens brasilienses protestam contra o esquema de corrupção recente.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009



http://vidberg.blog.lemonde.fr/2009/11/27/journee-speciale-blogueurs-sur-lemondefr/

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Je regrette...

Mas acho que vou ficar um bom tempo sem postar algo legal ou até mesmo algo no meu bloguim. Estou com uma tendinite (eu acho que é) que tem deixado minha mão direita e meu antebraço duros e doloridos. Como ainda não tive tempo (é incrivelmente é verdade) para ir ao médico e tenho muito trabalho para fazer tenho que escolher entre o blog ou fechar as disciplinas. Sorry, vcs perderam (eu mais ainda). Mas é temporário. Uma hora eu volto. Mas vou continuar lendo todos os blogs coados que sempre leio.

Bjocas!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A Bíblia é um livro de fábulas

Acreditar piamente na imutabilidade de um livro que desde o princípio vem sendo acrescido ou desprovido de pedaços ao bel prazer dos líderes religiosos é certamente paradoxal.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Brasil assombrado pelos demônios

A PLC 122, projeto que prevê a punição para crimes de descriminação contra diversos grupos, está dando o que falar. No site do centro de mídia independente existe até um artigo tratando da posição dos evangélicos fundamentalistas contra o texto. A discussão é tão acirrada que ao procurar o texto da lei na internet tive uma certa dificuldade em encontrá-lo pois havia uma enxurrada de sites fundamentalistas pregando que a lei não pode de jeito nenhum ser aprovada.

A questão principal gira em torno de dois artigos, o 8 e o 20 (não tenho os símbolos legais no teclado). O primeiro (8) prevê reclusão de 2 a 5 anos para aquele que proibir a livre manifestação de afetividade do homossexual quando esta é permitida aos demais cidadãos, ou seja, se aos heterossexuais é permitido andar de mãos dadas (e/ou etc), aos outros também será. Se não, não. O segundo (20)"Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero: Parágrafo 5º: o disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de *ordem moral, ética, filosófica ou psicológica*".

Eu não consigo ver nada demais na lei. Os evangélicos estão atacados talvez por não poderem mais incitar o ódio ou a doença homossexual. Seria o fim da intolerância entre eles? Claro que não. A lei apenas protege o homossexual, mas todos sabemos que os evangélicos continuarão condenar a prática homossexual de outras formas. Todos sabemos que apenas a lei não é suficiente para mudar a sociedade, mas a recusa em aprovar a lei por 49% da sociedade é realmente a constatação da cegueira e da intransigência desses grupos, uma volta à Idade Média. "Bruxas e homossexuais na fogueira!".

Inclusive eu alerto que à lei foram sugeridas modificações pelos grupos radicais evangélicos que alteram justamente esses dois artigos sobrando aqueles que defendem a manifestação religiosa (além da proíbição da discriminação de cor, gênero, etnia...). Fica claro que eles usam da força para se beneficiarem prejudicando assim os homossexuais. Pois se sua discriminação não for mais proíbida nas formas descritas no artigo 20 a lei não tem razão de ser.

As justificativas desses grupos revelam que no fundo eles tem mais medo de perderem o direito de serem intolerantes e preconceituosos do que realmente o "fim da liberdade de expressão". Eu aconselho a todos que leiam o texto da lei e vejam realmente se existe algo preconceituoso nela. Acho um absurdo e um crime essa resistência. É um passo para trás. Como eles pode querer manter algo na vida real que conseguiu ser descrito na lei com o nome de "prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica"? Quer dizer que em nome da continuidade de uma prática dessas esses cidadãos conseguem alegar que a aprovação de uma lei dessas seria uma "mordaça gay" ou uma "ditadura gay" onde eles não teriam direitos?! E quantos direitos os grupos LGTB tem hoje?

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um brinde:

A Darwin e Galileu! Cá entre nós, quero brindar ao Dawkins!
Um brinde ao meu direito de ser atéia!
E todas as descobertas científicas dos ateus hereges!
Viva a nós!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Conselhos, advertências ou pragas?

"Se conselho fosse bom ninguém dava, vendia". Quem nunca ouviu essa frase ou nunca a repetiu que dê o primeiro conselho. Eu confesso que sou uma pessoa que gosta de dar conselhos. Talvez tenha alguma relação com o meu jeito de observar e compreender as coisas. Muitas vezes isso me atrapalha, pois acabo falando exatamente aquilo que a pessoa não quer ouvir, sabe, mas não quer ouvir. Mas eu juro que me policio. Tento esperar algum tipo de pedido ou uma brecha. Afinal, quem já leu pelo menos a introdução de qualquer livro de auto-ajuda sabe que "só se ajuda quem quer ser ajudado".

Eu entendo muito bem o sentimento que move aqueles que resolvem aconselhar. Mas não é só de boa vontade que recebemos conselhos. Existem aqueles mal intencionados mesmo. Alguns são movidos por inveja e esses são os piores. Por exemplo, quando comprei minha moto ouvia muitos conselhos. Alguns eu até achava bonitinhos e bem intencionados. Eram mulheres mais velhas que me aconselhavam a ter cuidado porque tinham muito medo que seus filhos andassem de moto e não queriam que acontecesse nada comigo. Mas outros eu simplesmente tinha vontade de responder "Você não tem vergonha de falar isso pra mim?". Era gente que ao me aconselhar praticamente estava dizendo "Você vai morrer nessa moto, eu odeio motoqueiros". Tinha ainda os inoscentes que falavam "Porque você não compra um carro?". Claro! Porque eu não pensei nisso antes? A minha moto custou 5 mil, um carro fubazento custa uns 15 e ainda tem que pagar seguro, gasolina e ipva. É realmente pra mim é uma questão de escolha. As pessoas simplesmente não entendiam que pela quantidade de trabalho que eu tinha não podia depender de ônibus e pelo apoio familiar e financeiro não podia comprar um carro.

Mas existem conselhos que são verdadeiras alfinetadas. Desde que casei ganhei uns quilinhos a mais que tento perder desde então. Mas antigamente só falava, hoje em dia resolvi malhar e começar uma dieta com o nutricionista também porque estou me alimentando mal e o meu sedentarismo começou a atrapalhar bastante a minha vida. Bom, ao comentar isso com uma turma mais "chegada", uma das alunas fez o seguinte comentário "Você não está grávida não?". Detalhe, tem um ano que ganhei esses quilinhos, acho q o bebê já teria nascido, não? Mas para não ser mal educada respondi que tomava anticoncepcional há mais de 8 anos e que estava com minha menstruação regular (afinal, era realmente uma turma bem chegada de mais de 4 anos). Não satisfeita com a minha resposta a aluna continua: "A minha irmã,quando tava grávida só descobriu com 5 meses porque estava menstruando normalmente". Aí eu não aguentei, afinal ela queria me engravidar não sei porquê. Respondi "Não, eu não estou grávida, estou gorda." Incrivelmente nessa hora eu vi um leve sorriso malicioso no canto da boca da aluna. Eu entendi que ela queria me ver irritada e um pouco perturbada.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

E eu com isso?...

Acho que muitos dos meus leitores (imaginários, ideais ou reais) sabem que sou professora. Assumi recentemente um posto na universidade, provisóprio, ou seja, substituto. Mas perante aos alunos temos o mesmo status de um professor qualquer. Acredito então, que passo pelos mesmos problemas de meus colegas mais experiêntes.

Sei que esse assunto é recorrente no meu blog, mas é que eu ando descobrindo muito sobre o bicho-humano no dia a dia do meu métier. Ontem, por exemplo, fui pega de surpresa por uma aluna que talvez tenha se esquecido de como se portar em sala de aula ou talvez tenha se esquecido de que estava na universidade e não na terceira série. Faço essa comparação porque acho que é a que melhor se encaixa no fato que vou relatar em breve. A professora da terceira série não é apenas a professora, é a "tia". Aquela que você gosta mesmo que não goste muito de estudar. A quem quer presentear no dia dos professores e com quem tem até uma relação semelhante a que se tem com uma tia querida (ou odiada, em alguns casos). Mas o importante é que ela, a "tia", é com certeza, uma pessoa importante na sua vida.

Onde quero chegar? Bom, eu realmente não sabia o que fazer com uma aluna de quase dois metros de altura, parecendo ser bem mais velha do que eu, toda dona de si, que chega para mim no início da aula aos prantos e começa a me contar os dramas da vida dela. Posso soar até um pouco seca e cruel, mas o que eu deveria fazer com a criatura? A situação era a seguinte: Ela estava de atestado pois sofreu um acidente de carro sério. Eu aliviei a barra dela e disse para que em entregasse os exercícios por e-mail quando pudesse e converssasse comigo a respeito da prova, se estaria ou não apta a fazê-la e etc. Bom, eu acho que fui bastante razoável e, na ocasião, ela me pareceu bastante feliz com a sugestão. Nunca mais apareceu na aula. Pensei que estivesse ainda impossibilitada. No dia do "incidente" eu ia aplicar a famigerada prova na turma dela.

Gostaria de fazer um parênteses: eu sou humana e tenho problemas. Isso quer dizer que eu não estava num bom dia. Além disso, a proximidade do meu aniversário (odeio o meu aniversãrio). Eu ainda estou sem saber se vou continuar no posto ano que vem ou não e isso me deixa tensa, afinal, perco um tempo que não tenho com essas aulas. Para melhorar, tenho dois artigos atrasados para entregar e nenhum tempo para começar a escrevê-los (tem muitas coisas a serem lidas). E nesse dia chovia muito quando saí de casa e eu não tenho carro nem guarda-chuva. Quando tudo se resolveu e eu cheguei no trabalho (imagine o meu bom humor?) essa moça começa a chorar na minha frente. Eu não sabia o que fazer, então disse: "Tudo bem, vc pode fazer a prova depois, não precisa se estressar". Mas ela parecia não me escutar. Ficou mais de 20 minutos chorando na minha frente. Eu nem me importaria se estivesse num dia qualquer, mas eu estava uma pilha e não queria conversar com ninguém. O pior pra mim foi descobrir que o drama todo era porque os pais da criatura estavam se separando depois de mais de vinte anos de casamento e bibibi e bobobó.

Aí meu sangue subiu à cabeça e uma vontade louca de falar "E eu com isso?" me dominou e eu tentei muito fazer isso transparecer no meu olhar, mas não consegui. (essa é a parte que eu pareço uma escrota). Mas vou me justificar: Eu entendo que a separação dos pais é sempre traumática mesmo quando tranquila. É quase um choque de realidade no "eles foram felizes para sempre", mas espera-se que a situação seja mais difícil para pessoas mais novas. Eu comecei então a ser prática, já que a moça me parecia descontrala. Perguntei se queria tomar uma água, se queria sair um pouco da sala para arejar a cabeça e etc. Mas NADA surtia efeito. Eu entendi então que ela estava atrás da figura da tia. Queria um colinho pra chorar, alguém que dissesse para ela "coitadinha, como sofre!".

