Sinto muito, mas eu não li a Gabriela de Jorge Amado. Desde que sou criança, rodeada por Tietas e Gabrielas, eu consegui no máximo me divertir um pouco com "A morte e a morte de Quincas Berro d'água". Sim, eu sou mestre em Literatura Brasileira, mas não li todos os livros nem todos os autores. Assim como, formada em Letras, eu não sei todas as regras da gramática nem todas as palavras do dicionário...
Mas voltando ao assunto, se tem uma coisa que me irrita é esse culto da Literatura neo-naturalista. Mas especificamente sobre aquilo que se entende sobre ela. Sim, Jorge Amado é um clássico, então, consequentemente bom. Talvez o livro até seja, mas se compararmos o casal pelas duas obras que li, "A morte e a morte de Quincas Berro d'água" e "Anarquistas graças a Deus", a Zélia foi para mim uma leitura bem mais agradável. Mas é claro que não se pode fazer isso.
Assim como não podemos pegar as novelas da Globo como um parâmetro para julgar a obra de Jorge Amado, Gabriela, muito embora eu tenha minhas dúvidas de que ele tenha sido tão hábil quanto Machado de Assis ao silenciar Capitu. Gabriela fala no romance? Não sei, mas parece não ter importância. Infelizmente, o que se "vende" sobre Literatura Brasileira no discurso midiático é o "pastiche global". Um bom jeito de suavizar qualquer "ruga" de profundidade da superfície com risadas e imagens paradisíacas. Bem Gabriela.
Toda a discussão que vem sendo feita sobre a exploração do corpo da mulher nas propagandas (e entre outros meios) parece não atingir a magnânima emissora, que em pleno século XXI resgata sem ressignificação todo apelo sexual da mulata brasileira, ignorando inclusive os altos índices de violência contra a mulher, sobretudo quando essa se recusa a atender aos apelos do companheiro.
Eu tenho medo da Gabriela, mas não da Virgínia Woolf. Dessa imagem que "fazemos" questão de mostrar que tanto nos atrapalha, nos limita. A falta de história e de cultura, na concepção de alguns, só pode ser recompensada pelas belezas naturais, sejam de nossas terras, sejam de nossas mulheres. Porque vender o Brasil e a Gabriela como uma terra virgem pronta para ser deflorada? Não seria melhor preservá-la e respeitá-la?
E mais uma vez, porque Gabriela de novo?
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segunda-feira, 18 de junho de 2012
quinta-feira, 26 de maio de 2011
A globalização importa mulheres mais "baratas".
Muita gente não se atém ao fato de que a independência das mulheres da classe média brasileira se dá as custas da desvalorização do trabalho doméstico. Como isso funciona? Bom, eu acho que já expliquei em algum post lá atrás (e se lembrar de procurar, coloco o link aqui). Mas a questão é a seguinte, as mulheres de fato não conseguiram mudar muito a mentalidade da sociedade para que ela ficasse menos sexista, apenas transferiram seu trabalho doméstico para outra mulher enquanto a primeira sai para trabalhar. Como o trabalho doméstico é desvalorizado tanto pelo homem quanto pela mulher, as empregadas domésticas acabam tendo uma baixa remuneração e qualificação. E os homens no máximo "ajudam" em casa.
Aqui na Suécia podemos pensar as vezes que as coisas são bem mais diferentes. Que os homens aprenderam a valorizar a mulher e dividem o trabalho doméstico com elas. Talvez isso seja verdade, mas pelo menos aqui em Lund, existe um fenômeno que me faz pensar se o mesmo mecanismo funcione com personagens diferentes. Acho que ainda preciso observar mais e conhecer alguns casais onde a mulher é sueca e o marido é estrangeiro. Mas pelo que tenho visto até agora, os homens suecos que não se "adaptam" a independência das mulheres suecas, importam mulheres de países com uma cultura patriarcal muito forte, como por exemplo, o Japão, a Coréia e a China.
Como isso funciona? Bom, eu conheço 3 casos. Duas japonesas e uma coreana. Tem uma indiana que conheço que é casada com um sueco, mas ele é de família indiana, então talvez não conte para o "estudo". No caso das japonesas, ambas parecem estudadas, mas de famílias bem tradicionais. Ambas casadas com suecos numa boa situação financeira, mas elas tem as mesmas restrições, imagino eu, que uma mulher da sua classe teria no Japão, eu acho. Elas tem que pedir permissão para sair com as amigas, pedir permissão para ficar mais um pouco. Nós só podemos vistá-las quando os maridos não estão em casa. Uma delas não tem celular nem dinheiro. Tem que pedir tudo para o marido.
A coreana parecia ser mais independente, mas até certo ponto, pois fica responsável por todo serviço doméstico. Pode até parecer uma situação semelhante a que teriam em seu país de origem. Mas aqui estão sem a família por perto, podem ser exploradas com a desculpa da cultura aqui ser diferente. Por exemplo, as namoradas tem menos direitos que as esposas. Se o namoro termina o visto expira em 6 meses se a ex não arranjar um emprego. Mas os caras simplesmente não casam porque aqui na Suécia as pessoas não se casam. Namoram a vida toda, tem filhos e é isso aí. Mas a sueca tem direitos iguais aos do sueco, já as estranjeiras...
