sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quem tem medo de rolezinho?

"Daqui do morro dá pra ver tão legal
O que acontece aí no seu litoral
Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais
Do alto da cidade até a beira do cais
Mais do que um bom bronzeado
Nós queremos estar do seu lado"

Nós vamos invadir sua praia - Ultraje a Rigor

Eu acho esse música a cara do rolezinho. Adoro também ouvir as opiniões dos "especialistas" (gostaria de saber onde eles acham especialistas tão desinformados) sobre os rolezinhos. Mas o principal, eu fico muito triste em ver que o brasileiro é tão classista e preconceituoso. Tem medo do seu próprio povo. 

Mas antes eu vou dizer o que eu acho dos rolezinhos friamente - se tem gente que ainda quer frequentar o shopping, a administração dele devia mais era deixar. Eu acho shopping um saco. É ruim chegar, caro para estacionar, fechado, cheio e com o único objetivo de te fazer gastar dinheiro. Você raramente vai fazer alguma coisa além de perder o seu dinheiro lá dentro. Tudo é feito para você achar que a realização pessoal está em comprar um bando de porcaria que no fundo nem precisa. É diferente, por exemplo, de um museu, onde você paga para entrar, mas vê um monte de coisas interessantes.

Eu fui vendedora de shopping por um ano e não precisei de mais para entender como funcionava. É um ambiente estranho e competitivo. Mas qualquer um pode ser vendedor, inclusive aquele povo que os gerentes estão tentando barrar, basta saber vender. O que acaba acontecendo é o que é proibido por lei. Os vendedores são escolhidos pela aparência e pela experiência. Nas lojas mais chiques, os mais bonitos das classes mais altas, nas lojas mais ou menos, os mais bonitos das classes mais baixas.

Mas o preconceito do shopping não começou com o rolezinho. Os vendedores são tratados como lixo, os funcionários também. Não existe cantina na maioria deles para que você leve seu almoço e o moço da marmita, na minha época, foi proibido de entrar no shopping. O que você vai fazer com os seus 15 minutos de almoço? Muitas vezes você nem quer perder esse tempo todo porque a loja tá bombando. Mas faça o teste, o que você consegue comer rápido e que preste num shopping? 

Além disso, na minha época sofríamos bullying por parte da direção do shopping. Eles baixavam normas absurdas, como por exemplo, a de que era proibido escovar os dentes no banheiro porque isso incomodava os clientes. Teve até rumores de que iam proibir nossa entrada nos banheiros. Eu não me lembro se havia um banheiro para funcionários, mas acho que pela nossa revolta na época, não. Tinham uns túneis na época, para evitar que o pessoal da limpeza andasse com os materiais de limpeza sujos pelo shopping, que eram nojentos, umas coisas apertadas sem reboco… 

Mas o mais interessante eram as fofocas e a própria dinâmica do shopping, um universo à parte.  Você fica sabendo, por exemplo, que o dono de uma das grifes mais caras do shopping quer fazer uma sacola bem vagabunda porque não quer ver nenhuma empregada doméstica sair por aí depois carregando a sacola, pois ele acha que isso é propaganda negativa. Mas essa mesma loja tem uma gambiarra na registradora que dá um jeitinho de registrar a venda sem emitir nota. Essa mesma loja também sonega mercadoria e abarrota tudo na caixa dizendo que tem bem menos peça lá dentro do que na verdade tem. Aliás, muitas lojas fazem isso. 

*Sempre que fizer compras no shopping exija a nota fiscal. Evite pagar com cheque, pois eles vão dizer que a máquina está com problema e não te darão a notinha. 

Ou seja, na minha cabeça é um bando de gente que faz coisa errada, mas não olha para o próprio umbigo e depois fica cagando regra. Eu, sinceramente, depois que saí desse ramo, vou ao shopping quando não tenho outra alternativa. Detesto o fato de que quase todos os cinemas de Brasília são dentro de shoppings. Passear e shopping são duas palavras que não deveriam ser usadas na mesma frase, não combina. Ele não é um lugar agradável. Cheio de luzes artificiais, plantas de plástico. Tudo brilha em excesso. É uma poluição visual e auditiva.