Só que ela escolheu a tia errada no dia errado. Eu sempre achei ridículo gente que supervaloriza o sofrimento. Eu gosto de gente que tenta ser forte (não precisa conseguir). Não gosto de pessoas que procurem a piedade alheia. Se ela me pedisse qualquer coisa apenas dizendo, com o mesmo olhar choroso que estava, que tinha problemas familiares sérios eu acataria na hora. Mas ela não me disse nada. No final acabou dizendo que queria ficar fora de casa pq o clima lá tava ruim. Mas pq então ela foi para a sala de aula? Para que atrapalhar a da turma toda? Se queria ficar lá, que me dissesse então "Professora, eu queria ficar na sala lendo os textos, mas não tenho condição de fazer a prova, estou passando por problemas". Isso eu também ia achar ridículo, mas não me irritaria tanto quanto o pranto despropositado da moça. Para melhorar a situação ela não me deixava sair daquela conversa. A sala cheia em dia de prova e ela chorando e querendo desabafar. Fazer essa criatura decidir se sentar e perceber que a vida continua, mesmo com os pais se separando, foi uma dificuldade. E para melhorar, quando entreguei as provas, descobri que faltavam dois terços das cópias que havia mandado fazer para as turmas. Eu não pude deixar de pensar que se essa aluna não me tivesse retido por tanto tempo eu teria conseguido resolver o problema a tempo.

Onde eu quero chegar? Eu não sei porque cargas d'água essa beldade escolheu logo a mim para fazer esse desabafo, mas não é a primeira. As vezes eu tenho vontade de dizer "Eu não estou sendo legal, estou apenas fazendo a minha obrigação". Outras tantas eu tenho vontade de dizer "Aula com terapia é mais caro!". J'en ai marre! Eu não sei lidar direito nem com os meus problemas, tento fugir deles ao máximo e depois tenho que lidar com alunos que querem que eu "compartilhe" dos deles? Tem base? Só para ficar ainda mais claro (se é que alguém conseguiu chegar até aqui sem morrer de tédio), a separação dos meus pais foi um inferno. Mas eu chorava com os meus amigos, com os meus irmãos, com a psicóloga (anos depois quando tive grana pra pagar). Eles chegaram ao ponto de se processarem na justiça com direito a distância mínima que um podia ficar do outro e etc. O meu pai morreu e eu ainda ouço todo o rancor da minha mãe por ele escorrendo da boca dela quase todas as vezes que falo com ela. Agora me pergunta se na época, eu, que estava fazendo cursinho, pedi para o cara do cespe não me aplicar a prova e ficar me ouvindo chorar? No fundo eu até queria ser sem noção como essa moça e achar que todo mundo pode sentir pena de mim, mas infelizmente eu ganhei algo que ela, pelo visto não ganhou - experiência de vida. E um pouco de café amargo também, se é que me entendem.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os intolerantes se cercam de mentiras

Chega a ser angustiante a intolerância. Não aceitar e aceitar a mentira. Não controlamos nem um décimo dos nossos impulsos. Como podemos então esperar que outros se sujeitem a nossa vontade? Estupidez?

A intolerância é cega. Viver cercado de intolerância é um denso e escuro poço. Mesmo quando não intolerante a intolerância é do tipo que contamina os felizes. A intolerância aprisiona o amor, a tranquilidade e a paz. É impossível ser pleno na presença de um intolerante. Sobretudo quando se é uma alma com necessidade de expandir-se, expressar-se. A angústia cresce, a ansiedade se espalha e ao ver a cegueira enorme do intolerante tem-se muitas vezes a certeza de que uma barreira intransponível existe entre dois seres.

O intolerante nunca o enxergará. Ele somente vê seu próprio reflexo mais ou menos nítido em você. Quanto mais distante da sua imagem mais imperfeito aos seus olhos o outro se torna. Não adianta gritar. Ele gritará mais alto pois a intolerância amplia a voz tal um megafone transbordante de falsas verdades nervosas de tanto mentirem a mesma verdade. A voz da intolerância é muito mais forte que qualquer razão.

Como poderia o intolerante escutar o eco fraco e rouco daquele que inutilmente tenta alertá-lo? Nem a morte cura tal doença. Pior que um câncer ela contamina todos os órgãos do corpo começando pelo cérebro depois olhos e coração. Nem a apática resignação alheia é capaz de alertá-lo e nem para seus mortos o intolerante reserva a paz própria do findar. O intolerante é um enorme buraco negro do qual não se pode escapar. Mesmo fugindo sabe-se que ele se espandirá até alcançá-lo não importa onde pois seu ser é conhecido. Escarpar-se dele seria possível se o ignorasse, mas como não saber o intolerante sem sê-lo?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A contadora de histórias

Outro dia desses estava conversando com o pessoal do mestrado e umas colegas que já são avós estavam se indagando como distrair a atenção da criançada. Eu então comentei que na minha diferença de sete anos para a minha irmã aprendi muita coisa. Embora eu odeie dar aula pra criançada não tenho nada contra entreter a molecada por um tempo. Contei a elas algumas histórias de como mantinha a atenção da minha irmãzinha e me livrava das perguntas difíceis. O meu problema era sempre essa. Na fase dos porquês a minha irmã devia ter uns 4 ou 5 anos e eu 11 ou 12. Algumas perguntas eram realmente difícieis pra mim. Apesar de ser bem esperta eu não sabia se devia "preservar" a ingenuidade da minha maninha ou dizer logo "O papai noel não existe". Então inventava uma história qualquer que segurasse a onda até ela não acreditar mais e resolver perguntar para alguém mais "sabido".

Duas perguntas das quais me lembro as respostas que dei até hoje me surpreendem. Uma vez minha irmã me perguntou "O quê é uma camisinha?". Eu sabia, mas ela nem sabia o que era sexo, o quê eu ia dizer? Morria de medo de levar uma bronca por ter ensinado "besteiras" pra minha irmazinha. Então respondi "Quando chove é muito comum que as pessoas fiquem gripadas. Para evitar a gripe o governo invetou uma camisa muito grande, maior que uma capa de chuva, toda de plástico que evita a gripe. Para ficar engraçado, deu o nome de camisinha." Ela engoliu por um bom tempo. Outra estória de que me lembro bem foi a resposta da pergunta "De onde vem as estrelas?". Essa, na éporca, eu nem sabia responder direito. Por onde começar a explicar? "A vida, o universo e tudo mais?". Inventei a seguinte resposta: "A Terra é na verdade um grande globo terrestre que fica na biblioteca de deus e quando ele cansa de nos observar ou quer que a gente durma coloca um pano preto encima do globo. Mas como a Terra é muito velha e o pano também, ele ficou com alguns buracos e as estrelas não são nada além da luz da biblioteca que entra pelos buracos no pano". Essa ela adorou. Eu nem acreditava em deus, nem no papai noel e muito menos no coelhinho da páscoa, mas deixei o papel de destruidor de fantasias para o meu irmão mais velho.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eu não aguento!!!

É muito tempo sem reclamar. Uma vez escutei de uma ex-chefe que a coisa mais engraça em mim era minha indignação crônica. Eu não entendi. Ela disse que eu falava as coisas mais engraçadas em tom sério e não dava pra me levar à sério nessas ocasiões. O que mais me indignou foi porque estava falando sério. Me senti o Chaplin. Será que o tom de minha reclamação a torna ridícula?
Mas eu não vou reclamar. Não adianta...
Ai meu deus, estou me coçando...

Lá vai:
Tem uma mulher no meu grupo de leitura que quer por que quer fazer mestrado em literatura. Até aí nada demais. O problema são os comentários da criatura. Ela não entende chongas de teoria literária e leu os livros como uma leiga. As vezes é até bom ter uma pessoa com uma visão completamente diferente da nossa. Um olhar virgem e inocente.

Até aí nada demais, mas o grupo tem a proposta de trabalhar a leitura de escritores não canônicos (ou seja, não consagrados pela crítica especializada). Daí o que a criatura faz? Compara todos os livros com os de algum escritor canônico querendo depreciar o escritor marginal. Eu não aguento isso! Pior ainda, o suburbano pra ela é um lixo, mas Sérgio Santanna é o máximo! O pior é que a criatura nem entende a chacota que o Sérgio faz com tudo isso. O cara praticamente revela quem é o bandido do autor "profissional" para o leitor e a menina só enxerga o texto. O pior é ela me comparar porcamente o Autran Dourado com o Graciliano Ramos. Comparações podem ser feitas, mas dizer que um é melhor que o outro sem reconhecer o caráter simplesmente valorativo do comentário (porque a garota não consegue explicar o motivo e sim apenas porque ela gosta) pra mim é o fim da picada. O pior é que eu só descobri depois que o grupo tinha sido aberto para pessoas de outros cursos. Eu não me incomodo com leigos, mas parece que a menina não entendeu a proposta. Nós não estamos ali para dizer que os marginais são bons ou ruins e sim porque eles estão de fora. Bom ou rium é coisa de crítico excludente e preconceituoso.

A criatura já olha o livro atravessado quando lê que o cara não tem estudo. Eu nem acho q ela esteja errada. Eu apenas acho que ela não deveria estar nesse grupo. Talvez algum da nova estética ou algo assim. O que mais me agonia é a literatura contemporânea sempre foi algo difícil de ler, mas quando chega um que fala difícil e não tem berço ou que usa palavras fáceis mas tem uma mensagem difícil e tbm não tem berço o cara é um bosta. Mas basta ser paulista ou carioca, morar no Rio ou em São Paulo ser classe média alta ou rico, branco quarentão e politicamente incorreto pra fazer sucesso. Pra concordar com isso não precisa fazer mestrado é só ler suplemento literário de jornal.

Ah! Chega! Vou terminar o meu livro e esperar pelas pérolas. Afinal, é sempre bom ter material de reserva pro blog.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Olha a poesia!

Tem de sal, tem de doce.
Tem com queijo e tem que remoce.
Tenho poesia fresquinha,
com crítica social ou alegria,
de humor e redondilha.