Aqui na Suécia podemos pensar as vezes que as coisas são bem mais diferentes. Que os homens aprenderam a valorizar a mulher e dividem o trabalho doméstico com elas. Talvez isso seja verdade, mas pelo menos aqui em Lund, existe um fenômeno que me faz pensar se o mesmo mecanismo funcione com personagens diferentes. Acho que ainda preciso observar mais e conhecer alguns casais onde a mulher é sueca e o marido é estrangeiro. Mas pelo que tenho visto até agora, os homens suecos que não se "adaptam" a independência das mulheres suecas, importam mulheres de países com uma cultura patriarcal muito forte, como por exemplo, o Japão, a Coréia e a China.
Como isso funciona? Bom, eu conheço 3 casos. Duas japonesas e uma coreana. Tem uma indiana que conheço que é casada com um sueco, mas ele é de família indiana, então talvez não conte para o "estudo". No caso das japonesas, ambas parecem estudadas, mas de famílias bem tradicionais. Ambas casadas com suecos numa boa situação financeira, mas elas tem as mesmas restrições, imagino eu, que uma mulher da sua classe teria no Japão, eu acho. Elas tem que pedir permissão para sair com as amigas, pedir permissão para ficar mais um pouco. Nós só podemos vistá-las quando os maridos não estão em casa. Uma delas não tem celular nem dinheiro. Tem que pedir tudo para o marido.
A coreana parecia ser mais independente, mas até certo ponto, pois fica responsável por todo serviço doméstico. Pode até parecer uma situação semelhante a que teriam em seu país de origem. Mas aqui estão sem a família por perto, podem ser exploradas com a desculpa da cultura aqui ser diferente. Por exemplo, as namoradas tem menos direitos que as esposas. Se o namoro termina o visto expira em 6 meses se a ex não arranjar um emprego. Mas os caras simplesmente não casam porque aqui na Suécia as pessoas não se casam. Namoram a vida toda, tem filhos e é isso aí. Mas a sueca tem direitos iguais aos do sueco, já as estranjeiras...
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Nepotismo não é só político
O nepotismo é uma prática desonesta e injusta. Ele elimina a competição e não avalia as capacidades individuais. Muitos brasileiros recorrem a essa prática mesmo tendo qualificações suficientes para conseguir um posto sozinhos. Recorrem a ela porque é mais fácil e "garantido". Muitos desses brasileiros depois reclamam do nepotismo na política. Vai entender...
Existe outro tipo de nepotismo, o intelectual. Nele apenas as pessoas que sempre tiveram acesso ao discurso são autorizadas e emitir juízos e opiniões. Quando há alguma mudança em quem pode falar notamos que sai da mão de um poderoso para a de seu protegido e/ou filho, esposa, sobrinho. O problema dessa prática é que além de colocar muitas pessoas sem competência controlando os meios intelectuais, ela inibe, reduz ou barra a diversidade de idéias e opiniões. Promove hoje o efeito "intelectual no carro importado", uma versão mais moderna do intelctual na torre de marfim. Esse novo intelectual conhece um pouco mais do mundo, saí de casa e chega até a ver os problemas de sua cidade, mas dentro de seu carro importado com película e ar condicionado digamos que sua persepção da realidade fica bastante comprometida.
O nepotismo artístico é um velho conhecido. Quantos cantores e atores que estão em voga não são filhos de outros? Muitos deles tem talento, é certo. Mas será que aqueles que não tem saem da mídia por causa disso? Os que não tem talento tem dinheiro para esconder a falta dele. Podem contratar um bom produtor, letrista, uma boa banda, e pronto, tá aí o talento $. Entre os atores a situação é mais gritante ainda quando temos uma emissora que detém uma enorme fatia do mercado cultural brasileiro atuando inclusive no cinema e promovendo uma dezena de novelas ruíns, programas sem conteúdo e nenhum desafio para seus atores. Mas realmente eles não parecem se importar em ficarem guardados na gaveta recebendo um bom salário e um por fora para aparecerem na balada. O mais engraçado, que no lugar de participarem da intelectualidade brasileira, eles ficam alheios de todos os processos sociais e usam a imagem e o alcance que ela tem para promover apenas a eles mesmos. Não são todos, é verdade, mas aqueles que não são "globais" são tão locais que quase ninguém repara. É uma pena.
Seguindo o pensamento de Terry Eagleton, que muita gente cita, mas pouca gente segue; enquanto deixarmos apenas os mal intencionados tomarem conta do processo estaremos sendo coniventes com tudo o que fizerem. Não podemos deixar apenas os nepotistas fazerem parte do processo, temos que abrir uma fresta para a competência e a honestidade entrarem.
