terça-feira, 26 de julho de 2011

A cidade luz ofuscada.

Como já havia comentado, a primeira vez que fui a Paris tudo me pareceu extraordinário. A cidade, as pessoas, os monumentos... Paris foi, sem dúvida, a primeira cidade velha que eu conheci. Sim, é preciso esclarecer um pouco. Eu nasci e cresci em Brasília, que tem hoje 51 aninhos. Isso quer dizer que concreto aparente, vidros e formas ousadas, não passam de trivialidades para mim. Sou uma pessoa acostumada a ver o sol nascer descendo o eixo monumental em direção ao Congresso Nacional. Uma visão estonteante, diga-se de passagem.

É verdade que eu já havia visitado o Rio de Janeiro (terra natal de madrecita) e Belo Horizonte (terra do papis, cidade, inclusive, que eu preciso rever), mas como era muito jovem, não guardava muitas recordações dessas cidades, mais das pessoas. Por isso Paris me surgiu como um mundo novo, ou um velho mundo-novo, diante dos meus olhos. Depois de oito anos desde a minha primeira visita, eu estava realmente excitada para rever a cidade luz. Mas confesso que minhas expectativas não foram alcançadas. Talvez porque eu esteja morando na Suécia, numa cidade pequena, ou talvez porque as coisas tenham realmente mudado, mas o fato é que para mim, Paris pode agora ser definida em duas palavras: cheia e suja.

Mesmo tendo diminuído a quantidade de cocô de cachorro, tinha muito lixo pela rua, de todo tipo. Folhas secas, mijo, muitas bitocas de cigarro... Argh! Me lembrei da descrição do cheiro de Paris que aparece no livro Perfume. Além da sujeira, a cidade é uma confusão. Os franceses não sabem colocar uma placa com a ceta apontando para o lado correto. Dá vontade de tirar foto. Uma hora ela tá para cima e logo em seguida para outro lado, mas se vc segue as placas, só anda em círculos. Uma hora a placa certa é a primeira, outra a segunda... Não dá nem para entender o sistema. E quando vc pergunta a direção para alguém da Gare, a pessoa te responde como se vc fosse um imbecil que não soubesse entender uma placa. A claro que o idiota sabe onde é, ele trabalha lá. Mas ninguém, provavelmente se imagina no lugar de um turista tentando entender as placas.

Outra coisa que me deixa puta. Em Estrasburgo todo mundo me entendia, em Paris, só pq vc não sabe onde fica tal coisa, identificando que não é um local, todo mundo te responde em inglês. Como se o inglês deles fosse melhor que o meu francês. Bof! Somado a tudo isso, ainda tem o fato dos termos bem particulares. Por exemplo, uma condução usada para completar um trajeto entre ônibus ou de trems, que nós chamaríamos de van, talvez, em francês é navette. Mas eu sempre entendi navette como um ônibus que faz a ligação, não um metro. Quando perguntei para o cara do terminal que liga Paris ao aeroporto como chegar no terminal ele me disse para pegar a navette em frente. Mas em frente tava escrito CVDG (ou algo assim), e tinha o desenho de um metrô. Entretanto, do outro lado, tinha o desenho de um ônibus escrito navette, mas ele fazia apenas as ligações entre os hotéis e o aeroporto. Voltei ao cara para confirmar, e ele ficou estressadinho. Ora, se o trem que serve de navette é um metrô chamado CDVG, pq o cara não disse logo? Ele que é burro.

Para completar, eu entendo porque multidão e loucura podem ser definidas pela mesma palavra em francês. Ponha a palavra “solde” na Galeria Lafayette e vc vai entender. Quem não entende mesmo sou eu. As pessoas se acotovelando para pagar pelo menos 60 euros numa bolsa que não tem nada de mais. Algumas delas nem a etiqueta dá pra ver. As roupas bonitas mesmo não entram na promoção. E, bom, deixar de pagar 100 euros num moleton para pagar 80 ou 75 ainda é pagar caro por um pijama. No mais, estou indo embora, Paris. E levo mais oito anos no mínimo para ter paciência de novo para encarar a correria, a multidão, a confusão e o senso de orientação torto dos franceses. As boas lembranças ficam sendo o Pompidou, o passeio de barco com o maridão, e o convescote com as meninas, Luci e companhia. E é claro, Estrasburgo!

domingo, 17 de julho de 2011

Estrasburgo e as pazes com o francês

Existem diversos ambientes de trabalho. Alguns mais competitivos que os outros. Durante a maior parte do tempo em que trabalhei, exerci a função de professora de francês. Algo que parece charmoso ou até mesmo peculiar, reserva surpresas inesperadas. O ofício de professor pode ser aprendido. Existem técnicas didáticas, manuais e etc, mas digamos que um bom professor é aquele que segue a cartilha, um ótimo professor segue muito mais do que a cartilha.

