quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A velhice é um banho.

Se do alto dos meus 30 anos de idade a vida me permite aprender algo, posso dizer que esse algo é mesmo que a velhice é um banho. Ou talvez, reformulando a frase, que a velhice fede e por isso você que está velho necessita de um banho.

Quando você é criança, seus parentes e amigos entram numa loja de brinquedos e perguntam para o vendedor onde fica a sessão correspondente a sua idade (e infelizmente també, sexo). Alguém pode até te dar uma roupa, como a minha avó as vezes fazia, mas eu nunca vi criança gostar de roupa. Se gosta, tem algo de errado com ela.

Com a chegada da adolescência os presentes podem ir desde roupas, sapatos e livros até video-games e também alguns acessórios esportivos. A gama de lojas que devem ser percorridas para se encontrar um presente para um adolescente aumenta consideravelmente. Entre quatro e cinco tipos.

Mas quando se é adulto, temos lojas exclusivas até para meias. É tanta opção que chegamos até a ficar sem opção. Dentre as milhões de marcas e preços qual é aquele que irá agradar mais? As pessoas talvez tenham suas lojas prediletas, cores, estilos. Mas se você sabe exatamente o que a pessoa irá gostar, qual é a chance dessa pessoa já não ter aquilo? As opções, apesar de muito variadas, parecem diminuir substancialmente após uma séria reflexão. Pensando bem, para que dar presente se uma pessoa bem resolvida que sabe o que quer, vai lá e compra?

Hum, mas o ato de presentear é uma convenção social muito forte. Presentear porque se gosta de agradar eu nem digo, mas presentear para ser lembrado, para ser impecável, para não dar o que falar. Não importa o que se diga no ato "não precisava". Do presente muitas vezes não se precisa, mas presentear é preciso. E quanto mais o tempo passa, mais presentes estamos acostumados a ganhar. Na sociedade do consumo, presentear é quase um hábito perecível nos presentes. Com tanta superposição, chega uma hora que parece faltar opção. Então se começa a ganhar sabão. Literalmente.

De todos os tipos, cheiros, marcas e utilidades. Muito além do simples poder de lavar, eles lavam a alma, relaxam, são fabricados com as lavandas mais puras colhidas por uma camponesa francesa desdentada e despeteada. Maravilha! Quero eu conseguir viver para usar todos esses produtos de banho antes que eles percam sua validade. Mas porque isso? Uma nova moda? O que aconteceu com o chocolate? Nada contra o sabão, mas me assusta um pouco essa recente semelhança entre mim e as mulheres de 80 anos que conheço. Mais do que uma coleção de poderosos cosméticos milagrosos, temos uma coisa em comum: uma vasta coleção de sabonetes.

Será que isso é só mesmo uma falta de opção, uma coincidência? Ou é um sinal de que começo a exalar aqueles cheiros de quem não consegue mais limpar entre as dobras e precisa de um sabonete espanta gambá? Afinal, desodorante é muito na cara... Será mesmo que envelhecer é feder?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Entrando no clima de Natal

"A-do-ro" Natal.

Não tem pior data no ano. Uma comemoração que ninguém lembra mais o porque e inventamos um monte de desculpas esfarrapadas para explicá-la. "Data para ficar perto de quem ama"; "Presentear aqueles que ama"; "Família e amigos"; "Data de amor e esperança"... e blá blá blá.

Resumindo essas coisas encontramos que a grosso modo o natal é uma data para amar aqueles de quem se gosta. Ora, para isso não é preciso uma data específica, mas enfim, não vamos filosofar demais porque ninguém quer ouvir a verdade mesmo, sobretudo no natal. Mas enfim, de todas as desculpas que se pode inventar para o natal, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo é a pior delas. Como comemorar o nascimento do profeta cumprindo uma dezena de convenções sociais extressantes e despropositadas?

Vamos celebrar o nascimento do cara mais hippie da História nos empanturrando de comidas caras e importadas, trocando presentes que na minha família, é melhor esquecer a etiqueta pregada, pois o tamanho do amor é proporcional ao valor do presente. Sei que vai ter muita gente dizendo que não é bem assim, que nem todo mundo liga pra isso e mais blá blá blá. Mas o que estaremos mesmo fazendo na véspera de Natal se não celebrando o consumo?



Vestindo uma roupa de domingo para ficar na casa de alguém que, normalmente temos intimidade. Vamos quase comer à francesa e desperdiçar uma tonelada de comida. Muitas vezes temos um trabalhão para nos encontrarmos na casa de determinada pessoa e no lugar de uma boa conversa alguém vai ligar a TV na rede Bobo e você vai ter que assistir o Natal da Xuxa ou do Sherek porque ninguém consegue acalmar as crianças a não ser a babá eletrônica.



E para abrilhantar o quadro, vai ter um monte de mulher enlouquecida tendo que cuidar de arrumar a casa e as crianças para a ocasião, cozinhar uma tonelada de comida, organizar amigo oculto e tudo o mais, ficar cinco horas monitorando o cozimento do peru, tentando fazer a social entre a sala e uma cozinha (que vai estar quente pois tem um peru no forno e provavelmente vai fazê-la suar em bicas pois maquiagem não combina com trabalho braçal) e ainda vão ter que aguentar um monte de homem enchendo a cara e reclamando em público que a mulher sempre fica emburrada no Natal e ele não consegue entender o porque, já que ela fez tanta questão de passar o Natal na casa da mãe.

Eu vou, provavelmente ter que passar meu Natal em família tentando me desviar de assuntos polêmicos, nos quais, normalmente, ninguém concorda comigo e exatamente por isso todos vão querer a minha opinião. P. da vida porque o único homem da festa a se oferecer para ajudar vai ser o meu marido e que se assim o fizer vai automaticamente se excluir do clube do bolinha. Meu dia vai ficar mais desconfortável ainda quando começar a troca de presentes e eu tiver que relembrar a todos que já que eu estou desempregada, não vi motivos para gastar os tubos com presentes de Natal. A minha mãe vai "tentar" contornar a situação dizendo que ela, na sua infinita bondade, se ofereceu para pagar os presentes para mim sem se tocar que, sendo presentes de natal algo muito supérfluo, eu preferiria recorrer à bondade alheia em algo que fosse realmente necessário.

É, eu realmente odeio o natal.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Ano ímpar

2012 está acabando e o que posso dizer desse ano? Já vai tarde!

O ano não foi todo horrível. Voltar para o Brasil me deixou muito contente. Tinha saudade da minha família e dos meus amigos. Por mais que minhas amigas na Suécia fossem fenomenais, faltava alguma coisa. Fugir do inverno parecia uma boa pedida, afinal, somos moldados à luz do sol. Acho ainda que faltava eu me sentir em casa. Eu sentia falta do improviso, da bagunça, da espontaneidade... Mas porque? Não sei. Não faz o menor sentido. Depois de chegar me deparei com uma burocracia fenomenal, que te amarra os pés e as mãos e para a qual eu não estava pronta. Dizem que "se acostumar com a direção hidráulica é fácil, difícil é voltar para a normal".

Gente que tem a cara de pau de pedir um comprovante de residência registrado em cartório pois não basta você ir pessoalmente ao local dizer onde você mora. Mas eu me pergunto: qual poderia ser o meu interesse em mentir para o banco a respeito do meu local de residência? Se eu quiser receber minha correspondência na casa da minha mãe apesar de não morar lá? Porque uma conta de uma companhia de telefone mequetrefe que abre contas para qualquer um que forneça um CPF por telefone vale mais do que a minha palavra? Disso eu não sentia falta.

Mas agora aqui estou e tenho que reaprender a lidar com isso. Outra coisa que tenho que reaprender: falta de respeito e jeitinho. Não é o que est á escrito, é o que todo mundo faz. Não é ficar na fila, é ser simpático com quem atende. Não é estar certo, é parecer certo. Talvez de posse dessas valiosas informações eu tenha um 2013 melhor do que 2012.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Respirando literatura fantástica

Acho que nunca contei esse detalhe aqui no blog. Adoro Literatura Fantástica. Essa atmosfera misteriosa, de uma tranqüilidade aterrorizante e ao mesmo tempo desoladora me fascina. Outro dia descobri que um representante desse gênero está disponível no Domínio Público.

