sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Violência contra mulher - Kav Magá nela!

Essa é uma piadinha muito triste que rola entre eu e o meu marido. Comentei com ele que mais de 40% das mulheres brasileiras já foi vítima de violência. O índice de punição não passa nem perto, mesmo dos casos que chegam a ser denunciados. Diante dos relatos que eu já ouvi sobre os absurdos processuais que são cometidos contra as vítimas, que passam de vítimas a incitadoras da violência cometida contra elas, eu e o maridão chegamos a simples conclusão: se tivermos uma filha ela via fazer krav magá desde pequena.

Sinto muito, mas não vou colocar os números aqui, mas sabe-se que a maioria dos casos acaba em nada. A mulher só consegue que justiça seja feita quando o agressor quase a mata. Eu fico muito feliz por não ter passado por nenhuma situação dessas, mas conheço muita gente que se calou ou por medo de impunidade ou por medo de ficar com uma fama de vagabunda porque mudou de idéia quando já estava dentro do quarto do motel.

A minha sorte talvez se deva aos ensinamentos do meu pai, não baixar a cabeça para ninguém. "Olha no olho e encara com raiva", era o que papai falava. Dizia ainda, "Ou o cara pensa que você está armada ou que é louca. Nas duas ocasiões você vai ter tempo para agir. Se você ver que o cara não vai embora, você foge, se ele for, melhor". Meu pai também era um doce, dizia para o meu irmão mais velho "Se você bater na sua irmã eu te quebro, sabe muito bem que é covardia bater em mulher". Nunca bateu na minha mãe, apesar dos dois terem brigas homéricas, mas já na gente, ninguém tinha pudores de bater.

Essa "proteção" me dava confiança para não levar desaforo para casa mesmo quando não tinha ninguém da família por perto. As vezes confesso que queria mesmo que acontecesse uma briga, pelo menos assim eu poderia extravasar toda raiva que sentia por ser o saco de pancadas dos meus pais. Acho que por isso escapava mesmo, devia ter cara de doida. Eu nunca precisei de ajuda em situações sociais, mas confesso que não eram raras as vezes que meus amigos se sentiam impelidos a defenderem a mim e as meninas da turma de investidas mais agressivas em baladas.

Eu me incomodava muito com isso. Quem é de balada sabe que um homem repele o outro. Mesmo que vc esteja com um amigo, as chances de um cara se aproximar de vc se reduzem quase a zero. O cara fica com medo de ser seu namorado ou bater nele por achar que ele está sendo inconveniente. Por outro lado, quando está sozinha fica sujeita a todo tipo de investida. Os caras as vezes acham que vc está implorando por uma cantada, desesperada. Seguram, puxam cabelo, alguns chegam ao ponto de te rodear com uma série de amigos e forçar um beijo. Patético, mas verídico.

Isso implica que no fundo as mulheres não tem liberdade para ir e vir. É um corpo que te prende numa situação inconveniente. A todo momento vc é lembrada de seu sexo porque vc é o seu sexo. Sua personalidade se esvai e te colocam quase sempre entre duas categorias, puta ou santa. E a linha entre elas é relativa e ténue. Que mulher nunca desejou ser homem pelo menos uma vez? Ou para ter liberdade de sair pela rua sem ouvir nenhuma gracinha ou para poder sair sem dar mil explicações para não cair no grupo das putas? Sim, pois os nossos pais e a sociedade estão o tempo todo nos vigiando para não nos perdermos. Sexo, sexo, sexo! Não queremos nem pensar nele, mas ele tá ali, tachado de sexo frágil. Frágil como a felicidade de uma mulher que sai para balada sozinha para dançar e se divertir.


Mas esse sexo frágil tem dona e é a mulher. Só para ilustrar, eu gostaria de mostrar uma cena de um filme que eu não gosto, mas tem essa sacada fantástica do cara que se fantasia de mulher e sente toda invasão e arrogância dessas cantadas que dizem que no fundo não passam de um recado "eu posso atacar vc".

Assistam ao 1'39"de sorority boys

O que eu queria deixar claro aqui, é que não devemos nos amedrontar. Vamos lutar contra isso. Não vamos legitimar opiniões e preconceitos que incitem a violência. Não vamos julgar outras mulheres baseadas em preconceitos. Não vamos ser cúmplices de homens violentos. Vamos denunciar, relatar, ajudar aquelas que precisam de orientação. Não vamos dar brecha para coisas do tipo "ela tava pedindo para apanhar". Nada justifica covardia. E só para explicar o porque da minha filha (se a tiver) fazer Krav Magá!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Exatas x Humanas = todos saem perdendo

Não é preciso demorar-se muito no meu blog para constatar que eu sou das humanas. Sempre gostei de ler, de artes, de história e geo-política. Nunca me dei bem com números e, devo confessar, certo tipo de lógica matemática me desconcerta. Entretanto, consigo fazer árvores gerativas de deixar alguns chocados. Embora atualmente, posso dizer modestamente, que minhas atividades são compostas de um tanto de crítica literária e outro tanto de prática docente.