Para ser um ótimo professor, deve-se além de tudo ter um dom. Podemos comprar o dom de lecionar ao de atuar. O ator aperfeiçoa sua técnica, mas tem em si o dom do ofício que o torna um grande ator. O professor idem. Eu me considero uma ótima professora, mas quando comecei minha carreira, me faltava experiência, obviamente, e um pouco mais de conteúdo. Podemos dizer que nem o professor de português, nascido no Brasil, tem o domínio de todas as regras gramaticais; sintáticas, ortográficas, morfossintáticas e etc. Tente imaginar então um professor que ensina uma segunda língua que é também sua segunda língua.

Isso não quer dizer que seja desqualificado para o ofício, pelo contrário. Ele sabe pro exemplo, que alunos brasileiros tendem a abrir mais as vogais, ter dificuldade em escolher os verbos auxiliares no passado ou confundir os possessivos. Isso um professor nativo pode levar anos para notar. Além disso, como não é um nativo, o professor tende a estudar e prestar bem mais atenção, além de não ter muitos vícios de linguagem, coisas das quais um professor nativo nem sempre consegue se livrar. Além do conhecimento do conteúdo, ensinar línguas é diferente de ensinar matemática ou biologia. Acredito que para cada disciplina existam técnicas apropriadas de ensino. Isso implica dizer que um nativo não é um bom professor apenas porque domina a própria língua, afinal, muitas vezes, como adquiriu sua língua do modo mais "natural", nunca pensou na sua língua como algo a ser aprendido. E muitas vezes tende a minimizar dúvidas e menosprezar peculiaridades e usos. Portanto, podemos sim ter professores nativos que são mal professores.

Mas quando se está num meio competitivo onde tudo o que vale são egos e aparências, pois dinheiro nenhum tem, o que vale é saber as gírias, ser "parigot", "normand" ou até mesmo (apenas) francês. E no final estamos comparando bananas e batatas tentando achar na verdade um alface. No meu caso eu acabei estendendo uma má experiência que tive em um ambiente muito competitivo e cheio de QI's que eu entrei porque faltavam pessoas qualificadas entre os influentes, para todo o contexto profissional da área. O francês não é o único ambiente de ensino de línguas, nem a escola onde tive minha má experiência a única ou a melhor. Isso quer dizer que tudo aquilo que eu ouvi, agora eu sei, não passou de uma estratégia sórdida para me fazer trabalhar por miséria e continuar me sentindo inferior frente aos nativos. Mas quando a gente tende a se cobrar demais pode acabar sendo um prato cheio para pessoas manipuladoras. Como foi o meu caso. Mesmo sendo sempre elogiada por professores e colegas eu dei ouvidos a única pessoa que me criticou e carreguei uma marca no meu ego profissional. Hoje em dia, reconheço olhares invejosos e mesquinhos como esse de longe e não me deixo mais abalar por uma única crítica mal formulada ou um olhar de soslaio de quem se diverte pisando nos outros. Não vou deixar as crítica se sobressaírem aos elogios, mas também não vou deixar de escutar aquelas que fazem crescer.

Ops, estou me desviando muito para um desabafo. Mas enfim, agora eu sei que se quiser continuar como professora de francês tenho conteúdo e conhecimento para isso. Voltei a me divertir falando francês. Mas o fato de saber que posso, não quer dizer que quero, mas se tiver que fazer não será mais um fardo. E o que tem Estrasburgo a ver com isso? Bom, venha conhecer essa cidade "super simpa" e entenda vc mesmo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá

As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá...

Mas lá tem coisas que eu nunca conseguiria comprar, ou olhar, na terra do sabiá.

Vou deixar um pouco de lado toda a crítica contra a retenção do patrimônio culutal estrangeiro por umas poucas nações européias e até mesmo outra crítica que diz respeito ao nosso ilustríssimo país sobre o investimento público em cultura de um modo geral. A frase foi mesmo para começar uma história, mas eu não sou boa contadora de histórias como o meu avô, o seu Caninha.

