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quinta-feira, 17 de março de 2016

Considerações sobre a esquerda e os recentes acontecimentos

Eu estou aqui, na frente desse computador agora, tentando entender o que está acontecendo. Mais cedo liguei para um amigo perguntando se em Brasília o estardalhaço era o mesmo. Parece inacreditável. É engraçado pra mim lembrar que em 2013 eu estava na Esplanada dos Ministérios, vendo os jornalista da Globo acompanharem a manifestação de dentro de um helicóptero, sem poder descer e obtusos a ponto de se restringirem a contar o número de lixeiras depredadas (eles, os únicos que acham as lixeiras nas ruas) e os vidros quebrados para apurarem, com imparcialidade, quem eram os manifestantes.

Eu estava lá, esperançosa, pensando "dessa vez vai". Um movimento legítimo, apartidário... Mais um grande arrependimento para entrar na minha lista. Muita gente falava que essa coisa de não poder levar bandeira de partido era na verdade uma hostilização da direita contra a esquerda. Eu não conseguia enxergar nada disso. Se eu soubesse no que isso ia desencadear teria saído do clima antes do Passe Livre. Mas enfim. Agora acho que só me resta do desabafo.

Não sou petista. E hoje em dia parece que essa informação é essencial para que meu texto seja de alguma forma lido. Mas já fui. De ter botton, bandeira e camisa. Estava na marcha dos 100 mil, no Fora Collor, e votei no Lula e na Dilma. Mas digo que só votei no Lula no primeiro mandato e na Dilma porque ela é mulher. Posso explicar posteriormente porque não me mantive petista, mas para mim, ver Lula aliado com Sarney bastou para saber que o partido estava corrompido. Mas acho que eu tenho o direito de falar. Todos temos o direito de opinar. Mas digo que o PT foi corrompido porque sempre teve uma ideologia forte e sólida, já não colocaria minha mão no fogo pelos outros partidos. Felizmente, mesmo no poder ainda fez mais pelo social do que qualquer outro. Infelizmente para mim, não acabou com as estruturas estruturantes de desigualdades do nosso país.

Mas o que vejo hoje nas manifestações, elevadores e ruas é que estamos acuados. Todos que pensem um pouco mais além de "morte ao PT", "fora Dilma", são automaticamente suspeitos. Suspeitos de quê eu não sei bem. Tenho medo de me pronunciar publicamente. Estou aqui, realmente escondida na rede. Não é mais uma manifestação apartidária, é basicamente uma manifestação anti um partido e contra toda a ideologia de esquerda. Eu posso não concordar com o PT, mas sou obrigada a defendê-lo em muitas coisas que estão acontecendo simplesmente porque defendo o processo democrático. Louco isso, não? Tem gente que me fala, "Mas então você não quer que eles sejam punidos"? Sim, eu quero. Mas pelo quê? Temos provas? E vamos mais além um pouco: uma vez que os petistas saírem de cena, a investigação vai continuar?

Outro motivo pelo qual me dispus a escrever esse texto. Lembrem-se de Collor. Lembrem-se dos 8 anos de FHC antes de vociferarem contra o PT. Infelizmente a direita não foi capaz de ganhar. O sistema eleitoral está corrompido. Certamente. Mas não são as urnas o problema. São os financiamentos de campanha, os partidos, a legenda. Mas não queremos mudar isso. Não estamos nas ruas clamando por reformas. Estamos nas ruas distribuindo nossos ódios e preconceitos, felizes de podermos falar nossas barbaridades e achando que não estamos sendo julgados e nada irá nos atingir.

Meu desabafo aqui reside porque tudo que eu acompanhei ao longo dos anos como uma luz bem pequena aumentando paulatinamente no fim do túnel, está sendo levado e esfumaçado pelas fogueiras que se acendem contra o vermelho da esquerda. E a utopia de que as coisas podem ser conseguidas democraticamente parece ter dado um soco na minha cara. Estamos perdendo tudo, inclusive a liberdade de dizermos o que pensamos (lembrem-se do "Desculpem a nossa Falha"). E olha que não estamos usando essa liberdade para incitar o ódio, promover o estupro, a violência, o racismo. Mas mesmo assim somos odiados por tabela. Parece que um partido de esquerda fazer o que todos os outros fazem é motivo para odiar todo mundo que é de esquerda, mesmo que não sejam do partido e que não concordem com o que está acontecendo.

Eu nunca acreditei que a História pudesse se repetir, mas hoje não consigo ser mais tão cética quanto a isso. Qual o problema de defender a igualdade social? De defender a igualdade de gênero? As cotas? Pode me dizer o que quiser, que é a favor de tudo isso, mas se eu sair às ruas de vermelho, porque vermelho é sim a cor da ESQUERDA, pode ser que você mesmo me hostilize.

E o mais engraçado é talvez que nós, da esquerda, queremos mais ou tanto, o fim da corrupção. Mas não seja ingênuo. Como tem gente que defende que um campeonato roubado vale como qualquer outro no futebol, tem gente de esquerda que defende isso e de direita TAMBÉM.

Só gostaria que essas opiniões diferentes fossem respeitadas e que no fundo as pessoas soubessem que os veículos de informação de direita defendem a direita. Parece um pouco óbvio, mas não é. E no fim, acho que vou tentar dormir, já que as buzinas se acalmaram.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Algumas reflexões sobre política

Não sou especialista no assunto, mas como posso votar, acho que tenho o direito de opinar. De fato, o voto é secreto e eu não precisaria anunciar minhas escolhas políticas na internet. Outro fato é que eu não votei nessa eleição. Também não me arrependi de não tê-lo feito.

Dizem que o Brasil está dividido e ressaltam que a diferença entre Dilma e Aécio foi de apenas pouco mais de 3 milhões de votos. Mas acredito que a diferença seria maior se pessoas como eu tivessem ido votar. Fico feliz e triste por Dilma ter levado essa. Eu até achei que ela não parecia muito animada em concorrer novamente. No início da campanha, me parecia estar cansada da política. Mas enfim, isso são apenas especulações.

Uma prima minha disse que queria saber porque eu voto no PT por ideologia. Dois erros nessa afirmação, eu não sou petista e não voto no PT por ideologia. Acho até que o PT não tem mais a mesma ideologia que teve no passado, mas é bom ressaltar que, por mais que os eleitores não tenham, todos os partidos políticos tem uma ideologia.

O humorado dicionário filosófico de Comte-Sponville diz que o termo ideologia significava a ciência das ideias e que seria então a ciência das ciências. Mas essa acepção caiu em desuso e o sentido que conhecemos hoje é o que foi dado à palavra por Marx. Esse seria:

 "a ideologia é um conjunto de ideias ou representações (valores, princípios, crenças...) que não se explicam por um processo de conhecimento - a ideologia não é uma ciência -, mas pelas condições históricas da sua produção, numa sociedade dada, especialmente pelo jogo conflitual dos interesses, das alianças e das relações de forças. É como um pensamento social, que não seria pensado por ninguém mas que pensaria em todos, ou melhor, dentro do qual todos, necessariamente, pensariam. A ideologia é inconsciente: ela é o lugar social e historicamente determinado de toda a consciência possível. É a linguagem da vida real. Ela é por natureza, heterônoma: sua história está submetida à da sociedade material, ela própria dominada "em última instância" pela infraestrutura econômica". 

O verbete se estende por mais 3 páginas, só para se ter uma ideia da tarefa complexa que se é definir "ideologia". Acho que a última parte é mais esclarecedora, as ideologias são próprias de uma sociedade. Eu diria ainda que cada segmento dela, devido a sua história, tem sua própria ideologia. Eu não me lembro se estudamos isso no segundo grau, mas em termos de política existem ideologias de esquerda e de direita muito parecidas. Por exemplo, se falarmos de extrema direita e extrema esquerda ou centro direita e centro esquerda. No Brasil temos uma certa dificuldade em entender essas diferenças também pela boa qualidade da nossa imprensa. Só para termos uma ideia, a notícia depois das eleições foi o que a capa dos principais jornais estrangeiros diziam sobre o nosso pleito. Os nossos realmente não tinham o que dizer. Pareciam estar esperando que os de fora lhes dissessem o que tinham que pensar.