Começo o texto falando de mim não por acaso, mas porque tenho grandes amigos que fazem parte desse misterioso e também fascinante universo da chamada "Ciência", ou "Exatas" como muitos erroneamente insistem em chamar. Eu, inclusive, sou casada com um biólogo (uma das disciplinas mais humanas das exatas). Devido a minha experiência pessoal, muitas vezes ouvi sem ter como revidar, ou por medo de perder os amigos ou por falta de maturidade intelectual, argumentos do tipo "as humanas não servem para nada". Ou, "eu até entendo a psicologia, mas literatura... afe!". O que sempre me intrigou é que muitas dessas pessoas aversas às humanas gostavam de ir ao cinema, ler um livro, assistir um concerto ou ver uma exposição, mas era incapazes de associar uma coisa a outra.

Cheguei a pensar que era um pouco de inveja, pois nós fazíamos algo de que realmente gostávamos e todos partilham do pensamento comum que trabalho só serve para ganhar dinheiro e tem necessariamente que ser chato. Se você gosta do seu trabalho, deve haver algo errado. Para resolver o problema dessa "equação" supõe-se assim que nós não trabalhamos. O que é, no mínimo, errado.

Outra possível explicação para o problema seria dizer que o pessoal das exatas acha que as humanas não servem para nada porque não as entendem, daí também não entenderem sua utilidade. Eu vou tentar exemplicar para que serve a literatura no final desse post, mas antes gostaria de pedir uma "licença histórica".

Vou atribuir o início do ensino como algo institucionalizado aos gregos, simplesmente porque compreendo mais a História a partir deles. Enfim, na Grécia havia a principal "disciplina" ou área do conhecimento que era a filosofia. Dela faziam parte a matemática, a física, a lógica e a biologia. Sim, coisas que parecem hoje absolutamente distintas tem a mesma origem formal. Por exemplo, Pitágoras, aquele do triângulo era um filósofo. A especialização de cada área do conhecimento fez com que as disciplinas se separarem paulatinamente até chegarmos o dia de hoje onde parece ser ilusório supor que um engenheiro tenha algum conhecimento de filosofia ou que já tenha lido Aristóteles.

Não nego porém, que existam muitos profissionais em todas as áreas que tenha um diverso conhecimento do mundo. Mas de onde vem essa hipótese de que as humanas não servem para nada? Bom, quando pensamentos no nome dado para elas, humanas, e nós como seres humanos, deveríamos em si adorar uma disciplina que tem o humano como foco. Mas não é bem assim. As humanas muitas vezes criticam o modus operandi de nossa sociedade, do pensamento, do senso comum e etc. E, ver o humano demasiado humano não é tarefa fácil. Mexe com egos, certezas e zonas de conforto.

Eu acho porém que a principal crítica dos exatos aos humanos é que nós parecemos não nos encaixarmos nessa lógica de mercado e produção que se adequa tão bem às exatas. Você tem uma demanda e cria um produto. O produto é o resultado do seu trabalho. Nós, "humanos" temos produtos, mas muitas vezes eles não são mercadorias, não tem valor de comércio, muitas vezes. Não é um produto químico, um remédio, um celular, uma cadeira, um eletrodoméstico, um carro. Podemos vender obras de arte, algumas com valores muitos superiores à um carro, por exemplo, mas a utilidade do carro é facilmente compreendida por qualquer um - a locomoção. Já o que muitos pensam da obra de arte é que um objeto apenas estético. Se o nosso produto do nosso trabalho não tem valor, pode-se fazer a analogia de que o nosso trabalho também não.

Isso para mim é o como o senso comum entende a arte e as humanas em geral. Mas então eu me pergunto, o que seria do mundo sem nenhuma ciência humana? Podemos nós virarmos apenas consumidores acéfalos? Existe algo nas relações humanas que não se baseie em comprar e vender? Somos homo sapiens, ou homo trabalhus? E sabedoria é apenas saber fazer contas, entender movimentos, compostos, particulas? Não estou dizendo que os cientistas não tenham senso crítico, mas a distância entre as disciplinas e a recente competição estimulada por avaliações feitas com base em apenas parâmetros quantitativos tem prejudicado à todos, mas principalmente as humanas.

Porque? Bom, acho eu que a pesquisa em geral tem um papel social, seja de compreender um fenômeno ou até mesmo resolver um problema. Mas muitas outras questões se apropriam dessa simples natureza. A pesquisa das humanas dificilmente é de interesse do Estado como as pesquisas ou das empresas (que no Brasil aproveitam muito mal nossos pesquisadores). Inclusive, elas podem ser do desinteresse, em determinados aspectos. Mas o interesse do Estado, muitas vezes é contrário ao da sociedade em geral. O problema, a meu ver, é que quando os exatos não tem qualquer interesse em conhecer um pouco mais das humanas, pode entender que está de fato cumprindo uma grande parte do seu papel social, pois está fazendo o seu trabalho. Por exemplo, construindo uma hidreéletrica no Xingu, sem entender que pode estar sendo co-resposável por desabrigar centenas de pessoas que virão a morar ninguém sabe onde. Mas ele estava fazendo apenas o trabalho dele. Não se pode apenas inventar coisas e negar o uso que elas terão. Negar o humano da ciência seria como desenvolver a bomba atômica supondo apenas que ela será usada para fazer a paz e negar o quanto de pessoas elas podem matar.

