quinta-feira, 26 de maio de 2011

A globalização importa mulheres mais "baratas".

Muita gente não se atém ao fato de que a independência das mulheres da classe média brasileira se dá as custas da desvalorização do trabalho doméstico. Como isso funciona? Bom, eu acho que já expliquei em algum post lá atrás (e se lembrar de procurar, coloco o link aqui). Mas a questão é a seguinte, as mulheres de fato não conseguiram mudar muito a mentalidade da sociedade para que ela ficasse menos sexista, apenas transferiram seu trabalho doméstico para outra mulher enquanto a primeira sai para trabalhar. Como o trabalho doméstico é desvalorizado tanto pelo homem quanto pela mulher, as empregadas domésticas acabam tendo uma baixa remuneração e qualificação. E os homens no máximo "ajudam" em casa.

Aqui na Suécia podemos pensar as vezes que as coisas são bem mais diferentes. Que os homens aprenderam a valorizar a mulher e dividem o trabalho doméstico com elas. Talvez isso seja verdade, mas pelo menos aqui em Lund, existe um fenômeno que me faz pensar se o mesmo mecanismo funcione com personagens diferentes. Acho que ainda preciso observar mais e conhecer alguns casais onde a mulher é sueca e o marido é estrangeiro. Mas pelo que tenho visto até agora, os homens suecos que não se "adaptam" a independência das mulheres suecas, importam mulheres de países com uma cultura patriarcal muito forte, como por exemplo, o Japão, a Coréia e a China.

Como isso funciona? Bom, eu conheço 3 casos. Duas japonesas e uma coreana. Tem uma indiana que conheço que é casada com um sueco, mas ele é de família indiana, então talvez não conte para o "estudo". No caso das japonesas, ambas parecem estudadas, mas de famílias bem tradicionais. Ambas casadas com suecos numa boa situação financeira, mas elas tem as mesmas restrições, imagino eu, que uma mulher da sua classe teria no Japão, eu acho. Elas tem que pedir permissão para sair com as amigas, pedir permissão para ficar mais um pouco. Nós só podemos vistá-las quando os maridos não estão em casa. Uma delas não tem celular nem dinheiro. Tem que pedir tudo para o marido.

A coreana parecia ser mais independente, mas até certo ponto, pois fica responsável por todo serviço doméstico. Pode até parecer uma situação semelhante a que teriam em seu país de origem. Mas aqui estão sem a família por perto, podem ser exploradas com a desculpa da cultura aqui ser diferente. Por exemplo, as namoradas tem menos direitos que as esposas. Se o namoro termina o visto expira em 6 meses se a ex não arranjar um emprego. Mas os caras simplesmente não casam porque aqui na Suécia as pessoas não se casam. Namoram a vida toda, tem filhos e é isso aí. Mas a sueca tem direitos iguais aos do sueco, já as estranjeiras...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dúvidas, receios, ansiedades...

Nunca é fácil tomar decisões na vida. Entre pedir peixe ou carne ou decidir o futuro estamos sempre expostos a riscos e consequencias. Mas o risco de pedir carne no lugar do peixe é apenas uma ponta de dúvida de que o peixe poderia estar melhor. Mas existem decisões que podem fazer vc ficar parado no mesmo lugar.

Uma vez, quando era criança, no dia seguinte ao meu aniversário, perguntei para minha mãe quantos dias faltavam para o meu próximo aniversário. Eu não sabia contar e "um ano", para mim, não era resposta. Minha mãe teve que fazer contagem regressiva por pelo menos uns três meses até eu me cansar. Eu simplesmente não conseguia relaxar e esperar o dia em que minha mãe dissesse algo mais palpável como "amanhã é seu aniversário". Tudo bem que eu devia ter 3 ou 4 anos, mas na vida adulta, as vezes não é muito fácil esperar por algo que é bem mais incerto do que o seu aniversário (que certamente vai ocorrer uma vez a cada ano).

Por mais que eu saiba que não é hora de pensar nisso, não consigo parar de me perguntar como será minha vida ao voltar para o Brasil. Não tenho certeza se quero fazer um doutorado, muito menos qual temo e qual área. Não sei também se vou ficar em Brasília por muito tempo ou se vou continuar dando aula de francês. Mas ao mesmo tempo não consigo me animar para escrever meus artigos do mestrado ou procurar um contato para o doutorado por aqui. Eu andei pensando porque tenho agido assim, e acho que cheguei a conclusão: acho que ainda não estou pronta para tomar uma decisão. Infelizmente, pois também não consigo parar de me pressionar para decidir algo. Estou em cima do muro. E a única coisa que eu sei, é que quero meu canto e o meu amor do meu lado.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Do lado errado

Outro dia recebi um e-mail da minha irmã me contando as novidades. Entre outras coisas, ela me contou como vai minha cidade natal, Brasília. Uma cidade planejada, muito mal planejada. Eu digo e podem anotar aí, não sou Nostradamus, mas aposto que daqui há 10 anos Brasília será tão caótica quanto São Paulo é hoje.

Porque eu digo isso? O que vc espera de uma cidade que mal tem calçadas, mas a cada dia que passa destroe cada vez mais área verde para contruir ou alargar suas avenidas? E o pior, não investe num sistema de captação de águas pluviais decente e chove pacas lá. Hum... alguém consegue perceber a semelhança com São Paulo?

