terça-feira, 11 de agosto de 2015

"Parir com dor é muito bíblico pra mim"

**Advertência: esse post é enorme. Leia com moderação.
(finalmente sai o meu relato de parto)

Eu nunca pensei que fosse chegar o dia onde eu iria colocar no meu blog um relato de parto. Ainda por cima o meu. Mas eu estou batendo o recorde de experimentar coisas que disse que nunca faria ou que nunca me imaginei fazendo na vida. Em suma, eu sou uma pessoa que sempre paga. Paga a própria língua.

Como poderia ser o parto de alguém que não planejou estar grávida e que no começo da gravidez teve problemas em lidar com ela? Eu confesso que minha ficha demorou muito a cair. A barriga ia crescendo, o bebê mexendo, eu via o feijãozinho virar um bebê perfeitinho, com bracinhos, perninhas, seu coração batia e mesmo assim eu custava a acreditar que estava realmente gerando um bebê. Vamos e convenhamos, é muito louco saber que existe uma outra vida dentro de você e que é sim independente. Um ser diferente de você. Ele mexia e eu relutava em acreditar que não era mesmo o meu estômago (afinal, a gente não controla os movimentos digestivos ou intestinais), a sensação pra mim era muito parecida.

Depois do choque inicial veio o pragmatismo. Eu estava grávida, prestes a mudar de cidade e sem muita ideia do que fazer da vida. Então, era hora de decidir. Lá fomos nós de mala e cuia, bebê na barriga, gato na caixinha de mudança pra Londrina. Fomos esperando um futuro melhor, uma vida mais tranquila e mais oportunidades de trabalho pra mim, já que o Marcos já tinha muito o que fazer por lá. Começou então toda uma peregrinação para achar outros médicos, dar continuidade ao pré-natal, descobrir uma padaria boa, decorar a casa (mais ou menos, pq a gente não tem tanto dinheiro quanto pobre de novela da globo) e sem saber, traçar o perfil de pais e de parto que queríamos ser e ter.

Eu sempre tive problemas com excesso. Queria ser uma mãe moderada. Acho que depois de tanto estudo sobre pressões sociais em torno da maternidade acabei pegando um pouco de trauma de coisas como "centro de mesa em forma de bolo de fraldas", "new born álbum" além, é claro, de toda aquela avalanche de roupas e brinquedos já sexualmente orientados. Infelizmente não poderia criar meu filho como se morasse na Suécia. Por aqui tem gente que briga com mães que andam com seus filhos no sling e muita gente não arreda o pé da fila para deixar uma grávida passar. Mas seria possível achar um meio termo?

Uma amiga minha doula escreveu em sua timeline que se você quiser tem um parto normal, vai ter que se esforçar e estudar muito porque as pessoas vão tentar te empurrar para uma cesárea. Como eu queria que isso fosse mentira! Mas infelizmente não é. Eu realmente não queria ter que estudar para ter o meu filho. Eu queria que o processo fosse calmo e tranquilo e não passar a gravidez ouvindo relatos de violência obstétrica.

Percebi cedo que não teria como escapar. A primeira médica que eu visitei foi logo me perguntando qual era o meu tipo de plano, pois se fosse enfermaria ela não me atenderia. Ela não perguntou nada antes. Era melhor ter colocado uma placa na porta do consultório dizendo "Não aceito enfermaria nem Mastercard". Já aqui em Londrina, ouvi de outro médico que além de eu estar gorda demais para ter um parto normal, era muito baixinha e isso impedia o parto. Sério? Ele deveria ter perguntado o meu nível de escolaridade antes para inventar um caô melhor. Felizmente eu tenho amigas doulas que me deram a dica de procurar grupos na internet que apoiassem o parto humanizado e eu acabei encontrando o Gesta, que me levou ao encontro das doulas de Londrina que me apresentaram pessoas que pensavam parecido comigo.