O que poucos sabem é que a maior parte dos cientistas não estão construindo pontes, enviando satélites e curando o câncer. Muitas das descobertas são feitas por acaso e muitos estudos que estão sendo feito hoje em dia só serão aplicados em alguns anos. Claro que eles devem ser feitos. Mas eu não entendo porque o cara estudar algo agora para ser usado (se for) só daqui há 5 anos é mais relevante do que algo que está acontecendo aqui e agora e que pode ser observado. Também não entendo porque tudo deve ser comparado, humanas versus exatas.

Para que servem as humanas? Fiquei de responder essa pergunta. Vou falar por mim e resumidamente pela minha área. A literatura serve para muitas coisas: distrair, encantar, ensinar, mudar, dar voz e silenciar. Podemos disceminar preconceitos, mas também respoder a críticas e injustiças. A literatura serve para desenvolver a imaginação, deixar um legado, falar em primeira pessoa. Podemos encontrar conforto ou desconforto. Podemos imaginar mundos e fazer previsões futuristicas. Eu consigo imaginar um mundo sem deus, mas não imagino um sem literatura. Deus é um produto literário, o cinema, as revistas em quadrinhos, a música, somos todos parceiros de palavras em diferentes linguagens. Tire a literatura de sua vida e veja que não sobram nem belas palavras para falar ao seu amado. A literatura é a expressão íntima humana/social.

Para encerrar, uma frase de um físico que vcs devem conhecer de nome, César Lattes:

“O homem como cientista é amoral. Só é moral como homem, não se preocupa se o que descobre vai ser usado para o bem ou para o mal. Como toda descoberta científica dá mais poderes sobre a natureza, ela pode aumentar o bem ou o mal.”

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dia da consciência negra

Foi ontem, mas sempre tem espaço para atrasados...

Não quero entrar muito na questão política, ando meio farta disso no momento. Mas vou pontuar algumas questões. Vc é da classe média? Estudou em colégio particular? Quantos amigos negros você teve no colégio? Quantos no trabalho, na universidade pública?

Na maioria dos casos, eu acho que a resposta será: poucos. Guarde isso.

Outro dia estava mostrando algumas fotos do Brasil para minha roomate, uma doutora em ecologia que sonha em conhecer a Amazônia (antes da gente destruí-la). Como alguns lugares que eu queria mostrar não tinham fotos legais na net, pelo menos não tão fáceis que minha (in)habilidade pudesse encontrar, entrei no meu picasa e comecei a mostrar algumas das fotos de viagens que eu fiz pelo país. Ela comentou dos meus cachos, perguntou se eram naturais. Eu disse que sim, e comecei a mostrar os diferentes cortes que o meu cabelo já teve. Ela parou para fazer um comentário de que um dos meus amigos que compareceu à minha festa de aniversário não parecia ser brasileiro. Ele, com certeza, acharia isso uma ofensa, mas muitos brasileiros achariam que isso é um elogio. Porque? Guarde essa resposta.

Quais são os principais argumentos contra as cotas para negros nas universidades públicas? Você pode encontrar mais argumentos iguais aos seus nesse site, um pequeno exemplo. Você certamente se sentiria muito bem e justo ao pensar "a injustiça é contra os pobre, se a cota fosse apenas para pobres, pois eles são os mais excluídos.

Tudo bem, então analisa porque a maior parte dos ricos e da classe média é branca? Se vc seguir alguns dos argumentos do site que eu citei, vai achar brilhante dizer que a escravidão só acabou há 100 anos e é muito pouco tempo para que os negros conquistassem seu espaço. Mas alguns ilustres, mesmo assim, conseguiram. Bom, o feito de poucos não pode ser extendido a todos. Certamente se todo mundo quisesse mesmo ficar rico, ficaria, né? Só não consegue porque não quer.

Só fazendo um parênteses, a Finlândia se tornou independente da Russia há 100 anos e já teve tempo de virar uma potência. Porque o Brasil ainda está engatinhando? Não esqueça de levar o IDH em consideração na sua resposta.

Agora se mais de 50% da população brasileira é negra, tem algo muito errado nos negros serem uma minoria.

Porque algumas famílias de classe média tentaram derrubar por meio de liminares as cotas? Estão baseadas num princípio constitucional e numa injustiça social. No fundo querem apenas que seus "pimpolhos" tenham ainda mais uma chance de passarem a pública.

Agora faça um exame de consciência. Porque minha amiga achou que meu amigo não tinha o estereótipo de um brasileiro? Quem nós, os brasileiros que temos "voz" estamos querendo apagar? Com quem estamos querendo nos identificar? Porque?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cabelos enrolados podem acabar com seu relacionamento?

Parece absurdo, mas não é. Esse é o título de uma postagem de um site especializado em cabelos cacheados. O depoimento era de uma leitora que enquanto grávida decidiu "assumir" os cachos pela praticidade. Reproduzo aqui um trecho do depoimento que pode ser encontrado no site natural curlly:

CurlyNikki recently shared a painful story about a woman who found the future of her marriage in jeopardy based on her decision to wear her hair natural. Although her husband agreed that she had more to offer to the relationship than her hair, and that their daughter’s naturally curly hair was “beautiful,” he still felt his pregnant wife’s “nappy” hair was unattractive.

