quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Liberdade de expressão, um conceito vazio

Sempre que ouvimos a palavra "censura" ficamos no mínimo um pouco incomodados. Vinte anos de ditadura fazem muitos brasileiros esbravejarem aliviados por o Brasil ser um país livre e erroneamente felizes pela mídia não ser mais controlada pelo governo. Quando o governo faz mensão de censurar algo, por mais absurdo que esse algo seja, sempre aparece alguém defendendo a famosa "liberdade de expressão". Mas o que seria isso?

Muitos resumem esse conceito, deveras preenchido de significados, dizendo que é a liberdade de falar aquilo que pensa. Talvez a máxima que diz que devemos pensar antes de falar ou escrever algo derive daí. Bom, se juntarmos ambas as idéias, vemos que elas não são mesmo contraditórias. Podemos falar o que pensamos, mas não podemos falar qualquer coisa. Muito se confunde então o primeiro conceito, de liberdade de expressão com liberdade de falar o que vem a cabeça, sem pensar.

Mas porque devemos pensar antes de falar? As pessoas se comunicam por diversas razões, desde as mais simples até as mais complexas. A premissa da comunicação é que deve existir um transmissor (um locutor), um receptor (interlocutor), uma mensagem e um vetor (fala, escrita, rádio, televisão), se me lembro bem dos termos. Para que a comunicação seja completa, precisamos de todos os elementos. Não adianta falar se ninguém escuta, não serve de nada ter 3 dos elementos se não temos mensagem. Então eu vou resumir muito rapidamente que o objetivo das pessoas em se comunicarem é passar uma mensagem para alguém. A mensagem tem um significado, que muitas vezes pode ser o daquela pessoa que está dando ou apenas algum que ela está reproduzindo consciente ou inconscientemente.

Por isso devemos tomar cuidado com aquilo que falamos e ouvimos. Devemos pensar se aquela mensagem é realmente a que queremos (re)transmitir. A comunicação é muito poderosa. Existem personagens marcados pelos erros e acertos em suas mensagens. No mundo atual, a repercursão de uma mensagem pode ser instantânea e ter consequências desagradáveis. Ao mesmo tempo, por vetores normais, nem todos tem voz para se exprimirem. As minorias são descartadas, ignoradas e muitas vezes ridicularizadas quando tentam falar algo. Outras tantas vezes tem suas vozes dubladas por aqueles que querem dar à sua mensagem uma outra forma.

A mídia, ou melhor, a televisão é o principal vetor de comunicação brasileiro. Todos sabemos que o governdo concede o direito de uso e exploração às emissoras, mas o que elas tem feito com esse poder é bastante diferente daquilo que muitas vezes pregam. Talvez o objetivo maior da mídia em geral é poder e dinheiro e muitas vezes o discurso (a mensagem) que veicula serve para manter aquilo que está trazendo frutos. Ela tenta valorizar seu tempo para que os anunciantes saibam que vale a pena pagar por aquele espaço na determinada emissora porque x milhões de pessoas vão assistir, logo, as chances de vender aquele produto aumentarão. Não sente no seu sofá e ligue a televisão para relaxar pois esse é o último dos objetivos daqueles que estão por trás daquela tela, até a tranquila propaganda de margarina foi feita com um propósito, vender margarina.

Existem profissionais que passam 4 anos estudando técnicas para fazer vc comprar algo, para convencer vc de alguma coisa, que precisa de algo, mas vc não passa 4 anos aprendendo a como não levar esses caras a sério, a separar o joio do trigo. Não existe um curso para defender vc, consumidor/espectador. Isso baseando-se no fato de que apenas produtos, e não idéias são vendidos pelos meios de comunicação. Quando um órgão como o CONAR acata representações de entidades civis para censurar uma propaganda é porque tem gente que não assiste a televisão para ficar tranquilo tentando te alertar. Nessa hora, pare e pense. Talvez essa batalha seja um tanto injusta quando se está sozinho contra isso tudo. Não acho que o governo deveria controlar a mídia, sou totalmente contra isso. Mas acho que ele deveria intervir em alguns casos

Aqueles que defendem a liberdade de expressão quando abusiva, raramente defendem que o locutor arque com as consequências do que falou. Do ponto de vista cru da coisa, todos temos liberdade para dizermos aquilo que nos dá na telha e temos total liberdade e também a obrigação de arcar com as consequências desse ato. É ridículo alguém falar pra mim que o Rafinha Bastos foi injustiçado. Ele falou o que queria e agora está sofrendo as consequências. Na minha opinião, assim como acontece nas campanhas políticas quando um candidato ofende o outro ou inventa algo deve ceder seu espaço para o concorrente, o CQC deveria ser obrigado a ceder seu espaço para Wanessa Camargo ou pelo menos para que o dito cujo que a ofendeu se desculpasse, não sei se isso já aconteceu.