A dama do pé de cabra, de Alexandre Herculano foi um conto que marcou minha graduação. Antes de falar do conto, talvez eu deva introduzir o autor. Ele é português, do século XIX. Quem quiser mais algumas informações pode dar uma olhadinha na wikipédia, pois infelizmente, eu não tenho mais minhas anotações da graduação.

Acho que foi a primeira vez que consegui aplicar a teoria literária na leitura de um texto. Minha felicidade em encontrar o "desencantamento do mundo", a "morte do sagrado" e por mais estranhas que essas expressões podem parecer a princípio, elas fazem todo o sentido. É muito bobo dizer, mas era como se pela primeira vez eu conseguisse por em palavras minhas impressões da obra.

O tempo todo o narrador tenta se esquivar da responsabilidade de assumir o sobrenatural assumindo-o. Fora que é muito bom ver um texto que se assemelhe tanto a nossa tradição. As superstições, o sinal da cruz, ato significativo no conto tem tanto simbolismo pra gente. Ao mesmo tempo eu acho graça como as criaturas sobrenaturais, tão poderosas, sedutoras e astutas se contorcem de dor ao ouvir um nome santo. Não sei se aplica nesse caso, mas todos esses pequenos elementos me soaram como uma "cor local". É muito diferente do que ler "O homem da areia".

Como o texto não tem direitos autorais, vou reproduzir um trecho aqui, só para deleitar-vos.

"A DAMA DO PÉ-DE-CABRA
Alexandre Herculano

Trova Primeira – Capítulo I

Vós os que não credes em bruxas, nem em almas penadas, nem em tropelias de Satanás, assentai-vos aqui ao lar, bem juntos ao pé de mim, e contar-vos-ei a história de D. Diogo Lopes, senhor de Biscaia.

E não me digam no fim: — "não pode ser." — Pois eu sei cá inventar coisas destas? Se a conto, é porque a li num livro muito velho. E o autor do livro velho leu-a algures ou ouviu-a contar, que é o mesmo, a algum jogral em seus cantares.

É uma tradição veneranda; e quem descrê das tradições lá irá para onde o pague.

Juro-vos que, se me negais esta certíssima história, sois dez vezes mais descridos do que S. Tomé antes de ser grande santo. E não sei se eu estarei de ânimo de perdoar-vos como Cristo lhe perdoou.

Silêncio profundíssimo; porque vou principiar."




sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Da decepção

Quem acompanha, ou tenta, acompanhar esse blog, tá cansado de saber que eu venho tentando entrar no Doutorado na UnB numa área que não é a minha - Sociologia.

Pois do processo para lá de moroso, a primeira etapa, prova de Teoria Sociológica, eu precisava de nota mínima 7 para, depois, ficando entre os 24 primeiros, ter meu projeto corrigido. Eis que faço a prova, que cobrou, dos 5 autores, apenas 4 sendo que um deles foi o que eu menos tive condição de estudar. Minha nota? 6,1.

Cabe recurso, mas apesar de ter entrado, não me animei muito, pois tenho acesso a minha prova, mas não posso ver as correções. Foi me defender sem saber do que estava sendo acusada, à la Kafka. Mesmo ainda não tendo acabado de vez o processo, estou extremamente decepcionada. Dos 3 meses que passei me dedicando exclusivamente ao assunto, com dores nas costas de estudar e etc, parece tudo em vão.

Dizem que eu aprendi muito nesse ínterim, mas queria eu não ter lido o que li. Agora sei que não tenho capital econômico nem cultural para estar onde quero estar (maldito Bourdieu!). Parece que o lugar que deveria inverter esse determinismo colabora cada vez mais para ele. Sei que não posso culpar apenas o sistema. Se eu tivesse desistido de trabalhar antes, talvez pedido dinheiro emprestado para tentar outras universidades, talvez eu pudesse ter conseguido.

Talvez eu não seja afeita para a coisa, talvez eu tenha tentando na hora errada, no lugar errado. Mas quanto espaço temos hoje para errar?

Mas infelizmente as contas continuam no lugar de sempre e "o preço do feijão não cabe no poema".

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Vadia

Segue aqui meu poema homônimo:

Vadia

Você me chamou de vadia
só porque não fiz o que queria
Mas quanta gentileza sua, falar isso depois de ter me visto nua!

É difícil de acreditar que um dia eu quis me casar
só porque não preparo o jantar?
Você me chamou de vadia
porque minhas pernas a mini-saia não escondia?
Mas não foi isso que te fez querer sair comigo aquele dia?

Mas eu digo a você,
uma vadia não é difícil de encontrar,
nós estamos em todo lugar.
Sendo nós mesmas, não temos medo de desagradar.

Agora essa mulher que você espera encontrar,
vive sempre no mesmo lugar, muito fácil de achar:
Um livro de século XIX, que é o seu devido lugar.

domingo, 30 de setembro de 2012

As relações de poder no trânsito de Brasília

E a minha cabeça cheia de idéias que precisam abrir espaço para coisas mais "importantes" no momento.

Ah, só uma observação às amigas blogueiras: finalmente recebi minha primeira trolada!!! Tô virando celebridade! hehehe

Eu estava pensando com os meu botões depois de ler livros e mais artigos num dia normal de estudo, quando, ao atravessar a rua para ir na papelaria eu quase morri. O sinal estava verde pra mim e eu fui indo. Mas aqui em Brasília, os motoristas são muito criativos, e especialistas em inventar vagas. Tinha um carro parado imediatamente antes da faixa de pedestre que que fica embaixo do sinal, encostado no meio fio. Eu tenho 1,52m, sou mais baixa que muito carro, ou seja, o cara não viu que eu já estava atravessando a faixa e como esse semáforo é só para os pedestres atravessarem a rua e não tinha "ninguém" e ele não ia correr o risco de bater em outro carro, acelerou e foi. Eu também não vi o carro. Sabe como é, nem sempre o fato de não vermos algo quer dizer que ele também não nos vê, mas dessa vez era verdade, não nos víamos mutuamente.

Para minha sorte, da minha família e de meus amigos, eu parei por um instante, antes de entrar no campo aberto, para pensar se havia ou não colocado no pendrive todos os arquivos que precisava imprimir. Como diria Raulzito, "quem pensa, pensa melhor parado". O carro praticamente raspou no meu nariz. Eu estava tão concentrada que só fui sentir o peso do quase ocorrido, quando cheguei ao outro lado da rua e as pessoas que estavam lanchando na padaria me olhavam espantadas.

Daí eu comecei a pensar porque esse imbecil não parou ou diminuiu a velocidade para se certificar de que não tinha ninguém atravessando a rua. Só tem mesmo uma resposta: porque ele estada DE CARRO! No código de trânsito está escrito que os veículos maiores são responsáveis pela segurança dos menores e TODOS são responsáveis pela segurança dos pedestre. Isso é obvio, e poderia ser visto somente em relação ao peso e à física mecânica (eu acho) das colisões.

Mas o que eu acho mesmo é que rola toda uma outra lógica no trânsito. Quanto mais caro o carro, mais intocável se acha o motorista. O tamanho importa também. Mas ainda mais importante é que nessa relação carro pedestre, o pedestre sai sempre perdendo. Eu tenho dificuldade de entender porque parece que o motorista está numa espécie de relação simbiótica com o carro, mas quando sair dele, vai ser um reles pedestre. Será que é por isso então que aqui em Brasília todo mundo faz o possível e o impossível para estacionar na porta dos lugares? Será que antes da pura e simples preguiça de andar, o medo maior e se misturar com a plebe que não tem carruagens?


sábado, 15 de setembro de 2012

Dos critérios subjetivos

Como o povo que passa por aqui de vez em quando já deve saber, eu estou tentando passar na seleção do doutorado. Virar doutora sem OAB, arma nem estetoscópio. No processo, para lá de moroso, devo apresentar uma carta de intenções. Mas intenções é uma palavra para lá de ampla. Eu tenho que dizer o tempo disponível para cursar o doutorado. Okay, fácil, estou desempregada, então, 100%. Mas das intenções, o que dizer?