O soneto é mais barato,
pois já num é mais muito usado
Mas a rima rica é mais caro.
Rimar verbo com subistantivo e ainda fazer sentido
valoriza a mercadoria
e ainda é tudo artezanal

Não, seu moço!
Fazer duas por um real não posso
Se outro fizer compre lá!
Eu aposto esses versos brancos
que poesia não se encontra fácil
Em qualquer lugar
Ou num blog ralé,
um tal de café...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ELA

Ela era estudante, 24 anos. Ambiciosa, mas honesta. Sarcástica e divertida tinha muitos amigos. Não gostava da mãe

Sempre lhe vinha uma música na cabeça para cada momento importante de sua vida.

Achava que nasceu ouvindo Pink Floyd – Wish you were here.

Gosta de ler o jornal. Caderno de moda, economia e cultura.

Achava que um dia podia montar uma empresa que trabalhasse com as três coisas.

Queria fazer uma tatuagem do gato Félix (sempre achou que ele era o gato Feliz), mas tem medo de desmaiar. Desmaiou quando viu sua melhor amiga fazendo uma tatuagem.

A sua melhor amiga também desmaiou.

Tinha o mesmo tanto de orgulho quanto vergonha do pai.

Gostava da mãe quando ela via TV.

A mãe sempre via TV. Sempre via TV quando ela tinha que conversar com a mãe. A mãe não queria conversar quando via TV. Ela não conversava com a mãe.

A mãe não ficava sabendo das coisas porque estava sempre vendo TV.

A mãe ficava brava com ela. A mãe não "wish ela were here"

Ela percebeu que não gostava muito da mãe.

Era recíproco.

Ela era bonita, mas se achava feia.

A mãe falava muito rápido. Queria respostas rápidas. Ela era tranqüila, falava devagar. Ela irritava a mãe. A mãe dizia que era de propósito.

Tinha uma irmã mais velha.

Achava a irmã mais velha uma vadia, mas gostava dela.

A irmã pegou todos os amigos dela e uma amiga também. A amiga elogiou a irmã. A irmã era vaidosa.

Elas saiam juntas. Ela não gostava muito dos amigos da irmã, então falava pouco com eles.

Eles a achavam metida.

A irmã tinha tudo.

A mãe a achava chata.

O pai gostava dela, mas era o mais fraco.

A mãe tinha ciúmes dela.

Ela não entendia muito bem isso.

A mãe era forte, tinha olho doido. O pai tinha olho doido também, mas não era forte.

Ela não gostava de salão de beleza nem de fazer a unhas. A mãe e a irmã a arrastavam. Era para ela ficar menos feia. Ela queria usar o dinheiro para sair, para ir ao cinema, ao teatro, tomar sorvete, comprar livro... Não podia, TINHA que fazer as unhas, era uma menina relaxada.

Tinha que fazer regime, estava gorda. Só a mãe e a irmã achavam isso. A irmã estava doente, anoréxica. A mãe achava lindo. A irmã parecia com a mãe.

Queria visitar o avô (pai do pai). Não podia, a mãe não gostava dele.

O avô gostava dela.

Ela não via muito os parentes. A mãe dizia que eram uns metidos. O pai não se importava. Os parentes não concordavam com a mãe.

Ela tinha vergonha dos pais. Inventava histórias felizes com eles.

Ela morava num bairro chique, mas os pais estavam falidos.

Ela passou fome.

Ela foi trabalhar para cursar a faculdade e comer.

Os pais não entendiam.

Ela trabalhava muito. Os pais achavam estranho. Brigavam com ela quando chegava tarde do trabalho. Ela não entendia.
Os pais não gostavam de trabalhar.

Ela era inteligente e sagaz, mas tinha medo da mãe.

A mãe acabou com 4 paixões da vida dela – o pai, o segundo e o terceiro namorado e o melhor amigo. A mãe achava que mulheres não podiam ter amigos homens.

O pai matou e ingenuidade dela num só golpe, disse: Sua mãe é louca e eu sou um merda, fumo maconha para esquecer quem sou e que sou fraco.

A irmã mais velha se desequilibrou e ficou balançando de um lado para o outro.

A irmã mais nova era apagada. Ficou parada e nunca saiu do lugar.

Ela tentou acordar a todos. Levou um tapa na cara e uma mala nas costas.

Foi embora, achou que ficou livre mais teve que voltar.

Ela não podia fazer isso com a mãe. A mãe disse que ela devia se desculpar. A mãe disse que ela era igual ao pai

O pai foi embora antes dela.

Ela não pediu desculpas. A mãe ficou magoada. A irmã mais velha se desculpou por ela.

Ela queria morar com o pai. O pai não deixou, tinha uma amante.

Uma amante...

Ela ficou sem saber o que fazer.

A mãe a culpou pelo pai ter uma amante.

Ela não entendeu.

A mãe ficou louca. Cuspiu em todos – fogo e dor. A mãe tinha má fé.

Sete horas da manhã, a prima que nunca liga ligou. O pai morreu, ninguém sabia por quê. Ela chorou e a empregada a abraçou. A mãe foi para o telefone.

No velório muita coisa estranha. Um caixão, o pai cruzava as mãos e um monte de rezação sem emoção. A mãe olha com raiva para ela. Ela queria chegar perto do caixão. A mãe fazia que não.

A amante do pai já era mulher do pai. A amante pegou no braço dela e a levou para ver o pai.

Ela viu os olhos de ódio da mãe. A mãe queria estar no lugar da amante. A mãe ainda cuspia ódio e dor. A tia teve que segurar a mãe para não brigar com ninguém no velório.

A mãe chegou em casa culpando Ela. A mãe achava que Ela estava amiguinha da amante. Ela queria entender o que tinha acontecido. O pai tinha morrido? morrido...

A mãe cuspiu mais ódio, raiva e dor. Ela cansou. Fez as malas e pegou o elevador. A mãe falava sozinha.

Ela nunca mais escutou.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conclusão fatal

Andei pensando esses dias no que escrever no meu querido blog. Me deparei então com uma série de problemas. Além da minha crônica falta de assunto enfrento ainda um descolamento sério de idéas boas do meu cérebro. Mas o que mais agrava a temática bloguística aqui discutida é, inacreditavelmente, a meu esforço otimista. Sim, eu estou tentando ser otimista! Andei relendo alguns posts e de verdade, eu praticamente só reclamo, pelo menos aqui. Fiquei pensando então que com tantas coisas para se reclamar que praticamente são comuns a muitos dxs leitorxs do blog pensei que poderia fazer algo diferente. Falar de algo agradável, otimista, alegre ou quem sabe fazê-los rir? ;)

Mas então, seguindo meu pensamento, cheguei a conclusão de que felicidade não dá muito ibope. Pensem se a mocinha da novela ficasse com mocinho no início, não teria novela. Seria no máximo um episódio. Tem que ter trama, fofoca, enrolação. É que nem literatura (ou o contrário), os gêneros mais populares (não entre os críticos) de toda História sempre foram aqueles que a construção das personagens fica em segundo plano e que os acontecimentos entre a personagem principal e o seu fim (objetivo) são o mais importante.

Como cada vez mais a minha frequencia de postagem diminuirá, como motivar os leitores nesse intervalo de tempo, que deverá ser grande, entre as postagens? Falar mal de alguém? Fazer fofoca? Colocar a resenha de um livro? Hum... nada me parece realmente muito divertido... Atualidades? Bom, eu realmente ando uma pessoa que está fuguindo dela. Me atualizar está me custando um tempo que eu não tenho e sempre acabo me extressando com algo que descubro...

Tive então a brilhante idéia que me amedronta bastante, mas que deve sair do papel mais cedo ou mais tarde: postar aqui os meus textos, poemas, crônicas antigas de quando ainda sonhava ser escritora e não me imaginava acadêmica.

Espero que se divirtam. A primeira vai semana que vem. Aguardem!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Tem horas que nem contar até 10 resolve. Gente legal e educada só se fode!

Eu acho que esse post é mais um desabafo: ODEIO BUROCRACIA!!! Hoje em dia eu acredito que é algo que existe para afastar os cidadãos dos seus direitos, protelar ao máximo algo que já devia ter sido feito ou saciar o sadismo de alguns funcionários entediados.

É uma coisa louca. Eu passei uma hora da minha vida hoje numa repartição e sem brincadeira, ouvi mais de 10 siglas diferentes. Isso quando na verdade fui apenas assinar um contrato. Estou trabalhando há mais de um mês e as criaturas não conseguiram colocar o meu contrato no eixo. Primeiro foi uma maldita rasura na ata da minha seleção, posteriormente o número da minha identidade que erraram (pobre de mim que achava que o trabalho deles era só esse e que não tinha como errar). Claro que devem receber uma penca de processos todos repletos de números e de nomes e de datas e uma hora um ou outro sai com um erro, normal, mas um mês é foda.

Eu não sei o que é pior, o povo do RH ou o do meu departamento me mandando cobrar deles o andamento do processo. Até código para olhar no sistema me deram. Faltou me dar a senha de acesso e falar "Tá ai, te vira!". E eu que achava que isso era trabalho deles. Um dia me falaram "Professora, a senhora tem que ligar lá e falar com o Fulaninho e perguntar o que aconteceu." Eu respondi "Tudo bem, mas vcs mandaram o meu processo?". Disseram que sim e era mentira.

Como a gente lida com isso? Vc já tentou conversar com um burocrata? Eles te perguntam "Vc já preencheu a SEI LÁ-OQ no PENTELHO 7? A data da POLTERGEISTIÇÃO foi anterior ou posterior a Homologação da parafuseta? Após um mês eu perdi a paciência. Depois de dizer um milhão de vezes que não sabia se a porra do contrato tinha ou não tinha passado pelo VTT, feito o Rappel, Rafting e levado uma dúzia de assinatura de uma penca de gente invisível, acabei dizendo que não sabia e que não queria saber. Fiquei com uma vontade imensa de dizer que a merda do nome ou da sigla ou do protocolo ou do cú da repartição que eu tinha q ir não me interessava em nada. Eu fui em todos os lugares e todo mundo só me mandou para outros lugares pingue-pongues. Eu fiquei com síndrome de batata quente. Quase disse "Sou professora de francês, não de administração ou secretariado executivo". Fiquei com outro comichão de falar "Eu não sabia que para dar aula disso eu tinha que ser técnica administrativa, eu achava que esse era o trabalho de vocês!". Mas minha educação burra que eu arrumei não sei aonde me deixou acreditar nas respostas vagas que recebia...

Por fim eu não sei o que acabou dando mais resultado, falar para os alunos que eles não teriam mais aula até os burocratas resolverem o pepino ou ficar andando de um lado para o outro tal uma barata tonta no sol escaldante das 3 da tarde em BSB... Só sei que hoje em dia tenho mais medo da burocracia do que do Grande Irmão.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Completamente sem assunto

Eu já li diversas crônicas sobre falta de inspiração. Numa delas o cronista até ensinava truques para se escrever quando não se tem nada para escrever. Mas infelizmente eu não sou cronista. Não dá para transformar o verdadeiro vazio da minha cabeça em algo engraçado.