Eu sempre me perguntei o que levava uma pessoa a ser de direita. Tive muita dificuldade em aceitar, até por preconceito. As ideologias de direita não pregam a igualdade entre os homens, por mais que digam serem todos os homens iguais perante a lei. Elas acreditam a liberdade de oportunidades, no estado mínimo, no livre comércio e no respeito a propriedade privada. Esse é um resumo, pois as ideologias tem muito mais do que isso. A direita não é necessariamente conservadora. E o grande atrativo dessa ideologia é a redução do estado, pois isso implica em redução da carga tributária. Mas na minha visão essas bandeiras acabam sendo conservadoras no sentido que se concentram em conservar privilégios de quem já está estabelecido quando se resolve "abrir" o comércio e reduzir o estado, deixando os mais fracos desamparados.

Muita gente da classe média é seduzido por essa proposta, pois a carga tributária tem um grande peso nessa classe, já que os mais pobres estão fora da faixa dos que pagam imposto de renda. O que muitos ignoram é que os mais pobres pagam proporcionalmente muito mais impostos, pois quase tudo o que consumimos é tributado no nosso país. Se levarmos em conta o gasto que uma família pobre tem com transporte, por exemplo, talvez seja muito mais alto do que uma de classe média gasta com imposto de renda. Mas quem se importa, não é mesmo? Farinha pouca o meu pirão primeiro. 

O que eu acho que as pessoas de direita ignoram é que a desigualdade social aumenta a violência. Além disso, contrario ao que muita gente acredita, é muito melhor uma sociedade onde a diferença entre ricos e pobres não é grande. Uma sociedade rica é aquela onde todos são ricos. Outra coisa que eu gostaria de comentar sobre o assunto é a famosa política "assistencialista". Todo mundo adora falar sobre o bolsa família, mas pouca gente gosta de se informar sobre o assunto. Alguns mitos merecem ser desfeitos. Nós não estamos dando esmola, o programa tem outras ações vinculadas a ele que funcionam como aperfeiçoamento e política de saída. Outra questão é o montante de dinheiro destinado a ele. Eu considero uma política direta e indireta. Tirar esse montante de pessoas da miséria ou da miséria absoluta tem consequências além da melhora na vida delas. Nós diminuímos gasto com saúde, reduz a violência, entre outros. De um certo modo o dinheiro não é só para eles.

O que muita gente não consegue entender é que isso é um exemplo de política direcional, na tipologia cunhada por Gøsta Sping-Andersen. Um governo falha em estender o estado do bem-estar social à todas as camadas da população. Direciona as políticas a uma só camada e acaba fazendo com que os setores da sociedade se desunam em vez de cobrar do governo que a política seja ampla. Exemplo, nem todos precisam do bolsa família, mas se a saúde fosse de qualidade, não seria necessário pagar um plano de saúde e todas as classes poderiam usufruir do sistema de saúde. O que muita gente acha é que o governo só ajuda a classe baixa. 

Só que no lugar de querer que todos tenham os mesmo direitos, muitos querem que os menos favorecidos sejam menos favorecidos ainda. A classe média, até certo ponto, pode arcar com um plano de saúde e fazer cortes para economizar no orçamento, mas como fazem aqueles que mal podem pagar uma cesta básica? É claro, a centro direita não é contra políticas sociais, mas pelo que eu já vivi até hoje, sei que o foco dela não é esse.

Qual o meu problema com a "livre iniciativa" e o "estado mínimo"? É histórica. Os países mais desenvolvidos do mundo não adotam mais essa política. E quando falo desenvolvidos eu excluo os EUA por 2 motivos: não conheço muito o que se passa lá e seu que a desigualdade lá é grande. Falo dos países europeus, pois conheço um pouco mais sobre eles, o Canadá e, infelizmente, não sei como a política funciona nos Tigres Asiáticos e no Japão, então ficarei só com os ocidentais acima citados. Os "avanços" da Inglaterra na era Thatcher são um bom exemplo do quão ruim o neo liberalismo pode ser. 

Reduzir o estado deixa uma lacuna. Quem pode pagar pelos serviços paga, quem não pode se lasca. Transferir para a iniciativa privada aquilo que o governo deveria fazer nunca funcionou no Brasil. Tem gente que pode argumentar que foi porque o modelo das agências reguladoras foi falho ou foi mal feito. Mas em alguma configuração seria diferente no Brasil? Voltando à livre iniciativa. O discurso é velho. Usam exemplos vitoriosos para dizer que todo mundo pode conseguir, mas esquecem que os vitoriosos são uma exceção e não a regra. Sem se lembrar também que os ricos tem mais oportunidades do que os outros. Ora, se pregam tanto a meritocracia, deveriam zerar as heranças familiares e a condição de vida de cada um para a competição ser justa.

Em resumo, é por isso que eu sou de esquerda. Poderia falar muito mais coisa sobre meu posicionamento, mas acho que uma hora é preciso resumir. E só para provocar, eu fico muito feliz com pessoas ricas e bem de vida serem de esquerda, a esquerda caviar, pois eles se beneficiariam muito mais com um governo de direita, mas mesmo assim, querem uma sociedade mais justa. Eu não. Estou mais para esquerda sardinha mesmo.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Como reivindicar algo do jeito que a imprensa quer?

Esse post surgiu depois de refletir um pouco sobre o que a mídia quer da população. Sabe, desde as manifestações de junho do ano passado que escutamos coisas como "a população tem o direito de manifestar, mas sem violência", "as manifestações devem ser pacíficas", "nada de vandalismo" (e olha que muitas vezes os ônibus que são queimados já deveriam estar fora de circulação a muito tempo)... E dá-lhe críticas aos Black Blocs...

Mas é engraçado, pois na maioria dos países do antigo 3º Mundo as manifestações sempre acabam em violência por conta da intervenção da polícia. Mas enfim, eu pensei bem e queria compartilhar alguns pontos:

- Os manifestantes tem sido enquadrados pelo crime de formação de quadrilha.
Na ditadura um aglomerado de pessoas conversando no meio da rua era caracterizado de que mesmo? Alguma semelhança? Todos aqueles que foram presos fizeram alguma coisa?

A rede Globo não precisa lembrar, afinal, o Estado detém o uso legítimo da violência. Mas sabe, eu não me lembro se Max Weber se referia ao regime democrático. E mesmo se fosse, não acham que essa visão está um pouco ultrapassada. Falamos em democracia representativa e participativa a mídia puxa essa carta amarelada e mofada de "uso legítimo da violência".

Tudo bem, vamos voltar com o quesito reinvidicações. Como a mídia espera que façamos as tais reivindicações? Os abaixo assinados podem (e muitas vezes) são ignorados. O que eu tenho impressão de que querem que façamos, no lugar das manifestações, algo tal um carnaval fora de época. Ou uma espécie de CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem) que lutava por máquinas de refrigerantes nos corredores da escola e recreios de 1 hora. A imprensa não gosta da população séria externando sua indignação com palavras de ordem. Não, temos que estar todos de mãos dadas, caras felizes e flores nos cabelos. Nada de coisas sérias, por favor. Dá trabalho para os repórteres. Eles vão ter que estudar para entender, quem dirá explicar.

Mas porque manifestar então. Achei que o propósito de ir às ruas era justamente bradar para que a população seja ouvida, incomodar. Pois eu tenho a impressão de que os políticos não fazem a menor ideia e não tem o menor interesse em agradar o seu eleitorado. Vide a "mini-reforma eleitoral".