Obviamente, todos sabem que quero virar doutora, senão não tinha me inscrito. Mas por quê? Duro de responder. Porque eu quero trabalhar na academia, dar aula na graduação, trabalhar com temas mais complexos, alunos um pouco mais pensantes, textos instigantes. Eu poderia continuar na Literatura, mas para mim ela já deu o que tinha que dar. Eu não quero ser uma super crítica literária. Tô mais a fim de entender o crise do cuidado, o impasse entre os sexos na sociedade moderna.

Mas o que responder para ser aceita? Mentir, contar histórias, ser formal ou informal? Posso ser criativa ou devo ir direto ao ponto? Como convencê-los de que tenho "feeling" para coisa? Como escolher, num rol de intenções quais são as mais apropriadas? Devo fazer um breve resumo de meu percurso acadêmico? Coloco ou não coloco um Foucault? Um, ele é meio clichê... Antônio Candido era sociólogo de formação e se bandeou para a Literatura. Será que me comparo a ele e digo estar fazendo o caminho inverso? Tantas dúvidas...

Queria que a resposta estivesse hoje no final de uma garrafa de cerveja bem gelada para espantar esse calor.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Doutorado?

Ontem eu sonhei que estava me afogando. Uma das piores sensações que eu já conheci. Isso porque já me afoguei de verdade e desde então é uma das coisas que tenho medo. Descer, descer na escuridão e perder a noção da superfície. Chega um momento onde você não sabe mais para onde nadar. Mas meu afogamento de ontem foi completamente diferente, exceto pela angústia no estômago que sentimos quando o sonho se aproxima demais de uma sensação real.

Sonhei que me afogava num mar de livros e papéis infinitos que iam se multiplicando toda vez que eu parecia chegar ao topo. Me dei conta que esse é o meu dilema. Ao escrever meu projeto de doutorado eu quis dar conta, ao mesmo tempo, de conhecimentos que me são distantes - política e economia. A angústia provocada pela série de conceitos e autores com os quais me deparei, todo um universo anglo-saxão que nunca fez parte do meu pensamento me atingiu a seco o peito. Muito tarde para desistir, eu já estou no meio. Além disso, eu também não quero. Mas eu tenho que nadar na direção certa, ou acabarei me afogando. Essa direção eu conheço - sociologia. Algo que me é familiar. Afinal, para escrever um projeto (pré ou ante, como preferirem) eu não preciso já ser expert no assunto, pois qual seria a necessidade da pesquisa?

O friozinho na barriga, entretanto vai me dar, pois me conheço. Morri de chorar achando que não passaria na prova de francês do mestrado (eu que sou formada em Letras Francês e professora da língua) de tão nervosa que fico com seleções. Mas tenho que seguir meu lema "a gente faz o melhor que pode com o tempo que tem".

Então, pessoal, nos veremos esporadicamente até novembro... Me desejem sorte e um colete salva-vidas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A minha vida moderna

Nem líquida, nem globalizada, a minha modernidade tá meio parada. No que diz respeito à tecnologia, a informação chega a mim com um certo atraso. Nada dos super updates praticamente instantâneos dos quais falam Bauman e outros, eu estou na lista dos "praticamente" que nunca chegam de fato aos finalmente "up to date".

Minha internet praticamente funciona, tirando de 18:30 às 21:00hs. Mas tudo bem, eu nem preciso dela, afinal, fico o dia inteiro conectada... Menos no meu celular. Não tenho 3G lá, portanto, se eu tiver off-line desconfie que eu provavelmente saí de casa, tá. Mas não posso checar-in nenhum lugar, pois meu gps não consegue se achar, ficou pra sempre desorientado quando eu deixei a Dinamarca.

Sincronizar o aparelho? Não sei, fico com medo dele se sentir violado. Afinal, pode um SonyEricson sincronizar com um Mac? E se no final ele decidir se chamar Marcos (até hoje o nome do meu computador pessoal)? O que eu como, não interessa, afinal, não tenho Instagram. Dizem que isso é um tal de aplicativo, mas se aplica a quê mesmo?

Incompatibilidade? Isso ainda existe? Sei que hoje parece incompatível usar o telefone para falar, afinal, para quê palavras se se pode sempre falar pelo Wasapp? Reforma ortográfica? Não sei, fiquei com preguiça de atualizar, eu não, o meu Office, que é o único que realmente vai usar a nova ortografia.

Tem mais alguma coisa que eu esqueci de falar? Twitter? Ainda se usa isso? O meu tá meio parado lá. Tô esperando a moda passar, afinal, nunca gostei de usar.

No fim, pra mim a modernidade é um monte de gagets que eu não sei usar. Smartphones para "damie" users. Vai por mim, sempre vai ter alguma coisa que vc não domina.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O livro do desassossego, fragmento 1

O dia de hoje merece uma citação pessoniana (Fernando Pessoa). Cito, então, meu trecho favorito.

    "Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera idéia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou deuses tinham cabeças de animais.
    Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
    A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstração do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais. (...) p. 45"

Bernardo Soares

Feliz quinta-feira a nós, epícuro-pessonianos, anti-neo-malthusianos, pós-desmodernos, neo-latino-sulamericanos... ou vocês.

terça-feira, 31 de julho de 2012

"Ela é feminista, mas é legal"

É assim que alguns de meus amigos tem me apresentado a terceiros por aí. Eu achei bastante curioso da primeira vez, mas devido o meu baixo grau de sociabilidade presumida, apenas dei uma risadinha sem graça e cumprimentei a pessoa. Mas como isso ficou frequente, eu comecei a desconfiar que haveria algo mais por trás desse pensamento.

Outro dia tomando café da manhã com o roomie ele me falou algo que ajudou a matar a charada. Ele me disse que estava contando para mãe dele um pouco mais sobre os colegas de república e eis que ele fala "A Drica é feminista". E a mãe dele respondeu "Mas ela é casada e é tão normal!"

Outra amiga minha ficou um pouco constrangida ao mostrar os bicos de confeitar na minha presença. Ela disse "Sei que você não deve gostar dessas coisas, mas eu adoro". Eu achei estranho, pois até tenho alguns utensílios para confeitar, só não tenho habilidade para tal. Daí minha outra amiga acabou por me defender antes mesmo que eu soubesse que estava sendo de algum modo "acusada". Ela disse "O feminismo não tem nada a ver com negar a feminilidade, tem a ver com liberdade de escolha".

Pronto, eu entendi. Ainda aquela velha história de comparar feministas com mulheres mal realizadas, infelizes, masculinas. Ser feminista para mim é algo tão natural que as vezes esqueço de que as pessoas não sabem o que é o feminismo. Ou pior, fazem questão de estereotipar as feministas. Em parte eu concordo com o que minha amiga disse. Ser feminista é ser a favor da liberdade de escolha. Eu não sou contra a feminilidade e sim o que ela representa.

É a velha discussão, ser feminina deveria ser uma opção e não uma regra. Um comportamento que não deveria estar relacionado com uma característica "biológica". Mas o que é ser feminina? Ou, o que está por trás da feminilidade? Ser feminina é gostar de rosa, brincar de barbie, ser graciosa, submissa e servil? Ser feminina é ser mulher? Para aquelas que torcem o nariz para o feminismo, uma provocação: A feminilidade combina com o poder?

Outra dica, por mais que o feminismo seja considerado um termo pejorativo, as mulheres de hoje em dia, feministas ou não, gozam de privilégios adquiridos pelas lutas dos movimentos feministas. O voto, a pílula, a lei Maria da Penha... O próprio fato de nós podermos trabalhar e comprar bicos para confeitar é uma conquista adquirida através das lutas feministas. Antigamente as mulheres não podiam trabalhar sem autorização do marido. Dirigir, que eu sei que minhas amigas adoram, não era bem visto nem considerado "feminino".