Para falar a verdade eu ando mesmo preocupada. Tudo bem que a minha profissão não exige que eu seja muito criativa e talz, mas na minha vida toda sempre fui capaz de fazer ou comentários inteligentes ou engraçados sobre as coisas. Hoje em dia entro numa roda para conversar e o meu cérebro tá tão devagar que só ouço o pã! dentro dele como um pc dando pau.

Eu tive a capacidade de esquecer num conto de 82 páginas onde o cara tem uma relação sexual com um sargento e conversa com uma travesti chamado Isadora que isso acontecia. Simplesmente apaguei. Como eu consegui esquecer justamente a parte interessante, o motivo do conto?

E não para por aí, as idéias boas as interpretações interessantes e perspicazes já não me pertencem mais. Eu pareço o Edward Norton no clube da luta, mas ao contrário dele eu durmo só que parece que estou acordada. Tenho pesadelos com coisas do dia a dia, acordo achando que arrumei a mochila à noite e vejo que ela está bagunçada como estava quando cheguei em casa.

Que loucura! Alguém pode dizer "Vc deve estar trabalhando muito". Eu digo "Jura?". Se eu pudesse escolher (pq tem gente que pode e escolhe trabalhar), mas euzinha aqui, se pudesse trabalharia somente 4 horas por dia. No máximo 6 e só 5 dias por semana. Mas minha esperança está na semana que vem acho que vou conseguir adiantar as aulas e ficar só na tranquilidade nas semanas seguintes. Talvez até o meu cérebro volte a funcionar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O doloroso dom de ensinar

Ser professor não é mole. Não é à toa que cada dia que passa temos menos interessados ou comprometidos com a causa. A educação nunca foi prioridade no governo e está em último lugar nas preocupações dos nossos ocupados governantes. Muito mais importante, aqui na Brazólia City é facilitar o trânsito das carruagens e diligências. Enquanto isso, loucos insanos continuam investindo tempo e gastando gargantas na esperança de colocar pelo menos mais um entre os muitos caminhos que nossos jovens podem trilhar.

Como se a situação precária, que todos sabemos existir, não bastasse ainda temos que concorrer com um pensamento maquiavélico da educação de mercado. O interessante nesse raciocício é que todos os resultados estão na mão do contratado, o professor. Você é visto como um reles prestador de serviço, isso quer dizer que se o cliente não ficar satisfeito a culpa é sua. O professor que antes gozava com um estado respeitável e podia exigir do aluno empenho agora é obrigado a mastigar o processo de aprendizado e tornar o "exigente" e preguiçoso aluno capacitado. Todos tem que ter a maravilhosa didática que agrade a gregos e troianos e é claro, tempo reduzido e processo simplificado. E tudo isso pra quê? Alimentar a doce ilusão de que aquele papel que o alundo traz na mão é uma conquista dele e não ônus do professor.

O que o aluno quer? Um papel que diga para o chefe que ele sabe aquilo e pronto. Quando será que ele vai ser testado? Talvez nunca, mas o professor com certeza será e fica cada vez mais amargurado ao ouvir dos alunos "eu peguei essa matéria só pra ganhar crédito". Muitas vezes ao ouvir isso sinto vontade de dizer "Toma, tá aqui seus 4 créditos e suma, mas nunca diga a ninguém que fui sua professora, diga que entrou num sorteio e ganhou assim, como num passe de mágica, 4 créditos".

Eu nunca ouvi um professor dizer "Estou aqui só pra ganhar o meu salário". Nós colocamos a nossa cara a tapa, mas ganhamos mesmo muita má fé na lata. Insinuações de que aquilo pra vida do aluno não serve de nada, que era melhor eu dar uma relaxada na matéria. Fico com uma vontade danada de dizer que a novela também não serve pra nada, mas você assiste, decora, lembra, então vai estudar a minha matéria fadada à não ser nada. Talvez a culpa seja da pedagogia que ensinou o professor a deixar o aluno expor sua opinião. Os alunos, destreinados, não souberam o que fazer com tanto poder então adotaram uma oposição. Veja como se encontra a situação.

Falar que o professor não tem culpa também não é a solução, mas eu garanto que a maior parte da culpa dos professores é, talvez, ter bom coração. A maior parte tem pena dos alunos, essa é a danação. O que mais me dói é trabalhar todo dia de 8 da manhã às 10hs da noite pra ouvir que o cara não queria ter trabalho. Mas eu me pergunto, e eu? Ele acha que eu gosto de ralar isso tudo e ouvir esse tipo de insinuação? Só lamento pra ele, mas eu não quero pensar que um dia vai falar "eu até fiz essa matéria na universidade, mas não aprendi nada". Pra quê fez então? O aluno não tem que fazer diferença? Cadeiras já tem na sala, ele não precisa ficar lá pra ocupar espaço. Lá tem o quadro, o ar, tudo isso pode fazer melhor esse papel. O que o cara quer afinal? Um papel, um diploma dizendo que se formou, que perdeu quatro anos da vida olhando pro quadro e de tão burro não aproveitou nada daquilo no final.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Tempo, tempo, mano velho!

Desgraçado! Eu não tenho um só pra mim, e ele nunca me pertencerá! Ai ai

A falta de tempo faz as idéias descolarem da cabeça. No meu caso elas ainda escorrem pelo chão tão diluídas que é impossível retomá-las. Uma leve sombra vaga na minha mente daquilo que uma vez pensei.

Mas, caso vc não seja como eu, vai aí mais uma dica literária! O livro é um romance de formação brasileiro da Conceição Evaristo: Ponciá Vicêncio. Ele conta a história da vida de uma menina negra no interior, neta de escravo liberto, mas que leva a vida ainda nas terras do ex-senhor de seu pai. O livro mostra a precária situação em que vivem os ex-escravos e a profundidade simples dos sonhos deles. É uma leitura rápida e muito agradável. As personagens são encantadoras e bem construídas e o que eu mais gostei no livro foi a passagem do tempo bem como na tradição africana - cíclico. Fica bem claro no livro que não adiante sermos senhorxs de nossas ações quando o tempo regula a eficácia delas.

É um livro difícil de achar, mas quem esbarrar com ele por aí, leia-o. Tenho certeza que não se arrependerá.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

10 dicas sobre sexo

É sempre isso na capa de uma revista "feminina". Claro que ainda existe uma matéria sobre como perder tantos quilos em uma semana e dicas de moda. Mas a questão é quem está dando dicas aos homens? Eu escuto reclamações e questionamentos de homens casados ou que tem namoros longos dizendo "o sexo não é mais o mesmo"... Claro que muitos desses comentários eu escuto indiretamente por fontes inimagináveis. Acho que eu tenho cara de alguém que gosta de ouvir lamentações alheias... Bom, mas voltando ao assunto, as mulheres leem tantas dicas de sexo que poderiam dar aulas teóricas. Claro que na prática existem muitos outros problemas como pudores e tabus que temos que enfrentar praticamente sozinhas. Com relação à prática sexual eu tenho várias indagações.

É muito fácil estimular um homem, mas será que os homens sabem estimular uma mulher? Na teoria todos são bons de cama, fodões e etc, mas será que na hora H o cara não fica se achando o dono do harém e não faz nada do que diz ter aprendido? Eu ouvi de uma amiga bem mais velho que o seu ex-marido, que dava uma de fodão comedor e bom de cama não sabia sequer onde era o clitóris dela. Eu perguntei então "vc não explicou?" Ela disse que era impossível que ele era soberbo e orgulhoso demais para ouvir. Depois, quando ela não quis mais ele se separou queixando-se cheio de razão que ia procurar alguém que gostasse de sexo. Ela achou graça, ele ia procurar alguém que gostasse de sexo, mas ele não ia achar, afinal, não sabia fazer. Uma outra amiga minha mais velha casou virgem com o marido e foi descobrir depois de anos, assistindo filmes e lendo essas tais revistar que o casamento dela era uma merda. O marido gozava, virava para o lado e dormia. O pior é que ela ainda teve 4 filhos com ele.

Não pense que isso é exclusicidade da outra geração. Eu já tive amigas que os namorados não sabiam fazer nada para estimulá-las. O problema mais comum é a manutenção da vida sexual. Os homens levam o sexo mais para a monotonia da rotina que as mulheres. A maioria tem preguiça de passar a mão nas mulheres, acariciar e etc. No início do relacionamento tudo é novo e excitante, mas com o tempo o cara acha que descobriu o mapa ou o procedimento certo e o repete sempre. A pior coisa para uma mulher é pensar "Hoje ele vai querer. Vai começar assim, vai passar a mão em tal lugar, vai fazer isso, isso e aquilo e eu vou ter que gozar e depois lá vai ele". E nem a posição o cara muda. Tenho amigos que se queixam das namoradas e as vezes vem perguntar pra mim o que as mulheres deles tem. Claro que existem outras coisas que podem interferir na vida sexual de um casal, e eu procuro perguntar se a fulaninha não está com algum problema familiar, profissional, afinal é muito raro uma mulher fazer sexo para relaxar, ela tem que estar relaxada para fazer sexo e se o cara quiser tem que conseguir deixá-la relaxada, à vontade. Bom, mas pelo que eu escuto penso logo "vc é que deve ser o problema"... As vezes pergunto "Vc faz isso? Faz aquilo? Pega ela de surpresa? Sai da rotina?" Eles vão concordando até essa última parte depois desconversam e não respondem as duas últimas aí começam com a seguinte frase (pq no fundo só querem se eximir da culpa) "Não é nada disso, o problema é ela. Depois que a gente casou ou teve filho, ou mudou, ou se formou ela perdeu o interesse, não é mais como era antes". Eu realmente começo a concordar, mas não esponho mais meus argumentos. O cara não quer ouvir críticas. Se duvidar a mulher dele tentou falar, mas ele não ouviu, não entendeu.

