quarta-feira, 25 de março de 2020

Bolsonaro nunca está errado. A culpa é sempre dos outros

O governo Bolsonaro, todos sabem, já estava fadado ao fracasso desde o começo. As medidas "salvadoras" de Paulo Guedes visavam apenas mitigar o déficit fiscal, e nunca uma melhora real na economia. Se engana quem acha de desvinculando todas as despesas em contratações os empresários voltariam a contratar em massa. É um cálculo simples que todo empresário que pode, faz. É mais barato e eficiente automatizar. E isso vem sendo cada vez mais possível. Temos já porteiros e secretárias virtuais, cada um trabalhando de suas casas. Temos telemarketing, totens de lanchonetes, auto-caixas de supermercados. As poucas empresas que precisam de funcionários, precisarão cada vez menos deles, e na contramão do mundo, nós investimos cada vez menos em educação, a única saída para esse cenário desolador que nos espera.

Os investidores já vinham "pulando fora" desse barco furado que virou o Brasil. Ao contrário do que muitos pensam, a presidência não é um cargo figurativo e a insegurança passada pelo nosso presidente e sua equipe de lunáticos, trapalhões, sádicos e antiquados não passa a menor credibilidade ao resto do mundo. Isso não seria nenhum problema se nós estivéssemos querendo virar uma "Venezuela", um país isolado que não segue as regras do jogo internacional. Mas me corrijam se eu estiver errada, toda essa sangria promovida pelo ministro da economia e chancelada pelo Congresso visava o contrário. Estávamos seguindo a risca a cartilha que FHC seguiu, privatizando, congelando salários e até falando em redução. Com feitos que teriam até feito FHC morrer de inveja, ele que nunca conseguiu flexibilizar as leis trabalhistas ou mexer no funcionalismo público.

O governo Bolsonaro, seguido anteriormente por Temer, conseguiu deixar a grande maioria da população desprotegida e desamparada. O INSS é apenas a sombra do que já foi um dia. SUS sofrendo cortes, a aposta do Ministro da economia era que o governo se tornasse um mero banco para a arrecadação e repasse a juros módicos de impostos e tarifas, sem de fato fornecer praticamente nenhum serviço. Sim, para Guedes o ideal era não haver nenhum serviço público, nada gratuito. Não existe almoço grátis, muitos diziam. Como todos já sabiam, a reforma tributária foi deixada por último, significando como sempre aquilo que sempre significou - os ricos pagam menos impostos que os pobres e vão continuar pagando. Judiciário e legislativo mantiveram seus privilégios na reforma da previdência, seguido pelos militares, que assumiram um novo caráter de "bombril"da nação. O INSS está sem funcionários, coloquem os militares lá! A educação está ruim? Os militares resolvem! Eu ouvi até gente falando que os militares que deveriam construir estradas no lugar dos funcionários mal pagos.

Com toda essa contenção de gastos, e contrariando uma máxima bem conhecida na economia keynesiana, é lógico que o país já estava em recessão. A felicidade da nossa balança comercial sempre foi o Agronegócio, que conseguia trazer uns dólares para o país a aliviar um pouco a balança comercial, mesmo sem empregar muita gente. Sempre que alguma gripe se abatia sobre o rebanho chinês, boom! Os bolsos se alegravam no Brasil. A gente não conseguiu ler os sinais do que acontecia por lá, e portanto, não nos preparamos. Aliás, estamos tão despreparados, que o estudo que apresentaram ao governo britânico, que fez com que ele mudasse radicalmente de política, poderia ter sido feito aqui, se a gente não tivesse desmontado completamente a ciência brasileira. Os cientistas que podiam, já foram embora. Os que ficaram, foram "delicadamente" chamados a fazerem coisas mais "importantes"do que pesquisar curas de doenças, ou apontar possibilidades de contenção de epidemias. Universidade é só para dar aula. Para melhorar ainda mais o cenário, o governo conseguiu cortar para 1/3 as bolsas de pós graduação. Isso acaba com as equipes de pesquisa do país. E não adianta apelar para "Deus iluminar nossos cientistas", pois sem dinheiro e sem pessoal, eles não tem o que fazer. Tão pouco os médicos que não tem testes para aplicar nem equipamentos de proteção para usar.

Dentro desse cenário nos temos um presidente consciente da sua abissal incompetência, que culpou o PT e continuaria culpando durante todo o seu governo se agora não aparecesse a desculpa ideal para o seu fracasso - o coronavírus. Diante da inegável realidade, afinal, países muito mais ricos pelo mundo, e até mesmo o ultra-liberal Estados Unidos estão se mobilizando para conter o vírus e todos estão perdendo dinheiro com isso. Mas diante dessa realidade, o presidente que não sabe o que fazer, seguido do ministro que não entende porque não pode deixar os pobres do Brasil à sua própria sorte, arrumaram a estratégia perfeita para reduzir finalmente os salários do servidores públicos com a desculpa de que quando a crise passar - veja, todos falam de crise, e não da pandemia - quando ela passar os salários voltaram ao seu patamar. Mas sabemos que a crise vai durar pelo menos uns 5 anos, especialmente se contarmos com um ministro que acha que conter gastos vai magicamente recuperar a economia. E quando a pandemia passar, quem vai ter dinheiro para consumir o que quer que seja? Se antes da crise, muitos já estavam contendo gastos, saindo do plano de saúde, que estavam numa situação calamitosa, colocando seus filhos em escolas mais baratas e cortando todas as prestações de serviço que diziam desnecessárias, agora, depois da pandemia e sem 20% de salário, como fica a grande parte da economia brasileira, que vinha sendo o comércio e a prestação de serviços?

Mas a estratégia do governo é perfeita! Conta com o desespero dos políticos que tem um pingo de discernimento para passar as medidas mais escabrosas de um dia para o outro, na esperança de vencer a crise e a pandemia, culpando de quebra governos estaduais pelo fechamento dos estados, tirando o dele da reta, e tendo de quebra o Coronavírus como bode expiatório perfeito. O governo bolsonaro está nos levando para o desastre completo e visa ainda por cima sair de pobre coitado. Como todo bom manipulador, nunca tem culpa de nada. Quando faz algo de errado, foi alguém que o convenceu a fazer algo de errado. Quando não faz nada, está tendo dificuldades para governar. Mas a culpa nunca é mesmo do Bolsonaro, e ele nos fará lembrar disso todos os dias até o final de seu governo, afinal, a culpa é do povo, não é mesmo. Ele que colocou o Bozo lá.