Quais são os mecanismos democráticos de reivindicação? O voto? Muitos caçoaram o #nãomerepresenta, mas o que fazer quando isso é verdade? Eu tenho um voto para gastar com um candidato que pode ou não ser eleito. Dentre as opções de candidatos que são apresentados, o que fazer se nenhum me agradar? Eu sou mesmo obrigada a escolher o menos pior? Se a minha única ação política é votar, porque eu não posso votar diretamente nos assuntos que me interessam? Porque tenho que escolher um representante? E porque esse representante, mesmo sendo eleito por mim, vota de acordo com as afiliações partidárias, troca votos por postos, ministérios... E eu, tenho que ver isso e ficar contente? Falar "pelo menos eu votei consciente", deitar minha bunda no sofá em frente a televisão e ficar esperando um milagre acontecer?

Ou ainda, até que ponto estratégias como tentar colocar membros de um mesmo partido no poder para que o governo tenha uma maioria x ou y não é ser condizente com um sistema que confunde ideologia com interesse? Agora estamos mais uma vez próximos das eleições e o que eu mais vejo são comentários vesgos sobre política. Confunde-se o governo com uma pessoa, o partido com um político, uma ideologia com uma barganha.

Outra coisa que me preocupa é a pouca representatividade dos sindicatos e a aparelhagem da CUT. Regulamentação de greve e a simples possibilidade de se considerar uma greve ilegal para mim soa como um modo de impedir as reivindicações da população, das classes de trabalhadores. Os sindicatos sempre foram a forma dos trabalhadores se organizarem, pois os partidos políticos sempre exigiram tempo e dinheiro que essas classes não dispunham.

Entretanto eu não acredito que não exista a diferença entre esquerda e direita. Acho apenas que muita gente se esqueceu o significado disso. Eu sou de esquerda, mas o PT não é o meu partido.

Certa vez eu disse que o brasileiro vota no político e o que quis dizer com isso é que muitas vezes ignora o funcionamento do executivo e supõe que seu candidato possa de alguma forma ser um ser todo poderoso que deseja e faz. Quase um justiceiro que não está sujeito às regras do nosso regime, ou que de fato o regime o permite fazer o que quer e que não beneficie aquele que age como todos. Enfim, votamos no político, mas ele não está sozinho. Os partidos que aí estão são cada vez mais do mesmo. Eu e a maioria do país votar nulo não irá anular o pleito nem obrigará uma mudança nas candidaturas. O sistema que aí está não permite aos pequenos, os ainda idealistas, que realmente disputem.

- Me diga então, oh, grande mídia toda poderosa, o que devo fazer?
- Votar ou não votar, eis a questão? Só?

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Brasil, o país da argumentação 8 ou 80

Como amante da análise do discurso, muitas vezes me assusto vendo absurdos na retórica popular brasileira. Mesmo comentaristas "consagrados", ditos opinadores de respeito, angariam preciosos minutos no jornal das oito, e até mesmo páginas inteiras com suas fotos de perfil em revistas quinzenais, para achincalhar seus oponentes. Digo achincalhar pois na sua maioria, a opinião desses "baluartes" é pessoal e muitas vezes não versa nem acerca da personalidade ou das atitudes daquele a quem julgam e sim da aparência, classe social...

Mas não se engane. Essa estratégia pífia de argumentação é patrimônio nacional. Se sua vestimenta serve para credibilizar aquilo que diz o que dizer do seu sexo, sua cor, sua posição? O que se diz também não importa muito. Como se diz é bem mais importante. Os psicólogos e behavioristas podem tentar ponderar minha crítica dizendo que existem respostas instintivas a gestos e tons de voz. Eu como conhecedora de alguns pontos da linguística, sei que o tom é importante para insinuar o sarcasmo e a ironia. O problema está em que se tirando esses aspectos da equação, praticamente não podemos criticar nada nesse país.

Estamos numa meritocracia que no lugar de mostrar o mérito, nos concentramos em esconder os erros e defeitos, em conseguir desculpas, desviar os dedos inquisidores para outro. Quantas vezes eu escutei um "me desculpa" ou "mea culpa"? Acho que nunca. Se teve erro de digitação na prova "acontece", "é culpa do editor de texto que está configurado para outro idioma". Se alguém não deu o recado, nunca ouvirá um "eu esqueci", mas sim "você não deve ter recebido o e-mail" ou "o seu celular não está funcionando". Eu não sei se a corrupção é endêmica, mas as vezes eu acho que a mania de desculpar-se e mentir é quase esporte nacional. "Você quer sair amanhã? Hum, não vai dar, é aniversário da minha tia". Porque dizer "eu não estou afim" é ultrajante.

Talvez daí (ou de outro lugar) venha a falta de habilidade para se ponderar, discutir e solucionar. Na ânsia de mostrar o mérito, sem saber ao certo o que isso significa, toman-se decisões à la va vite, verticalmente e sem espaço para discussões.

Um bolsista qualquer foi viajar pela Europa e não terminou o doutorado? Vamos cobrar dele? Não. Vamos proibir TODOS de viajar enquanto estiverem fazendo seu doutorado, sanduíche (mais para misto quente). Os médicos não querem ir para o interior? Vamos investigar? Não. Vamos obrigá-los! (como se eles fossem os únicos que custam milhões aos cofres públicos e não dão o suposto retorno à sociedade). Será que os engenheiros assim que formados serão obrigados a construir pontes?

Outra coisa engraçada foi a discussão em torno da vinda dos médicos cubanos. Deixando de lado o fato deles serem ou não bons médicos, eu não vi muita ênfase nas ponderações acerca da atitude brasileira, sem pudores de privar Cuba de seus médicos e tentando aplicar neles aqui o mesmo regime que tem lá. Eles iam ficar como? Trancafiados para não verem "os prazeres do capitalismo"? Eles veriam sim. Os doentes pelo chão, a falta de equipamento, o descaso do poder público com o povo... E para falar a verdade, tentando deixar o xenofobismo de lado, eu preferiria muito mais um cubano do que um português ou um espanhol. Será que a gente não deveria descolonializar a medicina brasileira no lugar de recolonializá-la mais uma vez?

Na mesma linha das argumentações 8/80 estão algumas das críticas do povo "acordado" ao governo. A Dilma é poderosa sim, mas ela não é O GOVERNO! Nós temos instâncias municipais, estaduais e federais. Bom, e eu até acho bom ela não ser a única responsável pela instância federal. Além disso, no âmbito das leis (pois a gente adora uma lei, por mais absurda e sem chance de ser cumprida que ela seja), existe a Câmara e o Senado e está cheio de gente lá adotando um comportamento extremamente "instável" desde que os protestos começaram.  É muito provável que os problemas da sua cidade sejam culpa do governo estadual e municipal. Aqui em Brasília eu não vi muita reclamação sobre a Câmara Legislativa. Ela faz "tanta" coisa que a gente até se esquece dela... Jaqueline, sua família e seus amigos agradecem.

Só para dar um exemplo de argumentação 8/80: existe a esquerda e a direita no pensamento político, certo? Não. Existe a centro esquerda, centro direita, extrema de qualquer lado e ainda algo do qual a gente pouco fala: a terceira via (que é do que a gente pouco fala mas é sobre tudo que está acontecendo aqui no Brasil). Mas se você é de esquerda logo te taxam de... petista. Pomba, eu não sou mais petista desde o primeiro mandato do Lula. E desculpem-me os ainda petistas, mas, para mim, o PT não é mais um partido de esquerda.

