quinta-feira, 28 de abril de 2011

Como sempre...

eu reclamo reclamo e no final tenho o que eu quero numa dose quase tão grande que as vezes acho que é demais. O que eu estou querendo dizer? Bom, lembram da senhorita aqui reclamando cântaros que não tinha trabalho, bi bi bi, bo bo bo? Entrei num curso de sueco pago para ter com que ocupar essa cabeça caraminholante. Duas vezes por semana eu vou ao centro ao meu "svenska kurssen" por 2 horas.

Bom, a questão é que aqui eles tem uma escola pública para adultos que tem cursos de sueco (de graça). Eu achei que fosse uma coisa complicada de conseguir, pois eu cheguei depois da data de início de todos os cursos. Também tem aquele fato de que no Brasil tudo de legal que o governo "dá" pra gente é um drama para conseguir.

O mais difícil foi chegar lá, isso porque da primeira vez eu tentei ir a pé. Mas ele fica fora da cidade, então não rolou. Andei duas horas naquele dia, foi punk. Mas na outra semana, cheguei ao Komvux e a recepção estava fechada. Ele funciona a cada meia hora de cada hora, algo assim. Esperei um pouco e voilà, marquei uma entrevista para a semana seguinte. Já comecei a ficar mais animada.

No dia da entrevista eu fiquei bem nervosa. Fui estudando no baú, mas na aula anterior do meu curso pago, eu tinha boiado por metade da aula. Achei que ia me ferrar no teste, mas a moça da escola começou perguntando meus dados pessoais em sueco. Tirando pelo número de telefone que eu esqueci se falávamos de 2 em 2 ou 3 em 3, o resto foi tranquilo. A entrevistadora ficou tão animada com minha escolaridade, que me colocou para começar o curso na semana seguinte. Eu perguntei a respeito do curso já ter começado, mas ela disse que não havia problemas, que achava que eu dava conta.

Conclusão, vou fazer aula de sueco 4 vezes por semana de manhã e mais 2 à noite. Isso pq eu ainda estou pensando em fazer um curso de inglês semestre que vem. Ai ai. Sou doida mesmo. Agora não vou ter tempo pra nada. Bem feito.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pensando no Brasil

Gonçalves Dias escreveu sua Canção do Exílio enquanto estudava na Europa. Ele era filho de português com uma cafuza, expressão que eu realmente não gosto, mas para quem não sabe cafuzo é a mistura de índio com negro. Podemos assim dizer que Golçavez Dias era um legítimo brasileiro, como todo os outros.

Uma coisa engraçada de se estar fora do seu país e que vc entra em contato com vários estereótipos. Muitas das coisas que eu li na Identidade cultural na pós modernidade (Stuart Hall) e Crítica da imagem erocêntrica (Robert Stam e Ella Shohat) eu vi quase que na prática. Por exemplo, ouvir dos gringos qual lugar eles devem ir para ver mulheres de biquini no Brasil. Tipo, não interessa a cultura ou a História brasileira, o que importa são as mulheres, as festas e os biquinis. As pessoas não fazem a menor idéia de como é o Brasil, quantos habitantes, quais são as músicas típicas, e o que mais me entristece: não sabem nada da diversidade cultural brasileira.

Quanto disso é nossa responsabilidade? Eu vejo aqui na biblioteca pública de Lund, Gabriel Garcia Marques, Vargas Llosa, Isabel Allende, em sueco, inglês e espanhol. Mas não encontro nada sobre a Literatura brasileira. Nem aqueles super batidos como o Machado de Assis, o Lima Barreto, a Clarice. Talvez por isso eles não cheguem nem perto da dimensão cultural do Brasil. O que nós estamos vendendo? Sempre o Carnaval e só o do Rio. Festas, mulheres...

Aqui tem órgãos do governo que tem folders em pelo menos 10 línguas, mas nada em português. Porque os brasileiros sempre dão um jeito de se comunicar? Quando digo que sou brasileira, muitos pensam que falo espanhol. Todo brasileiro entende um pouco de espanhol e fala portunhol super bem, mas essa não é nossa língua materna e eu não vou falar espanhol por aí. Se é para praticar uma língua estrangeira, que seja o inglês, que preciso mais. Tudo bem que somos um dos poucos países da América Latina que não fala espanhol, mas nós somos o maior e o mais rico. A China é o único país da Ásia que fala chinês. Fico pensando se algum idiota começa a falar japonês com um chinês porque acha que é tudo a mesma coisa. Porque isso acontece?