For better or for worse, she agreed to wear more straight hairstyles, allowing the couple to reach a boggling agreement
that insured that his happiness and comfort would not be compromised by her appearance. Of course, what followed this courageous confession was a hailstorm of angry, confused, offended and empathetic comments by users who could barely stand the audacity of a man’s ultimatum towards his pregnant wife. But is this an isolated situation, or can having curly hair really be a deciding factor in whether or not a marriage can stand the test of time?


tradução:

"(...) recentemente compartilhou a dolorosa história de uma mulher que encontrou o futuro do seu casamento baseado na decisão de usar seu cabelo ao natural. Apesar do seu marido concordar que ela tinha mais para oferecer ao relacionamento do que apenas seu cabelo e concordar que o cabelo de sua filha naturalmente enrolado fosse bonito, ele ainda sentia o cabelo de sua esposa grávida bagunçado não fosse atraente.

Para melhor ou pior, ela concordou em usar mais seu cabelo liso, permitindo que ao casal alcançar um complexo acordo asegurando que sua felicidade e conforto não fosse comprometido pela sua aparência. Claro, o que se seguiu à sua corajosa confissão foi uma avalanche de comentários raivosos, confusos, ofensivos e enfáticos por usuários dizendo como o homem poderia ter a audácia de dar tal ultimato à sua esposa grávida. Mas essa é uma situação isolada ou pode mesmo o cabelo enrolado ser um fator decisivo ou o casamento não pode suportar o teste do tempo?


Em outra reportagem do site o título trazia a reflexão: o cabelo natural pode te fazer "enegrecer"?

Por essas duas rápidas leituras podemos inferir que existem pelo menos 2 preconceitos em relação aos cabelos enrolados: cabelo enrolado é feio e afro (ou talvez seja feio por ser afro).

Bom, nem preciso dizer o quão ruim e anti-natural esse padrão de beleza ariano-escandinavo (aliás, se o povo soubesse o quanto meus cachos fazem sucesso na Suécia...) Enfim, o que mais me deixou enojada foi a idéia das pessoas ligarem cabelos enrolados aos negros e por isso eles serem feios ou desprezados. É um absurdo, mas também verdade. Por essas não temos como negar que o racismo está mais presente no nosso dia a dia do que imaginamos. Afinal, uma minoria das mulheres brasileiras tem cabelos naturalmente lisos, mas uma rápida visualizada dentro de qualquer salão em qualquer lugar do país vemos que a maior procura é por escovas à base do secador ou tratamentos químicos para alisar os cabelos, as chamadas "progressivas". E quantas loiras! Alguns lugares parecem até uma sucursal sueca.

Não podemos negar que algumas mulheres queiram fazer o que bem entenderem de suas madeixas, mas o fato de dispensarem a maior parte do seu dinheiro tentanto ter as madeixas lisas e loiras me faz achar que não querem ser diferentes, e sim iguais. Iguais às européias e diferente da maioria das brasileiras, sobretudo das negras. A escravidão é uma mancha na nossa história, mas parece que o stigma negro nos traços é que tem de ser evitado, tentando fingir que ela nunca aconteceu. Os índios tem cabelo natualmente liso e uma mística ligada ao bom selvagem, o héroi nacional, o guarani. Não vou nem entrar no mérito indígena e do quem vem sido usado como desculpa para apagar toda a questão indígena.

Eu não tinha me tocado de toda essa discussão até ser alertada por um comentário de uma das BF's que foi quem achou a citação no site. Então, como boa representante dos cabelos afros, fui fazendo uma retrospectiva da minha história capilar. Tenho fotos linda de infância com meus cachinhos livres e soltos. Não lembro quando a tortura começou, mas de uma hora para outra meus cachos passaram a ficar "rebeldes". Estava decidido, meu cabelo deveria ser "domado". Vieram então as marias-chiquinha e rabos-de-cavalo que de tão apertados me deixavam com dor de cabeça. A idéia era puxar bastante a raiz para ver se o cabelo acostumava a ficar liso. Depois, no início da minha adolescência era época do relaxamento "Amacihair teen", que transformava meu cabelo cacheado em ondulado e deixava minha cabeça fedendo a amônia por uns 3 meses. Mas eu me submetia a isso porque ouvia da minha mãe que meu cabelo era feio. Tinhamos que fazer alguma coisa!

Na época dela, ela colocava a cabeça na tábua de passar e passava o cabelo a ferro. Hoje temos a chapinha. Mas na minha adolescência ainda não tinha chapinha. Eu cansei de ficar com a cabeça fedendo e deixei o meu cabelo crescer, pois segundo minhas fontes, com o peso meus cachos ficariam menos rebeldes. Mas eu não queria ter cabelos lisos, só não queria que as pessoas me olhassem como se eu fosse uma maluca saída do hospício. Sim, pois era assim que eu me sentia toda vez que deixava meu cabelo secar ao vento ou naturalmente. Eu então fazia uma enorme trança com ele molhado e quando o cabelo secava, estava ondulado. Mas era um trampo. Um cabelo daquele tamanho demorava 24 horas para secar. As vezes eu queria usar meu cabelão todo bagunçado, enrolado, livre e solto. Mas as comparações com Clara Nunes e Maria Bethania me desencorajavam, afinal, eu não era fã delas na época e elas estavam muito longe de ser o padrão de beleza de uma adolescente metaleira.