Eu até acho graça ao ver a felicidade nos bicos de confeitar, mas mais por ignorância minha (eu não faço a menor idéia de como funciona todo aquele aparato) do que por desprezo. Uma feminista pode ser feminina? Algumas coisas são difíceis de mudar. Por exemplo, padrões de beleza. Eu, que já reneguei o feminismo, também já fui escrava do padrão. E talvez uma feminista que não seja "masculina" ajude um pouco as pessoas a desmistificarem a feminazi. Mas eu respeito todos, todas, todxs em seu estilo, modos de  expressão e etc. Mas não me venha com essa de padrão. Mulher tem que ser assim ou assado. Mulher? O que é isso?

Eu não vou responder. Quero apenas dizer que ser feminista e legal não são coisas opostas. Eu não sei se sofreria do mesmo tipo de vocativo se fosse flamenguista ou petista ou comunista. Até entendo que sou uma das poucas feministas que meus amigos conheçem e talvez por isso a explicação "Ela é feminista, mas é legal". Mas se eu sou a única feminista que vc conhece e sou legal, porque não assumir que as feministas são legais? Talvez também as pessoas precisem de um espaço amostral maior para descobri que sim, feministas são legais.

Mas de novo, eu não posso generalizar. Afinal de contas, a liberdade de escolha está aí, para as feministas serem chatas, se elas quiserem. Mas elas não vão ser chatas porque feministas...

Para mais goles cafeinados de feminismo, eu recomendo, também especialidade da casa:

Ser feminista é como ser baixinha, partes 1 e 2
Feminista vegetariana


sábado, 21 de julho de 2012

Das amizades e das amizades

Em comemoração tardia ao dia do amigo, um post também tardio.

"Antes de me mudar para a Suécia imaginei que ficaria um ano tentando afastar a tristeza e procurando algo para fazer. Hoje depois de seis meses aqui, minha situação é bem melhor do que eu esperava. Em parte porque já no Brasil eu estava trabalhando tanto que mal tinha tempo para minha família e meus amigos. Isso era ruim por um lado, mas era bom por outro, pois de uma forma, eu fui preenchendo a necessidade de estar sempre em contato direto com meus amigos. A minha família, com todos os prós e contras, eu sei que posso sempre contar com ela, do jeito meio torto dela, mas eles não vão mudar o que sentem por mim apenas porque estou longe. De fato, acho que minha mãe está até mais carinhosa comigo. Eu sabia que ela ia sentir minha falta, mas ela faz o tipo durona e por telefone não costuma ser muito carinhosa, mas não imaginei que de fato ela fosse amolecer tão rápido.

Os amigos, os amigos... é outra história. Um amigo do Marcos paquistanês estava conversando com a gente outro dia e me disse algo que me fez pensar. Ele disse que quanto mais velho a gente vai ficando, menos amigos de classes sociais diferentes a gente tem. Não lembro bem, mas acho que ele disse até que a gente não é amigo de gente mais rica que a gente. Bom, eu discordo em parte, mas não posso deixar de reconhecer a sabedoria dessas palavras.

É verdade que para as pessoas onde o dinheiro e o status são objetivos de vida e qualidades individuais, não conseguimos manter as amizades, por mais que não aconteça nenhuma briga ou discussão responsável por terminar a amizade. Isso porque a pessoa que tem dinheiro e se isso é realmente algo que faz a diferença para ela, vai nos considerar chatos, entediantes e "losers" se não temos dinheiro.

É feio dizer isso, mas acho que é uma das possibilidades sim. Alguns podem dizer que é porque não vamos para as mesmas baladas ou não curtimos as mesmas músicas, mas me diga, vc realmente vê os seus amigos todo o final de semana? Não vê-los os torna menos amigos? Eu posso não gostar das mesmas músicas que muitos amigos, mas não vou negar um convite para um churrasco só por causa disso. Talvez eu tenha problemas para chegar ao churrasco, mas como acontece normalmente com amigos, eles oferecem carona e eu não ia achar ruim se pedissem para rachar a gasosa.

Mas o que acontece de verdade, é que vc parece menos "cool" aos olhos de alguns amigos pq não tem um iphone ou um ipod para "interagir" com eles. Ou pq não postou as fotos da última coisa que vc comeu no facebook ou sei lá, pq vc tá se lixando para o sapato caro que sua amiga comprou pq achou ele feio, mas não pode falar mal, pq é um Mark Jacobs! Isso é um pouco estranho de entender, se parar para pensar, pois não nos tornamos amigos das pessoas pelo que elas tem, mas chega um ponto que o fato de vc não ligar para o dinheiro dos seus amigos parece realmente incomodá-los."

Mas como disse hoje por e-mail a minhas amigas - amigos que são amigos de verdade podem ter realidades socioeconomicas diferentes, religiões, diferentes culturas regionais e tudo mais. As diferenças não se tornam divergências e quando a amizade vale mais do que um iphone.

Hoje eu sei que os amigos que perdi o contato podem sempre reaparecer, aqueles que perdi a amizade foi para o bem, vai com zeus e amém!

Para todos aqueles, reais e virtuais, um beijo e um abraço!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ingenuidade, as vezes vc paga mico por causa dela...

Eu estava mega feliz em saber que mesmo sem blogar com regularidade, ainda mantinha minha média de 50 visitas por dia. Ainda mais por não saber direito como funciona a contagem das visitas. Se aquelas pessoas que olham o blog através do facebook, por exemplo, são contabilizadas.

Mas eis que minha felicidade, que nesse caso estava totalmente aliada a minha ignorância no assunto, acabou. Conversando com a Bia, eu descobri que o blog das BF's tem em média 4.000 acessos por dia. Agora já nem sei se ainda vale a pena dar uma pimpada no blog. Pensei em começar a publicar meus textos artísticos, colocar uma licença CC no blog, contratar alguém para melhorar a aparência e etc. Mas talvez seja um mal investimento... Será que algum dia terei mais de 50 acessos??

E se tiver? Isso vai surtir algum efeito no meu ego? Outra coisa que me fez repensar meu "plano de ação". Saber que existem "celebridades" da internet que tem seu próprio secto de seguidores, fãs muitas vezes acríticos. Isso dá um medo sim. O bom da internet, em certo ponto é essa relativa anônimidade. Algo que permitiria a circulação de opiniões livres de interesses econômicos em canais como blogs. Outro ponto positivo seria o acesso de pessoas que não pertencem a panelinha da elite cultural brasileira exprimir seu pensamento e por que não, seu viés artístico.

Mas parece que o perigo da midialização, no sentido que eu acabei de colocar, parece não ser algo longínquo.

Ou será que mais uma vez eu estou sendo ingênua e isso já aconteceu?

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Odeio ser civilizada!

Postagem mega antiga que tava dando sopa no blog. Algo para divertir um pouco, já que meu embotamento cerebral me impede de escrever algo bom no momento.

"Ontem à noite, depois de ter tido um dia cheio e chato com duas idas ao supermercado, ter que espremer o meu parco inglês para ler um texto que falava de Marx, Lévi-Strauss e Freud e ter que ir andando duas quadras para comprar gasolina para abastecer a motoca que quebrou o mostrador de combustível, eu finalmente tive alguns minutos de diversão ao ver na sequencia três episódios de Futurama. Mas como eu havia acordado muito cedo e fui dormir tarde, acabei pegando no sono antes mesmo do 3 episódio acabar. Estava (aposto) babando e sonhando com revoltas de operários intergaláticos, naves espaciais e outras coisas que eu não me lembro quando uma música brega penetrou nos meus sonhos. Achei que era algum plano malígno de alguém quando percebi que estava sonhando. Isso quer dizer que eu acordei de madrugada com o Marcos falando "São três piriguetes tentando aparecer para o cara do audi". Hein?! Tinha um pião na janela da minha casa com o som do carro aos berros (daquele que dispara todos os alarmes da rua) e três garotas bêbadas como gambás gritando a letra da música.

