terça-feira, 28 de agosto de 2012

Doutorado?

Ontem eu sonhei que estava me afogando. Uma das piores sensações que eu já conheci. Isso porque já me afoguei de verdade e desde então é uma das coisas que tenho medo. Descer, descer na escuridão e perder a noção da superfície. Chega um momento onde você não sabe mais para onde nadar. Mas meu afogamento de ontem foi completamente diferente, exceto pela angústia no estômago que sentimos quando o sonho se aproxima demais de uma sensação real.

Sonhei que me afogava num mar de livros e papéis infinitos que iam se multiplicando toda vez que eu parecia chegar ao topo. Me dei conta que esse é o meu dilema. Ao escrever meu projeto de doutorado eu quis dar conta, ao mesmo tempo, de conhecimentos que me são distantes - política e economia. A angústia provocada pela série de conceitos e autores com os quais me deparei, todo um universo anglo-saxão que nunca fez parte do meu pensamento me atingiu a seco o peito. Muito tarde para desistir, eu já estou no meio. Além disso, eu também não quero. Mas eu tenho que nadar na direção certa, ou acabarei me afogando. Essa direção eu conheço - sociologia. Algo que me é familiar. Afinal, para escrever um projeto (pré ou ante, como preferirem) eu não preciso já ser expert no assunto, pois qual seria a necessidade da pesquisa?

O friozinho na barriga, entretanto vai me dar, pois me conheço. Morri de chorar achando que não passaria na prova de francês do mestrado (eu que sou formada em Letras Francês e professora da língua) de tão nervosa que fico com seleções. Mas tenho que seguir meu lema "a gente faz o melhor que pode com o tempo que tem".

Então, pessoal, nos veremos esporadicamente até novembro... Me desejem sorte e um colete salva-vidas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A minha vida moderna

Nem líquida, nem globalizada, a minha modernidade tá meio parada. No que diz respeito à tecnologia, a informação chega a mim com um certo atraso. Nada dos super updates praticamente instantâneos dos quais falam Bauman e outros, eu estou na lista dos "praticamente" que nunca chegam de fato aos finalmente "up to date".

Minha internet praticamente funciona, tirando de 18:30 às 21:00hs. Mas tudo bem, eu nem preciso dela, afinal, fico o dia inteiro conectada... Menos no meu celular. Não tenho 3G lá, portanto, se eu tiver off-line desconfie que eu provavelmente saí de casa, tá. Mas não posso checar-in nenhum lugar, pois meu gps não consegue se achar, ficou pra sempre desorientado quando eu deixei a Dinamarca.

Sincronizar o aparelho? Não sei, fico com medo dele se sentir violado. Afinal, pode um SonyEricson sincronizar com um Mac? E se no final ele decidir se chamar Marcos (até hoje o nome do meu computador pessoal)? O que eu como, não interessa, afinal, não tenho Instagram. Dizem que isso é um tal de aplicativo, mas se aplica a quê mesmo?

Incompatibilidade? Isso ainda existe? Sei que hoje parece incompatível usar o telefone para falar, afinal, para quê palavras se se pode sempre falar pelo Wasapp? Reforma ortográfica? Não sei, fiquei com preguiça de atualizar, eu não, o meu Office, que é o único que realmente vai usar a nova ortografia.

Tem mais alguma coisa que eu esqueci de falar? Twitter? Ainda se usa isso? O meu tá meio parado lá. Tô esperando a moda passar, afinal, nunca gostei de usar.

No fim, pra mim a modernidade é um monte de gagets que eu não sei usar. Smartphones para "damie" users. Vai por mim, sempre vai ter alguma coisa que vc não domina.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O livro do desassossego, fragmento 1

O dia de hoje merece uma citação pessoniana (Fernando Pessoa). Cito, então, meu trecho favorito.

    "Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido - sem saber porquê. E então, o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser, podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera idéia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou deuses tinham cabeças de animais.
    Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.
    A quem, como eu, assim, vivendo não sabe ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino? Não sabendo o que é a vida religiosa, nem podendo sabê-lo, porque se não tem fé com a razão; não podendo ter fé na abstração do homem, nem sabendo mesmo que fazer dela perante nós, ficava-nos, como motivo de ter alma, a contemplação estética da vida. E, assim, alheios à solenidade de todos os mundos, indiferentes ao divino e desprezadores do humano, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito, cultivada num epicurismo subtilizado, como convém aos nossos nervos cerebrais. (...) p. 45"

Bernardo Soares

Feliz quinta-feira a nós, epícuro-pessonianos, anti-neo-malthusianos, pós-desmodernos, neo-latino-sulamericanos... ou vocês.