Bom, há uma outra semelhança (ou não) com São Paulo, o uso de carros de passeio como o único meio de transporte. De início, parece algo bom. Afinal, Brasília ainda não tem aqueles engarrafamentos de 3 horas ou os estacionamentos de 10 reais a hora. Ainda, mas logo vai ter. O que chamou a minha atenção foi uma manifestação ridícula que alguns idiotas de Brasília tentaram fazer contra o aumento da gasolina. Tudo bem que forçar os postos a emitir nota é algo que todo mundo deveria fazer sempre. Mas a situação não vai melhorar se a gasolina não aumentar. É só uma questão de tempo para o governo e os usineiros, petroleiros e outros eiros arrumarem um pretexto para subir o preço do combustível.

O que eu acho errado é combater o aumento do combustível achando que essa é o único problema. Quando você chegar no trabalho, seu carro não vai encolher e você não terá como colocá-lo na bolsa. O que vai fazer? Bom, o jeitinho que a gente acha é parar em cima da calçada, fila dupla, tripla, dar a chave para o guardador de carros e depois quando a polícia multa pq ninguém consegue passar, você fica puto e pensa "mas não tem onde parar o carro". Bom, se você pagar um estacionamento, tem como estacionar. Ah, não, mas é muito caro! Acho esse pensamento um pouco egoísta. É como dizer, eu tenho mais direitos do que quem tenta passar, do que aquele que espera a ambulância que está presa no engarrafamento que você causou por causa do seu carro.

A questão é, o brasiliense prefere fazer um esforço descomunal para conseguir comprar um carro e pagar todos os impostos que se estivessem sendo bem utilizados, deveriam oferecer uma alternativa mais barata, ou mais prática, para ele se locomover. Acho que no lugar de protestar abastecendo o carro com 50 centavos e exigindo nota, as pessoas deveriam se unir, como se unem na corrida da cerveja, e tentar ir ao trabalho de transporte público. Muitas vezes é impossível, mas nesse caso, uma comoção popular poderia exigir uma melhora e ampliamento das linhas. Ou quem sabe até plantar árvores perto das calçadas para melhorar as condições de caminhada, ciclovias por toda cidade. Mas qual é a primeira coisa que as pessoas pensam? Tornar mais barato o uso do carro.

Isso não deve e não vai acontecer porque o carro acaba exigindo muito mais dinheiro e manutenção do que todas as outras alternativas. Demanda muita infra-instrutura, espaço ocioso em estacionamentos e coisas afins. Isso é o que eu chamo de "pensando do lado errado".

terça-feira, 3 de maio de 2011

Da menstruação

Ou das não vicissitudes da vida.

Como sempre, eu ando atrasada nos sujeitos, blogagens coletivas, protestos, eventos e tudo mais. Mas me deu vontade de escrever sobre o tema e só tive esse tempo, então "senta que lá vem a história"!

Já ouvi muita coisa a respeito das vantagens e desvantagens de menstruação. Inclusive, já presenciei uma briga voraz entre minha mãe e minha avó, quando esta última ainda era viva, sobre o famoso chico. Mas no caso delas a discussão era um pouco mais avançada, sobre se a mulher deveria ou não tomar hormônios para menstruar depois da menopausa, ou evitar a menopausa. Tendo em vista minha tenra idade e o fato de estar presenciando uma discussão entre duas hipocondríacas, prestei pouca atenção nos argumentos delas. Mas uma coisa me lembro bem, as autoridades citadas no debate eram o Dr. Fulaninho e o Dr. Ciclaninho (nenhuma doutora no páreo)

Minha opinião a respeito das regras? Menstruação sucks, e se eu pudesse dava cabo dela. Entendo os milhões de argumentos a favor, mas desde que eu fui mordida por esse monstro tenho cólicas atrozes. Sim, eu tomo hormônios, mas por causa dos meus ovários policísticos. Mesmo assim eu não consigo ajustar um hormônio que dê jeito na minha cólica ao mesmo tempo que dê jeito na minha produção ovariana. Eu comecei a tomar hormônios com uns 18 anos para tentar regular minha menstruação e tentar amenizar minhas cólicas provocadas pelos ovários. Um detalhe, minha primeira menstruação foi aos 12 anos. Sempre sofri com cólicas terríveis, mas minha mãe, que tem uma capacidade descomunal de pensar besteira, achou que se eu tomasse pílula mais nova seria um sinal verde para promiscuidade. Ou seja, sofri 6 anos antes de ter um breve alívio. Dos 18 aos 26 mais ou menos eu sentia apenas uma cólicazinha antes do dia M que eu encarava de boa comparando com os sofrimentos anteriores.

Mas sempre me senti desconfortável com mais esse impecílio feminino. Eu não me sinto confiante quando estou menstruada, viu, povo da Always!!!! Nunca colocaria meu melhor vestido e sairia andando lançando olhares sexys pela rua nesse período do mês, como mostram na propaganda brasileira. A daqui me faz revirar os olhos quando no final do discurso colocam a frase "have a happy period, always!" Pra mim e quase impossível ser "happy" se é "period". Para completar, de uns tempos pra cá venho tendo uma volta no tempo, mas no lugar das minhas antigas cólicas, estou tendo enxaquecas homéricas, daquelas que dão ânsia de vômito e tudo. Pelo que ando lendo, a melhor solução seria parar de tomar pílula, mas eu não quero arriscar ter um filho. O DIU não é uma opção pois meu útero é pequeno demais e o diafragma, vamos e convenhamos, é um puta trabalho.

Qual é a conclusão? Tá mais do que óbvio que as pessoas que pesquisam soluções para o nosso dilema são homens, pois se fossem mulheres, inventariam algo que prestasse, tanto como contraceptivo qnt como para resolver nosso problema menstrual.