Sempre tive dor de cabeça ao prender meus cabelos apertados, o jeito mais fácil de domá-los. Algumas vezes recorria a touca, um método onde vc penteia o cabelo em torno da cabeça com auxílio de granpos. Pode secá-los ou dormir com uma touca de meia na cabeça, mas tem que virar para o outro lado, pois senão ele fica muito estranho. O problema dos secadores, para mim, sempre foi o barulho. Mesmo os mais silenciosos não são nada agradáveis. Tenho por mim que parte do "zumbido" que a minha mãe reclama do ouvido dela fazer é por causa das longas sessões imersa num secador de cabeça mais barulhento que um carro de fórmula 1, que disconfio que ela usaria até hoje se ele não tivesse quebrado após 20 anos de uso.

Bom, acho que apenas por esse rápido histórico, dá para perceber que se adequar ao padrão não é tão fácil. Além de requerer tempo e dinheiro, muitas vezes requer saúde, pois durante a gravidez e alguns tratamentos, as mulheres não podem fazer progressivas ou mesmo pintar o cabelo. As mulheres simplesmente alisam o cabelo porque acham que vai ser mais prático, mais simples, que ficarão mais bonitas. A verdade é que existe muito preconceito contra cabelos enrolados, inclusive essa falácia de que é mais fácil lidar com cabelos lisos. Daí voltamos ao caso lá de cima, da mulher que teve o casamento abalado por assumir seus cachos. Seria muito simples eu falar que a mulher apenas pode decidir não mais alisar os cabelos. Em teoria, mas na prática quantas mulheres alisam o cabelo por motivos que passam até pelo "profissionalismo"? Quando eu trabalhava em loja, minha gerente me disse que se eu não tivesse o cabelo curto, provavelmente me mandaria fazer escova, pois cabelo enrolado parece desleixo. Existem uma série de fatores externos que mexem com a auto-estima de uma mulher que tem cabelos enrolados.

Se você reparar, vai ver que durante todo o post, tem fotos minhas com minhas madeixas originais. Hoje, do meu lugar de fala, não me sinto mais obrigada a alisar meus cabelos. Mas isso foi um processo longo. Dá para perceber que eu sou branca, então não posso dizer que sofri racismo por causa dos meus cabelos, mas já ouvi coisas do tipo "Você fica mais bonita de escova". Acho que o precesso é tão longo, que quando alguma amiga me vê de escova, simplesmente diz "nossa, você fica tão estranha de cabelo liso"! Eu não sei se vcs lembram do meu post sobre ser baixinha. Não era fácil me achar uma mulher bonita sendo tão diferente do padrão, baixinha e de cabelos enrolados. E olha que quando eu me comparo com outras mulheres acho até que tenho poucos problemas.

Mas eu tenho uma carreira que me permite usar meus cabelos enrolados. Posso dizer até, que com minhas experiências de vida, consigo chegar para alguém e dizer, com toda propriedade, o quanto é ridículo aliar o modo com que uso meus cabelos com a minha competência. Mas quantas pessoas não tem essa oportunidade? Quantos chefes usam o cabelo como uma desculpa para "branquiar" seus funcionários? Sabemos que não é mais permitido selecionar funcionários pela aparência, mas critérios ainda muito subjetivos, como "se encaixar no perfil da empresa" ainda são usados. O que isso quer dizer no final? Eu queria perguntar qual é o real problema com os cabelos enrolados? Qual é o desleixo em eriçar em vez de pentear? Em afofar no lugar de prender? Estamos realmente atentos a malícia escondida por um simples conceito de beleza?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Não a usina de Belo Monte

Gente, se até os globais estão preocupados... hehehe Mas vale a pena ver o vídeo. A discussão deveria ter sido feita com a sociedade e não com os empreiteiros. Como pode, um país tão abençoado pelo SOL depender de alagar a diversidade para gerar energia???

Para assinar a petição, clique aqui

É a Gota D' Água +10 from Movimento Gota d' Agua on Vimeo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Em matéria de sexo, elas tem o poder e eles sabem

O título do post não é tanto uma verdade quanto uma provocação. Sobre uma reportagem no CB, que foi meio en passant a respeito da liberdade sexual feminina. Me atenho ao seguinte ponto: porque os homens tem tanto medo da liberdade sexual feminina?

Aliás, esse sempre foi o meu ponto. O que tem demais uma mulher exercer sua sexualidade livremente? Procurar meios para saciar suas vontades?


A sexualidade masculina ainda se baseia em virilidade, quantidade e porque não dizer também individualidade. Talvez esse seja o conflito entre homens e mulheres. Se a sexualidade masculina se baseia nesses 3 pontos ela parte da premissa que a sexualidade feminina seja por conseguinte frágil, restrita e subalterna. Quer dizer, isso é o que conhecemos de longa data, mas nada quer dizer que a nova sexualidade feminina dê cabo da sexualidade masculina. Talvez ela precise ser, digamos, revista.