Eu achei que era coisa rápida, que logo eles iam entrar em algum apê pra fazer uma festinha mais íntima. Mas que nada. O programa era justamente esse de goiano de ficar com o som nas alturas encostado no carro tirando "onda" pra quem passa na rua. Mas no caso dele só poderia ser com a gente, que morava ali porque a rua estava deserta. Quando me toquei disso, fiquei puta. A polícia passa na minha janela toda noite e naquele dia passou e nem pra enquadrar esse pessoal. Comecei a pensar que já q eles não deram bola para o barulho também não dariam bola se eu jogasse um ovo. Quem sabe um balde d'água (gelada)? Pensei em várias coisas e quanto mais a bagunça continuava mais eu acordava e percebia que não tinha dormido o suficiente para estar acordada.

Já pensando em descer de camisola com uma garrafa de vidro na mão apertando um olho para parecer psica e já ir sentanto a porrada em quem falasse algo idiota. Ou, de repente, ir quebrando a garrafa na calçada para ela ficar potiaguda e dar mais 'realidade' ao meu personagem. Quando uma pessoa iluminada fez algo do gênero. Eu não consegui saber o que era, mas sei que a música parou istantaneamente. Fiquei tão feliz. Não ia precisar pagar um mico desses e me expor e ainda ia conseguir dormir.

Mas felicidade de pobre dura pouco. Bastou eu deitar para uma das piriguetes arrumar uma confusão. Começou a xingar e mulher que tinha acabado com a bagunça. Xingou de vagabunda, puta, piranha e a mulher apenas mandou todos pararem com a bagunça terminando com o vocativo "seu bando de vagabundo".

A confusão durou mais uma meia hora e eu na dúvida cruel de me expor e armar o barraco, jogar água, bola de papel molhado, pedra, garrafa... Queria dormir e sabia que chamar a polícia não resolveria nada. Já estava quase indo na janela mandar todo mundo tomar no cú quando o Marcos decidiu descer e me ajudar a decidir o que fazer. Já estava colocando o chinelo quando as piriguetes pararam com a baderna."

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Gabriela, again...

Sinto muito, mas eu não li a Gabriela de Jorge Amado. Desde que sou criança, rodeada por Tietas e Gabrielas, eu consegui no máximo me divertir um pouco com "A morte e a morte de Quincas Berro d'água". Sim, eu sou mestre em Literatura Brasileira, mas não li todos os livros nem todos os autores. Assim como, formada em Letras, eu não sei todas as regras da gramática nem todas as palavras do dicionário...

Mas voltando ao assunto, se tem uma coisa que me irrita é esse culto da Literatura neo-naturalista. Mas especificamente sobre aquilo que se entende sobre ela. Sim, Jorge Amado é um clássico, então, consequentemente bom. Talvez o livro até seja, mas se compararmos o casal pelas duas obras que li, "A morte e a morte de Quincas Berro d'água" e "Anarquistas graças a Deus", a Zélia foi para mim uma leitura bem mais agradável. Mas é claro que não se pode fazer isso.

Assim como não podemos pegar as novelas da Globo como um parâmetro para julgar a obra de Jorge Amado, Gabriela, muito embora eu tenha minhas dúvidas de que ele tenha sido tão hábil quanto Machado de Assis ao silenciar Capitu. Gabriela fala no romance? Não sei, mas parece não ter importância. Infelizmente, o que se "vende" sobre Literatura Brasileira no discurso midiático é o "pastiche global". Um bom jeito de suavizar qualquer "ruga" de profundidade da superfície com risadas e imagens paradisíacas. Bem Gabriela.

Toda a discussão que vem sendo feita sobre a exploração do corpo da mulher nas propagandas (e entre outros meios) parece não atingir a magnânima emissora, que em pleno século XXI resgata sem ressignificação todo apelo sexual da mulata brasileira, ignorando inclusive os altos índices de violência contra a mulher, sobretudo quando essa se recusa a atender aos apelos do companheiro.

Eu tenho medo da Gabriela, mas não da Virgínia Woolf. Dessa imagem que "fazemos" questão de mostrar que tanto nos atrapalha, nos limita. A falta de história e de cultura, na concepção de alguns, só pode ser recompensada pelas belezas naturais, sejam de nossas terras, sejam de nossas mulheres. Porque vender o Brasil e a Gabriela como uma terra virgem pronta para ser deflorada? Não seria melhor preservá-la e respeitá-la?

E mais uma vez, porque Gabriela de novo?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

I really don't want to be social today

Eu duvido mesmo que exista a felicidade "propaganda de margarina". Quando falamos que somos felizes é uma análise quantitativa. Pegamos todos os momentos de nossas vidas, separamos os bons dos ruins e vemos qual está em maior número. Para a resposta afirmativa, "sim, eu sou feliz" temos maiores momentos felizes do que tristes.

Mas e os outros momentos? Porque não contabilizamos o tédio, a preguiça, o ócio, a raiva e as segundas feiras? Sim, porque segunda feira só é um dia feliz para quem acabou de arrumar um emprego. Para mim, segundas são como define Garfield.

Tirando as segundas feiras, eu seria mais feliz se as pessoas não me perguntassem isso. Sofremos de uma felicidade compulsória. Uma obrigação de dias ensolarados, famílias vestidas à moda propaganda OMO, cachorros pelo caramelo e casas. Coitados de nós mortais que estamos longe desse "sonho" obrigatório e que não somos felizes 24/7.

Como diria Raul: "macaco prego, carro, tobogã, eu acho tudo isso um saco!". Ser feliz demais também é um saco. Só sai musicas melosas, poemas concretos. Deus me livre! Tô cansada também desse ser pós-moderno que se entope de informação se absorver nada, sem notar o vazio. Preenchendo tudo com um "i" alguma coisa, quando na verdade é "Yep, I'm selfish!"

Não, eu não vou bem, obrigado. E não me encha o saco.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Da incompetência

Apontar o dedo na cara dos outros é fácil, mas reconhecer os próprios erros, é muito difícil. Eu não vou bancar de profissional perfeita, pois isso está longe da minha realidade. Eu tento sempre fazer o meu melhor com o tempo que eu tenho. Já fui de me sacrificar pelo trabalho. Ainda hoje abdico de alguns finais de semana pelo bem dos meus alunos. Confesso, entretanto, que o esmero na preparação das aulas é algo que me abandona às vezes. Outras é minha ânsia por novas metodologias que me atrapalha. Afinal, quem nunca usou os próprios alunos como cobaias para novas abordagens de ensino?

Eu posso não ser uma profissional perfeita, mas sei exatamente o que é um mau profissional. Sempre relutei em usar o termo, mas hoje reconheço que ser pró-ativo é essencial. Na minha opinião, essa característica separa os (bons) profissionais em duas categorias: Os "achadores" de problemas e os "resolvedores" de problemas.

Digo os bons porque os ruins não são pró-ativos de forma alguma. Mesmo quando sabem de algo errado, fingem não ver, se apressam em não saber e, é claro, nunca são responsáveis por nada.

Quanto aos "bons" profissionais se dividirem em duas categorias, na verdade é bondade minha. Talvez eu seja um pouco "paternalista", como muitos brasileiros. Eu deveria dizer que existe apenas um tipo de bom profissional. Existem pessoas que acham que criticar apenas basta. Reclamar, descer o cacete. Parece para muitos um sinal de competência. Para mim não é. Se a pessoa pode usar tamanha energia para criticar, também pode para ajudar. Não adianta falar que está errado e não propor uma forma de consertar.

Muitas vezes a gente não sabe ainda como arrumar algo, então, esmiuçamos a crítica. Levantamos todos os pontos ruins e assim, num trabalho conjunto, procuramos respostas. Criticar por criticar é gastar toda energia produtiva em algo que não volta ou que volta em forma de mais críticas improdutivas. Eu não acho que devamos ser hiper-sensíveis a críticas. Devemos aceita-las, mesmo quando não apontam uma direção, pois como bons profissionais, saberemos resolver o problema, mas ao contrários dos inquisidores, o bom profissional vai criticar quando souber o porquê da crítica. #prontofalei.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Escrever ou não sobre o aborto, de novo?

Eu posterguei muito essa postagem, por vários motivos que exporei aqui. Mas enfim decidi me manifestar. Agora não mais poderei expor minha opinião livremente, pois o endurecimento de algumas posturas em relação à posições colocadas na internet e também com uma demonização da prática do aborto, posso estar correndo algum risco. Acredito (ou espero), entretanto, que isso não se aplique, pois nunca disse que as mulheres devam fazer um aborto, obrigatoriamente, mas que elas deveriam ser livres para o fazerem se assim decidirem.