Não dá pra falar a verdade nesses assuntos para um homem "Olha, vc é ruim de cama" ou "Vc se acomodou, piorou o desempenho". Tem que ir de mansinho, mas o cara pode não entender ou não querer ouvir. Se a mulher gostar do cara, vai começar a fingir, caso não queira se separar dele, mas pensa na insatisfação dessa criatura. Eu me indago então porque as revistas femininas insistem em ensinar as mulheres a estimular os homens, fazer esse ou esse truque com ele, no que vai adiantar? Ela tbm tem que ser estimulada. E pensa que vc fazer no cara é uma dica para ele fazer o mesmo em vc que nada. A coisa que eu mais ouço minhas amigas reclamarem é que os homens não sabem fazer um bom sexo oral. E sabe o que eu recebo outro dia de um amigo? Uma postagem de um blog baseada num artigo científico falando sobre os benefícios para a fertilidade da mulher em engolir o sémen do parceiro. E daí? Desde quando satisfação sexual tem relação com fertilidade? Isso é pra quem quer ter filho e tirando os ditos religiosos a última coisa que as pessoas pensam ao fazerem sexo é na reprodução. Ela, na maioria das vezes, é um problema na hora do sexo. Tenho certeza que se o cara for gentil com a mulher nem precisa usar argumentos científicos para que ela realize uma fantasia dele, basta aplicar a lei da reciprocidade. Eu continuo me perguntando quem é que tá precisando de dica de sexo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Cansaço

Até a inspiração cansou. Tudo cansou. O cérebro pensa coisas fantásticas e na hora de escrever... cansou! Pensar vai em outra coisa, cansou de ficar preso no pensamento. E eu no meu tempo divido banho e confinamento. Não consigo relaxar blogando e o blog vai ficando... Eu realmente precisava continuar postando, mas infelizmente tenho que sentar aqui e fazer uma coisa somente. Ai ai.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Treinando, tricotando, panicando

"O mais difícil não é a queda, é a aterrissagem" Vi isso num filme, La Haïne. Me lembrei daquela outra que também ajuda muito: "Pra baixo todo santo ajuda!", como se alguém precisasse de ajuda pra descer. Todo mundo sabe que o mais difícil é subir. Pra baixo sempre se pode rolar. O bom da queda é que não tem como dar errado. Se vc está caindo é porque já deu errado. E eu, será que conseguirei não me "panicar", como diriam os franceses? Entrar em pânico eu provavelmente não vou, mas conseguir desenrolar aquele emaranhado de idéias talvez não seja fácil. O bom ou o ruim é que muito gente boa vai estar nos mini cursos e não vai ver as comunicações. O ruim mesmo vai ser se os toras acharem que não precisam fazer mini cursos e decidirem assistir a minha palestra...

Boa noite, colegxs!
Vou... estudar. :/

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Espaços da identidade

Lembram de um post onde eu perguntava como os espaços poderiam esabelecer identidades. Ou melhor dizendo, como os espaços seriam importante para o estabelecimento das identidades individuais? Bom, como uma neurastênica reflexiva eu não poderia deixar de refletir sobre uma questão assim posta.

O meu artigo ficou pronto, mas eu não vou posta-lo aqui pq não posso, mas vou dialogar com vcs através das leituras q eu fiz. Uma deles era uma leitura do mesmo livro que eu analizei no meu artigo: Relato de um certo Oriente, do Milton Hatoum. Nesse outro artigo a autora afirma que o romance é uma busca pelas memórias que definiriam a identidade da narradora e das outras personagens. A narradora no final do livro conseguiria reestabelecer sua identidade devido à busca das memórias de sua família ela acaba construindo um rosto de mulher com as sobras dos papéis onde anota os relatos e que não conseguem contá-los numa ordem cronológica. Bom, eu discordo. Acho que nossas lembranças mais marcantes da infância são dos lugares onde tivemos as experiências. Elas são mais concretas quando tem relação com o espaço. O espaço que faz a ligação entre as memórias e a realidade. O espaço tem a característica do concreto. Quanto mais vc tem coordenadas, localizações mais palpável se tornam as lembranças. Essa é a relação dos espaços com o estabelecimento da indetidade para mim.

"O território (...) como fruto da interação entre relações sociais e controle do/pelo espaço, relações de poder em sentido amplo, ao mesmo tempo de forma mais concreta (dominação) e mais simbólica (um tipo de apropriação)." (HAESBAERT, 2004, p. 235)

“O espaço no qual vivemos, pelo qual somos atraídos para fora de nós mesmos, no qual decorre precisamente a erosão de nossa vida, de nosso tempo, de nossa história, esse espaço que nos sulca é também em si mesmo um espaço heterogêneo”
(FOUCAULT, p. 414)

“(...) e pensei em como é desagradável ser trancada do lado de fora; e pensei em como talvez seja pior ser trancada do lado de dentro; e, pensando na segurança e na prosperidade de um sexo e na pobreza e insegurança do outro, e no efeito da tradição na mente de um escritor, pensei finalmente que era hora de recolher a carcaça amarfanhada do dia, com suas impressões e sua raiva e seu riso, e atirá-la num canto.” (WOOLF, p. 33)

“Pensei na tua repulsa a esta terra, na tua decisão corajosa e sofrida de te ausentar por tanto tempo, como se a distância ajudasse a esquecer tudo, a exorcizar o horror: estes molambos escondidos no mundo, destinados a sofrer entre santos e oráculos, testemunhas de uma agonia surda que não ameaça nada, nem ninguém: a miséria que é só espera, o triunfo da passividade e do desespero mudo. (...) Eu, ao contrário, nunca pude fugir disso. De tanto me enfronhar na realidade, fui parar onde tu sabes: entre as quatro muralhas do inferno”. (HATOUM, 2008, p. 120)

E pra vc, quais são as lembraças mais importantes da sua vida, elas tem um local?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Porque tv se temos praia?

Bom, gente, eu estou aqui em Natal, tentando trabalhar e como sempre invento de postar no blog para "esquentar". Nos últimos dias só entrei na internet para resolver pepinos do trabalho uma vez por dia e à noite, mas hoje, como ainda tenho muita coisa pra fazer resolvi me distrair um pouco por aqui. Também me parece que só conseguirei pegar no pesado e me concentrar quando a mamis for dormir e eu puder desligar a maldita televisão. Diacho que coisa mais incômoda! Mesmo quando vc está pensando em outra coisa ela tem tantos artifícios para te distrair e eu realmente estou tendo dificuldades pra trabalhar. Outro agravante é que ela fica do lado da escrivaninha do quarto do hotel. Já tentei convencer a mamis a esquecer a abominável novela e ir dar uma volta na orla de Ponta Negra, mas adivinha o que ela prefere? Ficar colada na TV. E o pior, mesmo com a TV à cabo, podendo assistir um filme de vem em quando, ela quer ver a novela. Eu cada dia tenho mais convicção de que a melhor coisa que pude fazer foi ter comprado outro computador em vez de uma TV. Sabe o que eu descobri, que existem 5 novelas na rede globo, se vc contar com a super artificial Malhação. Tem a das 6, a das 7 e das 8 e ainda tem uma q passa a tarde que é uma reprise e a maldita malhação. Irc! As pessoas não conversam, não saem de casa só pra ver TV, mas quantas pessoas na TV vc vê assistindo TV (esqueça os Simpsons e o Big Bang Theory)? Eu realmente acho que a minha mãe vai se arrepeneder um dia de estar num cenário de novela e só conseguir vê-lo em duas dimensões. Eu? Se pudesse estava andando pela praia pensando na vida, lendo um livro, conversando com alguém da terra ou tomando um chopinho, mas infelizmente tenho obrigações das quais fugi demais e elas me alcançaram. Outra razão é que sou fresca demais pra descer com meu pc pra piscina do hotel e venta tanto q eu ia morrer de frio. Ou seja, vou continuar tentando trabalhar do lado da TV ligada na rede BOBO.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Natal, aqui vou eu!

É, para quem conhecia do mais nordeste na vida Porto Seguro esse ano está sendo bem enriquecedor. Recife no começo do ano e agora Natal. Tudo bem que se contar a quantidade de trabalho que tenho que levar pra viagem e o objetivo da viagem que é trabalho também, não sei se vou curtir o suficiente para aproveitar todas as dicas que estão me dando. Mas pelo menos espero tirar uns dias pra ficar lagartixando debaixo do guarda-sol, tomando uma gelada e contemplando o visu. Ai ai, relaxar e ver se consigo diminuir essa tensão que não passa.

O que vai acontecer provavelmente, é deixar esse bloguinho querido um pouco na mão, mas meus cativos leitores, suponho, terão muitas outras coisas legais para ler nesse meio tempo e não morrerão sem mim. Quando eu voltar conto as novas e como eu sou metade mineira (mas muito desconfiada) conto tudo quando eu voltar porque aí já vai ter dado certo.

Bjos e até setembro!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Continue pensando

Vamos lá então. Recebi muitas perguntas e críticas bem pertinentes sobre meu post anterior. Algumas, creio eu, são devido ao fato de possuir uma ironia sutil no meu estilo de argumentação que muitas vezes não é percebida. Por isso, como não quero confusões num tema que considero super importante eu me explico melhor aqui.

A brincadeira com o cartaz é a seguinte: assim como eu não identifiquei de imediato que era uma campanha contra o aborto, mesmo todas tendo nomes parecidos, muitas pessoas também não identificariam. O fato de alguém ir para o show da Elba Ramalho sem saber que é uma manifestação nem é o grande problema, apesar de ser muito ruim. A questão é a seguinte: é feio ser a favor do aborto. As pessoas já falam no automático (como ressalta o vídeo). O problema é que ser contra o aborto não resolve o problema assim como ser contra o uso de drogas. As pessoas não deixam de usar porque é proíbido e nem tão pouco vão deixar de praticar o aborto. Muita gente é a favor a descriminalização do uso da maconha, eu sou pela descriminalização do aborto.

Um dos argumentos mais fortes para o aborto ser proíbido é que como o Brasil não tem pena de morte não seria justo dar fim a uma vida abortando. Bom, nem a medicina entra em consenso com relação ao período no qual o feto pode ser considerado uma vida. Muitos dizem que a partir dos 3 meses o bebê já é um ser formado, para outros a fecundação já é o suficiente para haver vida. É realmente complicado, eu mesma não sei o que pensar a esse respeito. Estudei num colégio de freiras e elas faziam de tudo para chocar a gente. Primeiro mostrando as técnicas mais bárbaras de aborto como uma onde mulheres enfiavam agulhas de tricô no útero e retalhavam o que havia lá (técnica que causa danos irreparáveis à mulher) e outras onde tomavam um chá tão forte que muitas morriam junto com o feto. As freirinhas sempre tentavam mostrar como essas mulheres eram perversas, mas eu nunca consegui pensar assim. Gente, porque raios uma pessoa vai fazer isso? Pura diversão, maldade? Não existiria uma outra causa?

