quarta-feira, 30 de junho de 2010

Lembrar...

Estou pensando ultimamente em algo bastante nebuloso, a memória, em razão de uma disciplina do mestrado. Não havia me dado conta até então de que mesmo não sendo o centro do meu estudo, a memória sempre vai permear grande parte dos textos literários. Se não for diretamente, indiretadmente pelo contexto. Nesse transe parei para pensar na minha memória. Quantas passagens da minha vida possuem lacunas impreenchíveis, quantas são duvidosas e quantas estão latentes?

Para um cara chamado Maurice Halbwachs a memória é social e coletiva. Eu tenho minha memória pessoal, mas é algo que vem a posteriori. Outra coisa interessante dele é o fato de explicar o funcionamento dela através do grupo. Por exemplo, dependendo do grupo social no qual estou inserida, pode ser ou não importante (ou relevante) pra mim determinado acontecimento histórico. Essa memória coletiva é passada e recordada pelo grupo em parte pelos sentimentos que evoca. Algo que impressiona sua família ou seus amigos ou o seu bairro tem mais impacto do que um decreto comentado em 5 segundos de jornal que afeta somente pessoas de outro estado.

Pegando esse gancho eu resolvi fazer uma analogia. Pode ser que fique ruim, mas pode ser que funcione. Resolvi arriscar. Se algo precisa provocar um sentimento dentro do grupo para que se perpetue, seja lembrado, o que faremos nós com a situação política brasileira? Explico. Com a quantidade de escândalos de corrupção com que somos martelados todo dia pela mídia e outros tantos que não chegam à ela somada a esse sentimento de que tudo ficará impune ou será punido com "premiações" acaba gerando um sentimento de imutabilidade no nosso coletivo maior que seria a nação. Pensamos "Isso não vai dar em nada", "Tudo acaba em pizza" ou "O Brasil é assim mesmo". Tal pensamento repele então o real sentimento de indignação que deveríamos ter pois acabamos por concluir que como não muda, vai ser sempre a mesma coisa, o importante é o resto. Assim nos esforçamos mais para nos inteirarmos da copa do que das eleições (que acontecem no mesmo ano). O que teria mais importância para o coletivo? O que ficará marcado na sua memória?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Eu não queria, mas vou ter que reclamar

Não sei se o resto do país fica sabendo do que acontece fora do eixo Rio-São Paulo, mas devo alertar cariocas e paulistas de que o Brasil é muito maior. As emissoras de televisão e os jornais também não descobriram isso ainda.

Só para exemplificar, aqui em Brasília, um lugar que vive LOTADO de jornalistas (só para falar de política) está tendo uma greve GERAL do transporte público. Esse transporte consiste num monte de ônibus barulhento dirigidos por motoristas insanos e com uma passagem de 3,00 R$. O metrô que só tem 1 linha custa tbm 3,00. Se eu sair da minha casa para pegar o metrô e ir visitar o meu irmão, gasto 5,00 pra ir e 5,00 pra voltar. Se for com o maridão, gastamos 20,00 R$. Foi, mal, manino. Só nos veremos no meio do caminho...

A passagem dentro da cidade custa mais barato, 2,00 R$. O que pra mim é um absurdo se contarmos com a distância ridícula que esse ônibus percorrem. Outro problema é que a malha "busiária" não interliga bem as distâncias. Brasília, aquele aviãosinho, só tem ônibus que andam na paralela. Para ajudar a entender, cada asa do avião é cortada por avenidas paralelas (W3, Eixão, Eixinhos, L2...) e ruas sem nome fazem a ligação entre essas avenidas através de tesourinhas, balões e etc. Esse é o caminho que o ônibus faz da minha casa até a UnB.

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Ele não entra lá por vários motivos. Só existe umas 3 linhas que entram na UnB e nenhuma delas passa pela W3 Norte, que é onde moro. Se eu quiser evitar a longa caminhada da L2 (última parada do ônibus que eu pego pra facul) tenho que ir pra rodoviária (que é no encontro das duas asas), pegar outro ônibus e voltar pra asa norte. O que custaria 4,00 R$ só pra ir. Uma alternativa seria pegar um "zebrinha", que custa o mesmo preço, mas é um ônibus menor que deveria andar por dentro das quadras. Em teoria ele deveria fazer isso (mais ou menos pq eu não entendo bem o googlemaps):