Mas infelizmente aqui nós não temos um centro onde você possa caminhar, sentar num banquinho e ver os pássaros e depois comprar o que precisa e pegar a roupa na lavanderia. Aqui fica tudo meio setorizado e nunca é muito simples resolver várias coisas de uma vez.

Mas voltando ao rolezinho, porque eles não podem? A cleptomaníaca não é a menina da periferia, o estelionatário não usa boné aba reta. Bagunça, baderna? Coloque 3 adolescentes que se conheçam da qualquer classe longe dos pais que o resultado será parecido. Mas porque eles não podem? Tudo que eles querem e ver e serem vistos. Quer dizer que o dinheiro deles não é bem vindo no seu shopping? A madame vai ficar com medo de um bando de adolescente que quer aparecer? O que ela, a madame, andou fazendo para ter medo? Será que tratou alguém feito lixo só porque era pobre ou estava numa situação inferior? Eu não sei, mas vejo muita sabedoria naquele ditado "quem não deve não teme". Porque esse povo tem medo? Medo do quê? 

Proibir o rolezinho ou os jovens de entrar no shopping eu sou contra. Eles podem fazer alguma coisa? Sim, podem. Mas eles também podem só querer estar lá. Não existe um princípio do direito que diz que você é inocente até que se prove o contrário? Ah, mas esse certamente não serve para o Brasil. Aqui você só tem o benefício da dúvida a partir de uma determinada classe.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Não se iluda, se você morar fora não será elite

Vendo a polêmica causada por aquele americano que detestou morar por aqui e um dado de uma pesquisa que diz que a maior parte da elite brasileira quer morar fora, eu resolvi escrever esse post, afinal, morei um ano fora do país e talvez possa dar um toque para aqueles que pretende sair, não se decepcionarem.

Eu acho que tudo depende para onde vai. Não posso dizer muito, mas para mim parece que os EUA são o Brasil com gadgets. O modo de pensar, o consumismo, a disputa e o classissismo que parecem existir nos dois. Afinal, o modo de vida americano parece muito com o brasileiro. As pessoas vão passear no shopping, todo mundo tem carro… essas coisas.

Eu vivi na Escandinávia, na Suécia, mais precisamente. O pior e o melhor lugar, na minha opinião para ter um gostinho do é o 1º mundo. Me desculpem os outros, mas depois dela a França, Inglaterra e outros me pareceram uma bagunça. Mas aí reside o problema, o lugar é tão organizado que sua vida não apresenta muitas surpresas. Inclusive você não pode deixar para programar o seu final de semana na semana que ele irá ocorrer, pois seus amigos já terão compromisso. Deixar para comprar bebida quando quiser beber também não. Só os ricos tem grana para beber no bar e a loja do governo, o único outro lugar autorizado a vender bebidas com mais de 4% de teor alcóolico tem horários bem restritos de funcionamento.

Outra coisa que é bom lembrar: você não poderá tratar os prestadores de serviço (garçons, motoristas de ônibus, vendedores, pedreiros e etc) como lixo, que nem trata no Brasil. É possível que a pessoa que esteja te atendendo fale pelo menos 3 línguas e tenha um mestrado. Eles também não irão tratar você como o Xá. É bem possível que, mesmo no restaurante, tenha que se servir de água e pegar os seus próprios talheres. Está mesmo preparado para isso? Pode ser um choque.

Muito provavelmente, se trocar o Brasil por um país mais desenvolvido, terá que andar de transporte público. Outro choque para o filhinho da mamãe que nunca pegou sol na moleira. Por melhor que seja, transporte público é transporte público. Isso significa que dificilmente irá sentar no horário de pico. Vai ter que exercitar as pernocas, pois em qualquer outro lugar do mundo, uma distância de 10min até a parada ou a estação não é nada. Mas eu desconfio que ser como todo mundo no exterior pode, só aqui é que não, afinal, no Brasil pobre não entra nem no shopping.