Através desse grupo eu recebi indicações de médicos adeptos do parto humanizado e dicas preciosas de como resistir as tentações do caminho mais fácil que na verdade é mais difícil depois. Quais as vantagens de um parto normal? Quer dizer, eu poderia muito bem ter marcado uma data, ter ido ao salão, feito cabelo e unhas, depilado a região e pronto. Sem trabalho nem sofrimento. Mas não acho que é bem assim. O parto normal, como o próprio nome diz, é o normal. A cesárea deve ser feita quando o parto normal não é indicado. Isso seria a minoria dos casos. Mas eu nem vou discutir essas coisas. Acho que as mulheres devem ter informação suficiente para optar  sem ter um lobby por trás.

Porque eu optei? Bom, o parto normal não é um procedimento cirúrgico, ou seja, menos risco de contaminação e melhor recuperação. Além disso, a recuperação é bem mais rápida. Tirando o cansaço muscular, no dia seguinte eu já estava me sentindo ótima. E vai por mim, toda a dedicação que o recém nascido demanda, é melhor você estar super bem para encarar o fardo.

Eu não sou muito adepta da teoria do vínculo, mas realmente acho que para alguém como eu, que estava lutando para deixar a vida virar de cabeça pra baixo com a maternidade, ser a primeira pessoa a segurar o filho e falar com aquele ser que ficou quase 10 meses dentro de mim foi muito especial.

Nossa, eu não consigo mesmo começar a contar a história do meu parto, mas é que sem o contexto a história perde metade da emoção.

O que eu posso dizer? Eu procuro o meio termo na vida. Muitas vezes isso não é possível. Mas quanto ao quesito maternidade e parto, realmente queria algo relax. Afinal de contas, conhecia muito sobre a maternidade pela culpa, altruísmo obrigatório, tripla jornada...

Quando o resultado apareceu positivo, pedi ao Marcos que lesse um livro chamado "A mãe de todos os mitos", de uma jornalista chamada Aminatta Forna, que é anglo-marfinesa. Ou seja, tem uma mãe inglesa e o pai da Costa do Marfim. Ela compara os dois tipos de maternidade, ocidental e africano.O que mais interessa no livro é que ele mostra como as mulheres ocidentais lidam praticamente sozinhas com a maternidade e as pressões psicológicas dela. Diferente das mulheres africanas que contam com uma família estendida, nós contamos, quando muito, com a mãe e a sogra. Isso quando essa dupla não se concentra em criticar o modo que escolhemos para criar nossos filhos.

Porque eu pedi para o meu marido ler esse livro? Bom, estamos quase sozinhos aqui e eu sei que ele trabalha, mas se ele pudesse entender a monstruosidade de trabalho que dá um bebê, talvez seria mais fácil dividir as tarefas com ele. E deu certo. Eu tive a sorte dele ainda ter lido outras coisas por conta própria. Descobriu que amamentar não é fácil e que muitas mulheres desistem por falta de apoio. Ele acabou decidindo me ajudar nessa empreitada e minhas tarefas pós-parto se resumem a mim e ao bebê.

Mas voltando ao parto. Por que eu falei do vínculo? Existe muita coisa que não é regra e que as pessoas fazem parecer que sim. Esse negócio de falar com o bebê e sentir uma ligação cósmica com ele a partir do momento que se descobre a gravidez é um deles. Eu nunca consegui levar muitos papos com o Antônio quando ele estava na minha barriga. Eu pensava e pronto. Não conseguia falar com ele como se ele ouvisse. Para mim era mais fácil acreditar que tínhamos uma ligação telepática do que acreditar que ele me ouvia de dentro da barriga.

Por essas e por outras eu queria um parto normal. Precisava ver aquele ser que se mexia na minha barriga dar o ar da graça. Ver e sentir que ele saiu de dentro de mim e de fato, isso me ajudou muito a estabelecer o meu vínculo com ele, pois assim que ele nasceu eu amei aquela coisinha branca e enrugada que veio para o meu colo e que tentava se adaptar ao novo ambiente hostil que se encontrava. Foi o momento mais emocionante da minha vida. Até hoje eu choro ao lembrar do meu parto. É fato que o instinto de proteção que sentimos é tão forte que demora um tempo pra você sentir o amor pelo bebê. Mas esse só vai crescendo.