Posso citar muitos outros exemplos dessa intransigência argumentativa, mas eu acho que essas já são suficientes para nos fazer pensar um pouquinho no que temos usado para sustentar nosso argumento e onde todos vamos chegar com essa discussão pouco frutífera.


sábado, 6 de julho de 2013

As manifestações, a esquerda, a direita, eu e a depressão

"Texto escrito no calor das manifestações e pode ser revisado em breve, mas precisava postá-lo"

Quando comecei a escrever esse texto, estava mesmo contente com o levante do povo brasileiro. Me surpreendeu ainda mais a quantidade de pessoas que preferiam manifestar do que assistir aos jogos da copa das confederações. Achava, no começo que a manifestação era legítima. Ainda acho, mas agora tenho algumas ressalvas.

Quanto à Copa, a audiência, aqui em Brasília, parece ter voltado ao normal. Olhando por esse ponto podemos nos indagar se os protestos não foram contra o monopólio da Rede Bobo nas transmissões e sua insistência em mostrar seu poder nos enfiando Gavião Nãobueno goela abaixo. Agora então fica a estranheza - assistir aos jogos na tv e depois ir para a manifestação. Isso parece combinar com a pitada de hipocrisia de todos os brasileiros à la "não sou preconceituoso, mas empregada deve comer na cozinha e andar pelo elevador de serviço".

Já para mim, a legitimidade da manifestação está na resposta àqueles que sempre disseram que o brasileiro é um povo pacífico e que no fundo quer dizer que somos acomodados. Para mim o nosso problema é um só: nossa indignação não é ouvida, nunca foi.

Eu era muito nova na época da ditadura, mas me lembro bem que na época as coisas estavam muito ruins. Comprávamos comida como guerrilheiros famintos, pois as maquininhas de preços não paravam. A nossa tão "comemorada" democracia se resumia a um presidente civil, escolhido pelos militares (que ainda por cima é imortal), e um mauricinho que dispensa comentários. Para mim, naquela época, o Brasil já era sim o lugar do "tudo acaba em pizza", mesmo depois do "fora Collor". Já tinha dentro de mim esse sentimento de derrotismo.

Agora, nesse momento tem aqueles que ressuscitam o movimento dos cara-pintadas, lembrando como "o povo" tirou um presidente do poder. Uaaaal!!! Mas minha pergunta é: quem estava mesmo a frente desse movimento dos cara pintadas??? Pense...

Desde que eu comecei a trabalhar, em 2004, há manifestações na Esplanada, mas, estranhamente, elas eram ignoradas, por mais transtornos que causassem ao trânsito. O que está acontecendo agora? Os olhos do mundo se voltam para o Brasil por causa da Copa e com isso alguém nos autoriza a falar?

Fato é que o estado de sítio da Fifa foi a gota d'água. Exigências absurdas, maquiagem nos hospitais para os estrangeiros enquanto nós, que nunca tivemos nada, que tivemos que batalhar por tudo, vemos o que o governo pode fazer quando é pressionado por alguém de fora, sem nos incluir na bonança, como sempre.

Rede Bobo mais uma vez cumprindo o seu papel de veículo imparcialíssimo na sua esquizofrenia sem pudores para ficar, a todo custo, por cima da carne seca. Ignorando seus primeiros posicionamentos sobre os protestos, ela agora se concentra em esvaziar qualquer sentido que haja nas manifestações, focando-se no mais fútil e inútil sobre o movimento - a violência. Violência sobretudo dos manifestantes, que antes eram todos acéfalos e agora, esses, são somente um grupo isolado, por maior que seja. Violência que não justifica o medo e a debandada dos políticos de seu próprio eleitorado. A apresentação de propostas da carochinha

Confuso? Nem tanto, deve ter um motivo pra isso. Sorte dela que ainda não vi nenhuma reivindicação para que o governo reveja a lei que regulamente as concessões de emissoras de televisão. Mas é claro que ela não precisa se preocupar. Quem são mesmo os donos das afiliadas da Bobo no Nordeste? Além de seguir o interesse de seus "acionistas", a rede Bobo, faz o que sempre fez, ignora por completo críticas, apaga todas as marcas que pode até convencer a todos de que elas não existem. Muda de assunto, desvia o foco... É assim, simples assim. Mas funciona.

E a esquerda? Por que não toma frente dos protestos? Ela está lá, minha gente. Não nos partidos, mas nas ideias. Você ser de esquerda não implica ser de um partido de esquerda. Agora, mesmo sendo de esquerda e apartidária, me preocupo um pouco com essa ênfase da Bobo no caráter apartidário das manifestações. Afinal, sendo dotada do toque de "Merdas", se a Bobo apóia deve ter algo de errado com isso.

No mais, o gigante, que nunca esteve dormindo, não pode voltar a apatia resultante da cooptação bobística. Acho que os protestos tem que continuar, mas precisamos repensar nosso classicismo.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Direitos humanos, direitos dos homens

Não, eu não vou entrar nessa discussão. Colocar o pastor ou as ovelhas não faria a menor diferença. Colocar um joão bobo também não. Os direitos humanos no Brasil são uma piada para o governo, ele apenas está deixando isso muito claro.

O povo também deixa claro que não sabe o que é política nem o fazer político ao votar em pessoas pela convicção religiosa e não pela capacidade intelectual, pela carreira. Mas deve ser meio difícil pensar nessa separação quando a profissão do tal pastor é... o que mesmo? Pregar a religião. De qualquer modo, política e religião não são a mesma coisa a muito tempo.

Acho que se o que ele queria era um emprego na Câmara, poderia tentar na capela. Tem capela lá? Nem sei, mas pelo visto quer pregar no púlpito. Mas eu não me importo com isso. Alguém já viu uma sessão lá? É um bordel, tenho certeza que ninguém que está lá presta atenção no que esse povo fala.

Só a gente, que está aqui bem indignado. Mas quem liga pra gente? Afinal somos povo também, e o governo só liga pra gente na época de eleição e de pagar a conta. Mas pagar pra quê mesmo?

Eu não quero falar sobre isso mesmo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Se homem engravidasse pílula seria doce e aborto seria fácil

Estou me antecipando na blogagem coletiva pois estarei uma semana fora do ar. Espero que curtam o post e tenham paciência. Semana que vem respondo os comentários.

Sabe, quando se é feminista há um certo tempo existem temas que se tornam exaustivos, mas nem por isso menos importantes. Principalmente porque todo mundo entende mais e melhor de feminismo do que vc, que estudou o assunto. Mas realmente não acho que precise ser um expert no assunto ou ser feminista para concordar com alguns pontos do movimento. A legalização aborto foi uma das primeiras reinvindicações do movimento feminista brasileiro, mas até hoje está longe de se tornar uma conquista.

Eu sempre escuto autoridades testemunhando que são contra o aborto por serem a favor da vida. Gostaria de esclarecer que nenhuma pessoa a favor do aborto é contra a vida, a diferença é que somos a favor da vida da mulher e aqueles que são contra são a favor apenas da vida do feto. A argumentação contra, na maioria das vezes, passa para um aspecto impalpavel e inexplicável: quando podemos considerar o feto um ser vivo. Bom, eu prefiro trabalhar com o que eu tenho de concreto e certo, a vida da mulher, que é o ser que já está vivo no momento da discussão. Além disso, quando passamos a discurtir a vida do feto trazemos para uma questão política e de saúde pública um aspecto metafísico que não deveria fazer parte da discussão.

