terça-feira, 27 de outubro de 2009

A contadora de histórias

Outro dia desses estava conversando com o pessoal do mestrado e umas colegas que já são avós estavam se indagando como distrair a atenção da criançada. Eu então comentei que na minha diferença de sete anos para a minha irmã aprendi muita coisa. Embora eu odeie dar aula pra criançada não tenho nada contra entreter a molecada por um tempo. Contei a elas algumas histórias de como mantinha a atenção da minha irmãzinha e me livrava das perguntas difíceis. O meu problema era sempre essa. Na fase dos porquês a minha irmã devia ter uns 4 ou 5 anos e eu 11 ou 12. Algumas perguntas eram realmente difícieis pra mim. Apesar de ser bem esperta eu não sabia se devia "preservar" a ingenuidade da minha maninha ou dizer logo "O papai noel não existe". Então inventava uma história qualquer que segurasse a onda até ela não acreditar mais e resolver perguntar para alguém mais "sabido".

Duas perguntas das quais me lembro as respostas que dei até hoje me surpreendem. Uma vez minha irmã me perguntou "O quê é uma camisinha?". Eu sabia, mas ela nem sabia o que era sexo, o quê eu ia dizer? Morria de medo de levar uma bronca por ter ensinado "besteiras" pra minha irmazinha. Então respondi "Quando chove é muito comum que as pessoas fiquem gripadas. Para evitar a gripe o governo invetou uma camisa muito grande, maior que uma capa de chuva, toda de plástico que evita a gripe. Para ficar engraçado, deu o nome de camisinha." Ela engoliu por um bom tempo. Outra estória de que me lembro bem foi a resposta da pergunta "De onde vem as estrelas?". Essa, na éporca, eu nem sabia responder direito. Por onde começar a explicar? "A vida, o universo e tudo mais?". Inventei a seguinte resposta: "A Terra é na verdade um grande globo terrestre que fica na biblioteca de deus e quando ele cansa de nos observar ou quer que a gente durma coloca um pano preto encima do globo. Mas como a Terra é muito velha e o pano também, ele ficou com alguns buracos e as estrelas não são nada além da luz da biblioteca que entra pelos buracos no pano". Essa ela adorou. Eu nem acreditava em deus, nem no papai noel e muito menos no coelhinho da páscoa, mas deixei o papel de destruidor de fantasias para o meu irmão mais velho.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eu não aguento!!!

É muito tempo sem reclamar. Uma vez escutei de uma ex-chefe que a coisa mais engraça em mim era minha indignação crônica. Eu não entendi. Ela disse que eu falava as coisas mais engraçadas em tom sério e não dava pra me levar à sério nessas ocasiões. O que mais me indignou foi porque estava falando sério. Me senti o Chaplin. Será que o tom de minha reclamação a torna ridícula?
Mas eu não vou reclamar. Não adianta...
Ai meu deus, estou me coçando...

Lá vai:
Tem uma mulher no meu grupo de leitura que quer por que quer fazer mestrado em literatura. Até aí nada demais. O problema são os comentários da criatura. Ela não entende chongas de teoria literária e leu os livros como uma leiga. As vezes é até bom ter uma pessoa com uma visão completamente diferente da nossa. Um olhar virgem e inocente.

Até aí nada demais, mas o grupo tem a proposta de trabalhar a leitura de escritores não canônicos (ou seja, não consagrados pela crítica especializada). Daí o que a criatura faz? Compara todos os livros com os de algum escritor canônico querendo depreciar o escritor marginal. Eu não aguento isso! Pior ainda, o suburbano pra ela é um lixo, mas Sérgio Santanna é o máximo! O pior é que a criatura nem entende a chacota que o Sérgio faz com tudo isso. O cara praticamente revela quem é o bandido do autor "profissional" para o leitor e a menina só enxerga o texto. O pior é ela me comparar porcamente o Autran Dourado com o Graciliano Ramos. Comparações podem ser feitas, mas dizer que um é melhor que o outro sem reconhecer o caráter simplesmente valorativo do comentário (porque a garota não consegue explicar o motivo e sim apenas porque ela gosta) pra mim é o fim da picada. O pior é que eu só descobri depois que o grupo tinha sido aberto para pessoas de outros cursos. Eu não me incomodo com leigos, mas parece que a menina não entendeu a proposta. Nós não estamos ali para dizer que os marginais são bons ou ruins e sim porque eles estão de fora. Bom ou rium é coisa de crítico excludente e preconceituoso.