Eu não sou uma pessoa que gosta de fazer o que todo mundo faz. Não tirei fotos do meu parto, não filmei e também não postei milhões de coisas na internet. Eu queria que aquele momento pudesse guardar a magia das memórias de infância onde quase sempre as fotos não condizem. Queria que cada um dos presentes guardasse suas próprias impressões e que cada vez que conversássemos sobre o assunto, algo novo surgisse.

As vezes eu me pego lamentando pelos outros (o inferno são eles mesmo!) por não ter provas para me gabar do meu parto. Mas nessas horas eu me lembro do Marcos vestindo as roupas do hospital cortando o cordão umbilical com os olhos cheios de lágrimas. A nossa doula-fada Jéssica que soube interpretar a intimidade do momento e conseguiu tirar as poucas fotos que temos do nosso parto com toda a magia do momento... Eu não me arrependo de nada, nem do que deu "errado".

"Finalmente"!!!

Como foi então o meu parto? Bom, aconteceu numa segunda-feira. Eu estava com 41 semanas e cinco dias. Como toda mãe logo conhece a culpa, eu comecei me sentindo mãe pela culpa. Achei que o meu bebê estava muito quieto. Esse sentimento foi piorado pelo fato de muita gente me ligar perguntando se "já tinha nascido". Quando dizíamos que não, sempre ficava no ar aquela sensação de que estávamos sendo irresponsáveis e negligentes. Tentávamos explicar que a DPP é uma data PROVÁVEL e não certa do parto, mas não adiantou. Aquele sentimento de culpa me invadiu e eu fiquei com medo de estar arriscando a vida do meu filho. Com isso, a minha GO pediu que eu fizesse um exame chamado cardiotocograma (ou algo assim). Que marca os batimentos cardíacos e os movimentos do bebê num gráfico.

Fomos fazer o exame e eu fiquei quase duas horas esperando. Nesse tempo, o meu café da manhã já tinha ido embora. O bebê estava quietinho para poupar energia, já que eu estava com fome. Na hora do exame a médica responsável, acho eu, que foi bastante irresponsável. Pois além de me deixar duas horas esperando ainda não tinha o aparelho certo para estimular o bebê. Ela simplesmente sacudiu a minha barriga e fez o exame. No seu laudo, não mencionou a precariedade do método de estímulo e ainda disse no final que com 41 semanas eu tinha que pensar seriamente no que fazer. Basicamente me deixou entender que eu estava sim colocando meu bebê em risco, já que escreveu que os batimentos cardíacos eram insuficientes.

Minha médica ouviu meu relato e pediu que eu repetisse o exame em outro lugar. Acabei fazendo com ela mesma na Maternidade Municipal de Londrina, onde o resultado foi bem diferente. Ela me tranquilizou dizendo que poderia sim esperar até 42 semanas. Mas eu não aguentei. A semente da discórdia já havia sido plantada. O medo de qualquer coisa no bebê venceu a tranquilidade. E eu induzi o parto com um medicamento chamado misoprostrol (eu acho).

Cheguei no hospital super calma. Levei uma muda de roupa pra mim e uma para o Antônio. Achei que o negócio era parir, ele nascer e a gente ia embora no dia seguinte. Hahaha "What fools these mortals can be!" Fiquei lá tomando o medicamento para prevenir o Antônio do strepitococos e esperando o trabalho de parto começar. Até aí tudo bem. Mas a minha mãe e a minha sogra estavam na minha casa e não quiseram ficar lá esperando. Foram nos visitar com a promessa de que no máximo umas cinco da tarde iriam embora. Minha mãe de vez em quando soltava que não era muito tarde para mudar de ideia, que eu poderia fazer uma cesariana.