Mas eu realmente não quero que o aborto seja o assunto principal do post, e sim a tolerância e o respeito. Isso é o que está por trás da questão do aborto, na minha opinião. O Estado brasileiro enxerga as mulheres através da condição de mães. Tudo que é feito em matéria de políticas públicas para as mulheres ganha força quando visa a mulher-mãe. A ênfase no papel materno é tanta que as políticas de saúde da mulher, visam a mãe, as políticas de habitação colocam as casas no nome das mulheres, pois como mães, elas ficarão com os filhos e portanto a casa fica na família. Outra questão, por exemplo, é que muitas políticas da saúde dão ênfase na mulher como mãe/esposa-cuidadora, alertando-a para os problemas que seus familiares possam ter, ela eficazmente mobiliza àqueles à sua volta a se tratarem. Claro, as políticas são feitas com base em estudos. O problema de muitas dessas políticas não são seus objetivos e sim seus métodos, melhor dizendo, como elas pretendem resolver o problema.

Mas quando o cidadão mulher passa a só existir para o Estado através da maternidade nós vemos o que estamos vendo agora, a demonização da mulher que não quer ser mãe. A mulher que nega a maternidade deve ser punida. Das punições sociais sofre aquela que consegue abrir mão por meios modernos, evitando a gravidez. Para as outras (a maior parte, talvez?) que recorrem ao aborto, resta a penalização legal. Porque? Muitos vão alegar motivos religiosos. O que não se aplica, pois em teoria, o Brasil é um país laico. A religião de uns não pode ser usada pelo Estado para punir outros. Se na sua crença o aborto é crime, o adultério, que em muitas também é, deixou de ser punido pelo Estado para ser algo que marido, mulher e Deus resolverão no juízo final.

Qual a diferença então entre o adultério e o aborto para a opinião pública? Bom, eu vou ser simplista agora e dizer que o adultério pode ser cometido por homens, já o aborto não. Eu me pergunto às vezes se o homem que agride uma mulher até que ela aborte espontaneamente é condenado por aborto também, além da agressão? Mesmo que a resposta seja sim, o aborto é majoritariamente um crime feminino.

Muitos vão dizer que o aborto é um assassinato. É engraçado então esse ser o ÚNICO caso em que a religião e a ciência concordem. Ou melhor, a ciência tenta estabelecer quando a vida começa e a religião quer saber quando a alma entra dentro do corpo. O que acontece, na verdade, é que como a ciência ainda não tem uma resposta concreta, a igreja usa a dúvida científica para apoiar seu argumento. Do ponto de vista religioso, a coisa piora um pouco, pois Deus não se preocupou nadinha com as mulheres e para ele, não deveríamos nem poder evitar ter filhos, de forma alguma. Estranho que planejamento familiar possa e aborto não. Inclusive esse último é uma forma de planejamento familiar, o defeito é ele ser unilateral. Vamos propor outra lei então de cunho religioso semelhante? Vamos proibir a vasectomia?

Voltando ao assunto, a meu ver, como a mulher só passa a ser uma cidadã plena para o Estado depois que é mãe. Sim, pois para a sociedade não é mais necessário que a mulher se case, o Estado assumiu o papel de provedor com os programas sociais, tendo a mulher sob sua tutela, mas se ela não for mãe, ela passa a disputar um status de cidadão simbolicamente igual ao do homem (e arrisco eu a dizer, fica fora das políticas do estado). A sociedade não sabe definir essa mulher fora do "titia". O que é engraçado, porque se é tão maravilhoso ser mãe, porque existem mulheres que não querem sê-lo? É realmente necessário que TODAS as mulheres exerçam esse papel?

A mulher ser vista pelo prisma da maternidade é limitador, controlador e sufocante. A maternidade é cada dia mais responsabilizada por todas as mazelas da sociedade. Chego até a pensar que essa recente coerção das mulheres que praticam o aborto é algo para nos lembrar de sermos mães, mesmo que seja à força. A sociedade não percebe a sucessão de fenômenos que só podem provocar no coração de muitas mulheres o medo. Sim, pois a maternidade é uma responsabilidade tamanha que se formos "falíveis e humanas" poderemos reproduzir monstros para a nossa tão perdida sociedade. Caso tentemos, desesperadamente, fugir dessa responsabilidade eterna e exclusiva, vamos ser presas. Ou seja, de qualquer modo, é um caminho sem volta. A culpa é nossa. Estamos entra a cruz e a caldeirinha.

Minha pergunta é: será que esse é o melhor caminho? "Search and destroy"? Isso me lembra a Revolta da Vacina, quando em vez perder tempo explicando para as pessoas porque elas deveriam ser vacinadas, o governo do Rio de Janeiro preferiu fazer à força. A diferença é que no caso da maternidade, como o Estado e grande parte dos homens são omissos com relação à criação das crianças eles não tem explicações para dar do porque mesmo temos que ser mães. Solução encontrada, proibir o aborto.


segunda-feira, 12 de março de 2012

Um texto na gaveta

Ou no HD é um texto quase morto. Moribundo, agonizante ele implora por uma lida, um carinho, um dengo.

O crítico literário lê para si, para os outros. Interpreta, extrapola. Lê até os silêncios. Não dizem que eles falam? Pois hão de ser interpretados. De tanto se esforçar o crítico que as vezes acanha aquele outro, mais tímido, menos pretensioso, o leitor. Uma interferência na comunicação, afinal, o autor não escreve para o crítico. Será? Quem é o público leitor?

Eu escrevo para os meus amigos, aqueles que eu fiz e os que ainda não fiz. Mas não imagino um sujeito careca de óculos lendo meus textos. É muito sério.

Mas peraí! Eu sou uma "crítica literária" também. Escrevo eu para mim mesma, para meu id leitor, super ego crítico para meu alter ego autor? Quem diachos é quem? A ficção personafica no escritor?

É, de volta para a gaveta do HD, texto, conto, poema até eu decidir quem é quem. Ou me perder. Um dia, quem sabe, eu conto.

quinta-feira, 8 de março de 2012

No dia da mulher...

Eu não quero nem saber disso.
Minha cabeça está em outro lugar.
Um lugar qualquer onde não era para estar.
Penso na minha vida e tudo que queria fazer,
bate uma tristeza!

As vezes tenho vontade de ver o mar, mas passa logo.
Tenho medo de encarar.
O mar tão grande só me faz lembrar o quão eu sou insignificante.
Minha pequenez é gritante.
O mundo parece fora do meu alcance.


quarta-feira, 7 de março de 2012

É impossível viver com menos de ...R$

Não é a primeira nem a última vez que escuto isso, mas acho que sempre vai me incomodar. Muita gente vem até mim e/ou até o meu marido reclamado de grana. Não sei exatamente porque despertamos nos outros a confiança para falarem de suas vidas financeiras, mas as vezes acho que é pena.

As pessoas vêm reclamar do preço dos imóveis, do aluguel e afins. Esperam um apoio para reclamar que dão como certo da nossa parte. É, realmente reclamamos e muito do preço das coisas aqui em Brasília, mas nossa lógica as vezes desconcerta a lógica típica brasiliense, como alguns leitores devem ter notado. Quem disse, por exemplo, que o único meio de declarar a independência dos pais é comprando um apartamento no Plano Piloto? Qual o problema de morar de aluguel?

Muitos respondem que o preço do aluguel é o preço de uma prestação. Claro, mas quanto você tem que dar de entrada para conseguir uma prestação equivalente à um aluguel? Você certamente não paga aluguel na casa dos seus pais, mas perde em maturidade (além de falta de vergonha na cara em obrigar seus pais a te sustentarem até os 40 anos). Mas parece ser bem mais vergonhoso morar de alugar num lugar mais ou menos do que viver com os pais.