Aliás, para vc que acha o CQC um programa com humor inteligente, sabia que ele não passa de um enlatado copiado da Argentina?

domingo, 16 de outubro de 2011

Gisele Bünchen e a campanha da Hope

Dentro da enorme discussão que gerou a propaganda da Hope onde Gisele Bünchen aparece ensinando mulheres a explorarem seus maridos com a lingerie da marca aparece outro ponto que merece ser observado além do estímulo ao consumismo feminino. Esse ponto é um dos pontos cruciais do feminismo atual: afimar sua importância. Muitos ainda tentam dizer que o feminismo é uma luta ultrapassada, mesmo sabendo dos números alarmantes de violência doméstica. Propagandas como essas da Hope fazem com que feministas do mundo inteiro fiquem de cabelo em pé. Ao brincar com a relação de marido e mulher a empresa colocou de forma irônica algo muito perigoso. No comercial fica evidente quem manda e o que a pobre loira sensual tenta fazer e trocar seu sexo e seu corpo por um poder de barganha.

O comercial tenta passar isso de modo divertido, mas é deprimente. Imagine numa situação real essa mulher seria totalmente dependente do marido não tendo voz nenhuma para dialogar. Porque ela quer que o marido não se zangue? Na realidade de muitas mulheres, desagradar o marido significa apanhar. E, bom, sejamos francos, muitas mulheres da high society apanham mesmo sendo maravilhosas, gostosas e usarem chanel. Elas apanham caladas pois muitas delas casaram para terem uma vida melhor. Não é isso que a nossa sociedade vende? Que dinheiro é tudo? Então, quando uma mulher que tem dinheiro apanha do marido rico tem que ficar calada.

Muitas mães ensinam suas filhas que um bom partido é um cara que tenha dinheiro acima de tudo. Isso é uma prostituição assistida. Mas o que me irrita na questão da propaganda é muitos tentam atacar apenas a Gisele. Não podemos ataca-lá, pois isso é o que ela sabe fazer, vender a imagem. Falando assim parece pesado, mas se analisarmos que o trabalho de modelo consiste em vender apenas a imagem feminina (e do corpo feminino) preenchida de significados pelos discursos patriarcais, podemos encarar, se não como uma prostituição, uma exploração em muitos sentidos, sexual. Para maiores informações, sugiro que assitam esse documentário. Sim, pois ela não está passando a imagem de uma pessoa que é independente e dona de si. Não dá nem um pouco para pensar naquela situação como uma brincadeira entre casais. Aquilo é humilhante. E o mais "irônico" é uma mulher, com toda a fama e dinheiro que tem ainda ficar fazendo campanhas sexistas vendendo a imagem de uma mulher que precisa "agradar" o marido para poder ter dinheiro.

Isso acontece porque as mulheres não são autorizadas pelos discursos econômicos a falarem por si próprias. O corpo feminino é objeto do discurso médico, comercial, mas quem fala nessas instâncias é sempre o homem. Gisele estava apenas seguindo um roteiro que passaram para ela. Mas quem escreveu? Aposto que se perguntarem para ela porque usar a lingerie ela vai dizer tudo, menos isso. Se perguntassem sobre a lingerie, as mulheres responderiam, confortável e básica pois combina com qq roupa e não marca. É isso que uma mulher quer de uma lingerie e não perdão do marido. Até porque a Hope não fabrica lingeries sexys. Se realmente perguntassem para as mulheres porque usamos alguma coisa, as propagandas seriam muito diferentes. Por exemplo, as de absorvente que colocam uma mulher andando maravilhosa, feliz e contente com um vestido branco arrancando olhares dos homens por onde passa porque pode confiar que seu absorvente não vai vazar é ridícula. O que mulher quase nunca quer ter que passar durante a menstruação é uma cantada idiota. No meio das preocupações do dia a dia a gente quer, pelo menos, não se preocupar com o absorvente.

Eu não acho que o humor deve ser ofensivo. Existe muito humor inteligente, aquele que ofende é simplório, coisa de quem não consegue ler um texto com mais de 140 palavras e faz pose de intelectual. Não concordo com a defensivas à propaganda. E bom, se me perguntarem o que eu acho de uma mulher que defende esse tipo de "humor" eu digo que ela é uma idiota, que não sabe que está sendo ofendida. Mas porque ainda existem mulheres que agem dessa forma? Será que é mesmo necessário se encaixar no rótulo de "feminista" par se incomodar com o comercial?

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Não é preciso ser mãe para falar de maternidade

Essa é a questão. Em toda discussão sobre aborto e maternidade sempre aparece uma hora ou outra comentários do tipo "Eu tenho x filhos, decidi (ou não) tê-los e estou muito feliz com isso". Bom, primeiro que muito raramente alguma mulher tem coragem de dizer que se arrependeu de ter filhos ou que a maternidade era pior do que esperava. Muitos podem pensar que a ausencia de comentários negativos se dá devido a perfeita adequação da mulher com a função materna e que as poucas que se arrependem sofrem de problemas psicológicos, mentais e etc.