Eu escrevi o meu plano de parto, mas o Marcos não me incentivou a imprimí-lo. Ele achou que era exagerado e burocrático demais. Mas no final descobrimos que nem nós dois tínhamos nos comunicado sobre tudo o que queríamos do parto. Eu escrevi que não queria duas pessoas no meu parto: a minha mãe e a minha sogra. Também escrevi que não me importava de parir no quarto, já que não era permitida a presença de doulas na sala de parto.

Sei que a minha bolsa estourou umas 20h e o trabalho de parto foi logo começando. Minha mãe e minha sogra ainda estavam no hospital e eu me vi achando que ia ter meu bebê sob pressão. Nessa hora acho que virei bicho-mãe. Me tranquei no quarto e disse que não saia mais de lá e falei para o Marcos tirar as duas do hospital. E lá fui eu para a partolândia. Não sei exatamente que horas a Jéssica, minha doula, chegou lá, mas de repente o clima mudou. Eu ganhava massagem, umas palavras mágicas sussurradas no meu ouvido e ela e o Marcos tentando me ajudar a passar de uma forma mais tranquila pelas contrações que rapidamente estavam de matar.

Mal sabia eu do rolo que o Marcos passou com a mãe e depois com o pediatra enquanto eu estava lá do outro lado. Nós tentamos marcar uma consulta com o pediatra inúmeras vezes, mas como ele era amigo dos meus sogros, também pediatras, disse que estava tudo bem que não ia ter problemas. Falamos que queríamos um parto mais humanizado, pegar o bebê no colo antes dele passar pelos procedimentos e etc, mas ele pareceu não dar ouvidos. Disse que era a favor do parto humanizado e da amamentação exclusiva nos seis primeiros dias de vida do bebê. Hoje desconfio que ele não sabia o que significava um parto humanizado. Meia hora antes do bebê nascer o Marcos estava ouvindo dele que no quarto ele não faria, que era parte da conduta profissional dele e que a Sociedade Brasileira de Pediatria também não recomendava que isso fosse feito.

Ah, eu esqueci de mencionar que a minha sogra saiu do hospital brigando com o meu marido porque nós íamos ter o bebê no quarto e que estávamos colocando a vida do nosso filho em risco. O Marcos não comentou nada comigo, mas passou o trabalho de parto todo tenso com medo de acontecer algo com o Antônio. Depois eu me senti muito mal pensando no Marcos e como ele deve ter se sentindo ouvindo de sua própria mãe que ele estava colocando a vida do Antônio em risco. Eu já havia lido muita coisa sobre parto humanizado, mas descobri que ele não sabia a diferença entre parto natural, normal e humanizado. Que nem sempre um parto normal é humanizado.

Eu agora me concentrava na dor e como respirar durante as contrações que vinham cada vez mais fortes. Eu gritava muito, mas achei que ia aguentar, e a princípio não queria anestesia. Não dei conta. Com oito de dilatação comecei a pedir a anestesia que fui receber com 11 (eu acho), mas mesmo assim não mudei de ideia. Comecei a parar de respirar durante as contrações e sabia que essa era a pior coisa que eu podia fazer. Fiquei com medo de não ter oxigênio suficiente para o Antônio, e isso eu sabia que era o maior medo do Marcos.

Mas quando a anestesista chegou, pareceu bastante contrária a ideia de anestesiar uma paciente no quarto. Eu me lembro até que ela fez um comentário sarcástico, mas depois de um tempo dentro do quarto, foi contagiada pela aura da partolândia. Eu já estava recebendo minhas doses de ocitocina, mas achava que todo mundo esta envolvido no clima. A música estava muito boa. Florence & the Machine. Eu olhava a enfermeira e ela com uma expressão calma e feliz. Todos estavam assim. Acho que o Marcos nesse momento deixou um pouco as preocupações e começou a participar do clima.