Ah, essa é muito importante: você provavelmente não terá nem empregada nem faxineira. Isso pode ser um tremendo susto para alguns. Terá que limpar a sua própria sujeira. Mas sempre pode viver como uma barata. A menos que você more numa república (o que é muito comum em vários países), nesse caso, talvez tenha que manter o decoro. Mas não se preocupe, os eletrodomésticos lá fora realmente funcionam. Os aspiradores de pó são uma maravilha e a máquina de lavar louça não é artigo de luxo.

Você não poderá quebrar a lei e colocar a culpa no governo. Se estacionar seu carro (ou bicicleta) em lugar indevido não ganhará o perdão do guarda só porque não tem onde estacionar perto de onde você vai. Na melhor das hipóteses, ele te dará uma advertência e ainda te mostrará o quão folgado está sendo, dizendo que poderia muito bem parar mais longe e ir à pé.

Esse é especial para as meninas: você provavelmente não fará a unha no salão toda semana. Provavelmente nem fará a unha no salão. Isso porque fazer a unha custa uns 20 euros. Eu, além de fazer a unha em casa, cortava o meu próprio cabelo, pois via os cortes da moda e ficava com medo de sair do salão com um mullet moderno.

Ah, outro toque para aqueles que se orgulham da tez branca: não, não é tão branca para eles. Provavelmente você ainda terá cara de gringo. Se não tiver cara, vai ter sotaque. E muito provavelmente vai entrar em contato com os estereótipos do brasileiro cedo ou tarde. Mesmo que seja depois de um ou 5 pints de cerveja. "Samba aí, brasileira", "Toma a bola, Pelé", "Você mora numa árvore?", "Conhece a Amazônia, ama o carnaval?"… Aí nessa hora você encontra o seu orgulho, que estava há muito tempo escondido e volta a ser brasileiro. Uma pena que precise disso. O seu sobrenome gringo e o seu passaporte não escondem de onde você vem. Sinto muito.

Por que eu voltei? Bom, não gosto da sensação de ser "estrangeiro" na minha casa. Tudo bem que pelo meu modo de pensar muitas vezes me sinta estrangeira no meu próprio país. Mas ainda tenho essa boba sensação de que posso fazer algo pelo Brasil, mas lá fora eu seria apenas mais uma girando junto com a roda, fazendo parte do esquema já montado, organizado. Aqui ainda há o que fazer. Para quem ainda não entende, cito meu pai:

"Você prefere ser o rei dos cachorros ou o cachorro do rei?"

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Análise do discurso - faça sempre ao ler o jornal

Coloquei ler, mas serve também para quem assiste TV.

Uma coisa que descobri é que o óbvio não é tão óbvio assim. O que pode ser pra mim, não necessariamente é para você. Enfim. Eu nunca escrevi sobre isso aqui, pois sempre achei que devemos ser críticos ao ler qualquer coisa e que isso era óbvio. Realmente a maneira como lemos criticamente  um romance e o jornal é diferente, mas deve haver crítica, afinal, quem escreve nunca é ingênuo.

Algumas coisas que você deve saber ao pegar o jornal e que normalmente não sabe: qual a orientação política do jornal (o que muitas vezes implica na agenda dele). No Brasil temos um fenômeno estranho, pois apenas nos dias de hoje as orientações jornalísticas começam a ficar um pouco menos nebulosas. Mas na França, por exemplo, eu fiz o teste. Perguntei para o jornaleiro de cara "qual o jornal de esquerda?" e ele disse: Le Figaro. O Le Monde, que todo mundo adora, é centro direita. Agora, vá até a sua banca de jornal e pergunte isso para seu jornaleiro. Eu tenho certeza que ele fará uma cara de interrogação.

