segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A ganância

Das coisas que eu não entendo

Parte 2

Uma coisa que eu realmente não entendo é a ganância. Não que eu nunca a tivesse ou que não entenda aquela vontade louca de comer todos os chocolates da caixa sozinha sem dividir com ninguém, mas acho que existem vários tipos de ganância. Ou talvez um sentimento parecido com ela que eu não sei nomear.

Mas eu prefiro chamar de ganância do que encarar o fato de que a maior parte das pessoas é mesquinha, invejosa e egoísta. Digo isso quando me refiro a programas de transferência de renda como o Bolsa Família e outros. Eu achava que o tatcherismo havia provado sua inutilidade, seu grau de exclusão e incapacidade de resolver problemas, mas as pessoas guardam muito dessa retórica em seu pensamento.

A "meritocracia", ah, que doce ilusão! No fundo no fundo, quem trabalha sabe que é mais importante gostarem de você (e isso pode ter n razões além da sua competência), do que sua capacidade per si. Estar no lugar certo na hora certa, ter nascido na cor certa, na cidade certa, na família certa. Tudo isso conta mais do que o mérito. O mérito, na verdade, serve mais para superar os "erros" do destino para quem nasce com a cor, o sexo, a cidade e a família errados.

Mas o que isso tem a ver com o Bolsa Família? Bom, eu me doou toda vez que vejo uma mãe com uma criancinha de colo pedindo esmola. Se ela que ou não trabalhar, eu não consigo julgar. Fico pensando que não deve ser nada fácil ter que mijar na rua, pedir esmola pra comprar água, morar debaixo de uma lona. Acredito ainda, que, muitas vezes essa pessoa nem sabe que pode trabalhar, não tem documentos, não consegue matricular os filhos na escola pois precisa de um endereço residencial e a única alternativa seria se livrar dos filhos para que a assistência social os encaminha para viver numa família melhor.

Eu não sei qual é o caso daquela pessoa que está me pedindo esmola, puxando a carroça para dizer "sim, esse aqui merece ajuda e aquele não". Além disso, eu confesso, sou fraca. Não consigo ver um velhinho se contorcendo para entrar num ônibus, com as costas curvadas pelo peso da caixa de doces sem pensar que ele deveria estar em casa, curtindo a aposentadoria, vendo seus netinhos crescerem. Acho sim nossa sociedade muito injusta, principalmente porque sempre usamos a exceção para justificar nossa opinião.

Além disso, para a maioria das pessoas, essas pessoas são invisíveis. O caso típico de alienação, pois se toda vez que você ver alguém numa situação dessas e comparar com você, sua vida ótima, se você não for uma pessoa sem empatia, vai ficar triste, pensando o quanto nossa sociedade é injusta. Por isso nosso mecanismo de defesa é ignorar.

Eu conheci gente que não precisava de dinheiro, mas entrava no grupo 1 da UnB para pagar 0,50 centavos no almoço enquanto eu decidia se tirava a xerox de que precisava ou pagava o preço cheio do almoço. Não ia denunciar os outros, pensava que se a consciência da pessoa não a incomodava, não adiantava fazer nada, era um caso perdido. Além disso, eu só conheci uma pessoa que abusava do sistema, as outras usavam-no com justeza.

Mas aquele que tem tudo, todas as oportunidades e ainda é míope para os problemas dos meros mortais, ainda acha que consegue julgar com acuracidade os problemas dos outros é que me incomodam. Acham que só porque tem que ter (ou acha que deve) um carro porque o transporte público não funciona, que todos devem mais é se lascar. Não entende que é seu direito também ter um transporte público de qualidade. Se não precisa de Bolsa Família, deveria ter um bom SUS, creche... Mas essas pessoas acham que só porque elas tem que pagar e conseguem, todos também deveriam.

Eu confesso, não consigo ter inveja de quem recebe o Bolsa Família e não acho que a falência do nosso Estado se deva ao ridículo sistema de walfare que ele está implantando. Também não acho que o Estado mínimo seja solução para algo. Qualquer um que comparar EUA e Canadá ou Inglaterra e Suécia vai ver que Estado mínimo nunca foi solução. E vamos e convenhamos, as pessoas que recebem o Bolsa Família não tem a menor noção do que o Estado deveria ou não fazer por elas, ficam gratas quando deveriam ficar indignadas, porque isso, minha gente, é sim, muito pouco.

Se é ganância taxar tacitamente de preguiçoso quem recebe tal tipo de benefício eu realmente não sei, mas que é uma tremenda vesguice social, isso lá é.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A pressa

Das coisas que eu não entendo

Parte 1

Eu nunca entendi esse hábito de correr esbaforido para chegar a algum lugar. Entendo que as vezes, no mundo moderno, temos que correr pois precisamos fazer muitas coisas em pouco tempo. Mas por que chegamos a esse ponto? Temos demandas demais ou aproveitamos de modo pouco inteligente o tempo?

Para mim as duas coisas são ruins. Não quero ter demandas que me obriguem a engolir minha comida, a tomar café tão rápido que queime a língua, a andar de carro tão apressada que esqueça de parar na faixa, de olhar o céu. Em suma, atropelar a poesia da vida para cumprir as demandas da mediocridade.

Sim, meus caros, é medíocre trabalhar 10 horas por dia, sem gostar do que faz, para ganhar muito dinheiro para poder apenas viver um mês por ano. Ter que ter um carro maravilhoso pois com certeza, passará horas dentro dele. Ter que passar 40 anos pagando um apartamento que é um âncora, que não te deixa viajar, relaxar, ver o mar.

Mas cada um tem suas prioridades, seu modo de pensar. Eu não entendo a pressa de ser como todo mundo, de fazer tudo que os outros fazem de ter tudo que os outros têm. Eu não entendo a pressa de ser mal educado, furar os outros no retorno, só para parar a um carro de distância a frente no sinal. Não entendo a pressa de quase atropelar um pedestre e dar aquele sinalzinho safado de "foi mal, não te vi" - mentira!

Não entendo a pressa de comer mal, fast food, nem a do "eu tenho" e a do "eu preciso". "Eu" antes de "você(s)", "ele(s)" - uma impolidez do português do Brasil. A pressa pela pressa, pela primazia daqueles que além disso, não chegariam na frente. Correm para enfim descobrirem que não chegaram a lugar algum, pois fizeram o caminho errado. Aquele que leva mais fácil e rápido a uma vida infeliz, uma juventude mal aproveitada, pois corremos para passar dela e uma velhice amargurada, pois nesse estágio já se sabe:

Sim, serás o primeiro a ir para um lugar onde não podes contar vantagem de chegar. A entropia vence!