Eu tinha sono. Não me lembro se as pessoas falavam com o tom normal comigo ou se todo mundo estava falando baixinho. A anestesia fez efeito e eu fiquei muito feliz em não ter sido teimosa. Nada contra as mulheres que querem sentir ao máximo suas dores, mas no momento que a anestesia fez efeito me lembrei imediatamente daquela passagem na Bíblia em que Deus condena Eva e todas as mulheres a parir com dor. Nessa hora eu disse a frase que, para mim, foi a frase do parto: "Parir com dor é muito bíblico pra mim".

Nesse momento todos riram e eu vi uma pessoa que não estava lá antes. O pediatra. Não era aquele que conversamos, mas acabei dando sorte. Ele se apresentou super calmo e eu me dei conta que o Antônio devia estar quase saindo. O expulsivo estava a todo o vapor. A minha GO, Dra Marlene Nonaka (médica humanizada!!!) me orientava sobre como fazer força, já que eu estava anestesiada. Mas a quantidade foi pouca. Só para aliviar a dor mesmo. Eu ainda sentia os meus músculos contraírem. Fui fazendo força a cada contração e de repente vi aquela coisinha suja e pequena surgir ao mundo. Estava tocando uma música da Florence bem lenta e eu me esqueci o nome. Lembro que durante o TP pedi para colocarem algo mais animado para que eu não dormisse. Peguei o Antônio nos braços e disse "Oi, filho! É a mamãe!"

O Marcos falou com ele, mas nesse momento, parecia que o tempo havia sumido. Ele se aconchegou no meu colo, mamou e eu finalmente chorei com a sensação de dever cumprido. Com toda a emoção represada, pensei "eu pari". Coloquei o meu filho no mundo e isso ninguém pode me tirar. Deu tudo certo. Ele não teve absolutamente NADA. Ficou conosco o tempo todo. Nada de caixinha nem enfermeira. Do meu colo ele foi para o colo do pai e ficou mais um tempão. O que eu não consegui fazer o Marcos fez. Ele cortou o cordão umbilical, estava presente no primeiro banho (que eu não vi porque desmaiei de sono). Mas eu sei que depois que ele nasceu, a sensação foi de tranquilidade, paz. Me irritava continuar no hospital para fazer "teste do pezinho, da orelha, do olho...". Tudo que eu queria era estar no meu canto com o meu filho. Mas dos males o menor.

A família estava completa e eu havia finalmente me tornado mãe. Algo que eu sinto que me torno mais a cada dia. Sem deixar de lado todas as outras identidades e papéis que vieram primeiro.






quarta-feira, 29 de abril de 2015

Difícil falar alguma coisa

Complicada é a situação que me encontro. E falar alguma coisa em meio a essa barbárie orquestrada pelo governador do Paraná de conluio com 31 laranjas contra os professores do Estado me embrulha o estômago. Pensar que meu marido se tornará um professor nesse Estado me entristece. Chegamos aqui cheios de esperanças. Tínhamos a ilusão de que os estados do Sul eram menos retrógrados. Sabíamos que aqui não era a Suécia, onde moramos no ano de 2011. Também sabíamos que não estávamos na capital, e isso faz uma certa diferença. Mas foi lá onde tudo ocorreu.

Como pode o país pensar em economia ou qualquer coisa quando algo desse tipo acontece com os professores??? Sabe quem são os professores? Os poucos que não pensam só no seu próprio umbigo. Que gastam suas pernas e suas cordas vocais todo santo dia tentando fazer algo que possa realmente mudar o país.

É inadmissível sermos chamados de baderneiros. Nós sabemos bem o que é uma baderna. Lidamos com alunos indisciplinados, salas superlotadas, falta de infraestrutura todos os dias. Sabemos que fazer baderna é o pior jeito de se fazer uma reivindicação. Os professore do Paraná não foram ouvidos. Eu acho que depois dessa o governo não pode falar que tem qualquer compromisso que seja com a educação. Talvez que queria extinguir a mesma. Espero mesmo que o Governo Federal intervenha no Estado do Paraná para que os meus colegas possam recuperar a paz. Trabalhar com dignidade, serem pagos pelo trabalho nobre que fazem. Porque ao contrário dos políticos, que ao votarem algo em sessão extraordinária, ganham uma hora extra maravilhosa chamada jetom, nós, professores, não ganhamos extra pelo preparo de aula, pela correção de prova, pelo atendimento aos pais... Não dá nem pra comparar.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A maternidade empodera mulheres?

