quinta-feira, 17 de março de 2016

Considerações sobre a esquerda e os recentes acontecimentos

Eu estou aqui, na frente desse computador agora, tentando entender o que está acontecendo. Mais cedo liguei para um amigo perguntando se em Brasília o estardalhaço era o mesmo. Parece inacreditável. É engraçado pra mim lembrar que em 2013 eu estava na Esplanada dos Ministérios, vendo os jornalista da Globo acompanharem a manifestação de dentro de um helicóptero, sem poder descer e obtusos a ponto de se restringirem a contar o número de lixeiras depredadas (eles, os únicos que acham as lixeiras nas ruas) e os vidros quebrados para apurarem, com imparcialidade, quem eram os manifestantes.

Eu estava lá, esperançosa, pensando "dessa vez vai". Um movimento legítimo, apartidário... Mais um grande arrependimento para entrar na minha lista. Muita gente falava que essa coisa de não poder levar bandeira de partido era na verdade uma hostilização da direita contra a esquerda. Eu não conseguia enxergar nada disso. Se eu soubesse no que isso ia desencadear teria saído do clima antes do Passe Livre. Mas enfim. Agora acho que só me resta do desabafo.

Não sou petista. E hoje em dia parece que essa informação é essencial para que meu texto seja de alguma forma lido. Mas já fui. De ter botton, bandeira e camisa. Estava na marcha dos 100 mil, no Fora Collor, e votei no Lula e na Dilma. Mas digo que só votei no Lula no primeiro mandato e na Dilma porque ela é mulher. Posso explicar posteriormente porque não me mantive petista, mas para mim, ver Lula aliado com Sarney bastou para saber que o partido estava corrompido. Mas acho que eu tenho o direito de falar. Todos temos o direito de opinar. Mas digo que o PT foi corrompido porque sempre teve uma ideologia forte e sólida, já não colocaria minha mão no fogo pelos outros partidos. Felizmente, mesmo no poder ainda fez mais pelo social do que qualquer outro. Infelizmente para mim, não acabou com as estruturas estruturantes de desigualdades do nosso país.

Mas o que vejo hoje nas manifestações, elevadores e ruas é que estamos acuados. Todos que pensem um pouco mais além de "morte ao PT", "fora Dilma", são automaticamente suspeitos. Suspeitos de quê eu não sei bem. Tenho medo de me pronunciar publicamente. Estou aqui, realmente escondida na rede. Não é mais uma manifestação apartidária, é basicamente uma manifestação anti um partido e contra toda a ideologia de esquerda. Eu posso não concordar com o PT, mas sou obrigada a defendê-lo em muitas coisas que estão acontecendo simplesmente porque defendo o processo democrático. Louco isso, não? Tem gente que me fala, "Mas então você não quer que eles sejam punidos"? Sim, eu quero. Mas pelo quê? Temos provas? E vamos mais além um pouco: uma vez que os petistas saírem de cena, a investigação vai continuar?

Outro motivo pelo qual me dispus a escrever esse texto. Lembrem-se de Collor. Lembrem-se dos 8 anos de FHC antes de vociferarem contra o PT. Infelizmente a direita não foi capaz de ganhar. O sistema eleitoral está corrompido. Certamente. Mas não são as urnas o problema. São os financiamentos de campanha, os partidos, a legenda. Mas não queremos mudar isso. Não estamos nas ruas clamando por reformas. Estamos nas ruas distribuindo nossos ódios e preconceitos, felizes de podermos falar nossas barbaridades e achando que não estamos sendo julgados e nada irá nos atingir.

Meu desabafo aqui reside porque tudo que eu acompanhei ao longo dos anos como uma luz bem pequena aumentando paulatinamente no fim do túnel, está sendo levado e esfumaçado pelas fogueiras que se acendem contra o vermelho da esquerda. E a utopia de que as coisas podem ser conseguidas democraticamente parece ter dado um soco na minha cara. Estamos perdendo tudo, inclusive a liberdade de dizermos o que pensamos (lembrem-se do "Desculpem a nossa Falha"). E olha que não estamos usando essa liberdade para incitar o ódio, promover o estupro, a violência, o racismo. Mas mesmo assim somos odiados por tabela. Parece que um partido de esquerda fazer o que todos os outros fazem é motivo para odiar todo mundo que é de esquerda, mesmo que não sejam do partido e que não concordem com o que está acontecendo.

Eu nunca acreditei que a História pudesse se repetir, mas hoje não consigo ser mais tão cética quanto a isso. Qual o problema de defender a igualdade social? De defender a igualdade de gênero? As cotas? Pode me dizer o que quiser, que é a favor de tudo isso, mas se eu sair às ruas de vermelho, porque vermelho é sim a cor da ESQUERDA, pode ser que você mesmo me hostilize.

E o mais engraçado é talvez que nós, da esquerda, queremos mais ou tanto, o fim da corrupção. Mas não seja ingênuo. Como tem gente que defende que um campeonato roubado vale como qualquer outro no futebol, tem gente de esquerda que defende isso e de direita TAMBÉM.

Só gostaria que essas opiniões diferentes fossem respeitadas e que no fundo as pessoas soubessem que os veículos de informação de direita defendem a direita. Parece um pouco óbvio, mas não é. E no fim, acho que vou tentar dormir, já que as buzinas se acalmaram.