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Mas ele não faz. Em geral, o zebrinha faz o mesmo caminho que o ônibus normal. Depois de toda essa estupidez, somos obrigados e ficar 4 dias sem NENHUM transporte público, dependendo da desição de um governador postiço e já ouvimos rumores de um possível aumento de passagem sendo que o serviço é ruim e ineficiente. Essa é boa! Essa é a razão pela qual eu comprei uma moto. O trajeto que o ônibus faz em 20min (tem que ser completo com 10min de caminhada) eu faço em 7min (sem correr) de moto e paro na porta.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Literatura hoje em dia

O que é a Literatura hoje em dia? Todos podemos perceber que as novas mídias vem mudando a cara da informação e consequentemente da Literatura como esta era conhecida. Já possuimos livros eletrônicos, aparelhos para lê-los, copilações em pdf e é claro, blogs. Os escritores hoje podem ter sua própria página na internet e publicar sua coluna ou seus textos on line. É uma revolução? Certamente que sim. Ocorre uma mudança de linguagem por causa desse novo meio, mas não chegamos a popularizar a literatura.

Muitos vão dizer que é devido ao fato de nem todos terem acesso à internet e/ou um computador em casa. Mas eu acho que é apenas um dos problemas. Mesmo aqueles que possuem acesso à internet de casa não investem muito do próprio tempo em atividades de leitura. Eu tiro minhas afirmações de observações pessoais. Meus alunos, a maior parte de letras, relações internacionais e outras disciplinas das humanas sofrem para ler qualquer texto literário que eu leve para aula. Fico impressionada com a falta de familiaridade deles com o literário. Tudo bem que eu me impressiono também com a falta de senso crítico de muitos até mesmo na hora de ler um texto jornalístico. Mas a diferença é muito grande. Os alunos não são capazes de abstrair, se prendem ao dicionário e querem precisão entre palavras e significados sem perceberem que é a frase que dá o sentido. Quando os focos narrativos se misturam é pane na certa. Outros tantos são incapazes de aceitarem o absurdo ou o sarcástico apresentado pelo autor e todos consideram as descrições dispensáveis. Aquilo que era para ser fácil passa a ser difícil e no lugar de explicar os sentidos que a língua dá ao texto por meio de suas estruturas eu acabo tendo que explicar o texto.

Porque os alunos não vão além do que está escrito? Será que a difusão maciça de informação fez com que as pessoas esperassem por alguém que mastigasse o sentido para elas? Todos sabemos das deficiências no ensino brasileiro (mesmo o privado), mas porque será que isso persiste na universidade? E o que mais me questiono: será que os alunos não entendem mesmo ou são preguiçosos?

Não posso dizer que isso é uma exclusividade de quem está em "processo de aprendizagem" (estamos sempre) ou estudando. Acho que essa é uma característica que se estende para outros ramos. Quando trabalhava no Senado via que fora da minha sessão as pessoas não liam e passavam o dia todo na internet. Era muita falta de assunto. Não que a literatura "salve". Longe de mim dizer isso. Mas acho que é um exercício para o intelecto, um pouco mais rico que palavras cruzadas. Para mim uma das maiores contribuições que podemos tirar da literatura é um aguçamento da percepção que tanto pode enriquecer o senso crítico quanto à imaginação. Grande parte das reclamações provenientes da leitura de textos muito descritivos está na incapacidade de se imaginar aquilo que o autor descreve.

Mas nem tudo está perdido. A Literatura se renova. O cinema tem sido cada vez mais um forte aliado. Não posso dizer bem a razão, mas adaptações de livros para o cinema tem sido cada vez mais frequentes. Será que foi uma greve dos roteristas? Ou uma tremenda falta de criatividade que assolou o mercado e fez com que eles reparassem que os filmes estavam todos iguais? Bom, se contarmos com a diversidade de tramas, a Literatura pode abastecer o cinema por muitos anos. Minha questão é: o que mais, além do cotidiano, da imaginação e dos sentimentos pode abastecer a literatura? Até quando o público leitor será um incentivo? Esse público limitado será suficiente ou a Literatura se renderá ao gosto popular? (Será isso um problema?)

domingo, 13 de junho de 2010

Habemus COPA!!!

Dios mio! Mon dieu! Meu deus! Ou simplesmente "Nó" (Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!). Quando é que essa Copa acaba? Eu sei que ela dura pouco, mas a tortura começa bem antes, uns dois meses antes. Os jornalistas enchem a paciência de quem não vive para o futebol. Eu não aguento ter que engolir 9 entre 10 notícias sobre a copa. Até os meus "pinga-sangue" foram substituídos por programas especiais da Copa. Ahr! Os meus alunos agora só falam em duas coisas "prova" e "Copa". O programa de todos é a Copa. Planos e mais planos "onde ver o jogo", "o chefe vai ou não dispensar", sites para assistir os jogos na internet que não são bloqueados, roupas para torcer... Eu não aguento! Não tenho nada contra a copa, entendo de futebol e torço pelo Brasil, mas a minha vida não para por causa disso. Eu vou assistir ao jogo mais pela comoção nacional do que pelo jogo. Prefiro os jogos a partir das oitavas de final, pois antes disso costuma ser monótono e uma "pelada". Eu quero pensar em outra coisa. Tenho que trabalhar, depois do jogo a vida volta ao normal.