O problema dos conceitos é que eles podem ser estendidos até a exaustão e podem também acabar perdendo o sentido, ou se esvaziando, se preferirem.

A palavra empoderamento me é muito cara. Lembro bem do meu caro amigo Davi Miranda querendo retirá-la da minha dissertação por não constar no VOLP. Claro, depois que eu expliquei que era um conceito do feminismo e que ele poderia deixar o empoderamento quieto no texto, ele concordou. ;)

Empoderar não tinha um equivalente em português e foi uma tradução do termo em inglês empowerment. Não é o mesmo que dar poder e por isso não pode ser substituído pela expressão. Quando vc dá poder, cede algo que é seu a alguém. Como a mãe que no desespero para fazer o filho se comportar pega emprestada a autoridade do pai e diz "se vc não se comportar eu vou falar para o seu pai". Ela mesma não tem autoridade e precisa invocar a figura paterna para que o filho a obedeça.

Por isso, no intuito de fazer mulheres como essas e grupos minoritários terem eles próprios poder, cunhou-se o termo. Empoderar é dar meios ou acesso aos meios para que os grupos desempoderados possam ter acesso ao conhecimento e mecanismos que possibilitem a tomada do poder. Coisa linda!

(In)felizmente muitas mulheres apenas tomam conhecimento desse termo pelo parto humanizado ou pela maternagem. É bom pois assim elas tem a possibilidade de fazer com que seu parto seja algo humano e uma escolha própria, e não uma prescrição médica autoritária. Mas é ruim porque muitas vezes passa a ideia de que somente a maternidade é capaz de empoderar uma mulher.

Agora que eu sou mãe, talvez possa falar às minhas colegas de pós-graduação que a maternidade é sim uma condição que reúne mecanismos de empoderamento feminino. Mas também ela pode ser travestida de um discurso empoderador e no fim, continuar responsável pela inexpressiva participação da mulher na sociedade.

É um tema bem complicado e eu confesso que nem tenho mais opinião formado sobre o assunto. Tenho sim algumas reflexões. Uma coisa que eu tento optar, sempre que tenho dúvida, é pelo meio termo. Claro, nem sempre é possível, mas ajuda muito.

Digo isso porque vejo algumas amigas mães tentando ser a mulher maravilha. Eu já assumo logo que não tenho super poderes e vou ser feliz comigo. Por exemplo, eu não tenho o poder de ir ao banheiro com o meu filho no sling. Não tenho o super poder de ficar com ele horas no colo pois minha mão fica dormente. Não tenho o super poder de adivinhar de imediato todas as necessidades dele e ele chora. Não tenho o super poder de me multiplicar e cuidar da casa e do desenvolvimento emocional, físico e motor do meu filho. E principalmente não tenho o poder de ser a melhor pessoa para ele o tempo todo. As vezes o colo do meu marido é mais gostoso, o banho dele é melhor e as vezes ele está mais descansado e tranquilo para tomar uma decisão sobre ele ou nós tomarmos em conjunto.

Eu acho lindo criação com apego, mas acho um pouco complicado na nossa sociedade. Não li muito a respeito, mas me dá a impressão de ser mais uma cobrança para a mãe. Aliás, eu adoro o pediatra do meu filho, mas toda vez que ele me diz que é uma maravilha para o meu filho eu estar desempregada pois além de eu ser responsável pelo desenvolvimento do meu filho com a amamentação eu sou importante também pelo desenvolvimento psicológico dele, eu tenho vontade de mandar o doutor às favas.