Existe outro tipo de nepotismo, o intelectual. Nele apenas as pessoas que sempre tiveram acesso ao discurso são autorizadas e emitir juízos e opiniões. Quando há alguma mudança em quem pode falar notamos que sai da mão de um poderoso para a de seu protegido e/ou filho, esposa, sobrinho. O problema dessa prática é que além de colocar muitas pessoas sem competência controlando os meios intelectuais, ela inibe, reduz ou barra a diversidade de idéias e opiniões. Promove hoje o efeito "intelectual no carro importado", uma versão mais moderna do intelctual na torre de marfim. Esse novo intelectual conhece um pouco mais do mundo, saí de casa e chega até a ver os problemas de sua cidade, mas dentro de seu carro importado com película e ar condicionado digamos que sua persepção da realidade fica bastante comprometida.
O nepotismo artístico é um velho conhecido. Quantos cantores e atores que estão em voga não são filhos de outros? Muitos deles tem talento, é certo. Mas será que aqueles que não tem saem da mídia por causa disso? Os que não tem talento tem dinheiro para esconder a falta dele. Podem contratar um bom produtor, letrista, uma boa banda, e pronto, tá aí o talento $. Entre os atores a situação é mais gritante ainda quando temos uma emissora que detém uma enorme fatia do mercado cultural brasileiro atuando inclusive no cinema e promovendo uma dezena de novelas ruíns, programas sem conteúdo e nenhum desafio para seus atores. Mas realmente eles não parecem se importar em ficarem guardados na gaveta recebendo um bom salário e um por fora para aparecerem na balada. O mais engraçado, que no lugar de participarem da intelectualidade brasileira, eles ficam alheios de todos os processos sociais e usam a imagem e o alcance que ela tem para promover apenas a eles mesmos. Não são todos, é verdade, mas aqueles que não são "globais" são tão locais que quase ninguém repara. É uma pena.
Seguindo o pensamento de Terry Eagleton, que muita gente cita, mas pouca gente segue; enquanto deixarmos apenas os mal intencionados tomarem conta do processo estaremos sendo coniventes com tudo o que fizerem. Não podemos deixar apenas os nepotistas fazerem parte do processo, temos que abrir uma fresta para a competência e a honestidade entrarem.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Estranho...
Não sei se contei pra vcs que o Edward Said, um dos maiores teóricos das Ciências Sociais da atualidade (eu acho que ainda não morreu, mas não tenho certeza) possui vários livros que são muito lidos, mas que não são mais editados? Eles fazem parte do cânone da maioria dos estudantes de teoria literária, antropologia e sociologia, mas possuí livro que tem edições esgotadas há mais de cinco anos.
No caso dele parece que tem uma explicação, depois do 11 de setembro o Bush passou a implicar com ele porque ele é palestino. Mas outros livros que fui obrigada a ler tem suas últimas edições datadas de mais de trinta anos atrás. Vcs podem não gostar, mas certamente ouviram falar da Simone de Beauvoir. O segundo sexo, seu livro mais famoso e um dos marcos do feminismo, tem a última tradução para o português datada de 1970. Outro muito intrigante com uma escrita leve e despretencioso é o da Virgínia Woolf, Um teto todo seu. Se vc não leu e ficou intrigado pode pegar a minha cópia ou entrar no sebo porque as editoras simplesmente pararam de publicar e disseram "sem previsão para a reedição". Engraçado é que ninguém realmente lê Marx na íntegra, mas ele tem até edição de bolso. Agora se vc quiser saber o que tinha no relatório Kinsey que causou tanto rebuliço vai ter que me perguntar ou tentar extrair do filme porque eu nunca vi uma outra cópia (em português) além da que eu encontrei mofando na varanda da minha mãe.
Estou rezando para um nerd bem cult estar passando tudo pra pdf e esperando as leis serem menos mesquinhas para compartilhar conosco. Se não ao invés de termos a sociedade dos poetas mortos teremos o "index dos livros mortos".
No caso dele parece que tem uma explicação, depois do 11 de setembro o Bush passou a implicar com ele porque ele é palestino. Mas outros livros que fui obrigada a ler tem suas últimas edições datadas de mais de trinta anos atrás. Vcs podem não gostar, mas certamente ouviram falar da Simone de Beauvoir. O segundo sexo, seu livro mais famoso e um dos marcos do feminismo, tem a última tradução para o português datada de 1970. Outro muito intrigante com uma escrita leve e despretencioso é o da Virgínia Woolf, Um teto todo seu. Se vc não leu e ficou intrigado pode pegar a minha cópia ou entrar no sebo porque as editoras simplesmente pararam de publicar e disseram "sem previsão para a reedição". Engraçado é que ninguém realmente lê Marx na íntegra, mas ele tem até edição de bolso. Agora se vc quiser saber o que tinha no relatório Kinsey que causou tanto rebuliço vai ter que me perguntar ou tentar extrair do filme porque eu nunca vi uma outra cópia (em português) além da que eu encontrei mofando na varanda da minha mãe.
Estou rezando para um nerd bem cult estar passando tudo pra pdf e esperando as leis serem menos mesquinhas para compartilhar conosco. Se não ao invés de termos a sociedade dos poetas mortos teremos o "index dos livros mortos".
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