Pagar aluguel num lugar melhor e não ter carro = MORTE. Quase ninguém da classe média da cidade entende essa lógica. NÃO HÁ VIDA SEM CARRO NA CAPITAL!!! Todos(?) são unanimes. "Como vocês fazem para ir pro barzinho?" Não sei o que mais choca, a pergunta ou a resposta "Quando o bar é perto, vamos à pé, quando é longe, vamos de carona e às vezes, de taxi". O preço da corrida não dá duas cervas. E se tivesse mais gente para rachar a corrida com a gente, saia ainda mais barato.

Mas a melhor de todas, é quando a conversa chega no ponto onde surge a "oportunidade" de animar o nosso interlocutor dizendo que o fato dele ganhar uma soma "x" por mês no momento, não implica que deva necessariamente pular da ponte, pois nós, com a metade (às vezes 1/3) sobrevivemos satisfatoriamente. É sempre o clímax do assunto. Quando chega esse ponto, até as pessoas da mesa que estavam em papos mais interessantes e acalorados se viram para nós com uma mistura de espanto e incredulidade no olhar. Outros nos olham como se fossem escutar a receita de um milagre, mas a maioria tem dentro de si, no momento da revelação, a idéia pré-concebida de que nós estamos falando um absurdo. Todos partilham depois de outro fenômeno, a negação. Alguns repetem 3 vezes para afastar a praga "É impossível, é impossível, é impossível!"

A afirmação é tanto unanime quanto categórica: é impossível viver como vivemos. É engraçado, pois eu e o Marcos vivemos a 4 anos assim e não temos nenhuma dívida. Devo acrescentar ainda que raramente pedimos dinheiro emprestado, e quando pedimos, pagamos. Nunca ficamos no vermelho desde que moramos juntos. As pessoas não entendem mesmo a diferença entre viver e viver de forma confortável. Nós não queremos dizer que todos devam ter o mesmo padrão de vida que temos. Mas ofende as vezes essa idéia pré concebida de noivado em Paris, casamento na mansão das águas e apartamento no Sudoeste que a maioria das pessoas aqui tem. (Aliás, noivar na festa da Laje é muito mais legal!).

É difícil pensar fora da casinha. Todo mundo sonha com uma propaganda de margarina, inclusive um golden retriever na casinha do jardim. Mas a vida é muito mais do que isso. Precisar mesmo, a gente só precisa de um lugar para dormir e ter o que comer. Se a sua felicidade se resume a ter um iphone 4, eu não posso afirmar, mas posso arriscar a dizer que tem algo de errado com seus valores e/ou prioridades. Se para ter filho você precisa de dinheiro para a babá, acho que começou pelo lado errado.

Mas voltando a afirmação do começo, é impossível viver com XR$ por mês, eu gostaria de lembrar que o salário mínimo são 600 e alguma coisa. E existem muitas famílias que vivem com menos do que isso. Quando eu escuto essa informação ou vejo a reação de algumas pessoas tenho vontade de perguntar "Você quer que eu não exista?"

Outras coisas passam pela minha cabeça quando vejo a incredulidade no rosto dos que afirmam que é impossível viver com x reais por mês. As vezes acham que eu devo uma explicação a essas pessoas. Elas parecem querer que eu diga que sou louca ou que estou completamente equivocada e enganada. Querem que eu me retrate. "Como é possível viver com x reais por mês e estar feliz?" Como não ter vergonha em ser da classe C? No fundo o que elas realmente pensam, eu acho, é "Você não tem vergonha de ser pobre?".

Deixa eu só acrescentar um parágrafo, antes de concluir meu texto. Vergonha a gente tem que ter de roubar, de explorar os outros, de desrespeitar as leis, de não ter educação, de se prostituir num emprego que não gosta só por causa do dinheiro. A gente nunca deve ter vergonha de viver com verdade.

Mas é engraçado, quase todos são unanimes em afirmar, dinheiro não traz felicidade.

terça-feira, 6 de março de 2012

Da inveja

"Inveja mata"

É o que dizem. Mas quem? Eu me pergunto. O invejoso ou o invejado? Eu sinto inveja às vezes. Mas aprendi que era algo feio e logo depois da inveja eu sinto culpa, remorso. Como se eu tivesse fazendo mal diretamente aquele ou daquilo que sinto inveja. É um sentimento rápido, do qual rapidamente tento me livrar. Mas não é tão fácil.

Eu tento, às vezes, analisar o cerne da minha inveja. É uma inveja, uma cobiça, uma ambição? Qual a diferença entre eles? Sempre me disseram que o invejoso deseja exatamente aquilo que você tem. Se você é casada, por exemplo, o ser invejoso não vai querer ser casado simplesmente com outra pessoa. Mas vai querer o seu marido. Nesse ponto, acho que inveja e cobiça são a mesma coisa. E desse mal, eu não sofro. Sempre desejo algo parecido com aquilo que o outro tem.

Por exemplo, quando vejo um camaro na rua penso "nossa, como ia ser massa se eu tivesse um carro desses". Mas eu não tenho vontade de matar o dono do carro e tomar o lugar dele só para dirigir aquele camaro. Também não tenho vontade de ter um emprego sórdido onde e fazer um monte de falcatrua só para poder ter um camaro e driblar o peso na consciência com a felicidade de despertar a inveja nos outros.

Aliás, esse é um outro ponto. Se a inveja pode matar quem é invejado, porque tanta gente quer que os outros tenham inveja de si? É bom ser invejado? Porque que eu quero ter um camaro se eu nem gosto muito de dirigir?

Pensando mais friamente, na era do "você é o que você tem" é "natural" que você queira ter algo difícil de conseguir, ou caro. Essa não é necessariamente aquela inveja que te consome e sim uma ambição. Possa ser o prelúdio de uma inveja doentia ou uma ambição maquiavélica.

Como a dúvida chegou a esse ponto, fui ao dicionário (on-line, porque constatei que não possuo nenhum dicionário monolíngue de português. Achei nesse site, definições.

COBIÇA
s.f. Ato ou efeito de cobiçar. Desejo imoderado de possuir.

INVEJA
s.f. Sentimento de cobiça à vista da felicidade, da superioridade de outrem: ter inveja de alguém.

AMBIÇÃO
s.f. Desejo imoderado de glória, fortuna etc.: consumido de ambição.
Desejo, intenção: a ambição de servir seu país.
Aspiração, pretensão, avidez.

Depois dessa leitura, cheguei a conclusão que se sinto algo, é no máximo uma invejinha muito light.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Voltar é igual a recomeçar

Eu não sei bem o que passava na minha cabeça quando fui para Suécia. Imaginava várias coisas, todas bem otimistas. Eu pensava, por exemplo, que iria rapidamente aprender sueco. Outra coisa que passava pela minha cabeça era que seria fácil encontrar um emprego, mas minha insegurança com a língua inglesa foi um até para me candidatar a alguma vaga. Outro engano meu foi imaginar que eu realmente leria todos os livros e artigos que um dia eu quis ler e escreveria todos os meus artigos do mestrado no meu "gap year".

Embora eu tenha me frustrado com aspecto profissional do meu ano fora, o aspecto de experiência de vida compensou muito do que eu deixei aqui. É verdade que não podemos esperar que nossa vida volte do ponto de onde paramos por aqui. Um emprego que deixamos tem que ser a duras penas reconquistado. É difícil ter motivação quando não temos obrigação formal, é difícil e mesmo assim eu consegui escrever um artigo (que ainda espera pela aprovação dos revisores), mas será que os meus futuros empregadores saberão levar isso em conta? Ou será que aquele ano entre meu mestrado e a minha volta irá pesar na conta dos meus anos de experiência profissional?

O que posso dizer é que voltar nunca é de fato uma volta. Algo no sentido da palavra nos leva a crer que voltamos para onde paramos, mas o mundo nunca fica parado no mesmo lugar. A vida não espera por nós e nesse caso, temos que correr atrás dela.

Boa sorte para todos, que como eu, podem ser chamados de atrasados.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ainda não sei se voltei

Estou aqui há pouco mais de uma semana. Sol e calor me recepcionaram na chegada. Tudo lindo e maravilhoso, excetuando-se a marvada da fila na entrada. Era um tal de procura esteira, espera mala, carrega mala, entra na fila e... espera, espera, espera.