Outra coisa que me intriga é que quando estamos aqui ouvimos sempre as mesmas perguntas de outros brasileiros: "Vocês vão ficar por aqui?" E logo em seguida uma série de dicas e propaganda tentando convencer você que ficar aqui é uma ótima idéia. Quando deixamos escapar que não temos vontade de viver aqui, as pessoas nos olham espantadas. "Como assim vc não quer viver na Suécia?". As vezes acham que estamos tendo uma má experiência, o que não é verdade. Eu não tenho dúvidas de que em muitos aspectos a vida aqui é mais fácil e melhor. Nós estamos vivendo aqui com o mesmo orçamento do Brasil e nossa casa é mais legal, podemos andar a pé a qualquer hora pela cidade, podemos comer uma série de coisas que não achamos no Brasil, podemos viajar para outros países por um preço bem mais acessível do que viajar pelo Brasil.

Mas sabe, as coisas aqui são tão certinhas, tão organizadas, que nem os suecos gostam. Muitas vezes eles parecem pessoas cheias de TOCs tentando se livrar da organização, mas não conseguindo. É relativamente engraçado. Eu gosto da vida por aqui, mas não sei se me encaixaria. Temos a sensação de que não precisam da gente as coisas aqui só continuam. Tudo bem que ainda precisam conhecer mais o Brasil e nisso eu poderia ajudar. Mas a imagem do nosso querido país não vai ser tão diferente até termos mais orgulho de quem somos e do que fazemos. E não ficarmos procurando uma remota ascendência européia para tentar ser tratado como um gringo na hora de viajar, isso é ridículo. Raras excessões são essas famílias multinacionais, a maioria está indo atrás de uma raiz que formou o Brasil, mas que não deve ser colocada acima da nossa história e do nosso país. Devemos sim nos sentir mal pelo tratamento que recebemos dos estrangeiros e fazer eles se esforçarem mais para nos entender e conhcer o nosso país sem entregar tudo de mão beijada. Eles chegam no Brasil com as mulheres dando mole, todos querendo conhecê-los... Acho que é um pouco de exageiro na hospitalidade...

Eu sei que posso fazer muito mais pelo Brasil, mesmo ele me maltratando. A experiência aqui ajuda a ver o que está errado no Brasil. Não que devamos seguir o modelo sueco, mas podemos refletir melhor sobre o papel do Estado. No Brasil ele é completamente inútil, mas aqui ele torna sua vida mais fácil. Você só precisa pensar em você, claro que tem que fazer a sua parte, mas não precisa implorar para conseguir o passe estudantil, ser humilhado toda vez que precisa ser atendido por um funcionário púclico, pagar um plano de saúde e ter um atendimento com a qualidade de um hopital público... Mas o Brasil precisa acordar. Não é só ganhar dinheiro que melhora a vida de uma nação. Não tem cabimento a gente sentir vergonha de exigir os nossos direitos. O povo é acuado pelo estado desde uma simples enfermeira até o policial. São eles que nos servem e tem um papel muito importante, não devem ser desrespeitados, mas nós não podemos ter medo deles.

Nós não temos que ter orgulho somente das coisas banais como palmeiras e sabiás, temos que ter orgulho de sermos um povo que trabalha muito, mas temos que ter vergonha de sermos um povo que trabalha também para fazer aquilo que o governo deixou de fazer.

domingo, 17 de abril de 2011

Da nacionalidade

Será que nós conseguiremos um dia ser cidadãos universais dentro do mundo "globalizado"? Parece bem conhecido que a globalização visa "universalizar" ricos dando a eles acesso a todo tipo de bem de consumo, que viajam quase sem limites, mas barrar pobres ou "impuros". Apenas um certo nível de riqueza permite que diferenças históricas e coloniais possam não ser mais vistas.

Realmente pelo que tenho percebido, sempre vai existir uma fronteira imaginária entre aquilo que parece ser de todos, o universal, e aquilo que temos como "patrimônio" nacional - o preconceito. Preconceito entretanto pode não ser a melhor palavra para definir a mistura de sentimentos entre ambos os lados.