A criatura já olha o livro atravessado quando lê que o cara não tem estudo. Eu nem acho q ela esteja errada. Eu apenas acho que ela não deveria estar nesse grupo. Talvez algum da nova estética ou algo assim. O que mais me agonia é a literatura contemporânea sempre foi algo difícil de ler, mas quando chega um que fala difícil e não tem berço ou que usa palavras fáceis mas tem uma mensagem difícil e tbm não tem berço o cara é um bosta. Mas basta ser paulista ou carioca, morar no Rio ou em São Paulo ser classe média alta ou rico, branco quarentão e politicamente incorreto pra fazer sucesso. Pra concordar com isso não precisa fazer mestrado é só ler suplemento literário de jornal.

Ah! Chega! Vou terminar o meu livro e esperar pelas pérolas. Afinal, é sempre bom ter material de reserva pro blog.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Olha a poesia!

Tem de sal, tem de doce.
Tem com queijo e tem que remoce.
Tenho poesia fresquinha,
com crítica social ou alegria,
de humor e redondilha.

O soneto é mais barato,
pois já num é mais muito usado
Mas a rima rica é mais caro.
Rimar verbo com subistantivo e ainda fazer sentido
valoriza a mercadoria
e ainda é tudo artezanal

Não, seu moço!
Fazer duas por um real não posso
Se outro fizer compre lá!
Eu aposto esses versos brancos
que poesia não se encontra fácil
Em qualquer lugar
Ou num blog ralé,
um tal de café...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ELA

Ela era estudante, 24 anos. Ambiciosa, mas honesta. Sarcástica e divertida tinha muitos amigos. Não gostava da mãe

Sempre lhe vinha uma música na cabeça para cada momento importante de sua vida.

Achava que nasceu ouvindo Pink Floyd – Wish you were here.

Gosta de ler o jornal. Caderno de moda, economia e cultura.

Achava que um dia podia montar uma empresa que trabalhasse com as três coisas.

Queria fazer uma tatuagem do gato Félix (sempre achou que ele era o gato Feliz), mas tem medo de desmaiar. Desmaiou quando viu sua melhor amiga fazendo uma tatuagem.

A sua melhor amiga também desmaiou.

Tinha o mesmo tanto de orgulho quanto vergonha do pai.

Gostava da mãe quando ela via TV.

A mãe sempre via TV. Sempre via TV quando ela tinha que conversar com a mãe. A mãe não queria conversar quando via TV. Ela não conversava com a mãe.

A mãe não ficava sabendo das coisas porque estava sempre vendo TV.

A mãe ficava brava com ela. A mãe não "wish ela were here"

Ela percebeu que não gostava muito da mãe.

Era recíproco.

Ela era bonita, mas se achava feia.

A mãe falava muito rápido. Queria respostas rápidas. Ela era tranqüila, falava devagar. Ela irritava a mãe. A mãe dizia que era de propósito.

Tinha uma irmã mais velha.

Achava a irmã mais velha uma vadia, mas gostava dela.

A irmã pegou todos os amigos dela e uma amiga também. A amiga elogiou a irmã. A irmã era vaidosa.

Elas saiam juntas. Ela não gostava muito dos amigos da irmã, então falava pouco com eles.

Eles a achavam metida.

A irmã tinha tudo.

A mãe a achava chata.

O pai gostava dela, mas era o mais fraco.

A mãe tinha ciúmes dela.

Ela não entendia muito bem isso.

A mãe era forte, tinha olho doido. O pai tinha olho doido também, mas não era forte.

Ela não gostava de salão de beleza nem de fazer a unhas. A mãe e a irmã a arrastavam. Era para ela ficar menos feia. Ela queria usar o dinheiro para sair, para ir ao cinema, ao teatro, tomar sorvete, comprar livro... Não podia, TINHA que fazer as unhas, era uma menina relaxada.

Tinha que fazer regime, estava gorda. Só a mãe e a irmã achavam isso. A irmã estava doente, anoréxica. A mãe achava lindo. A irmã parecia com a mãe.

Queria visitar o avô (pai do pai). Não podia, a mãe não gostava dele.

O avô gostava dela.

Ela não via muito os parentes. A mãe dizia que eram uns metidos. O pai não se importava. Os parentes não concordavam com a mãe.

Ela tinha vergonha dos pais. Inventava histórias felizes com eles.

Ela morava num bairro chique, mas os pais estavam falidos.

Ela passou fome.

Ela foi trabalhar para cursar a faculdade e comer.

Os pais não entendiam.