Por exemplo, o homem viril, no Brasil colonial, era aquele que tinha muitos filhos, tanto legítimos quanto bastardos. Essa virilidade se associava ainda com a quantidade. O homem tinha relações com várias mulheres, para poder apagar o seu "fogo", dar conta dele - quantidade. A individualidade é que muitas vezes esse homenzão, macho pacas, não queria nem saber se a mulher estava gostando ou não. O importante era satisfazer suas próprias necessidades. Além disso, as mulheres eram proibidas, entre outras coisas, de falar de sexo. O homem ficava então seguro de si pois não tinha ninguém para contradizê-lo. Digo verbalmente, pois as puladas de cerca são tão velhas quanto os próprios seres humanos. Freud que me desculpe, mas sim, as mulheres gostam de sexo. Mas naquela ocasião, não tinham como reinvindicar qualquer direito ao prazer. Além do mais, para que bater de frente com o patriarca? Mulheres traiam e escondiam. Talvez o coronel pudesse até defender sua própria honra (De que?...), mas os menos afortunados, tinham que aceitar filhos de botos, pregos, e outros mais.

Graças! Os tempos barbaros já eram! Hoje temos o divórcio, a quase extinção das práticas brutais em defesa da honra, a pílula, e a comercialização em larga escala de camisinhas. Mas ainda temos muitos pensamentos "saudosistas" em termos de sexualidade. Pois as mulheres ainda não podem exercer sua sexualidade livremente. E as amarras morais soam cada vez mais sem sentido, um apelo desesperado de homens que não sabem mais como "conversar" com as mulheres. Ou talvez, homens que não amem as mulheres, como bem caracteriza o livro de Stieg Larsson.

Sendo muito simplista, o que mais as mulheres tem medo em termos de sexualidade, de forma geral, é de ficarem mal faladas. É, minha gente, já diria Sartre, o inferno são os outros. Mas eu acho, e aqui é minha opinião pessoal, que as mulheres tem medo de ficarem mal faladas per si, mas sim de perderem o controle sobre si mesmas e sua liberdade individual. Nesse caso, posso citar o que aconteceu com a mulher que foi molestada na boate porque tinha tatuagem. Ah?? É, meu povo, isso está acontecendo! Ou por aquela, mais famosa, que teve seu braço quebrado em dois lugares porque o outro mala não gostou de levar um fora.

Parece que exercer sua sexualidade como bem enteder para a mulher significa, aos olhos dos homens (sei que não são todos, mas infelizmente parece que são muitos) não ser mais proprietária do seu próprio corpo. Estranho isso. Não parece ter muita lógica. Isso porque a sexualidade da mulher é vista ainda como algo a ser pertencido por algum homem, como diria Bourdieu, o valor simbólico de uma mulher é aquele que pode acrescer o valor do homem, ou o chamado vulgarmente de "mulher troféu". Se a mulher não tem um homem para "controlar" sua sexualidade, quer dizer que não é de ninguém, ou, que é de todo mundo. Um exemplo tosco dessa idéia pode ser visto aqui.


Outra coisa que podemos também inferir de tudo isso é que quando o cara fala mal de uma mulher (não posso dizer com toda propriedade, pois nunca participei dessas reuniões secretas), algo de presumível como uma traição ou uma decepção em algum aspecto aconteceu. Em suma, ou alguém não foi correspondido em termos amorosos e/ou sexuais. No caso do homem falar mal, podemos ainda dizer que ele pode estar querendo contar vantagem e preencher um daqueles pré-requisitos citados lá em cima, o da quantidade. Sim, pois na cabeça do cara, se ele "menosprezar" uma mulher com quem teve relações, digamos, íntimas, é sinal de que aquela mulher ou aquela relação é dispensável, e não faz falta. Pois outras virão para completar o "placar". Ou ainda aquele mais antigo, falar mal para parecer superior.

Então, porque será que existe essa falácia de que a mulher é quem escolhe o parceiro, ou tem o poder de ter sexo a hora que quiser? Diferentemente das passarinhas, que são agradadas com toda a espécie de mimo, a fêmea humana vem sofrendo de uma enorme carência de displays masculinos adaptados aos tempos modernos. Mas digamos que ainda, um pouquinho de "poder" sexual nos resta. Cuma? Isso porque toda sexualidade masculina se baseia naqueles pré-requisitos que citei lá em cima, então, por mais auto-suficientes que os homens possam parecer, eles atualmente se defrontam com algo nunca dantes imaginado: a crítica feminina. Pois se para mulher ser mal falada é um pesadelo, para o homem, além de ser ruim de cama, ele ainda pode ter o pênis pequeno, ejaculação precoce entre outras. E bom, embora as mulheres sejam, na maioria muito discretas para "difamar" um homem em público, digamos que as vezes, pode ser, que elas venham a alertar as amigas. Por isso, meus caros, em vez de aprederem a lutar "xuxixo" só para impressionar as gatinhas e ficar sem traquejo para conversar com elas e acabar quebrando o braço e acabando com a sorte, tente melhorar a qualidade do seu display, tanto social, quanto sexual.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quanto vale uma boa educação?

Recentemente me chamou a atenção um comentário na reportagem da Folha da sub-síndica de um prédio da Vila Mariana em São Paulo sobre a educação dos condôminos. Na ocasião, houve uma confusão na frente do prédio pois um menor de idade que morava no prédio anunciou uma festa através de uma rede social e super lotou a cobertuda do local. "De acordo com a subsíndica, o fato de haver bebida para menores era inaceitável. "São jovens de escolas boas. E os pais pagam uma fortuna pra isso?", disse."