Para te ajudar nessa tarefa, faça uma pesquisa sobre os donos do jornal, sobre como eles colocam as reportagens sobre o governo e os políticos de ambos os lados. Se defender o PMDB é de direita e se defender o PT de esquerda. Mas tudo isso com ressalvas. Um jornal de extrema esquerda vai acusar o PT e um de direita que seja de um grupo rival ao PMDB também vai ser menos parcimonioso nas críticas a esse último.

Com essa informação em mente, vale lembrar que os jornais, de ambas as orientações, querem vender (pois precisam ser lidos para ter anunciantes) e isso se traduz na prática em um monte de manchetes chamativas e reportagens com pouco conteúdo. Isso porque sabemos o problema da nossa formação em jornalismo, que em muitos lugares do mundo, é uma especialização. A consequência disso é que o nosso jornalista se torna um grande especialista em escrever sem saber bem sobre nada. Mas é claro, não devemos generalizar.

O jornalista é um profissional mais treinado na arte da maquiagem escrita do que qualquer coisa. Como escrever algo que não se tem certeza e não se comprometer. Como mudar a ordem da história para tornar o texto mais interessante. Essas coisas. E a arte de desfazer esse processo, se chama análise do discurso. Você não vai chegar na "verdade". Nem as fotos são capazes de revelar a verdade. Hoje sabemos que ângulos, contextos, tudo pode maquiar um acontecimento, mesmo numa foto.

Após se desapegar dessa ingenuidade inicial, devo avisar que daqui para baixo é pílula vermelha e não tem volta. Se quiser continuar acreditando no jornalismo "imparcial" e no compromisso com a verdade dos meios de comunicação, pare de ler esse texto e vá direto para o G1, R7, Le Monde, Whashington Post, BBC e seja feliz e "bem informado". Se não, continue.

Você já sabe que o jornal (ou veículo de informação) tem uma orientação. O motivo dela é simples: quem banca. É claro que os anunciantes pagam, mas escolhem os veículos pelo público que o lê. Mas o fato de termos famílias de políticos como principais donas de grupos de comunicação nos remete a possibilidade de que tais grupos sustentam os veículos para verem ali representados seus interesses e reproduzidas suas visões de mundo. Algo como o modo de vida burguês da era contemporânea.

Um fenômeno sintomático disso e que eu acho simplesmente uma sacada sensacional é o Vídeo Chow. Um programa que só fala sobre programas de Rede Bobo, de como os atores são lindos, super interessados em seus trabalhos, como tudo lá dentro é organizado. Ele é uma enciclopédia de todas as novelas que por lá passaram. Mas é engraçado, pois as polêmicas sobre as novelas nunca aparecem. Como o beijo lésbico foi vetado, ou a novela vai acabar mais cedo porque tá sem audiência, como o ator X não foi cotado pois está na reabilitação… Enfim, é tudo bobal no sentido Rede Bobo de ser. A vida maquiada, sem emoção e com uma dose extra de água e açúcar na mistura com o objetivo de te passar uma imagem de que a tal emissora é profissional, comprometida com o que faz, confiança e tranquilidade. "Pode assistir sem medo, sem cérebro, sem senso crítico".

Sendo assim, chegamos às perguntas básicas que todo mundo deve se fazer diante de qualquer texto, seja hiper, tele ou qualquer outro: Quem escreve? Para quem escreve? Como escreve? Com qual objetivo escreve? Não somente o que está escrito faz parte do texto. Tudo, desde imagens até aquelas partes destacadas e os sofríveis gráficos e arte em geral que aparecem nas reportagens deve ser observado. Uma coisa comum, por exemplo, é dar mais destaque a um lado da história do que a outro. Não questionar é uma das maiores "virtudes" de nossos jornalistas. Mas eles também não querem que você se questione, então vão passar batido por tudo que possa causar uma polêmica inversa aquela do interesse do veículo. As vezes me pergunto se isso acontece intencionalmente ou se os jornalista não tem noção dos objetivos por trás do seu trabalho. Essa dúvida me ocorre porque sei que em muitos cursos de comunicação, análise do discurso (ou análise crítica do discurso) não figura nem dentre as disciplinas optativas.