Estava visitando a Fnac aqui de Strasburgo e "flanando" pela sessão de arte quando bati o olho num livro intitulado "A arte nos pode fazer pensar?". No subtítulo era possível ver algumas das formas de se observar uma tela, tentar entender o que o pintor quis passar, dizer, criticar, e etc. Bom, eu fiquei divagando, como sempre, e me lembrei de um quadro que me deixou boquiaberta no Pompidou. Tive que ir atrás do nome de pintor, de explicações para a obra pq eu realmete me deixei levar pela imaginação quando o vi. Simplesmente tive q ir embora antes de ter vontade pois ainda me restavam outras obras para ver. Mas, no entanto, o quadro permaneceu vivo e eu não soceguei enquanto não o achei na internet. Vou colocar o quadro aqui, mas quero que olhem com um pouco de atenção e me digam depois o que lhes vem a mente quando olham esse quadro? Bom, a imagem foi retirada do site do centro Pompidou



E para quem se interessar, o autor se chama Miodrag Djuric, é de Montenegro, e acredito que ainda esteja vivo.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pessoas jecas fazem jequices!

Sim, meus caros leitores, eis aqui uma legítima representante desse grupo de pessoas, os jecas. Vc pode não ser um de nós, mas certamente sentiu o que sentimos quando fazemos uma jequice. No meu caso, por exemplo, sofro da jequice da afobação. Essa doença causa sérios danos morais e financeiros ao doente. Os principais sintomas de jequice da afobação são o medo de cometer uma jequice e ações motivadas pela ansiedade de demorar demais em fazer alguma coisa e perder algo. Entende?

Tudo bem, eu ilustro melhor. Nesse exato momento, eu estou em Estrasburgo, a cidade que escolhi para "dar um tapa" no meu francês. Mas antes de chegar aqui, tive relativamente pouco tempo para preparar minha viagem. Confesso que sou viajante inexperiente, desde preparar a mala até entender os mapas. Enfim, nesse espírito eu comecei a organizar a viagem. A primeira coisa que eu fiz foi me inscrever no curso. Não consegui um bom período pq só tenho um mês de férias do meu curso de sueco, então, teve que ser no auge do verão. Mas até que não saiu tão caro a hospedagem e o curso. Enfim, o pessoal do curso se encarregou de reservar a residência universitária para mim. Depois, fui atras do melhor meio para chegar até aqui. E não foi de trem. O preço da passagem de trem de Paris à Estraburgo foi quase o preço da passagem de avião de Copenhague até Paris.

Mas tudo bem, comprei a passagem de avião e na hora de comprar o trem... faltando duas semanas para eu viajar para Londres, quem diz que o cartão passou? Não sei não, mas algo me diz que mesmo o cartão sendo "internacional" o fato dele não ser europeu pode ter contribuído para a recusa. Mas enfim, o de crédito brasileiro não passou e eu fui para Londres pensando em alguém que pudesse comprar essa passagem para mim. Durante a minha estadia, nem pensei no assunto, mas quando voltei, os problemas caíram como uma bomba sob nossas cabeças. O Marcos decidiu visitar o museu de história natural de Paris e se juntar a minha empreitada strasbourgeoise durante o 14 de julho. Fomos resolver o trem então. Não é que o cartão de débito sueco passou? Mas a passagem já estava os olhos da cara. Compramos a minha primeiro pq caso a grana não desse, o Marcos ficaria só em Paris.

Jequice nº1: com medo dos preços triplicarem de um dia para o outro eu comprei a passagem sem conferir as datas, conclusão, tive que gastar 16 euros a mais só para trocar as datas, isso pq eu dei sorte, pq a passagem de ida que eu comprei, era a única que eu podia trocar e a que eu errei a data.

Jequice nº2: eu falei q o povo do curso reservou um lugar para mim, não falei? Pois bem, a única coisa que eu deveria fazer era confirmar por e-mail o dia e a hora da minha chegada, com pelo menos uma semana de antecedência. Adivinha o que eu esqueci de fazer? Confirmar. Conclusão, fiquei umas quatro horas andando na chuva procurando uma solução para o meu problema. E para melhorar, a bateria do celular e do computados estavam por um fio. Chorei de raiva de mim mesma até achar um MacDonnalds e pular de alegria, afinal, eles tem banheiro e internet de graça. Pena que a tomada deles não funciona para carregar o computador dos espertinhos. Acabei gastando 45 euros para dormir num hotel (que felizmente tinha ducha) e pegando uma dor de garganta em consequência da minha jequice.

