quarta-feira, 25 de junho de 2014

Brasília é uma cidade turística, mas não é preparada para receber turistas

Mais uma vez eu me espanto com a maneira com que vemos as críticas.

Felizmente eu tive a chance de turistar em algumas cidades do Brasil e outras fora daqui. Entendi muito do que o crítico do New York Times falou em sua reportagem e achei um pouco exagerada a reação por parte de alguns brasilienses.

Não me entendam mal, todos tem pontos em seus argumentos. Começo dizendo que a percepção de alguém de fora e de alguém que mora na cidade são diferentes. O modo como a cidade lida com turistas e com nativos também é. Brasília, como muitas outras cidades no Brasil não é preparada para receber turistas, por mais que tenha potencial turístico.

Não temos mapas da cidade em locais de fácil acesso. Não existem itinerários dos ônibus nas paradas ou qualquer outra informação em outra língua que não seja nas recentes placas de sinalização. Não existe um cartão da cidade que te dê desconto em peças e shows e que sirva também para o transporte público. Eu não sei como funciona o cartão do metro e se existe alguma integração entre ônibus e metro em Brasília, mas pela simpatia dos funcionários que vendem as passagens, eu, mesmo quando morava lá, nunca me senti impelida a perguntar. Mas será que eles falam inglês? Eu duvido.

Onde fica o Turist Office de Brasília? No aeroporto? Nas outras cidade que visitei, a maioria deles ficava no centro, mas Brasília não tem centro. O lugar mais movimentado da cidade é o trecho entre o Conjunto Nacional e o Pátio Brasil, passando pela Rodoviária e o Setor Comercial Sul. Nada muito turístico.

Aliás, é bom ressaltar que a maioria das pessoas prefere conhecer os pontos turísticos à pé e se deslocando entre grandes distâncias pelo transporte público. Algo muito difícil de fazer em Brasília por isso a sensação de isolamento. Se optar por andar a pé, não se chega a lugar algum em menos de 15 minutos de caminhada. O brasiliense (e talvez o brasileiro em geral) gosta do binômio carro-shopping, mas isso é algo que se faz e que existe em quase toda cidade do mundo. E vamos e convenhamos, shopping é tudo igual, as lojas são quase todas as mesmas. Bom mesmo é andar à pé, e de repente descobrir algo diferente do que estava planejado. Uma pracinha charmosa, um café, um monumento que não estava no guia...

Mas enfim, voltando ao texto. Veja bem, o cara é turista, ele não está frequentando a escola para fazer amigos. Como vai conhecer as pessoas em Brasília? Eu morei 30 anos lá, desde que nasci até pouco tempo, e acho, sinceramente, que se você não tem ninguém para te introduzir a alguma turma, fica muito difícil fazer amizades ou descobrir onde ir e o que fazer. Se virar sozinho então, sem falar português parece um desafio e tanto.

Bem, quanto ao entorno de Brasília, existem lugares bonitos, cachoeiras, natureza e etc. Mas as cidades satélites em si são mais uma massaroca de concreto desordenado e feio. Não discuto que são bons lugares para se morar, mas se eu fosse turista em Brasília não gastaria meu tempo conhecendo Águas Claras ou o Guará. É o tipo de lugar que a gente só vai se tem o que fazer ou quem visitar.

É claro que o colunista do NYT usou um monte de clichês para falar de Brasília e suas críticas parecem ter sido embasadas por uma observação bem superficial. Um lugar frio o pouco acolhedor. Bom, você pode usar quase todos os argumentos referêntes a esse aspecto da cidade a críticas feitas ao bairro da Défense em Paris. Acho que o concreto armado inspira esse tipo de comentário.

Mas Brasília tem sim seus paraísos perdidos em meio ao concreto. O parque da cidade, muitos jardins nas entrequadras, bares charmosos e cafés acolhedores… Pena que não dá para ver quase nada disso da janela do carro.