Vamos lá então. Recebi muitas perguntas e críticas bem pertinentes sobre meu post anterior. Algumas, creio eu, são devido ao fato de possuir uma ironia sutil no meu estilo de argumentação que muitas vezes não é percebida. Por isso, como não quero confusões num tema que considero super importante eu me explico melhor aqui.
A brincadeira com o cartaz é a seguinte: assim como eu não identifiquei de imediato que era uma campanha contra o aborto, mesmo todas tendo nomes parecidos, muitas pessoas também não identificariam. O fato de alguém ir para o show da Elba Ramalho sem saber que é uma manifestação nem é o grande problema, apesar de ser muito ruim. A questão é a seguinte: é feio ser a favor do aborto. As pessoas já falam no automático (como ressalta o vídeo). O problema é que ser contra o aborto não resolve o problema assim como ser contra o uso de drogas. As pessoas não deixam de usar porque é proíbido e nem tão pouco vão deixar de praticar o aborto. Muita gente é a favor a descriminalização do uso da maconha, eu sou pela descriminalização do aborto.
Um dos argumentos mais fortes para o aborto ser proíbido é que como o Brasil não tem pena de morte não seria justo dar fim a uma vida abortando. Bom, nem a medicina entra em consenso com relação ao período no qual o feto pode ser considerado uma vida. Muitos dizem que a partir dos 3 meses o bebê já é um ser formado, para outros a fecundação já é o suficiente para haver vida. É realmente complicado, eu mesma não sei o que pensar a esse respeito. Estudei num colégio de freiras e elas faziam de tudo para chocar a gente. Primeiro mostrando as técnicas mais bárbaras de aborto como uma onde mulheres enfiavam agulhas de tricô no útero e retalhavam o que havia lá (técnica que causa danos irreparáveis à mulher) e outras onde tomavam um chá tão forte que muitas morriam junto com o feto. As freirinhas sempre tentavam mostrar como essas mulheres eram perversas, mas eu nunca consegui pensar assim. Gente, porque raios uma pessoa vai fazer isso? Pura diversão, maldade? Não existiria uma outra causa?
Existe vida após a morte? Existe alma no feto de 3 meses? Quem pode provar que sim e quem pode provar que não? Por isso eu acho que a proibição do Estado tem fundo religioso. Quando dizem que a maioria da população brasileira é contra o aborto eu não tenho como discutir. Isso é verdade. Mas eu aposto que poucas pessoas que condenam o aborto pensaram nas razões que levam a essa prática. Poucas pessoas pensam que nessa proibição o feto é o cidadão que está tendo o seu direito preservado e não a mãe. Não sejamos exagerados em dizer que permitir o aborto seria permitir que a mãe mate o filho. Não é isso. Permitir o aborto até o terceiro mês de gravidez é evitar que existam crianças que sofrem com a rejeição. Permitir que as mulheres tenham mais opções de futuro, mais liberdade de escolha. Sejamos francos, a maternidade é um fardo feminino e enquanto for assim o aborto deve ser permitido. É muito fácil falar em barbárie se o homem sempre tem a opção de abandonar a família e pagar apenas 30% de sua renda para se sentir livre de peso na consciência (isso falando de homens que existam para o estado e que possam ser achados e mulheres que saibam aonde recorrer para ter seu direito e de seus filhos garantidos). Para mulher que fizer a mesma coisa é a danação social que lhe espera.
Bom, quando eu falei que a maior parte da população mundial abaixo da linha da pobreza é formada por mulheres tem uma causa bem simples: a maternidade. É verdade. As mulheres arrumam um companheiro, sem dinheiro pra comer, pegar ônibus ou o que quer que seja vc acha mesmo que vão tomar pílula? Usar camisinha? Elas provavelmente não sabem ler, cresceram na rua sem família e ninguém pra orientar, vão tirar essa informação da onde? Vai me dizer que vc já viu algum morador de rua conseguir ligar uma televisão debaixo da ponte. Isso se vc levar em consideração que alguém consegue abstrair alguma orientação sexual da tv. Agora me diz quem, tirando a Maria Carolina de Jesus vai conseguir sair da miséria com seis filhos debaixo do braço? Mesmo as mulheres que estão na pobreza, e não na miséria, conseguem criar os filhos. O bolsa família tá aí, mas se não pensarmos numa solução ele vai ter mais e mais bocas para alimentar.