Existe vida após a morte? Existe alma no feto de 3 meses? Quem pode provar que sim e quem pode provar que não? Por isso eu acho que a proibição do Estado tem fundo religioso. Quando dizem que a maioria da população brasileira é contra o aborto eu não tenho como discutir. Isso é verdade. Mas eu aposto que poucas pessoas que condenam o aborto pensaram nas razões que levam a essa prática. Poucas pessoas pensam que nessa proibição o feto é o cidadão que está tendo o seu direito preservado e não a mãe. Não sejamos exagerados em dizer que permitir o aborto seria permitir que a mãe mate o filho. Não é isso. Permitir o aborto até o terceiro mês de gravidez é evitar que existam crianças que sofrem com a rejeição. Permitir que as mulheres tenham mais opções de futuro, mais liberdade de escolha. Sejamos francos, a maternidade é um fardo feminino e enquanto for assim o aborto deve ser permitido. É muito fácil falar em barbárie se o homem sempre tem a opção de abandonar a família e pagar apenas 30% de sua renda para se sentir livre de peso na consciência (isso falando de homens que existam para o estado e que possam ser achados e mulheres que saibam aonde recorrer para ter seu direito e de seus filhos garantidos). Para mulher que fizer a mesma coisa é a danação social que lhe espera.

Bom, quando eu falei que a maior parte da população mundial abaixo da linha da pobreza é formada por mulheres tem uma causa bem simples: a maternidade. É verdade. As mulheres arrumam um companheiro, sem dinheiro pra comer, pegar ônibus ou o que quer que seja vc acha mesmo que vão tomar pílula? Usar camisinha? Elas provavelmente não sabem ler, cresceram na rua sem família e ninguém pra orientar, vão tirar essa informação da onde? Vai me dizer que vc já viu algum morador de rua conseguir ligar uma televisão debaixo da ponte. Isso se vc levar em consideração que alguém consegue abstrair alguma orientação sexual da tv. Agora me diz quem, tirando a Maria Carolina de Jesus vai conseguir sair da miséria com seis filhos debaixo do braço? Mesmo as mulheres que estão na pobreza, e não na miséria, conseguem criar os filhos. O bolsa família tá aí, mas se não pensarmos numa solução ele vai ter mais e mais bocas para alimentar.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pense!

Eu estava no baú indo pro trampo quando vi um cartaz "3a marcha nacional da cidadania pela vida". Bom, inicialmente não me chamou muita atenção. Tinha cara de coisa do governo. Na volta, porém, em outro ônibus, havia o mesmo cartaz. A capa era a Elba Ramalho. Pensei: "Legal, show de graça" (apesar de nunca ir nessas paradas). Mas depois me detive no cartaz mais demoradamente. Ele dizia que haveria uma marcha e no final da passeata um show da Elba, que havia doado o cachê para a tal entidade. Não explicava direito o porque da passeata, só os com a vista mais aguçada ou sem problemas de visão, como eu, poderiam ter visto que era uma marcha contra o aborto.

Realmente foi um golpe muito baixo. A campanha apoiada pelo ministério da saúde é extremamente autoritária. As pessoas que participarem da marcha, acredito que poucas vão para lá sabendo o quê estão apoiando, vão para o show. Depois vão pegar aquela imagem e dizer que a população brasileira, ou a maioria, é contra o aborto. Porque não colocar isso em letras garrafais no cartaz? Pq era apenas as letras muídas no rodapé da página? E me pergunto ainda o que cidadania tem a ver com isso? Aquele que pratica o aborto não é cidadão porque? E o mais grave, porque a ausência de debate????

Bom, eu sou a favor do aborto e até onde eu sei não é crime expressar minha opinião. Eu acredito que se é preciso fazer uma passeata escamoteada com o falso pretexto de "3a marcha nacional da cidadania pela vida" deve ser porque ambos estão ameaçados, não? E o governo e as entidades religiosas estão fugindo do debate aberto e claro com a população para usar artimanhas como colocar a recalchutada Elba na capa de um cartaz lindo todo verde amarelo para convencer a população a não fazer algo que está fugindo do controle deles.

Eu acredito que os movimentos pró-vida e etc além de sexistas são retrógrados e autoritários. Talvez eu esteja chovendo no molhado, mas me digam porque raios a minha crença de "vida" tem que ser igual a de um católico ou um protestante ou seja lá qual religião queira? Porque o tratamento ou a transfusão de sangue não é feita na marra em um adventista para respeitar as crenças dele e um aborto não pode ser feito para respeitar as crenças da mãe? Eu posso estar muito enganada, mas ainda existe liberdade religiosa no Brasil, isso quer dizer ainda, liberdade não religiosa, ou seja, se não tenho religião o que me impede de fazer um aborto? Bom, eu acredito sim que as mulheres tem responsabilidade pela gravidez, assim como o pai, o Estado e a **** religião que não deixou a mulher abortar. Enfim, a proibição do aborto é mais uma questão de hipocrisia religiosa e omissão do estado do que um ato de cidadania pela vida. Se o Estado estivesse sendo eficiente em informar a população (e eu digo homens e mulheres) e a religião não confiasse tanto na "abstinência" não haveriam sequer abortos. Se os fiéis não seguem o que a própria doutrina deles prega porque o Estado tem que puní-los? Eu achei que eles eram separados... Ou melhor dizendo, porque o Estado tem que vigiar o cumprimento de uma doutrina religiosa?

Outro ponto, porque tantos abortos? Todos sabemos que a maternidade requer alguns recursos que muitas pessoas não tem. As mulheres são levadas a crer que para tudo nesse caso se dá um jeito, mas muitas vezes isso não acontece. Muitas delas acreditam que trazem uma boa notícia, mas no final acabam abandonadas à própria sorte. As ricas adolescentes mal informadas tem duas opções (que muitas vezes nem podem escolher) ou são levadas a boas clínicas com bons médicos e fazem um aborto seguido de um bom terapeuta ou contam com uma boa estrutura familiar e financeira para cuidar dessas crianças. Mas e as outras? Se mesmo as meninas da classe alta muitas vezes estão mal informadas por um problema cultural e religioso que bane as crianças da aula de educação sexual achando que é perversão imagine as menos afortunadas? Eu sei de um professor de Biologia de um dos colégios mais caros de Brasília que foi proíbido de falar de meios contraceptivos em sala de aula porque a dona do colégio é da Opus Dei. Me diga aí se ela vai cuidar dos filhos das aluninhas mal informadas? Ela oferece creche na escola? Não...

Mais uma coisa, porque a grande maioria da população MUNDIAL ABAIXO DA LINHA DA POBREZA É FORMADA POR MULHERES?

Se vc é contra o aborto porque não briga então pelo resto? Educação sexual nas escolas, maior investimento em métodos contraceptivos, melhor distribuição gratuita dos mesmos, educação e responsabilização dos homens para evitarem gravidez indesejadas, entre outros. Não é simplesmente proibir uma consequência quando no fundo o que se quer é evitar a causa? Porque essas entidades continuam dando murro em ponta de faca?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

...quando florescem os ipês

É o título do romance de Ganymédes José que fala da vida de quatro jovens de uma cidadezinha pequena no interior de São Paulo. Eu acho que por vontade própria nunca leria esse livro, mas como estava na lista da disciplina, li. Até gostei, mas é muito triste. Não somente a história sofrida dos mais pobres da trupe, mas o que mais me chamou a atenção é a atualidade dos problemas. O livro foi escrito em 76, mas a temática da desilusão, da vida sem instrução e esperança dessa gente é bem contemporânea. Até uma personagem que morre de tuberculose num contexto muito parecido com o de Macabéia em A hora da estrela que me encheu de tristeza.

Não vou revelar detalhes da história porque esse blog tá ficando muito saudosista e melancólico. O que quero contar se passou nos momentos seguintes ao fechar do livro. Após terminar a leitura, querendo abandonar o livro tal qual o ator faz para sair da personagem eu entrei na internet para me distrair um pouco e pensar em outras coisas. Li alguns blogs amigos e muitas reclamações. Vendo que a coisa não ia melhorar assim decidi tomar um banho e espairecer. Durante o processo comecei a pensar se de fato as pessoas em geral não estão ficando muito amarguradas, como as personagens do romance. Desiludidas com a vida mesmo sendo elas cheias de vida e com muitos anos pela frente. Pensei ainda que talvez esse seja o sentimento que precede a tomada de decisão crucial na vida de cada um. Ficar e ver o ipê florescer ou ir e buscar o próprio ipê, aquele que acreditamos florescer todos os dias.

No fundo estamos sempre em busca da felicidade, mas não será a felicidade uma busca? É talvez uma busca constante que no fundo se revela como sendo a própria vida e quando chegarmos à plenitude nos daremos conta então do quão feliz foram os tempos da busca. A felicidade das pequenas coisas, da corrida ao supermercado, das andanças por entre a UnB, das conversas enquanto se lava louça, de olhar pro céu e pensar somente "que lindo!". Pode ser isso e pode ser muito mais. Pode ainda ser a diversão solitária que senti sozinha ao pensar "O que será que Aristóteles teria dito se realmente tivesse escrito uma "Comédia" como segundo volume da "Poética"? Teria ele feito chacota das tragédias mostrando o quanto é bom rir? Teria ele enfim debochado dos grandes problemas "mortais" dos deuses e semi-deuses desdizendo tudo o que havia dito anteriormente?"

Será então que a vida é isso, sentir algo reconfortante no meio dessa loucura toda que mesmo que inexplicável ainda cause um sorriso suave no rosto? Algo que diga mostre que há alegria em tudo e que mesmo na seca ainda florescem os ipês?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Brasiliense's behavior

Eu sempre fui uma defensora da minha cidade. Não gostava nada quando um forasteiro fazia comentário pouco elogiosos da minha terrinha. Coisas que me tiravam do sério eram as do tipo: "Brasília é uma cidade muito esquizita, não dá pra entender, é tudo igual", eu respondia dizendo "Sabe se localizar num mapa? "Conhece coordenadas cartesianas? É a mesma coisa"; "Não tem nada pra se fazer aqui!", pra esse eu imprimi umas 3 páginas só de eventos culturais e shows gratuitos ou de baixo preço pra dizer à criatura q aqui tem muita coisa pra se fazer sim, não se pode é estar mal informado. Essas e outras eram minhas defesas de Brasília, a cidade do sonho de Dom Bosco...