Eu fiquei me perguntando exatamente para que os pais desses jovens pagam uma fortuna. Alguém tem alguma idéia? Bom, talvez a primeira preocupação dos pais seja com a educação em si. As disciplinas, o conteúdo. Sim, pois eu não me lembro exatamente de nenhuma disciplina da grade curricular dizendo que os adolescentes não devam beber ou fazerem festas. Se pararmos para pensar, se o governo não tivesse tanto medo de ensinar um pouco sobre direito civil (ou constitucional) nas escolas isso até poderia ser discutido, afinal, o consumo de álcool no Brasil por menores de 18 é proíbido por lei. Mas isso não é matéria da escola. Pelo menos não fazia parte da grade curricular no meu tempo. Acho que agora existe sociologia, mas não sei que é o enfoque da matéria.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a outra possível interpretação dessa frase. Aquela de que supõe-se que frequentar a escola, sendo uma escola cara, é sinônimo de boa educação. Eu lembro de minha mãe dizendo "boa educação vem de berço" como sinônimo de algo que se aprende em casa. Talvez educação agora seja outra coisa, não mais uma obrigação familiar. Parece que ter dinheiro para pagar a escola vai resolver o enorme encargo da família com a educação. Coitada dessa família, não sabe da missa a metade. Poucas são as escolas particulares empenhadas em algo além de aprovar seus alunos no vestibular. Senso crítico, cidadania, civilidade, meio ambiente? Alguém pode até responder que está dentro das "missões" da escola. Pode até estar escrito no Projeto Pedagógico, mas se a família participasse mais veria que no máximo, separa-se o lixo em algumas escolas.

O que se quer hoje, nessa educação lucrativa, são números, lucros e poucos dividendos. Paga-se para ter resultados. Esquece-se do caráter humano, pula-se etapas. Que adolescente já decidiu com 13, 14 anos o que quer da vida? Quantas crianças gostam mais de estudar do que de brincar? Eu gostava da subjetividade do ensino, de estimular o senso crítico, a multiplicidade. Mas o negócio agora é a resposta certa, é fazer pontos, o vestibular, o vestibular! Depois se aprende a viver, afinal de contas, brasileiro estudado, mora com os pais até os trinta, não vai ficar endividado.

Pensado que seus filhos serão educados pela escola, os pais de hoje talvez percebam o estrago e sejam mais "condenscendentes" com seus jovens adultos, mimando-os um pouquinho mais. Afinal, agora, aposentados, podemos dar a atenção que deveríamos ter dado antes,mas estávamos ocupados demais trabalhando, vendo televisão, para dar. Depois dizem que o estado é paternalista, que injustiça. Estranho que alguém esqueceu de avisar aos cursos de licenciatura para prepararem os professores para "educarem" os filhos dos outros. Estranho ainda é que hoje em dia os professores não tem mais quase nenhum poder ou respeito dentro de sala de aula, mas mesmo assim, vai tentar. Em meio ao seu cronograma apertado, cheio de informações entre compostos, logarítimos e machadianos, tentar atingir alguma das outras metas do suposto projeto pedagagatico. E se não der, que pena, fique só no conteúdo do vestibular mesmo, é mais imediato, entende?

E assim caminha a brasilidade: "estudando", repetindo e decorando, em nome de uma boa educação. Mas se o filho reprovar, a culpa nunca é dele não. Foi o professor que não cumpriu a meta, justa causa nele, então.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O golpe da barriga, ou a faca de dois gumes

Quem nunca ouviu alguma história sobre alguma mulher que engravidou para segurar o namorado? Recentemente com a notícia da pílula masculina algumas mulheres levantaram a questão: "E se o cara falar que tá tomando a pílula só para transar sem camisinha?"

Eu confesso que demorei um pouco para entender essa hipótese pois precisou entrar mais uma desculpa no meio de tantas que os caras já dão para transar com uma mulher sem camisinha. Pois eles já usam aquela do "eu só tenho vc na minha vida", ou "se vc me ama, confia em mim". E acreditem se quiser, até os caras que pegam mais de uma, mesmo quando as meninas já sabem, ainda usam a seguinte "mas eu só faço sem camisinha com vc". Agora acrescentamos mais essa ao repertório dos caras de pau "mas eu tô tomando pílula, vc não vai ficar grávida".

Vamos e convenhamos que não é tão ruim para o cara engravidar uma mulher. Se ele não quiser nem saber do filho ele pode, é moralmente e legalmente aceitável, contanto que pague uma parcela ridícula de seu salário para a mãe (que muitas vezes é vista como uma aproveitadora) e não dispense nenhum minuto de sua vida com carinho e atenção ao bebê/filhx/criança.

Porque a mulher é vista como uma aproveitadora? Voltemos ao famoso golpe da barriga. O que a mulher quer com isso? Um casamento, uma pensão? Vamos lá; caso a mulher engravide de um milhonário, vai ganhar uma pensão, gorda, talvez, mas não chega a ser grande coisa para o cara. Não lembro os números, mas ouve uma expeculação tempos atrás de que um jogador de futebol pagaria uma pensão de aproximadamente 45 mil reais para a ex com o filho. Muita gente chamou a mulher de aproveitadora, mas se esqueceu que o cara ganhava mais de 2 milhões por mês. Dentro desse quadro isso é pouco. Porque? Bom, primeiro porque se a mulher não cuidar do filho, provavelmente perde a pensão. Mas em se tratando de um milhonário, o cara não é obrigado a casar com a mulher, pode simplesmente "reparar" os danos. Se casou, é porque queria, não?