Bem, eu não concordo com isso. Estou aqui falando do ponto de vista de uma filha, que teve uma mãe e viu a experiência dela de perto (e que ajudou a criar a própria irmã). A maternidade é uma função desvalorizada socialmente. Basta ver os incentivos de governo brasileiro para as mães. Além disso, maternar é apenas mais uma das funções desvalorizadas que a mulher é obrigada a enfrentar diariamente. Somam-se a essa, as tarefas domésticas. Que todos podemos notar que não são compartilhadas pela maioria dos homens brasileiros. Além disso, o cuidado com o bebê é algo cada vez mais complicado, pois a mulher é responsável pela saúde física e mental do feto (pois não pode beber, comer gordura enquanto está grávida), além de ter toda responsabilidade pelo desenvolvimento psicológico do filho. Isso eu li num livro, mas constatei de perto quando minha cunhada ficou grávida. Cada recomendação absurda que as pessoas faziam para ela...

Só que as pessoas esquecem de um pequeno detalhe. Nem toda mulher é igual e nem toda mulher tem aspirações parecidas. Além disso, a realização de uma pessoa tem mais fatores do que apenas a parentalidade. Sejamos francos, vivemos num mundo materialista e individualista e o modelo de maternidade vai contra tudo que a sociedade de consumo prega. Eu não sou a favor desse modelo de sociedade, mas concordo que a maternação não é tarefa exclusiva para a mulher. Eu sou uma que gosto de trabalhar e não sei se me sentiria confortavel dividindo minha vida apenas com um único ser que ainda não desenvolveu nem sua coordenação motora. Para falar a verdade, conheço muitas mulheres que parecem parar de pensar quando deixam de trabalhar apenas para cuidarem dos filhos. Algumas perdem suas habilidades sociais e quando saem de casa são motivo de vergonha, pois não conseguem dar conta de uma conversa adulta e civilizada. Muitas deixam a companhia de pessoas da própria idade, inclusive de outras mães, para brincarem com as crianças. Além de outros pais extremamente chatos que não sabem falar de outra coisa além dos próprios filhos. Eu entendo estar orgulhoso e feliz, mas vamos e convenhamos, algumas crianças não interagem direito com os outros até uns dois anos de idade, e é algo meio chato ser coagido a babar como os pais só porque o moleque falou "agu"? Ele só está fazendo o que todas as crianças fazem.

Tem uma amiga minha que acha crianças extremamente brochantes. Ela não entende como alguém pode ficar bobalhão e sair correndo para abraçar e tirar foto de uma criança que não é sua ou da sua família. Outra coisa engraçada que ela fala é que ela acha que crianças não deveriam ser trazidas para eventos sociais, a menos que elas saibam ficar caladas e não mexer onde não devem. Eu as vezes me irrito com as crianças alheias, principalmente porque alguns pais parecem querer apenas incomodar. Deixam o muleque esguelar, encher o saco, gritar, chorar... As vezes tenho a impressão que eles são como aqueles caras com cartazes dizendo "O mundo vai acabar em ...". Só que os cartazes são os filhos e eles dizem "Salve-se, não tenha filhos", outros querem apenas se esquecer dos moleques por algum tempo.

Mas nem tudo é assim. Existem crianças extremamente divertidas e inteligentes. As crianças europeias são, no geral, extremamente independentes e não ficam na aba dos pais como as brasileiras. Eu acho isso fantástico, pois se vc levar seu filho ao parquinho com um casal de amigos que tenha filhos, todos podem se divertir, tanto os pais quanto os filhos, pois quando os adultos se cansarem, sim, adultos são velhos, as crianças brincam entre si, sem aborrecer. Parece loucura, mas conheço mesmo crianças muito chatas que só brincam com adultos e vc tem que inventar a brincadeira pro muleque e ele ainda tem que sair ganhando.

Outra questão é que a sociedade vê como bom pai e marido aquele que faz o mínimo e como uma mãe normal, aquela que faz no mínimo o máximo. Não tá meio errada essa conta? Se o material genético da criança é 50/50 de cada um porque só um dos pais tem que ter a responsabilidade pelo cuidado? Vamos pensar no aspecto econômico também, será que a sociedade pode se dar ao luxo de desprezar a mão de obra mais qualificada que tem (e que ainda por cima, custa menos)? Ninguém vai convencer uma mulher de negócios a ter filhos se ela sabe que corre o risco de ser demitida porque vai ser obrigada a tirar a licença maternidade por 4 meses sem poder nem ao menos trabalhar meio expediente e que no máximo poderá contar com 1 mês e 2 semanas de ajuda do pai, se o cara quiser emendar as férias com a licença (mas eu acho que nem isso pode mais).

Todo mundo fala "Quando vc tiver filho vc vai entender". Será que isso é uma maldição? Só podemos entender a maternidade depois que tivermos filhos? Isso é um modo de deixar as mulheres curiosas e fazerem elas terem filhos? Será que pelo fato de acharmos que só podemos falar dela depois de passarmos por ela, estamos deixando de trabalhar por ela, de fazer com que a maternidade seja um encargo menor para mulher e que tenha uma maior participação da sociedade como um todo? Será que é por isso que estamos a esperar alguém que resolva esse problema por nós, porque depois de sermos mães, será muito tarde para questioná-la?

Também não é preciso ser mãe para maternar.