Mas hoje em dia eu acho que o velhinho se enganou na interpretação do sonho. Eu realmente não visualizo como essa cidade possa ainda ser profética. Os habitantes profanaram o projeto, isso sim. Não sinto mais muita vontade de defender a cidade. Eu não encontro expressão melhor, mas ela está infestada de gente com o rei na barriga. O cara ta de carro já é o suficiente para se achar melhor e com mais direitos que vc, que está apenas atravessando à rua. No trânsito então das poucas vezes que dirijo me arrependo. O povo é tão folgado que te enche o saco até quando vc está na faixa do meio no limite de velocidade. Têm duas outras faixas para a realeza passar livremente, mas ela quer que o pobre vassalo suma da frente. Outro dia desses o cara parou na faixa pra gente passar, mas como não deu sinal de que ia parar ficamos parados na calçada esperando que ele parasse ou passasse. Quando parou começamos a andar, mas a cretinice arrancou pela contramão, tirando um fino da gente porque ficou putinho pela nossa "demora".

É uma galera tão pequena que paga uma fortuna num café dito "vienense" feito com maisena e calda de chocolate de mercado. E o copo? Pequeno do tamanho da foto do cardápio. E isso porque? Porque se vc vender gato por lebre eles acham que compram lebre. Ou melhor, adoram ter dinheiro suficiente para pagar por um gato uma lebre. Gente extremamente fútil e superficial. Vide o caso da aparência que eu escrevi dias atrás. De gente boa aqui eu estou encontrando pouca. Brasília está se tornando um imenso clichê repleto de petits bourgeois. Gente burra q liga demais para a aparência e fica sendo roubada, dia após dia. Gente estúpida que acha feio reclamar mesmo quando está certa. Gente que só é gente quando está no trabalho ou num ambiente bacana de gente bem vestida. Gente que faz a empregada comer na cozinha. Gente estúpida que paga mais de 1000 reais pro filhinho estudar num colégio que nem aparece no ranking dos melhores do país. Gente abestada que se acha abastada por ter um apartamento carézimo numa área de preservação ambiental, em cima de uma manacial de água que certamente fará falta aqui, no cerrado-deseto do Planalto, cuja vista é a janela do vizinho da frente.

Eu realmente não tenho mais como defender Brasília porque a cidade são as pessoas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Você é igualzinha ao seu pai

Era o que eu sempre ouvia quando fazia algo de errado. Errada ou não, quando desagradava minha mãe ou era comparada ao meu pai (o diabo na Terra) ou com a minha avó (devidamente culpada por todos os traumas da minha mãe). Durante muitos anos eu senti minha consciencia "pisando em ovos". Vivia numa incerteza enorme. Não concordava com a comparação simplesmente porque não me sentia uma cópia, achava-me um ser autônomo e original. Eu não gostava de dar o braço à torcer. No campo de batalha onde eu vivia era um erro fatal e primário que eu já não podia cometer. Culpar a minha mãe era fazer o mesmo que ela fizera com a dela, eu não queria ser em nada parecida com a minha mãe, já bastava carregar no rosto a semelhança com o meu pai que fez com que eu fosse tão odiada e amada por ela. Eu não podia ser igual à ninguém.

O quê fazer então? Na falta de grana para uma análise... MESTRADO! Ã? Meio bizarra essa minha solução, não? Calma, eu explico. A melhor coisa para entender um problema é... se enfiar nele, claro! Realmente eu não sei e não posso afirmar que seja fácil, mas desde que comecei a estudar a teoria feminista e fatalmente lendo Chodorow, Flax, Micthell a gente entende um pouco esse pesado fardo que se chama maternidade. Infelizmente para as extremistas, quem mais me ajudou a entender a minha mãe foi um homem, feminista sim, mas homem. Anthony Giddens em seu "A transformação de intimidade sexual". Ele pegou emprestado muitos pensamentos feministas, mas conseguiu juntá-los numa temática que deixou claro para mim algo que sempre foi nebuloso, mas que ao mesmo tempo era muito simples de ver.

A grande maioria das mulheres não faz a menor idéia do que é a maternidade, nem ao menos pensa longamente nisso. Posso resumir que a maioria pensa que uma relação feliz e harmoniosa é um pré-requisito para ter filhos felizes e se realizar como mãe. NÃO! NÃO É! Ajuda, mas não é tudo. Pensar em um bebê tbm não é tudo. Pensar em sustentar o filho também não é tudo. Cuidar dele também não. Arrumar tempo pra ele tbm não. Ensiná-lo, transmitir valores tbm não. O que seria então? Bom, além de tudo isso junto acho que todas as mulheres devem ficar um tempo sozinhas e sendo bem sinceras consigo mesmas e se fazerem as seguintes perguntas: Porque eu quero ser mãe? Porque eu acho que vou ser uma boa mãe? Que tipo de pessoa eu quero que o meu filho seja? E acima de tudo: O que eu acho que é ser mãe e quais as consequencias disso?

Muito? Se vc acha então desista da maternidade, pois colocar outro ser no mundo com tantas capacidades quanto os humanos tem (por exemplo, mudar o destino do planeta) e não poder se questionar sobre a responsabilidade disso é não estar preparada. Quem sou eu para dar conselhos se, na verdade, não tenho filhos? Eu sou alguém que um dia, com toda a sinceridade no coração e muita mágoa dentro dele, perguntou para a própria mãe "Porque você quis ser mãe?". Eu nunca obtive uma resposta para essa pergunta e sabe porque? Porque nem ela sabia. A maior parte das mulheres vai seguindo a maré. "É natural", "a gente tem um instinto", "vou saber o que fazer". Se nós vivessemos como os outros animais eu diria "manda ver, pare aí", mas de fato não é. A sociedade humana se organiza de forma muito distinta das outras e está se distanciando cada vez mais delas. O que eu posso dizer é que as relações familiares mudaram, entre homens e mulheres também. E digo mais, entre pais e filhos (ou mães e filhas). Você certamente vai ser cobrada pela(o) sua(seu) filha(o). O que vai responder? Vamos ser sinceras, está preparada para deixar a sorte agir? Sua filha não estará sob o seu controle, as opções sexuais, intelectuais... tudo pode ser diferente do que imaginou e aí? Vc tem que pensar sinceramente. Nada pior para um filho que desistir dos pais. O que será para uma mãe ser desprezada por um filho?

Pode ser muito fácil para vc responder a todas essas perguntas, mas lembre-se, o mundo é plural e diverso. Nem todos tem a mesma cabeça (graças!). O que o Giddens me fez ver que era nebuloso pra mim se resume no seguinte pensamento "Você não tem que ser eternamente grato aos seus pais apenas porque te colocaram no mundo. O reflexo do relacionamento que você tem com eles é um reflexo do que eles tiveram com vc." Pronto! Pof! A bigorna de 100 toneladas que eu carregava caiu das minhas costas. Eu não sou um monstro! Viva! Não preciso amar a minha mãe acima de tudo que aconteceu! (Meio auto-ajuda, eu sei, mas foi necessário na época). Calma aí, não é o fim. A recíproca tbm é verdadeira. A minha mãe não precisa gostar de mim. Isso é verdade. Até porque sabemos que nem todas as mulheres de fato tem noção do que é a maternidade e dos discursos dominadores que estão por trás dela. Devo eu declarar ódio recíproco à minha mãe? Ser contra todas as mulheres que disserem que querem ser mães tentando alertá-las das armadilhas desse discurso?

Volta bigorna!

Peraí, só um pouquinho. Eu acho que é melhor entender o que aconteceu com minha mãe, não?

Ela foi iludida, coitada. Achou que a felicidade se multiplicaria com os filhos, mas ela se dividiu. Um pouquinho de felicidade em cada filho e um monte de apreensão, aperto financeiro, ausência do meu pai... E só ela para cuidar da casa, fazer compra, arrumar, lavar, passar, cozinhar, trabalhar... Sim, eu faço parte das muitas famílias onde a maior parte da renda vem do trabalho feminino... Hum... Tô começando a sentir raiva do meu pai... Mas peraí, o meu pai fez o que o pai dele fez com a mãe dele. A minha mãe? Sempre foi uma mulher inteligente, mas meio esquentada e com um pensamento muito conservador. Vamos voltar ao caso dela. Ela teve filho relativamente tarde (em comparação a outras mulheres), 26 anos. Tinha diploma e um bom emprego. É verdade que se acomodou na carreira, mas ela tinha 3 filhos e um marido pra criar. Dá até pra entender. Ela não teve a criação que o meu pai teve. Meu avô materno era relativamente moderno. Era ciumento com a minha avó, mas ela podia trabalhar e ainda tinha todo conforto em casa. Meu avô era apaixonado pela minha avó, não a tratava mal por achar q ela era propriedade dele. Mas uma coisinha acabou com essa linda história. Meu avô morreu de câncer de pulmão com 40 anos. Minha mãe tinha 14 anos. Naquela época a viúva ficava com apenas 50% da renda do marido. Quem pagava as contas era meu avô, a vovó não sabia cuidar das finanças. E como fazer isso, manter o mesmo padrão com apenas metade da renda? Eu acho até q ela se saiu bem, mas a mamis não concorda. Ela vendeu uma chácara q meu avô tinha, pagou umas dívidas, alugou os quartos da casa onde morava para moças solteiras que vinham trabalhar na capital, dispensou a empregada e fez minha mãe e minha tia cuidarem do serviço da casa.

Sabe quando eu fui saber de toda essa história? Ano passado. Minha mãe falava que a minha vó tinha sido exploradora e injusta, que tinha emancipado a minha mãe e a minha tia só pra depenar o patrimônio do meu avô, mas na verdade o patrimônio era dela. Fiquei sabendo da história depois de ter perdido o meu pai e ter começado a ver as mudanças da lei de sucessão. Descobri meus direitos e os da viúva do meu pai. Mas continuando com mamãe.

Nunca falei exatamente sobre isso com ela, mas imagino que seu raciocínio tenha sido esse: Se a mãe dela ficou na merda porque não tinha mais marido a minha mãe ficaria na boa, porque além de ter emprego e saber cuidar de si sozinha ela ainda tinha... UM MARIDO! Voilà! Ops, mas as coisas não saíram com o planejado. O meu pai não era o meu avô e a minha mãe não era a minha avó paterna. Ela não aceitava ser "dominada" e meu pai não aceitava "não mandar na casa". Mas a maior parte da grana vinha do salário dela, e aí? Bom, apesar disso tudo, eles se amavam loucamente (mesmo) então para não terem que se separarem... A culpa foi nossa. É triste, mas foi a melhor resposta que eu consegui até agora. Acredito que outras coisas contribuíram, mas acho essa a parte essencial.

