segunda-feira, 18 de junho de 2012

Gabriela, again...

Sinto muito, mas eu não li a Gabriela de Jorge Amado. Desde que sou criança, rodeada por Tietas e Gabrielas, eu consegui no máximo me divertir um pouco com "A morte e a morte de Quincas Berro d'água". Sim, eu sou mestre em Literatura Brasileira, mas não li todos os livros nem todos os autores. Assim como, formada em Letras, eu não sei todas as regras da gramática nem todas as palavras do dicionário...

Mas voltando ao assunto, se tem uma coisa que me irrita é esse culto da Literatura neo-naturalista. Mas especificamente sobre aquilo que se entende sobre ela. Sim, Jorge Amado é um clássico, então, consequentemente bom. Talvez o livro até seja, mas se compararmos o casal pelas duas obras que li, "A morte e a morte de Quincas Berro d'água" e "Anarquistas graças a Deus", a Zélia foi para mim uma leitura bem mais agradável. Mas é claro que não se pode fazer isso.

Assim como não podemos pegar as novelas da Globo como um parâmetro para julgar a obra de Jorge Amado, Gabriela, muito embora eu tenha minhas dúvidas de que ele tenha sido tão hábil quanto Machado de Assis ao silenciar Capitu. Gabriela fala no romance? Não sei, mas parece não ter importância. Infelizmente, o que se "vende" sobre Literatura Brasileira no discurso midiático é o "pastiche global". Um bom jeito de suavizar qualquer "ruga" de profundidade da superfície com risadas e imagens paradisíacas. Bem Gabriela.

Toda a discussão que vem sendo feita sobre a exploração do corpo da mulher nas propagandas (e entre outros meios) parece não atingir a magnânima emissora, que em pleno século XXI resgata sem ressignificação todo apelo sexual da mulata brasileira, ignorando inclusive os altos índices de violência contra a mulher, sobretudo quando essa se recusa a atender aos apelos do companheiro.

Eu tenho medo da Gabriela, mas não da Virgínia Woolf. Dessa imagem que "fazemos" questão de mostrar que tanto nos atrapalha, nos limita. A falta de história e de cultura, na concepção de alguns, só pode ser recompensada pelas belezas naturais, sejam de nossas terras, sejam de nossas mulheres. Porque vender o Brasil e a Gabriela como uma terra virgem pronta para ser deflorada? Não seria melhor preservá-la e respeitá-la?

E mais uma vez, porque Gabriela de novo?