O Estado tem a capacidade de respeitar que uma testemunha de jeová rejeite tratamento médico e que um adventista do sétimo dia faça prova do vestibular em horário especial, mas não pode respeitar uma mulher que não quer ser mãe, ou não tem condições de sê-lo a carregar essa imensa obrigação porquê? Porque é a favor da vida??? Da autoridade, o bebê. Sim, ele começa a mandar na vida da mãe antes mesmo de nascer. E isso é tão maravilhoso que todo ano mais ou menos 3 milhões de mulheres morrem vítimas das consequências de abortos mal feitos no Brasil. Esse número só tende a aumentar junto com o crecimento das obrigações de ser mãe. São duas forças contrárias que sempre existiram. Uma é o que a sociedade ensina e mostra sobre a maternidade e a outra a realidade cruel do dia a dia. Sim, pois se a maternidade tem coisas maravilhosas, pode ter certeza que tem coisas hororosas na mesma proporção. Porque raios as mulheres fazem um aborto? Existem pessoas com diferentes objetivos e personalidades no mundo, mas a sociedade ainda pretende que todas as mulheres sejam iguais? Ou melhor dizendo, mães? Sim, porque só existe um jeito certo de ser mãe perante a sociedade e esse jeito é ser mãe e nada mais. Deixar de comer para dar para o filho, deixar de trabalhar porque a criança precisa da mãe para se desenvolver, deixar de ser preguiçosa porque a criança precisa que vc faça tudo por ela. Deixar de lado qualquer característica que vá contra o pacote propaganda-de-margarina-filme-da-disney mãe.

A questão é que a identidade feminina tem sido atrelada a maternidade há mais de 200 anos. Uma propaganda pesada em bonecas, contos de fada, filmes... A planta nasce, cresce, amadurece, gera frutos e morre. A mulher nasce para gerar frutos. Só que hoje em dia a mulher já encontrou outras opções de vida e pode não estar interessada em ser mãe, mas ninguém pode imaginar tamanha perdição. Se perguntar porque a qualquer mulher que não quer ou não tem filhos tenho certeza de que ouviria respostas mais plausíveis e racionais do que de muitas mulheres que dizem querer ser mães, mas ninguém está interessado em ouvir. O Brasil já julgou e já condenou. Não só aquela mulher que decidiu não ser mãe como aquela que só pensou no assunto tarde demais e se arrependeu. Eu sou daquelas que acredito que a maternidade deve ser pensanda e ponderada, mesmo que aconteça inesperadamente. Mas quando falamos da legalização ou descriminalização do aborto não estamos falando de mim ou de você que tem estudo, internet, sabe usar uma pílula ou camisinha. Estamos falando de pessoas sem acesso à informção, saúde, aos seus próprios direitos e que estão morrendo. Estamos falando de mulheres pobres que muitas vezes dormem na rua, são violentadas e carregam consigo uma legião de filhos miseráveis vendo essas crianças passarem fome, dormirem ao relento. Para essas crianças existe o estatuto da criança e do adolescente, a pastoral da criança e etc e para essas mães? Quem liga? São apenas mulheres, elas engravidaram, elas merecem?

Eu acho que o Estado tem que dar informação, dignidade e muito mais, mas enquanto isso? Essas mulheres devem morrer? Devem ser presas? Eu já falei aqui e repito que tive sorte, eu classe média, estudada e talz. Sorte porque já achei que estava grávida quando era adolescente e não estava. Mas nesse interím me toquei que a culpa não era toda minha. Eu não tive nenhuma aula que ensinasse a gente a usar camisinha ou outros métodos contraceptivos. Só me ensinaram o que eram e como agiam no corpo. Minha mãe se recusou a me levar no ginecologista até os meus 17 anos, pois ela não queria que eu fizesse nenhuma "besteira". Mas eu achei que tinha engravidado bem antes disso e tinha na minha mente que se isso fosse sério eu abortaria. Agora, imagina como eu, que nem mesada dos meus pais ganhava, ia fazer um aborto? E se eu não fizesse, minha gente, ia morar na pqp, ganhando uma mesada da mãe do meu ex-namorado (pq a gente não ia ficar junto só por causa do bebê), trabalhando de sei lá o que 10 horas por dia para poder pagar a creche do menino e a conta de água. Por isso, quando falam que a feminização da pobreza é um fenômeno crescente eu entendo. E o meu estomago revira toda vez que eu vejo alguém rico e engravatado (por cima e por baixo) falando que é contra o aborto porque é a favor da vida. A favor da própria boa vida. Da boa vida dos homens que não perdem emprego por estarem grávidos ou apenas por poderem, um dia, engravidar. Que não ganham menos só porque podem, um dia ter que sair mais cedo ou faltar porque tem que cuidar do filho. Tem que cuidar do filho porque o cara lá é a favor da boa vida dele e não faz nada. Não troca fralda, não dá mamadeira... Ah, não pode mamadeira. A mãe tem que ficar lá seis meses amamentando porque ela não tem nada para fazer, né?

Nessas horas, quando meu estômago revira eu penso "se homem ficasse grávido a pílula seria super avançada, aborto seria uma injeção indolor e sem efeito colateral e creche seria igual posto de gasolina, uma em cada esquina".

sexta-feira, 24 de junho de 2011

De volta ao tempo da inquisição

Eu, de vez em quando, dou uma olhada nas notícias do Brasil, mas confesso que quase sempre me entristeço. Os brasileiros pagam a mesma porcentagem de impostos que os suecos, talvez mais pois os impostos sobre produtos não aparecem na sua nota fiscal, como aqui, e nós não temos NENHUM retorno por parte do governo. Nem controlar a economia o governo consegue pois as agências reguladoras não desmantelam carteis e os serviços são uma porcaria no Brasil. Por exemplo, aqui na Suécia, tem uma penca de operadoras de telefonia móvel e eu, que só posso ter telefone pré-pago (pós pago só após 6 meses de residência no país) ainda pago menos no preço da ligação internacional do que qualquer plano pós pago de operadora brasileira.

Mas o que mais me chateia mesmo é o crescimento do extremismo no Brasil. É verdade que boa parte daquele discurso a respeito do Brasil ser um país livre, multiracial e blá blá blá era só para inglês ver. Mas eu tenho a impressão que demostrações públicas de opiniões facistas, racistas, homofóbicas, tem crescido cada vez mais. Recebi um vídeo hoje da Luci que me deixou de cabelo em pé. Era uma defesa descarada da homofobia proferida pela deputada Myrian Rios, do Rio de Janeiro (e eu que sempre achei os cariocas tranquilos!)

Só para esclarecer meu choque, pois sei que muitos não entenderam o problema desse vídeo. Bem, a deputada acha que não pode demitir uma lésbica por pedofilia apenas por ela ser lésbica. Como se o fato da orientação sexual de uma pessoa a eximisse de sofrer as penas da lei. Traduzindo, como se o fato da mulher ser lésbica a autorizasse a cometer crimes sexuais impunimente. Pedofilia é crime, deputada. Outro preconceito, achar que homossexuais são pedófilos. Será que o homem que abusa de menininhas é bem visto por ela, afinal, ele é hetero? O segundo exemplo é ainda mais interessante. Do chofer que é travesti e que ela não pode demitir por ele se vestir de mulher no exercício da função, pois isso seria um preconceito. Na verdade, eu daria duas dicas para a deputada: número um, não conte para os seus filhos que ele é homem, e nesse caso, tudo bem. Na número dois, peça para ele usar uniforme, afinal, normalmente, isso faz parte da função.

Nos dois discursos há um erro semelhante, acredito que muito difundido: o de que a sexualidade é uma escolha e que os filhos hipotéticos de Myrian Rios se tornarão homossexuais apenas pela convivência com homossexuais. Quem me dera a sexualidade fosse tão simples assim! Será que conto a porcentagem de homossexuais em conventos onde tericamente não se tem nenhum exemplo nem tão pouco a prática é aprovada? Mas voltando a parte da escolha, vc acha que qualquer pessoa em sã consciência escolheria ser homossexual num país regido por preconceituosos que discursam barbaridades como essa na Câmara e ainda não ovacionados na internet?