Todo o contato que o meu filho tem com o mundo é importante para o desenvolvimento psicológico dele! Esse discurso é muito freudiano. É como aquela passagem que ele diz que basta a mãe colocar uma foto do pai na parede e apresentá-lo a criança que seu papel na criação está feito. O que é importante não é a quantidade do contato e sim a qualidade. Se eu estou me matando para cuidar dele e frustrada não vou ter um contato tão bom como aquele da mulher que está bem consigo mesma, mesmo que tenha pouco tempo para ficar com o filho.

E falo que tempo para ficar com o filho não é uma escolha na nossa sociedade brasileira. Uma mulher que abdica da sua carreira para ficar com o filho nem sempre toma a melhor decisão, pois corre o risco de, lá na frente, quando o filho estiver criado, ter um vazio enorme na vida. Mas estamos chegando ao ponto de termos apenas duas escolhas: ou você tem filho ou você trabalha. E o pior, nenhuma dessas escolhas te faz ter o respeito da sociedade, por mais que se diga que mãe é a coisa mais importante do mundo e etc.

Se vc abdica da sua carreira para ser mãe, fica na dependência financeira do marido ou da família. Se vc continua, vive sob a culpa da negligência. O termo "menas mãe" que eu tanto odeio. Cada mãe é de um jeito e não existe apenas uma fórmula para criar filhos ou um jeito certo, um manual ou uma teoria.

Eu concordo com minha amiga Stella. A gente tem que dar amor, carinho e respeito. O resto vai o que dá. Se tem leite, dá peito, se não tem, dá fórmula... O importante é a gente estar bem para não descontar nada na criança. Tem que ter sanidade acima de tudo. Não acho certo essa coisa de obrigar a mulher a fazer as coisas sob a lógica da culpa. Me dói o coração mulheres que passaram pelo maior sufoco e tiveram que fazer uma cesárea se sentirem mal e chorarem. Ou aquelas que tem complicações, que ficam com o seio sangrando, mas vão até o limite para tentar amamentar porque os manuais, panfletos e médicos dizem que o leite materno deve ser a ÚNICA fonte de alimento da criança.

Que sociedade é essa em que começamos considerando a mãe como um ser do qual se pode tirar tudo? Não concordo. Eu estou bem, meu filho está bem. Se eu tiver que trabalhar e ele largar o peito, é porque era pra ser. Não quero que o meu filho cresça achando que é normal só eu cuidar dele ou que eu faça tudo por ele. Eu quero sim que ele tenha segurança ontológica para ser independente e feliz, mas quero que ele saiba que existe um limite para as coisas que eu posso fazer por ele. E eu faço sim tudo o que eu posso.

É claro que eu gostaria de poder acompanhar todos os momentos do desenvolvimento dele. Mas eu gosto de trabalhar e não quero me sentir mal por isso. Além disso, para mim e muitas outras mulheres, trabalhar não é uma escolha. E para aquelas que podem escolher, é bom lembrar que a conquista dessa escolha foi um marco e um avanço na nossa sociedade do qual não podemos nem pensar em desejar um retrocesso.

E se eu tiver que trabalhar e perder os preciosos momentos do desenvolvimento do meu filho, que fique registrado que a culpa não é minha, e sim dessa nossa sociedade cara de pau que diz que valoriza a família, mas não estende a licença paternidade, nem a maternidade, não constrói creches públicas em número suficiente, não promove cidades mais seguras para as crianças, não dá nenhum benefício (real) para quem tem filho e etc.

Acha exagero? Talvez, mas coloco um questionamento: Porque as taxas de natalidade tem despencado no Brasil?

É uma maravilha ter filho. Toda vez que eu vejo meu bebê sorrir feliz eu ganho o meu dia. Quando ele dorme tranquilo, também. Mas não é mais possível pra mim e para muitas outras mulheres, assumir um padrão de maternidade que não condiz com a realidade do dia a dia das mulheres brasileiras. Estamos cansadas da tripla jornada. E como diz Elizabeth Badinter, não estamos mais discutindo isso publicamente, estamos sim tendo o número de filhos que podemos ter, numa revolução silenciosa. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Maternidade no Brasil X Suécia

Muito tempo sem escrever no blog. Talvez eu tenha até perdido a prática. Mas a gente sempre tenta.