Vou me atrever a dar um conselho. Na porta do templo de Delfos (eu acho) está escrita a seguinte frase: "Conheça a ti mesmo". A porta desse templo é baixa, fazendo com que quem entre tenha que se abaixar. Saber quem você realmente é não é uma tarefa fácil. Requer humildade. Eu ainda não estou certa se serei mãe um dia, provavelmente sim (espero que seja uma menininha :)) Mas certamente não a culparei por decisões minhas. Não a culparei pelo meu pelo fardo. Até mesmo porque, uma feminista que caí nesse estereótipo tradicional de maternidade está cumprindo mal o seu papel. Tem que colocar o marido (ou o pai) pra estudar. Se for pai, mas se forem mães ou pais tbm. Porque nem todo filho perde tempo tentando entender a prórpia mãe. É bem mais fácil culpar. Se existem mães que não sabem os discursos que estão por trás da maternidade imagine os demais? A responsabilidade é toda da mãe e os louros do pai. O casal pode não ser assim, mas as crianças vão viver isoladas?

A bigorna saiu, mas tá guardada na minha estante para eu nunca esquecer de que não existem apenas dois lados de uma história e que o feminismo, se é o que eu posso dizer, tem me ajudado a ver as coisas de cabeça pra baixo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ana Bolena

Eu sempre fui meio fã dela. Uma vez achei um disco do Rick Walkeman do meu pais que se chamava "As seis esposas de Henrique oitavo". Fiquei curiosa e perguntei pra minha mãe sobre a história. Ela disse que não sabia muita coisa, apenas que o rei se apaixonou loucamente pela Ana Bolena e como a igreja não deixou ele se divorciar ele mudou a religião da Inglaterra para poder fazer isso. Eu pensei que era uma prova de amor, que Ana Bolena fez o rei brigar com a igreja só para poder se casar com ela. Mas quando minha mãe continuou a história e me disse que o próprio rei mandou cortarem a cabeça de Ana Bolena para se casar com outra eu pensei: "Coitada!". Na escola aprendi outros detalhes da história. Para se casar com Ana o rei acabou se tornando o chefe da igreja e o que fez com ela poderia ser feito por qualquer outra se fosse a vontade do rei. Era mais fácil Ana Bolena ter envenenado Catarina de Aragão do que ajudar o rei a conquistar tamanho poder.

Enfim, Inês é morta. Ou Ana. Mas eu sempre fiquei com essa admiração guardada. Ela entrou no hall das grandes mulheres da humanidade sendo inclusive a mãe de uma das melhores rainhas da Inglaterra, Elisabeth I. O sereado que eu estou assistindo "The Tudors" reacendeu a minha curiosidade sobre a história de Ana Bolena, infelizmente ela morre na segunda temporada e não me parece que Jane Seymour seja capaz de atrair minha curiosidade por uma temporada inteira. Felizmente eu li que ela morre ao dar à luz ao seu primeiro filho então isso quer dizer que ela deve morrer antes do fim da 3 temporada. A histório de Henrique VIII perde um pouco da graça depois da morte de Ana Bolena. O intrigante passa ser então a guerra religiosa e a briga que está por começar entre Lady Mary e Lady Elisabeth, as duas filhas do rei. Só por isso vou continuar assistindo a série pq o rei já ficou louco e desinteressante.

Depois da morte de Ana, a cena que me chamou mais atenção e que foi propositalmente feita pra isso é uma cena onde as duas damas de companhia da pequena Elisabeth comentam que o carrasco que mataria Ana Bolena seria pago com o dinheiro das despesas de Elisabeth. Quando a outra dama se mostra chocada com a ordem real a mais velha diz: "Reze para se casar com um homem rico e burro porque se vc não morrer no parto, o que é muito provável, pode até ter uma vida feliz". E a cena fecha com a menininha que faz Elisabeth ouvindo a conversa e contendo o choro. Sensacional!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

AAAAAAAAAAHHHHHHH!

Vc já teve vontade de se dar umas porradas? Coisa de louco, né? Mas eu já tive. Sabe aquelas coisas que acontecem com vc que vc diz a si mesmo "Nunca mais eu faço isso!" realmente resoluta e não passa nem tempo suficiente para esquecer a merda e lá está vc de novo enfiando o pé na jaca? Pois é, vai me dizer que não dá vontade de enfiar a mão na cara?...

Calma, calma. Eu não fiz nada de grave nem do que possa me envergonhar. Só algo que me faz perder a moral comigo mesma. Eu havia me prometido que não me venderia barato nem trabalharia por esmola, mas basta eu passar um mês apertada para eu começar a encher a minha agenda de trabalho. Eu sei que as mulheres modernas tentam sempre serem super heroínas, mas eu não tenho o perfil. Sempre que me entupo de coisas pra fazer algo fica nas coxas. Eu não posso mais fazer isso. Não estou na graduação (ops!). Tinha prometido a mim mesma que ia ficar por conta do mestrado, mas foi só eu conseguir terminar o semestre descentemente e trabalhando para pensar "Ah, dá pra colocar mais uma turma no horário tal...". Não! Agora chega! Ninguém entra ninguém sai. Nada de fazer concessão pra fulaninho ou ciclaninho. Désolée, mais je suis débordée!

domingo, 2 de agosto de 2009

Por uma vida assim ordinária

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo"...

Amor, vida, trabalho, cidade...
Tudo que eu quero nessa vida é tranquilidade.

Ordinário em francês é comum, mas pode ser algo normal, sem grandiosidade. Falar que eu quero uma vida ordinária parece um sacrilégio nesse mundo louco de 32hs por dia, de comunicação quase instantânea, tecnologia. Onde todos tem que estar por dentro. Onde existe moda e atualidade até no youtube onde tudo é tendencia passageira. Eu acho que estou virando, como diria um amigo, uma misantropa.

Ontem fui ao aniversário da minha sobrinha num bairro (cidade satélite) aqui de Brasília chamado Águas Claras, a nova coqueluche imobiliária da classe média. Já na entrada essa tendência se confirma com corretores fantasiados se jogando na frente do seu carro para que vc receba o panfleto da "oportunidade da sua vida" que se resume a um apertamento de 2 quartos com a metragem de 1 quarto. Além disso, para compensar a feiura do lugar e a infraestrutura precária, vc poderá se deliciar com um playground (sem grama ou areia para não sujar o seu bacuri e não te dar trabalho) e um espaço gourmet fantastique (pq na sua casa mal tem cozinha) além de uma piscininha que em vista dos 200 ou 300 moradores do seu prédio não passa de um ofurô. E o prédio, diga-se de passagem, por mais moderno que seja ainda é igual ao da frente. A pista principal é pior do que qualquer asfalto de Brasília (e olha que o daqui é beeem ruim) sem NENHUMA placa, engarrafada às 15hs da tarde de um sábado.

Mas eu realmente sou louca em achar aquilo ruim. Gastar uma pequena fortuna (os apês em Águas Claras são em média 50% mais baratos que no Plano Piloto, mas ainda assim são caros) para morar num lugar apertado, sem verde, com gente saindo por todos os lados?!?!! Eu não me incomodo em pegar um bus pra ir trabalhar, mas lá nem passa. No mêtro só entra quem dá sorte e ainda tem a tarifa mais cara do DF. É longe do meu trabalho e de onde mora a maioria dos meus alunos. E tudo isso pra quê? Dormir bem. Pq com a rotina louca que vc tem vai conseguir somente dormir em casa. E se vc quiser ir a uma festa (sem ser sertaneja) vai ter que ir pra "cidade". Ou seja, mais de meia hora dirigindo pra chegar em algum lugar (sem trânsito) e tudo isso pra quê? Morar bem. Bem? Nem no final de semana vc vai querer ficar em casa. A menos que vc invista também na TV por assinatura e desista da sua vida social. Ah, outro problema, eu não assito TV, nem aberta, nem fechada, nem digital nem nada.

Mas eu realmente sou esquizita. Não achar bom casar na igreja e fazer uma puta festa para tentar recuperar todas as perdas do casório (e da festa) em presentes para a casa. Fazer um esforço omérico pra dar a entrada num apartamento e sacrificar todo o meu "salário", o lazer com o maridão, os jantares bons para adquirir um lugar que vai ficar pelo menos um ano fechado pq vamos morar fora e nem temos certeza de que vamos voltar pra cá? Ah, eu sou mesmo burra. Devia me matar de estudar por uns 2 ou 3 anos para passar num concurso público para um cargo que eu nem sei o que faz, que não vai usar nada das minhas capacidades nem do que eu gosto de fazer para se resumir no mais emocionante: mecher com leis ou processos numa linguagem mega burocrática e ainda correr o risco de me viciar em paciência e ter que ter um twitter para dar um pouco de emoção à minha rotina. Isso tudo para apenas poder curtir os dois meses de férias por ano e a estabilidade da minha bunda sentada numa cadeira 8 horas por dia olhando para a tela de um computador ou para uma pastinha igual a todas as outras com um número e um monte de coisas escritas no seu interior que ninguém sabe pra que serve e vai todo mundo pra última página ver o que interessa. Blerc!

Eu devo ser louca por não sonhar com isso. É um mar de rosas! Tantas gratificações e 13 salário que eu realmente poderia financiar um pedacinho do céu em Águas Claras. E quem sabe ficar fincada no mesmo lugar para sempre contando com uma promoção que não muda nada num lugar que divide tanto o serviço que vc nem sabe direito o praquê é paga. Realmente toda mulher pode fazer isso pq pra ser realizada basta ser casada e ter filhos, o trabalho não influencia em nada.

Eu devo ser louca por querer fugir do trânsito, da loucura, de gente mal educada, mal amada, mal humorada... Gente que tem tanta coisa emocionante e instigante para fazer no seu empreguinho público que tá sempre de cara fechada querendo chegar o mais cedo para poder ir embora o quanto antes. Eu realmente estou errada. Todo mundo que faz concurso vai ter uma vida boa e bem remunerada. Ver o quanto vale o seu trabalho, pensar em outras oportunidades, ter liberdade, fazer aquilo que vc estudou para fazer não é nada, bom mesmo é ser funcionária (pública). Eu realmente devo estar enganada de não querer me vender barato, de achar que essa juventude brasiliense é acomodada. De não achar vitória nenhuma ganhar tudo de mão beijada. Que o esforço de passar num concurso público é tão grande que valha mesmo o resto da vida sem se esforçar pra mais nada. Estudar dois anos e ter a vida toda paga. De não achar que é conforto ser acomodada. Mas eu realmente estou enganada. Todos dizem. Eu não devo saber de nada. Mas sei que quero uma vida mais ordinária.

Sem querer ofender os certos nadadores à favor da corrente. Se são felizes não se ofendem com o que eu digo, certo? Eu só estou cansada desse sempre "mais do mesmo" e "nada de novo" que andam tentando me vender. Eu posso não saber de nada, mas sei que isso não me agrada. Não, muito obrigada. Eu não vou morar em Águas Claras. Prefiro minha casa alugada.