Quando o De Gaulle (correção da Amanda, obrigada!) disse que o Brasil não era um país sério eu concordo em parte. Onde já se viu, num país que tem uma semana de carnaval - férias depois das férias, parar por um jogo de futebol? O povo enche a cara bem no meio da semana, deixa de trabalhar, mas tudo compensa, é jogo da seleção. Tem gente que fica triste, deprimido só por causa disso. Como se fosse o próprio responsável pela derrota. Eu sinceramente não aguento 24hs por dia 7 dias por semana. O pior é ver as reportagens pretensamente interessantes dos jornalistas a respeito da África do Sul mostrando mal um país complexo e culturamente muito rico. E por incrível que pareça, se a televisão só mostrasse os jogos eu gostaria mais da Copa. Sinto saudades de não ter televisão...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Para que serve...

... um escritor num país de analfabetos? Já dizia Graciliano Ramos. Para que serve um mestrado em Literatura? Já me perguntaram certa vez. Me perco em meio a tais reflexões. Sinto-me nadar em círculos e nunca chegar perto da margem. Quando sinto que chego a algum lugar vejo que não passa de uma miragem. Estar no meio é pior do que começar. Se disiste perde metade do trabalho, se continua falta, metade por trabalhar. Sinto-me pessimista vez ou outra. O velho dilema da realização pessoa me aflinge. Sou demasiado tímida para ter sucesso. Minha auto-confiança é débil. Vejo ao longe novos panoramas, mas será que algo novo realmente me espera? Cada vez mais descubro que bons escritores surgiram do meio acadêmico (que para minha surpresa não é estéril), mas são bons críticos também. Qual a possibilidade de ser uma escritora mediocre e uma acadêmica brilhante? O contrário também me é possível? Impossível ser os dois? Dos sonhos de minha vida desisti de grande parte. Ginasta não pude ser, mamãe dizia que eu ia ficar baixinha. Jogadora de vôlei tão pouco, tenho 1,52m. Cantora de rock ficou pra trás na primeira vez que ouvi minha voz gravada. Guitarrista, quando vi o preço da guitarra. Presidente da república assim que entendi o que é política. Artista plástica quando percebi que não receberia nenhum apoio financeiro da minha família nem tão pouco conseguiria trabalhar em outra coisa caso não tivesse sucesso. Para que sirvo eu, afinal?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Da família, ou Família?

Gostaria de começar o post agradecendo os comentários. Eu achei q o post anterior nem ia vingar, mas deu até pra ler desabafo e outras coisas mais. hehehe

O que ia ser um comentário respondendo os outros comentários ficou tão grande que teve que virar post, mas eu ainda quero fazer minha resenha do filme Sex & The City 2 (agora que minhas amigas já o assistiram e não vão me acusar de spoiler).

Pois é, gente. Família e "adultice" (ou maturidade) parecem conceitos muito antagônicos. Afinal, somos parte do comercial de margarina quando somos jovens, depois, na idade adulta parecemos destoar um pouco do núcleo familiar, que são os pais - casal. A escritora e estudiosa Germaine Greer fez nos anos 80 uma interessante observação sobre esse tema revelando que a maioria dos estudos sobre família até então se focavam realmente no casamento e não na família. Ela postula ainda, que para ela a Família é realmente uma família com "F" maiúsculo quando as relações se concentram no casal e quando ele é a base da família. Nós estamos acostumados a ver, destoando dessa imagem, famílias que se concentram nos filhos. Eu concordo com a Germaine num certo ponto, afinal, quando os pais colocam os filhos acima do seu relacionamento esquecem que a felicidade dos filhos pode se derivar da deles. Os filhos normalmente se sentem culpados pela infelicidade dos pais - e muitas vezes ouvem isso literalmente. Esse dramalhão mexicano (digo mexicano pq latino) é comum pois temos uma educação extremamente dependente economica e financeiramente dos pais. Um problema é o emocional - demoramos muito para começar a tomar as decisões por nós mesmos (não sei se isso é um problema exclusivamente feminino). Temos dificuldade com coisas práticas, por exemplo, entender todos os trâmites de um contrato de aluguel ou de venda. Outro problema é quando você se torna mais preparado (estudado) do que seus pais. O poder financeiro está lá para "baixar a sua bola". Afinal, se você é tão bom assim porque precisa da mamãe e do papai? Verdade é que a sociedade brasileira não valoriza muito o trabalho, apenas o bem remunerado. Você é considerado um idiota de perder a oportunidade de trabalhar morando na casa dos pais e economizando dinheiro para comprar sua própria casa em troca de ser dono do seu próprio nariz levando uma vida dura e pouco confortável dependendo somente de si mesmo. Isso faz com que esqueçamos o quanto nossos pais tinham quando se casaram e queremos sempre começar a vida melhor do que eles, mas sempre dependendo deles. Evidentemente eles cobram um tributo e tentam controlar a sua vida.