Ela trabalhava muito. Os pais achavam estranho. Brigavam com ela quando chegava tarde do trabalho. Ela não entendia.
Os pais não gostavam de trabalhar.

Ela era inteligente e sagaz, mas tinha medo da mãe.

A mãe acabou com 4 paixões da vida dela – o pai, o segundo e o terceiro namorado e o melhor amigo. A mãe achava que mulheres não podiam ter amigos homens.

O pai matou e ingenuidade dela num só golpe, disse: Sua mãe é louca e eu sou um merda, fumo maconha para esquecer quem sou e que sou fraco.

A irmã mais velha se desequilibrou e ficou balançando de um lado para o outro.

A irmã mais nova era apagada. Ficou parada e nunca saiu do lugar.

Ela tentou acordar a todos. Levou um tapa na cara e uma mala nas costas.

Foi embora, achou que ficou livre mais teve que voltar.

Ela não podia fazer isso com a mãe. A mãe disse que ela devia se desculpar. A mãe disse que ela era igual ao pai

O pai foi embora antes dela.

Ela não pediu desculpas. A mãe ficou magoada. A irmã mais velha se desculpou por ela.

Ela queria morar com o pai. O pai não deixou, tinha uma amante.

Uma amante...

Ela ficou sem saber o que fazer.

A mãe a culpou pelo pai ter uma amante.

Ela não entendeu.

A mãe ficou louca. Cuspiu em todos – fogo e dor. A mãe tinha má fé.

Sete horas da manhã, a prima que nunca liga ligou. O pai morreu, ninguém sabia por quê. Ela chorou e a empregada a abraçou. A mãe foi para o telefone.

No velório muita coisa estranha. Um caixão, o pai cruzava as mãos e um monte de rezação sem emoção. A mãe olha com raiva para ela. Ela queria chegar perto do caixão. A mãe fazia que não.

A amante do pai já era mulher do pai. A amante pegou no braço dela e a levou para ver o pai.

Ela viu os olhos de ódio da mãe. A mãe queria estar no lugar da amante. A mãe ainda cuspia ódio e dor. A tia teve que segurar a mãe para não brigar com ninguém no velório.

A mãe chegou em casa culpando Ela. A mãe achava que Ela estava amiguinha da amante. Ela queria entender o que tinha acontecido. O pai tinha morrido? morrido...

A mãe cuspiu mais ódio, raiva e dor. Ela cansou. Fez as malas e pegou o elevador. A mãe falava sozinha.

Ela nunca mais escutou.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Conclusão fatal

Andei pensando esses dias no que escrever no meu querido blog. Me deparei então com uma série de problemas. Além da minha crônica falta de assunto enfrento ainda um descolamento sério de idéas boas do meu cérebro. Mas o que mais agrava a temática bloguística aqui discutida é, inacreditavelmente, a meu esforço otimista. Sim, eu estou tentando ser otimista! Andei relendo alguns posts e de verdade, eu praticamente só reclamo, pelo menos aqui. Fiquei pensando então que com tantas coisas para se reclamar que praticamente são comuns a muitos dxs leitorxs do blog pensei que poderia fazer algo diferente. Falar de algo agradável, otimista, alegre ou quem sabe fazê-los rir? ;)

Mas então, seguindo meu pensamento, cheguei a conclusão de que felicidade não dá muito ibope. Pensem se a mocinha da novela ficasse com mocinho no início, não teria novela. Seria no máximo um episódio. Tem que ter trama, fofoca, enrolação. É que nem literatura (ou o contrário), os gêneros mais populares (não entre os críticos) de toda História sempre foram aqueles que a construção das personagens fica em segundo plano e que os acontecimentos entre a personagem principal e o seu fim (objetivo) são o mais importante.

Como cada vez mais a minha frequencia de postagem diminuirá, como motivar os leitores nesse intervalo de tempo, que deverá ser grande, entre as postagens? Falar mal de alguém? Fazer fofoca? Colocar a resenha de um livro? Hum... nada me parece realmente muito divertido... Atualidades? Bom, eu realmente ando uma pessoa que está fuguindo dela. Me atualizar está me custando um tempo que eu não tenho e sempre acabo me extressando com algo que descubro...

Tive então a brilhante idéia que me amedronta bastante, mas que deve sair do papel mais cedo ou mais tarde: postar aqui os meus textos, poemas, crônicas antigas de quando ainda sonhava ser escritora e não me imaginava acadêmica.

Espero que se divirtam. A primeira vai semana que vem. Aguardem!