Isso não é de todo mal, afinal, todos temos que passar por isso. Os estrangeiros, ironicamente, talvez pelo número reduzido, não tiveram qualquer problema. Já nós, brasileiros... Somos vítimas de nossa própria capacidade de organização. Acho que para fugir de críticas internacionais, que seriam ouvidas, deixamos todo nosso potencial a serviço dos compatriotas, afinal, é de conhecimento geral, que nenhuma instituição publica ou privada liga patavinas para o que nós pensamos. Adoro essa palavra, patavinas.

Mas essa irritação pode ser fruto de uma longa espera e uma longa viagem. Não exageremos então. A família estava a espera, emocionada. Mamãe não conteve as lágrimas. Um ano fora deu uma adocicada na nossa relação, eu também chorei um pouco. Afinal, tem coisa melhor que chorar de felicidade? As amigas lá também estavam.

Nossa brancura foi motivo de piada. Mas como estar brozeada vivendo em terras nevadas?

Enfim, depois de tudo chegamos. Ou quase. Não deu para alugar nada. Afinal de contas, onde vivem pessoas desempregadas, sem fiadores e recém chegadas? Com o excesso de provas que somos obrigados a fornecer provando nossa inocência financeira, eu e o Marcos não poderíamos fazer nada além de admitir que seríamos de ante-mão considerados culpados. Sublocamos um quarto no apartamento de um amigo. O que causou estranheza em todas as famílias, a minha e a do Marcos (e a do nosso colega de casa tbm). É mais aceitável viver de favor na casa do sogro, ou aceitar que alguém pague nosso aluguel. Eu não sei, acho que colocaram meu cérebro invertido dentro da cabeça, pois não consigo ver isso como algo normal...

Uma semana não foram suficientes para reunir todos os nossos cacarecos no mesmo lugar. Ainda estamos arrumando as coisas.

Três semanas e os cacarecos estão quase todos aqui. Aqueles da vida passada, nem todos recuperados, afinal, tínhamos um status quo que virou fumaça. Mas eu acho bom. Não sou mesmo uma pessoa parada. Reclamo das mudanças porque esse ano elas foram mesmo exageradas. Três só esse ano. Mas se 3 é um número cabalístico, começamos bem. Três mudanças, 3 pessoas num apartamento de 3 quartos. Espero que dê sorte. ;)

No mais vamos voltando. Nos acostumando ao trânsito, à bagunça, improvisação (como eu gosto dessa!), ao sol, ao calor, às chuvas tropicais!

E quem sabe, no mês que vem tem mais?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A volta, uma mistura de ansiedade e medo

Morar um tempo fora parece o sonho de muita gente. O velho continente é sinônimo de cultura e civilização. Até hoje, por mais decadente que esteja em alguns aspectos, ainda dita as abstrações diárias nas quais baseamos nossas vidas. Muitos pensam que apenas o fato de deixar o Brasil para morar na Europa significa uma mudança de status. Em suma, minha vida ia automaticamente melhorar apenas por ter vindo para cá. Afinal de contas, trabalho no MacDonnalds aqui não é o mesmo que lá. Outros pensam que eu magicamente fiquei rica, pois como morar na Escandinávia é caro e nós estamos morando aqui, logo, somos ricos. Muitos se surpreenderiam em saber que os preços aqui não são muito diferentes do Brasil. Mas gostaria de esclarecer, para evitar futuros constrangimentos aqueles que pensam em pedir dinheiro emprestado, que não, não ficamos ricos nem melhoramos de vida. Mudamos de lugar no espaço, mas não na pirâmide social "universal". Também não precisam se preocupar, não passamos nenhuma dificuldade aqui.

O quê eu posso dizer que foi importante na minha vida nesse quase um ano de estadia sueca, foi a experiência de vida. Foi conhecer gente do mundo inteiro, diversas experiências, culturas e porque não dizer, artes. Sei que talvez soe como um clichê, mas morar fora te ajuda a entender melhor o seu país e perceber coisas que nunca lhe vieram a cabeça antes. Eu sempre gostei muito do meu país, embora reclame bastante dele e da minha cidade natal, Brasília. Não acho que para gostar do país devemos ser xenofóbicos, alienados e acríticos. Aprendi com o tempo e minhas experiências aqui a ser mais tolerante. Não tinha nenhuma amiga acadêmica o que foi bom para minha experiência feminista, mas interessante para conhecer diversos "sensos comuns", que para Geertz são mais importantes do que aquilo que meia dúzia de intelectuais considera como "conhecimento".

Em relação ao meu país, ficou muita saudade e tristeza. Apesar de lermos em várias línguas, não conseguíamos deixar de acompanhar as notícias brasileiras, que por vezes nos chegavam tão distorcidas pelos meios de (des)comunicação que nos faziam pensar "será que realmente queremos voltar". A preocupação era grande, pois uma coisa estava definida, íamos voltar! Vamos voltar. Por mais que olhos se arregalem, narizes se torçam e bocas se abram surpresas. Por mais que alguns digam "eu no seu lugar, não voltava nunca mais". Como diria meu pai, se vc que ser o cachorro do rei, o problema é seu. As pessoas escolhem ficar no exterior por diversos motivos desde amorosos até identitários. Existem aqueles que podem viver na cidade que adoram, outros são forçados por diferentes razões, desde políticas a financeiras. Mas decidir voltar causa muito mais espanto. Por quê?

Eu sempre fui muito crítica com relação a política e a sociedade brasileira. Mas criticar não é odiar, é tentar melhorar. E a gente só tenta melhorar aquilo que dá importância. Eu gosto do meu país e gostaria que ele fosse um lugar mais justo, porque não? Eu sei que meu país muitas vezes age como se não nos quisesse de volta com suas lambanças, incompetências e desorganizações. Mas tem a família, os amigos, a cultura, a comida, a paisagem, a língua... Mas afinal "posso sair daqui pra me organizar". Aqui, tá tudo dentro da caixinha, previsível, entediante.

Também tem o medo. Medo de voltar e não se adaptar novamente. Como voltar a andar de ônibus tendo que se jogar na frente do mesmo para que ele pare? Será que ainda sei me segurar enquanto o motorista tenta nos derrubar dentro do carro aos 80 km/h no mínimo? Ter que carregar dinheiro para pagar a passagem? Passar meia hora só esperando um ônibus que talvez passe? Andar de carro? Acho que faz uns 2 anos que não dirijo. Não sei como vai ser voltar a ser agressiva, passar ao menos duas horas sentada no banco de um carro, a caça pela vaga... Não, ai não. E as pessoas? Como será conviver com todos novamente? Será que eu mudei? Elas mudaram? Ou ambas?

Por outro lado, guardadas as devidas proporções, sempre me identifiquei com o pensamento de Edward Said. Ele diz que um intelectual é aquele que está sempre se sentindo desconfortável, fora do lugar. Ele não aceita senso comum sem refletir, ele desconcerta pois está sempre quebrando paradigmas. Questiona a tudo e a todos, inclusive a si mesmo. Não admite uma verdade única ou universal. O intelectual está sempre no exílio pois não existe zona de conforto para ele. Said fala de intelctual. Eu me vejo mais como eu mesma. Pois intelectual virou quase um partido. Aqueles que falam mal dos intelectuais colocam todos eles no mesmo bloco. Eixo do mal, PT, esquerda, marxista, comunista, feminista... Para "eles" é tudo a mesma coisa. Eu não preencho todos os pré-requisitos para ser um "intelectual", mas acho que talvez seja "incoformável" e "inconfortável". (Inclusive, segundo as estatísticas, eu teria que ser homem, branco, ter por volta de 40 anos, morar no Rio ou em São Paulo, achar que o mundo se resume a essas duas cidades e seus problemas, problemas de intelectual)

Então, não faz diferença eu ficar aqui ou no Brasil. A diferença é que no Brasil talvez façamos mais diferença, talvez tenhamos mais oportunidades de emprego numa economia crescente. E porque não dizer que nossa vida pelo ser pelo menos, um pouco mais fácil tendo a família e os amigos por perto para ajudar? Sem falar no clima...