Aqueles estabelecidos se sentem lesados pois imaginam estar perdendo as oportunidades que não querem de aproveitar os impostos que sempre pagaram para aqueles que sempre se sentiram lesados por todos os lados. Nem sempre as coisas são tão simples.

Mesmo que vc não queira nada, sua nacionalidade pode dizer mais sobre você do que você mesmo. Estar de passagem, viajando, vivendo a vida, não parece algo para alguém de um país em desenvolvimento de classe média baixa. Nessas mesmas condições, apenas europeus e americanos são aceitos. Você, entretanto, "tem que ser selado, carimbado, rotulado, avaliado, se quiser voar".

terça-feira, 5 de abril de 2011

Tirando forças de... Thor?

Eu bem que queria estar batendo um papinho com Pã, comendo castanhas do Pará ou no Valhalla tomando cerveja despreocupadamente, mas eu estou aqui travada intelectualmente. Para melhorar minha situação, fui ignorada pela bam bam bam dos estudos de gênero aqui da Universidade de Lund que nem seque se deu ao trabalho de responder o meu e-mail.

E-mail que aliás demorou quase um mês para ser escrito, pois eu tenho o péssimo hábito de ser, digamos, concisa demais para uma pessoa das humanas. Além disso eu tinha que escrever em inglês, coisa que meus amigos sabem muito bem que eu não sou capaz de fazer. Mas meu marido sim, hohoho. Ele traduziu, ficou ótimo. Mandei. Primeira semana, nada. Segunda, nada. Terceira = eu deprimida me achando burra, inútil, louca e prepotende de achar que a bam bam bam daqui ia dar bola para mim. Aí depois veio a quarta semana, a fase da paranóia "Será que ela não recebeu o meu e-mail ou terá algo contra os brasileiros?", "Será que pensa que eu quero fazer doutorado aqui e por isso me ignorou?", "será que ela sabe que eu não escrevo em inglês?". Depois veio a fase da auto-reflexão. Mas essa fase me dói um pouco pq eu acho que fui bastante prejudicada no meu mestrado.

Primeiro porque eu não tinha bolsa, depois porque descobri que poderia ter tido bolsa, e ninguém me avisou. Além disso, eu trabalhava 40hs semanais dando aula na UnB, fazia disciplina e não tinha final de semana. Para completar, ainda fui gentilmente apressada pelo pessoal da secretaria a defender dentro do prazo, que diga-se de passagem, encurtaram na metade do mestrado. Mais tarde não me deram verba para convidar ninguém de fora pra minha banca. Mas no final tudo acabou dando certo, mas... Eu merecia pelo menos um milhão pelo trampo. hehehehe Se alguém quer saber quanto eu acho que vale.

Daí eu pego o meu diploma, metaforicamente, pois ele ainda tá lá na reitoria, ponho debaixo do braço e venho pra cá, pra terceira maior cidade da região de Skåne. Não digo que fui bater na porta da Universidade de Lund porque foram inúmeros desafios a enfrentar. Primeiro o meu pânico de falar inglês em público teve que ser resolvido, ou eu me tornaria de fato uma hermitona isolada dentro de casa. Mas pedir informação, comprar comida e fazer aula de sueco em inglês é uma coisa, ter um papo sobre meu doutorado é outra. Eu nem consigo pensar no vocabulário da minha própria dissetação em inglês. As vezes me imagino numa puta saia justa falando besteira como "I realy like genders studies", ou "- I'm working whith the representation of the matherhood... - Okay, the Department of Performing Arts is in the bilding over there. Have a nice day!"

Daí eu tive a melhor idéia de todas, tudo bem que devo alguns créditos a minha cara metade, mas enfim, quem vai fazer sou eu. Vou escrever os artigos do mestrado e tentar publicar, afinal, esse mestrado tem que servir para alguma coisa. Além do mais, eu sou um pé no saco sem estar trabalhando. Encho minha cabeça de caraminholas. Também tem o lance do doutorado. Se eu quiser fazer um em qq lugar, preciso de algo publicado, né.

Mas aí vem então a falta de ânimo. Descobri que adptar meus capítulos para virarem artigos não vai ser nada fácil. Alguém sabe que diabos de programa lê a extensão .ebok?