Mas e quando o cara não tem dinheiro, o que ele perde? É engraçado, mas a lógica do casamento por motivo de gravidez é sempre a da perda, e nunca a dos ganhos. Parece que o homem só perde, mas uma coisa que muita gente esquece de levar em consideração quando acha que uma mulher é golpista é que ela perde mais num casamento ocorrido nessas circunstâncias do que o homem. Por exemplo, acho que para uma mulher se enquadrar no termo golpista deve ser antes de tudo jovem. Se ela é jovem, está na idade de estudar, se formar, começar ou no começo da carreira de trabalho. Na maioria dos casos, quando ocorre esse "golpe" parece que fica acordado informalmente que o cara casa, mas a mulher cuida da criança. Isso implica, o marido primeiro, o filho segundo e a mulher por último. Consequentemente, muitas largam o estudo e/ou o trabalho pois sua principal obrigação é cuidar da casa e da criança. É uma espécie de dívida de gratidão. Só que o homem continua trabalhando e cedo ou tarde progride, afinal, tem uma esposa para cuidar de todo o resto. O homem só precisa trabalhar. Como a mulher não tem renda, tudo que o casal tem, por mais que a lei diga que é do casal, é visto socialmente como bem do homem pois foi ele quem comprou. Na hora do divórcio muita gente acha que a mulher não tem direito porque "não fez nada". Mas poucos são aqueles que contabilizam as perdas que a mulher teve porque casou nessas circunstâncias.

Eu acho, e aí posso estar falando uma baita besteira, que o golpe da barriga é um mal negócio para as mulheres e elas só percebem quando já estão casadas. Não acho porém que muitas mulheres façam isso de propósito. Algo do tipo maquiavélico "Tenho o plano perfeito, vou engravidar e ele será obrigado a casar e dividir seu patrimônio comigo, hahahah!" estilo vilã de novela da Globo. Acho que muitas são ingênuas a ponto de estarem bobocamente apaixonadas e pensam "se eu engravidar, ele vai, pelo menos, ficar perto de mim pra sempre". Algumas nem pensam em casamento ou em termos práticos. Afinal de contas, o que é uma adolescente apaixonada? Acho até que muitas meninas gostam tanto do cara que aceitam casar só para ficar junto do namoradinho e tomam resignadamente o papel de mãe e dona de casa como uma forma de agradecer o cara por eles terem se casado. Mas o que elas perdem? Uma liberdade que nunca tiveram, pois são ainda poucas as mulheres brasileiras que saem da casa dos pais para morarem sozinhas antes de se casarem. A juventude, não aquela que está aliada a beleza, mas aquela que te dá gaz para ter dois empregos, estudar e ainda ir para balada com as amigas na quinta-feira à noite (sem ter o braço quebrado por um mala, por favor). E independência, porque não dizer isso, pois ter o próprio dinheiro te deixa livre, por exemplo, para comprar aquela coisa super inútil e super cara que vc quer sem ter que dar satisfação para ninguém.

Tem uma lógica maquiavélica por trás desse "golpe da barriga". Sempre parece que o homem é aquele cara livre com um futuro brilhante que foi brutalmente interrompido pela aproveitadora que engravidou dele de propósito. Até parece que o cara não sabia das consequências de se fazer sexo sem camisinha. Eu não sei, mas chego a pensar que esse golpe seja mais praticado por homens do que por mulheres. Algo que o cara pensa "Eu quero sair da casa da minha mãe, mas ainda quero ter alguém para cozinhar pra mim e lavar a minha roupa. Hum, ter um filho também parece legal. Ah, bora casar então". E o melhor é que a sociedade ainda tá do lado do cara, então é como fazer a arte e ainda sair por cima.

Sabe o que isso me diz? Que tem alguém achando que as mulheres tem controle total de seu aparelho reprodutivo. Eu nunca soube quando estava ovulando ou não. E olha, vou contar um segredo. Os sintomas pré-menstruais são muito parecidos com os da gravidez porque vc incha, se sente casada, indisposta, algumas mulheres enjoam... Olha que sacanagem, a gente achando que tá pra ficar menstruada e de repende descobre que tá grávida. Mas enfim, as coisas não são bem assim, a responsabilidade de evitar o filho é dos dois. Então, se o cara transou sem camisinha porque a mulher disse que estava tomando pílula e ela engravidou, ele também tem culpa. Afinal, a pílula não é 100% infalível e a mulher não é 100% responsável. Ela pode esquecer. Mas parece que esquecimento nesse caso é proposital, né.

Por outro lado, se a pílula masculina sair mesmo e se os caras começarem a usar será que vai ter algum aproveitador deixando de usar só para engravidar uma mulher? Ou será que a história não vai continuar a mesma e a culpada vai continuar sendo a mulher que acreditou no cara e, de novo, engravidou porque quis?

Por fim, o que eu acho da pílula masculina: demorou! Mas, mulheres, continuem usando métodos contraceptivos e camisinha, afinal, o filho é o menor dos males. Você pode acabar casando com um aproveitador.