Infelizmente eu não posso colocar nenhum exemplo aqui, pois esses veículos, além de "mal" intencionados, são bem armados e me processariam de maneira desproporcional ao meu "mal feito. Um exemplo seria o caso da cobertura do julgamento do mensalão, que toda imprensa se esmerou em acompanhar, mas quantos lembraram que esse não foi o primeiro esquema? Ou questionar um político do porque a vontade de mudança, pós manifestações, se traduziu em medidas tão ridículas? A menina do CQC fez sucesso porque muito do que fazia era o que os jornalistas deveriam fazer, mas eles, acho eu, estão cada vez mais "amiguinhos"dos políticos. "Oh, vem cá no churrasco aqui em casa e eu te dou aquela informação. Aliás, como vai a sua mãe?…" É realmente viável se perder meia tonelada de cocaína, ou melhor, colocarem no seu helicóptero e você nem saber?

Mais uma coisa, não existe tal coisa chamada veículo de comunicação. Não no sentido que eu entendo comunicação. Se existe, ele está longe de ser a mídia impressa e televisiva. A comunicação é um processo de mão dupla. Pergunta e resposta, mensagem e recepção. Algo parecido com a teoria da comunicação do Roman Jakobson. Para facilitar a explicação, eu fiz um esquema (ficou ruim, mas sinta-se livre para usar).


A parte 1 é  o que acontece quando lê ou assiste ao jornal. Você só recebe a informação. É um processo passivo. Por isso é muito importante que sempre reflita antes de aceitar essa informação, afinal, o processo 2, que para mim é o que caracteriza a comunicação, está ausente. Ninguém quer saber o que você acha e pensa na mídia. É um processo hierárquico onde nós estamos na base. Não geramos opinião, ela é gerada pra gente. Não é a toa que chamam muitos jornalistas e blogueiros de "formadores de opinião". Mas eu prefiro o blog, pois existe um espaço para a resposta.

As manifestações de 2013 foram um bom exemplo de como a mídia (que vou chamar aqui de tradicional, como muitos vem fazendo), tem o hábito de vomitar sua própria opinião e visão dos acontecimentos de maneira impositiva para a opinião pública. Quando ela viu que estava falando mal da maior parte da sua seara, mudou de posição, mas sempre mantendo sua linha esdrúxula (desviando o foco do motivo das manifestações para a destruição de lixeiras). Mas essa volta atrás nem sempre acontece. Eu não acho que a opinião da mídia reflita a da população. Até porque o foco dela é a classe média, e diferente dos dados do governo, nem a metade da população é de fato dessa classe.

Mas porque a mídia mudou de foco? Porque liga para a opinião pública? Eu duvido. Acho que na maioria das vezes não está nem aí pra isso. Vide como é feito o cálculo da audiência (meia dúzia de aparelhos no Rio e em São Paulo). Acho que ela mudou de abordagem porque a internet, com a ajuda da mídia ninja, veio em massa contestar a incontestável dona da verdade. Pela primeira vez, por mais absurdo que fosse os comentários na TV, mais e mais pessoas continuavam ignorando as opiniões da última. O que ficou claro para mim nesse episódio, quando a MT não soube interpretar, explicar, entender, cobrir, é que ela está muito longe da população brasileira, de entendê-la. Por quê? Nunca se preocupou com isso. Um ranço da ditadura, onde o negócio era ludibriar?

Não sei, mas se tiver um pouco de paciência, assista a esse vídeo e veja como as "feras" da MT tem dificuldade em entender o pessoal da Mídia Ninja e como o foco das perguntas está todo na questão do financiamento do veículo. Será que isso é um sinal de que eles , da MT, no lugar de se comprometerem com a "imparcialidade", com o foco no acontecimento, respondem apenas àqueles que os pagam diretamente?

Para conhecer mais sobre análise do discurso:

Norman Fairclough - Discurso e mudança social
Michel Foucault - A ordem do discurso

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Enchente, de novo?