O preconceito e a não aprovação da emenda não vai fazer ninguém deixar de ser homossexual, vai apenas fazer com que os homossexuais se sintam mais rejeitados pela sociedade, ainda mais temerosos em se assumir. E vc, deputada, vai contratá-los sem saber, pois isso acontece há anos. Mas para mim, o pior é essa idéia de que o homossexualismo é uma doença contagiosa. O homossexualismo é natural e é praticado entre animais assim como entre humanos desde que o mundo é mundo. O que não é o ser humano além de um animal? Aí vai uma boa explicação da bióloga Joan Roughgarden sobre seleção sexual (mas os últimos 2 min não tem muito a ver com o post).



Eu tenho muitos amigos gays e eles são maravilhosos. Espero que meus filhos convivam com eles e tenham a orientação sexual que lhes for natural e tenham liberdade para se assumir. E bem, deputados, o que mais uma justificativa preconceituosa para a não aprovação da PEC 22 significaria além de preconceito?

Porque eu tenho medo de voltar para o Brasil? Bom, eu tenho medo de crescimento do extremismo evangélico e de manifestações públicas de preconceito provenientes das autoridades que deveriam zelar pelas diretrizes formadoras do nosso país: a liberdade de religião, por exemplo. O Brasil é um país cada vez menos laico a ponto de termos legisladores que legislam de acordo com suas orientações religiosas, o que está muito além de suas obrigações políticas. Eles deveriam zelar pelo interesse comum e não pelo interesse paroquiano. O Estado brasileiro se separou da igreja há muitos anos atrás e o crescimento desses interesses não parece significar nada além de um retrocesso. Começa aos poucos a perseguição clara aos homossexuais, daqui a pouco perseguirão outras religiões e estaremos de volta aos tempos da inquisição. Eu, como atéia, não posso deixar de me preocupar.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Do lado errado

Outro dia recebi um e-mail da minha irmã me contando as novidades. Entre outras coisas, ela me contou como vai minha cidade natal, Brasília. Uma cidade planejada, muito mal planejada. Eu digo e podem anotar aí, não sou Nostradamus, mas aposto que daqui há 10 anos Brasília será tão caótica quanto São Paulo é hoje.

Porque eu digo isso? O que vc espera de uma cidade que mal tem calçadas, mas a cada dia que passa destroe cada vez mais área verde para contruir ou alargar suas avenidas? E o pior, não investe num sistema de captação de águas pluviais decente e chove pacas lá. Hum... alguém consegue perceber a semelhança com São Paulo?

Bom, há uma outra semelhança (ou não) com São Paulo, o uso de carros de passeio como o único meio de transporte. De início, parece algo bom. Afinal, Brasília ainda não tem aqueles engarrafamentos de 3 horas ou os estacionamentos de 10 reais a hora. Ainda, mas logo vai ter. O que chamou a minha atenção foi uma manifestação ridícula que alguns idiotas de Brasília tentaram fazer contra o aumento da gasolina. Tudo bem que forçar os postos a emitir nota é algo que todo mundo deveria fazer sempre. Mas a situação não vai melhorar se a gasolina não aumentar. É só uma questão de tempo para o governo e os usineiros, petroleiros e outros eiros arrumarem um pretexto para subir o preço do combustível.

O que eu acho errado é combater o aumento do combustível achando que essa é o único problema. Quando você chegar no trabalho, seu carro não vai encolher e você não terá como colocá-lo na bolsa. O que vai fazer? Bom, o jeitinho que a gente acha é parar em cima da calçada, fila dupla, tripla, dar a chave para o guardador de carros e depois quando a polícia multa pq ninguém consegue passar, você fica puto e pensa "mas não tem onde parar o carro". Bom, se você pagar um estacionamento, tem como estacionar. Ah, não, mas é muito caro! Acho esse pensamento um pouco egoísta. É como dizer, eu tenho mais direitos do que quem tenta passar, do que aquele que espera a ambulância que está presa no engarrafamento que você causou por causa do seu carro.

A questão é, o brasiliense prefere fazer um esforço descomunal para conseguir comprar um carro e pagar todos os impostos que se estivessem sendo bem utilizados, deveriam oferecer uma alternativa mais barata, ou mais prática, para ele se locomover. Acho que no lugar de protestar abastecendo o carro com 50 centavos e exigindo nota, as pessoas deveriam se unir, como se unem na corrida da cerveja, e tentar ir ao trabalho de transporte público. Muitas vezes é impossível, mas nesse caso, uma comoção popular poderia exigir uma melhora e ampliamento das linhas. Ou quem sabe até plantar árvores perto das calçadas para melhorar as condições de caminhada, ciclovias por toda cidade. Mas qual é a primeira coisa que as pessoas pensam? Tornar mais barato o uso do carro.

Isso não deve e não vai acontecer porque o carro acaba exigindo muito mais dinheiro e manutenção do que todas as outras alternativas. Demanda muita infra-instrutura, espaço ocioso em estacionamentos e coisas afins. Isso é o que eu chamo de "pensando do lado errado".

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Direita ou esquerda

Eu semrpe tive dificuldade para entender esses conceitos. Direita e esquerda, a princípio, são apenas direções, mas na política, são posições. Em tese o pensamento de cada uma é bem diferente e característico. Mesmo conhecendo as diferenças entre eles sempre me vem a cabeça uma frase "Não tem nada mais liberal que um democrata no poder". Ou algo assim. É o mesmo que dizer que ao entrar no poder, não importa o lado, as posturas são as mesmas. É claro que não podemos afirmar isso porque senão não faria diferença e ninguém precisaria votar porque no final estaria tudo igual.

Mas então me deparo com outro pensamento: Qual a diferença entre dois lados que disputam uma guerra? Tem gente que acha que um está certo e outro está errado. Isso se resumiria em afirmar que quem ganha está certo e quem perde está errado. Na prática, ao meu ver, é nisso que se resume uma guerra. Se o perderdor tivesse ganhado ele estaria no poder e certo. Mas o que isso tem a ver com a política? Bom, normalmente quem governa acha que está certo porque ganhou as eleições. Felizmente, na política, diferentemente das guerras, os governantes devem pensar na população como um todo, pois governa para todos e é pago por todos, até mesmo por aqueles que não votaram nele. Entretanto, acho que uma das razões para isso pode ser o fato da política ter evoluído ao ponto do governante não saber quem votou ou não nele, pois caso contrário, poderia eliminá-los ou boicotá-los se quizesse. Assim também, pode-se conviver com as diferenças. Claro que a política não é tão simples ou simplória. Existem outras questões envolvidas e muitas outras formas de se pensar a política, afinal, a diferença de visões e interesses acaba justificando a própria existência da política.

O que me faz pensar nesses ditados é que muitas vezes, não importando o lado, as pessoas esquecem de ver os defeitos de suas propostas e acham, acreditam que seu modo de pensar é o certo e que a crítica é algo pessoal. Desse modo, tanto a direita quanto a esqueda andam em círculos e ninguém avança, pois não se sai do lugar. Por isso, nesses termos, eu não sou nem de direita ou de esquerda, primeiro que não gosto de me prender a pacotes imutáveis, depois não acredito numa proposta perfeita, além disso, se admitir ter mais idéias em comum com um lado do que com outro automaticamente os bitolados passarão a julgar todas as minhas opiniões com base no rótulo assumido por esse ou aquele lado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A presidenta do Brasil

Quando eu estava na 7a série escrevi minha primeira redação no novo colégio, era um colégio de freiras. Eu escrevia muito bem nessa época. Foi antes da minha confusão mental se instalar de vez. Mas enfim, o tema da redação era criativo como sempre "O que você quer ser quando crescer". Era um tema difícil para mim, pois eu já havia parado de crescer. Entretanto, nessa época, meu interesse por política já havia começado a se manifestar. Meu irmão estava no primeiro ano do 2o grau (era esse o nome na época) e como era a primeira vez que um de nós estudava num colégio laico, ele estava bem animado com a possibilidade de expressar a própria opinião. Nós conversávamos bastante e eu começava a conhecer por alto várias teorias políticas por intermédio dele.