 Depois que casamos, formamos outro núcleo e a família antes nuclear parece mais distante. A situação demora um pouco a tomar forma. Acho que esse é o principal choque. De início me senti livre e vencedora, senti até mesmo vontade de falar um "NÃO PRECISO MAIS DE VOCÊS PRA NADAAA!!". Mas aos poucos fui entendendo muitas das reclamações deles. Principalmente com relação à organização da casa (na minha casa não havia empregada e uma faxineira esporadicamente). Por mais que pareçam claras as divisões das tarefas minha mãe ficava encarregada de uma logística avançada e quase invisível que ocupava tempo e desgastava. Parte dessa logística estava ligada ao fato dela ser mulher e coisas simples como decidir onde ficarão os móveis, o q tem q comprar para casa e oq colocar em cada gaveta. Toda vez que outra pessoa reclamava de fazer uma tarefa irrisória, a irritação transbordava. Mas a minha mãe nunca foi muito boa com as palavras e a gente não entendia isso. Hoje consigo ver com mais clareza do que ela, e estou conseguindo dividir isso com o Marcos. Outro problema era passar a tocha olímpica do esforço feminino pra mim. Se o meu irmão e o meu pai não faziam nada eu tinha que fazer, mas eu não entendia porque a bronca que ela dava em mim não podia ser dada neles. Estava óbvio que se eles ajudassem era menos serviço pra gente. Mas eu fui ingênua, poderia ter feito a minha parte como o meu irmão fingia fazer a dele e ser poupada do ódio da minha mãe. Será? Nesse ponto eu sei que se eu fizesse o serviço ganharia mais serviço. E já que ela ia me culpar de qq jeito por lhe revelar o estigma que ela mesma carregava era melhor ouvir as broncas e ficar com a cosciência limpa. Mas realmente a convivência não é nada fácil quando se toma essa decisão. Minha irmã tem certamente uma vida mais fácil depois que eu rompi as barreiras para ela, mas se ela adquirisse a consciência que eu tenho hoje ou já teria saído de casa ou viveria em paz com a minha mãe. Pelo menos não tem mais nenhum homem na casa para causar a discórdias. São só duas mulheres para dividir o trabalho.

O meu senso prático não é o melhor do mundo. Como a Mari disse, a Drica de 3 anos atrás era uma pessoa bem confusa e problemática. Mas é incrível perceber como a experiência quando refletida pode nos trazer sabedoria (e senso prático). Eu sempre fui uma pessoa que analisava as próprias atitudes posteriormente para ver onde eu tinha errado e se eu podia ter feito diferente. Muitas vezes isso me deixava louca, mas sempre me ajudava a fixar na mente os erros que não queria mais cometer. Todo esse conhecimento ficou armazenado no meu cérebro, mas não conseguia ser acessado, até o dia que eu tive uma epifania. Parecia coisa de filme. Eu fui vendo o meu passado e via que o que me fazia fazer sofrer era a mesma atitude de sempre e então aquilo que o meu pai falou tantas vezes entrou definitivamente na minha cabeça. Não sem uma ajudinha do Anthony Giddens, da Silvia Pravaz, da Rita Terezinha Schmidt, da Cíntia Shwantes, da Andrea Nye, da Virgínia Woolf...  Temos que levar nossa família menos a sério do que a Família que vamos construir (nem que seja só vc e seus amigos) e não adianta, no meu caso, tentar agradar a minha mãe. Se eu fizer o que ela quer, ela vai querer outra coisa. Ou seja, faço o que eu quero e tento não magoá-la. Isso significa que fico distante o máximo possível para não dar briga. Afinal, eu não quero carregar nenhuma mágoa extra quando ela for embora. Quanto aos problemas do casal, eu confesso não ter tido nenhum sério, mas sei que não serei imune, apesar de querer bastante. Nesse caso, será assunto para um outro post e será um assunto de Família, da minha Família.