Consequências das jequices, além do preju financeiro de 71 euros, no total, eu ainda sofri na pele a experiência daqueles que saem de onde vivem sem ter para onde ir e levam a vida e as lembranças numa mala. Me senti uma nômade que por toda parte ficava acompanhada da mala, inclusive hoje de manhã, dentro da sala de aula, estavamos eu e minha mala. Eu espero conseguir terminar essa estada sem mais nenhuma jequice, pois até agora estou cansada da jequice de ontem.

Não se preocupem, eu consegui contactar o pessoal do curso e já estou confortavelmente instalada no Foyer d'Ill.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mais um gostinho de Paris.

A primeira vez que fui a Paris eu tinha vinte aninhos e foi uma experiência única. Eu as vezes tinha vergonha de falar sobre o assunto pq me sentia mais capial ainda. Como uma simples viagem pode ser tão importante na vida de alguém? Até que durante uma de minhas aulas de francês perguntei para os meus alunos sobre a viagem mais marcante da vida deles e uma aluna que gosto muito, me responde que a primeira vez que foi a Paris marcou a vida dela para sempre. Eu fiquei especialmente interessada em saber porquê, afinal, comigo aconteceu algo parecido e ao contrário de mim, essa minha aluna é uma pessoa viajada. Ela me disse que ganhou a viagem por ser boa aluna de francês e Paris lhe pareceu tão luminosa que nunca mais essa primeira impressão lhe saiu da cabeça.

No meu caso, algo parecido. Eu ganhei a estadia e a alimentação da embaixada da França, por estudar francês na universidade e passar na seleção. Sem isso eu nunca teria chance de ir à Paris sozinha. Mesmo pagando só a passagem, foi bem pesado para minha família, mas minha mãe fêz questão que eu fosse e nisso eu só posso agradecê-la. Durante um tempo tive que agüentar as piadinhas do meu irmão dizendo que passaríamos 10 anos comendo apenas arroz e ovo por causa da minha viagem. O que era engraçado, mas um pouco mal da parte dele, afinal, eu não ganhava aqueles video-games caros todo final de ano como ele, ou um presente caro como um computador, por exemplo.

Mas voltando à Paris, a aventura começou no aeroporto, pois eu não ganhei o papelzinho da fronteira no avião e fiquei nervosa. Nessa hora, meu francês desapareceu e arrumaram uma policial que falava português, mas o de Portugal com um sotaque fortíssimo. Levou uns 10min, mas eu recuperei minha sanidade e meu francês e entrei no país. Depois tive que comprar um mapa para achar a minha rua, que eu passei duas horas andando em volta dela e não conseguia achar (senso de direção brasiliense é foda). Depois de chegar, fui encontrar o pessoal do estágio. A última coisa que eu fiz foi ligar para minha mãe, que achou que eu estivesse morrido, ou me perdido completamente em Paris, foi engraçado pq eu acho que ela pensava que eu era meio bocó.

Fiquei 5 dias em Paris e 7 dias no interior, em Poitou-Charentes. O objetivo da viagem era fazermos uma imersão linguística. No meu caso, esportes radicais em francês. Foi bem divertido. Eu fiz escalada e me cansei no meio da subida, mas a russa que tava fazendo minha segurança só olhava para o namorado que estava ao lado. Acabei xingando ela em português e mais uma vez tive que me acalmar para lembrar do meu francês, mas ela não me ouviu. Tive que achar um lugar para me apoiar e continuar a subida. Tirando esses contratempos, a viagem foi bem produtiva. Teria praticado mais o meu francês e conhecido melhor a cidade se não tivesse ficado com pena de uma brasileira que estava comigo no estágio e não falava xongas de francês. A menina não conseguia nem pedir comida, mesmo com o cara da lanchonete falando 6 línguas diferentes com ela. Além disso, reclamava de tudo. Só queria comer arroz e feijão.

Mesmo assim, eu sempre quis voltar à Paris. Como ela aparecerá para mim depois de Buenos Aires, Londres, Copenhague, Lund... e é claro, depois de nove anos desde minha última visita? Estou realmente curiosa para explorar por conta própria a cidade luz enquanto o Marcos trabalha. Tudo bem que só fico 4 dias em Paris, mas acho que esses dias serão mais bem aproveitados agora que meus pés tem uma certa quilometragem e que eu sei aquilo que quero ver novamente e o que não me importo de deixar para uma 3ª vez.