Quando vi um tema assim tão batido me inspirei e escrevi "Quero ser presidente do Brasil". Depois de entregar a redação eu fiquei com vergonha. Parecia coisa de primário escrever isso. Eu justifiquei na redação o porque queria ser presidente "para que as pessoas tivessem liberdade de expressar suas opiniões, acabar com a pobreza..." Eram coisas meio óbvias, mas era onde minha compreensão atingia. Mas acho que foi um bom texto, porque tirei nota máxima. No dia de entregar a redação corrigida a irmã que era professora de português me chamou depois da aula para conversar comigo porque eu estava conversando durante a aula dela.

Fiquei com medo de ser mandada para diretoria. Eu era muito nerd. Ela então me disse uma coisa que eu nunca mais esqueci. "Você acha que isso é postura de alguém que quer ser presidente do Brasil?". Sabe o que eu respondi a ela? "Acho que não, irmã. Mas eu não quero mais ser presidente do Brasil, acho que nenhuma mulher vai conseguir". Eu me senti ridícula na hora. Nem percebi que a irmã estava tentando me incentivar.

Mesmo com todos os poréns que vejo hoje, só posso dizer:

Obrigada, Dilma!

Agora toda menina pode sonhar em ser presidente do Brasil sem se sentir ridícula.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Se o Gim compra, a gente linka!

Para quem ainda não leu a fabulosa história de Gim Argello, que enricou magicamente em menos de 10 anos, é só acessar o link abaixo e conhecer o próximo doador de panetones do governo da capital.

reportagem da revista Isto É.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Minha resposta

Eu ia apenas responder nos comentários, mas meu texto ficou tão grande que tive que fazer um post.

O que é a decepção? Bom, simplesmente quando vc espera algo de alguém e não é correspondido. Pode ser tbm quando esse algo é muito diferente (na maioria das vezes pior) do que aquilo que esperava. Eu tenho muitos amigos de direita e essa não é minha posição política. nãou vou deixar de ser amiga de ninguém por causa disso, mas confesso sim que me decepciono quando tento expor o meu ponto de vista e sou rechaçada. Mas eu entendo bem o que é ser minoria. Ou quando tento defender a PCL 122 e ouço e outra amiga que é contra a lei pq acha que o homossexualismo é contra a religião dela e ela quer continuar proferindo a sua fé. Mas ressalta, estranhamente, não ter nada contra homossexuais.

Não penero os meus amigos por discussões ideológicas. Como vc pode perceber, não foi só a discussão política com vcs que me fez lembrar da frase da minha amiga. Fico um pouco decepcionada com algumas maneiras de pensar sim, mas vou respeitar sua opnião política/social/ideológica desde que a minha seja respeitada. Talvez a minha decepção seja do mesmo viés da sua, esperava uma postura diferente de vc, pelo menos.

Eu devolvo a vc a pergunta cadê a discussão? Praticamente tudo que eu disse teve como resposta uma crítica tbm obtusa. Desqualificar o interlocutor para ganhar na argumentação é uma estratégia que eu considero muito baixa. Eu tenho o direito de discordar. Tá aí a discussão. Eu não estou dizendo que vc está errado. Mas vc não me convenceu, bem como eu não te convenci, certo? Não adianta enumerar os feitos do Arruda para dizer que ele foi um bom governardor pq eu não concordo.

Como vc diz que eu não tenho noção de onde eu vivo? Eu ouço os fogos anunciando a chegada do crack na Asa Norte o tempo todo. Eu ando nos ônibus encapados que vcs veem por fora e acham que são novos pq tem a merdinha do adesivo do lado de fora falando que ele é novo. E mesmo quando o ônibus é novo é conduzido por um psicopata que acelera nos sinais vermelhos e disputa com o cobrador quantos passageiros ele consegue derrubar. Mas é claro que isso não tem nada a ver com a administração do Arruda. Eu sou tratada como o lixo e nem sou mais pobre. Vc acha que não tem difenrença entre as classes sociais e a maneira de pensar? E a visão política? E a experiência de vida? Vc acha q uma pessoa q sofreu com a voiolência doméstica reage a ela da mesma maneira que uma pessoa que não sofreu com ela? Nossas experiências de vida são muito diferentes, mas ao contrário de vc eu não subestimo a sua, mas vc não conhece a minha. Quando digo que passei fome e que dificuldade na vida muita gente não acredita, mas por que eu mentiria por conta disso? Eu pareço alguém que quer a piedade alheia ou levar vantagem? Realmente eu entendo vc considerar o Arruda um bom governador, mas nem por isso tenho que concordar. Vc se pergunta pq eu o considero um mau governador? Talvez tenha que ampliar mais o termo, considero-o um mau político desde o episódio da violação do painel do Senado. Ele é desonesto. Pode ser um bom administrador, mas ainda duvido pois pra mim bons administradores não desviam dinheiro da empresa pois correm o risco de leva-la a falência.

Eu baseio minhas críticas nas minhas experiências. Considero mais concreto até pq os números não servem de muita coisa. Vc acha, por exemplo que o Aécio melhorou a segurança em Minas? Bom, eu não li os maravilhosos DADOS, mas um amigo meu que é policial lá me contou que eles colocam metas de X relatórios. Não quer dizer que os crimes foram resolvidos ou investigados. Apenas foram relatados. É assim que eu formulo minhas opiniões aqui em Brasília. E comparando os feitos da administração pública, o governo federal tem sido mais eficiente na minha vida do que o local. Pelo menos ele contratou professores universitários e aumentou o valor das bolsas de pós. Posso estar errada, não discordo, mas ainda não concordo com vc e olha que eu ponderei seus argumentos.

Entendo tbm a enorme diferença entre a teoria e a prática. Mas o que eu entendo e que a maioria das pessoas não entende, em relação as teorias sociais, é que nós não conseguimos ter dados concretos ou provar algo pois não somos ciência. Não adianta submeter nosso conhecimento a essa dinâmica, não funciona. Por isso muita gente no fundo acha que não servimos para nada. Bom, mas os seres humanos se organizam em sociedade e isso tem um porquê. Estudar como essas sociedades são organizadas e as falhas nelas não serve apenas para produzir mais teoria. Todos nós queremos mudar a sociedade e eu não me iludo, sei que isso é muito difícil. Por isso até muitos de nós ficam apenas na teoria.

Porque eu defendi a manifestação? Bom, porque eu gostaria de ter estado lá. Eu acho que me sentiria mais cidadã. Acho que cidadania não é só votar e pagar impostos. Nós todos, e eu me incluo nisso, adoramos falar que tudo no Brasil acaba em pizza, mas muito poucas vezes nos manifestamos. Conseguimos juntar 3000 pessoas numa corrida da cerveja ou num carnaval fora de época, mas não conseguimos juntar isso numa manifestação pelo decoro na política. Porque eu não estava lá? Covardia? Talvez... Infelizmente no fundo no fundo eu acho que não adianta. Acho que já desisti da política. Fico na Literatura. Talvez eu seja mais uma alienada, quem sabe?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Democracia?



Poucas pessoas? 1500 manifestantes ou mais não significa nada?





Prestem atenção na diferença entre a quantidade de policiais e de manifestantes. E a velocidade que os cavalos avançam em cima da população.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Brasil assombrado pelos demônios

A PLC 122, projeto que prevê a punição para crimes de descriminação contra diversos grupos, está dando o que falar. No site do centro de mídia independente existe até um artigo tratando da posição dos evangélicos fundamentalistas contra o texto. A discussão é tão acirrada que ao procurar o texto da lei na internet tive uma certa dificuldade em encontrá-lo pois havia uma enxurrada de sites fundamentalistas pregando que a lei não pode de jeito nenhum ser aprovada.