Numa aula de História Social e Política Geral (que era mais Hosbsbawm para dummies e deveria se chamar História da Europa e dos Estados Unidos), o professor foi dizendo como os fenômenos naturais, com a revolução industrial e agrícola, o conhecimento sobre o clima e talz foi capaz de evitar os efeitos de catástrofes como enchentes, secas e etc na Europa.

Nesse momento ele colocou uma pergunta para a classe que ficou perplexa: Porque será que algo que não acontece na Europa há mais de 300 anos pode ainda causar tantas mortes no Brasil? Ele se referia a última grande seca do Nordeste. Mas eu logo fiz a associação com as cheias que vemos todo final de ano, tão tradicionais quanto as rabanadas. É incrível, pois desde que me entendo por gente chove no final do ano. Todo final de ano é a mesma coisa: os estados afetados decretando estado de calamidade pública, o governo federal repassando dinheiro (ou dizendo que vai repassar) e bom, no final das contas é sempre remediar o mal.

Estava ouvindo no rádio os municípios de Minas Gerais que decretaram tal estado. Engraçado que foram justamente os das áreas mais pobres: Vale do Jequitinhonha.
Lembrei também do Morro do Bumba - um festival de incompetência, maldade, classismo. Na minha interpretação, a pessoal que deixou que se construíssem casas na região deveria estar na cadeia. Mas aí eu me lembrei de outra coisa na nossa sociedade que me deixa bastante irritada: filho feio não tem dono.

É muito difícil alguém dar a cara a tapa aqui. Todo mundo culpa o coitado do goleiro que perdeu a Copa de 50. Muita gente nem estava viva na época, mas conhece a famosa culpa do Barbosa. Mas quem aqui assume as responsabilidades? Não me entenda mal, dizer "putz, foi mal"não é assumir responsabilidade nenhuma, pois nessa caso, a gente sempre espera um perdão, um tapinha nas costas, um entendimento. Quero dizer que é difícil arcar com as consequências. E nesse caso não pode ser uma só pessoa e sim uma cadeia de gente que foi empurrando a coisa com a barriga na mesma velocidade que os moradores foram construindo suas casas.

Eu não responsabilizo tanto os moradores do morro, afinal, são o elo mais fraco dessa cadeia. Muitas vezes não sabem o que é erosão e não tem alternativa habitacional. Depois que o morro caiu, os moradores receberam 400 reais de aluguel social. Mas será que 400 reais para alguém que perdeu tudo não me parece muito justo. Como essa pessoa vai comprar uma geladeira com isso? Refazer a vida? E vamos pensar ainda na escolaridade da maioria dessas pessoas que é um agravante no fato de conseguirem entender onde estavam construindo seus barracos em primeiro lugar. Já os moradores de Águas Claras e dos condomínios irregulares de Brasília sim sabem onde estão se metendo. E o pior, entram na piração dos políticos brasileiros. O cara acha que no futuro, porque o fulaninho quer se reeleger, vai regularizar o condomínio e pronto! O papel vai protegê-lo dos desastres naturais.

Aliás, é bom lembrar do que aconteceu com o Palace II. Muitos moradores estão até hoje sem seus imóveis. E os responsáveis? Sérgio Naya faleceu. Não sei dizer se por culpa ou por desgosto. Não me lembro se ele foi preso. Mas a gente sabe o que acontece no final do festival de incompetência: nada. Então temos que pensar em duas coisas: qual é a consequência de um desastre natural para um rico e para um pobre (a classe média se ferra quase o mesmo tanto que um pobre, como vocês podem perceber no caso do Palace II).

Mas voltando a questão das catástrofes naturais, que n ós parecemos incapazes de prevenir. Vem a questão: qual é o aspecto eleitoreiro da coisa? Até que ponto o cara que aceita esse aspecto, esperando que sua casa seja regularizada não é co-responsável? E será mesmo que os ricos e os políticos serão sempre imunes às consequências dessa negligência? E até quando as pessoas vão se reconfortar com o "passar a bola" da responsabilidade para outra?

Resumindo: Feliz 2014, Brasil!