Agora que sou mãe fica um pouco difícil falar de outra coisa. Eu assisto jornal e tudo, mas sinto uma preguiça de conversar sobre política... Acho "engraçado" o governo estar fazendo esse monte de corte em setores estratégicos e ter a cara de pau de me dizer que educação é a prioridade. Meio milhão de brasileiros tiraram zero na redação do ENEM. A educação tem mesmo que ser a prioridade. Mas vou deixar esse assunto para um outro post (se possível), pois não é sempre que consigo fazer o pimpolho cochilar durante o dia.

Tenho duas amigas que moram na Suécia que estão mais ou menos na mesma situação que eu. Uma tem um bebê da mesma idade do meu e a outra está grávida. Eu não converso muito com elas porque o fuso horário complica as coisas, mas mesmo sem muito contato, apenas pelo facebook, eu morro de inveja, e muitas vezes me lamento de não estar lá. Não vou me mudar pra lá porque não tem emprego compatível com a minha qualificação e a do meu marido, mas as vezes não consigo deixar de me lamentar (nessas horas tento me lembrar do inverno)

Motivos da minha inveja: Elas tem 18 meses de licença maternidade. Essa licença pode ser dividida com o pai da criança, o casal decide. Desses 18 meses o pai é obrigado a ficar com o filho por 2 meses.

Além disso, tem outras coisas, como por exemplo, a mobilidade urbana. Eu mal consigo sair do meu prédio com o Antônio no carrinho sozinha porque a porta fecha em cima de mim, além de ser muito estreita. E não é só isso. A maioria dos lugares pressupõem que vc vai de carro. Não tem a menor infraestrutura para quem quer passear a pé. Pode me chamar de louca, mas eu morro de medo de andar na calçada com o meu filho no carrinho. A velocidade com que os carros passam e a calçada estreita faz com que qualquer colisão entre os carros vá parar em cima da calçada. A chance de sermos atingidos é muito alta. E ninguém em Londrina para na faixa de pedestre, isso torna a tarefa de "passear" nada simples. Eu tenho que sair correndo para atravessar o sinal, porque o tempo que ele fica verde pra mim é ridículo...

Nessa horas eu me lembro daqueles ônibus que inclinam para os passageiros idosos, para os cadeirantes e os carrinhos de bebê entrarem e suspiro de saudade. Me lembro das calçadas largas, da cidade arborizada, calma, sem motos potentes acordando o meu filho quando eu finalmente consigo colocá-lo pra dormir. Fico pensando em como as minhas amigas vão poder confiar na creche do governo, e eu vou ter que pagar um dinheiro que eu não tenho para poder colocar o meu filho na creche...

E nem me lembre do preço das coisas. Nossa indústria reclama quando o dollar está baixo, mas não conseguimos competir, não adianta. Os carrinhos de bebê nacionais não conseguem ter a mesma qualidade. E me diz, porque tudo de bebê, nacional ou importado é tão caro? Porque tem imposto sobre isso?

Fico pensando nos malucos que aparecem querendo benzer o meu bebê ou sendo extremamente indelicados dizendo "tá muito quente pra ele", "tá muito frio", "ele é muito novo pra sair de casa"... E penso que na Suécia ninguém ia nem reclamar se eu colocasse uma saia nele ou fizesse um moicano. Penso ainda que essa "preocupação" é uma baita hipocrisia porque no dia a dia ninguém pensa nem em fazer uma cidade melhor para nossas crianças nem um país. Todos querem que eu compre um apartamento que tenha um play e pague uma babá para ficar com ele lá.

Acho que eu já sei porque não converso muito com minhas amigas na Suécia sobre como está sendo a maternidade pra elas...