A questão principal gira em torno de dois artigos, o 8 e o 20 (não tenho os símbolos legais no teclado). O primeiro (8) prevê reclusão de 2 a 5 anos para aquele que proibir a livre manifestação de afetividade do homossexual quando esta é permitida aos demais cidadãos, ou seja, se aos heterossexuais é permitido andar de mãos dadas (e/ou etc), aos outros também será. Se não, não. O segundo (20)"Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero: Parágrafo 5º: o disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de *ordem moral, ética, filosófica ou psicológica*".

Eu não consigo ver nada demais na lei. Os evangélicos estão atacados talvez por não poderem mais incitar o ódio ou a doença homossexual. Seria o fim da intolerância entre eles? Claro que não. A lei apenas protege o homossexual, mas todos sabemos que os evangélicos continuarão condenar a prática homossexual de outras formas. Todos sabemos que apenas a lei não é suficiente para mudar a sociedade, mas a recusa em aprovar a lei por 49% da sociedade é realmente a constatação da cegueira e da intransigência desses grupos, uma volta à Idade Média. "Bruxas e homossexuais na fogueira!".

Inclusive eu alerto que à lei foram sugeridas modificações pelos grupos radicais evangélicos que alteram justamente esses dois artigos sobrando aqueles que defendem a manifestação religiosa (além da proíbição da discriminação de cor, gênero, etnia...). Fica claro que eles usam da força para se beneficiarem prejudicando assim os homossexuais. Pois se sua discriminação não for mais proíbida nas formas descritas no artigo 20 a lei não tem razão de ser.

As justificativas desses grupos revelam que no fundo eles tem mais medo de perderem o direito de serem intolerantes e preconceituosos do que realmente o "fim da liberdade de expressão". Eu aconselho a todos que leiam o texto da lei e vejam realmente se existe algo preconceituoso nela. Acho um absurdo e um crime essa resistência. É um passo para trás. Como eles pode querer manter algo na vida real que conseguiu ser descrito na lei com o nome de "prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica"? Quer dizer que em nome da continuidade de uma prática dessas esses cidadãos conseguem alegar que a aprovação de uma lei dessas seria uma "mordaça gay" ou uma "ditadura gay" onde eles não teriam direitos?! E quantos direitos os grupos LGTB tem hoje?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Feminista vegetariana

"Nada pior que uma feminista vegetariana!". Era o que eu (isso mesmo, euzinha) costumava dizer assim que entrei na faculdade. Outro dia, quando escrevi o post sobre Antifeminismo, me diverti lembrando de como eu criticava "legitimamente" as feministas. Tentei recuperar o meu raciocínio na época e eu realmente achei coisas interessantes. Veja se você não caiu em algum desses.

Eu andava com meus amigos e muitos deles eram homens. Eu queria parecer descolada. Sabe como é, pela primeira vez na vida eu deixava de ser a esquizita e para "melhorar" a minha auto-estima ainda estava 13 kilos mais magra do que era no segundo grau. Os meninos tinham uma verdadeira hojeriza de feministas. Era praticamente uma hunanimidade que feministas eram mulheres mal-amadas, de suvaco cabeludo e lésbicas. Hoje em dia eu não vejo nenhum problema de uma mulher ser assim, mas realmente para mim que estava descobrindo a minha "feminilidade" esse estereótipo me parecia mais uma ameaça.

Além disso, eu andava muito com os amigos do meu irmão, que fazia História Eu era caloura de Letras, mal tinha começado a estudar e vinha aquele povo todo me falando em Foucault, Marx, Hobsbam e etc. Eu realmente não entendia xongas do que eles falavam, mas achava tudo uma teoria da conspiração, gente que ficava procurando sarna pra se coçar. Além disso não conseguia dar muita credibilidade para aquele bando de filhinho de papai que queria mudar o mundo fumando maconha no CA. Não conseguia ver muita rebeldia nisso. Para completar, o curso de História tinha uma pós-graduação em Estudos Feministas, mas até onde eu fiquei sabendo dos boatos ele acabou por desavenças internas. Outra coisa que eu não conseguia entender muito bem era como as feministas queriam melhorar a condição da mulher se não conseguiam entrar em concenso. Claro que eu era beeem mal informada à respeito dos acontecimentos internos da UnB...

Para piorar a imagem que eu tinha do feminismo conhecia algumas feministas vegetarianas extremamente intransigentes. Aquele tipo de pessoa que quando você está comendo faminta ela chega pra você e começa a descrever o modo como aquele pedaço de carne no seu prato foi abatido ou então te chama de assassino. Elas eram agressivas em suas posições políticas e eu sempre gostei de uma boa discussão. Achava que deveriam me convencer na conversa e pra mim isso era apelação. Outra coisa que me ajudou a ter um pouco de medo das feministas foi uma professora que eu tive que nem dava nada relacionado ao feminismo, mas era do grupo das feministas da História. Ela não tinha empatia, isso era fato. Ficava irritada porque as alunas falavam mal o francês em sala e não conseguiam discutir mais profundamente os temas, mas a culpa era parcialmente delas. Outra coisa que me deixava reticente eram umas exigências despropositadas do tipo "sentem direito na carteira". Pra quê? Eu me perguntava. E essas pequenas coisas me ajudavam a concordar com os preconceitos: feministas eram exageradas e procuravam sarna para se coçarem.

Depois de muito tempo eu fui descobrir mais profundamente que o feminismo não impedia a minha sexualidade ou a minha "vaidade", mas ele ia me fazer refletir profundamente nas implicações que isso teria. Ao ouvir, o até então meu ídolo, meu irmão dizer "Sabe porque o papai sempre me mandava comprar pão no seu lugar? Porque ele dizia: - Vá comprar pão. É um favor que você faz à sua irmã. Ela é mulher, já vai sofrer tanto na vida...". E o meu irmão concordava com isso porque achava que eu ignorava a inferioridade da minha posição e sofreria mais ainda por ser uma mulher "inconformada".

Comecei então a notar a perversidade desses argumentos que refutam o feminismo. São argumentos tão bem construídos que estão em voga até os dias de hoje. Parece que o feminismo distancia as mulheres da normalidade - isso quer dizer, os papéis tradicionais (mãe e dona-de-casa). Fala-se com euforia da pouca contribuição masculina das tarefas domésticas como uma vitória feminista quando na verdade não passam de uma tentativa de "calar a boca" das feministas. Comemora-se a entrada na mulher no mercado de trabalho esquecendo que muitas vezes elas o fazem por terem sido levadas a terem filhos e depois abandonadas por homens que são obrigados a pagarem somente 30% dos seus salários enquanto as mulheres devem abrir mão de si mesmas para os filhos. Fico chocada ao ver as mulheres perdendo os cabelos em salões de quinta para ficarem com o cabelo liso ou ver nos lugares chiques uma proliferação gigante de loiras oxigenadas todas com o mesmo corte de cabelo ou ver na vitrine da C&A uma coleção para mulheres adultas inspirada na BARBIE!!!

Eu reconheço que em alguns casos há um exagero na postura, mas não no argumento. O feminismo não é o mesmo dos anos 70, mas talvez nos falte um pouco mais daquela postura militante. Acho que devemos tentar esclarecer um pouco mais da teoria para os leigos, afinal se você é feminista é porque já se convenceu da importância de se debaterem certas questões por outra ótica. Quantas mulheres ainda sofrem por serem gordinhas ou terem pouco peito sem saber da perversidade desse padrão? Se não há injustiças porque aquele parecer favorável à pedofilia do STJ? Porque prostituição é um problema feminino.

Eu fiz minhas pazes com o feminismo lendo O Espartilho de Lygia Fagundes Telles na aula da uma professora que me ajudou a me decidir entre a Literatura e a Lingüística escolhendo a primeira. Ela me mostrou como pode passar visões intencionadas que reflitam ou apenas repitam idéias pré-concebidas. Será que posso ser a intermediária dessa relação pra mais alguém? Espero que sim.