tag:blogger.com,1999:blog-12407514346075817392024-03-06T02:26:01.971-03:00Café VelhoFalando o óbvio requentado, ou seja, gosto amargadoDrixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comBlogger347125tag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-17652447403728053262020-07-18T23:21:00.001-03:002020-07-18T23:21:12.347-03:00Mas um dia se passa e uma mistura de alívio e angústia toma conta de mim. Hoje é um daqueles dias que a gente finge que vai tomar banho para chorar no chuveiro sem que o seu filho veja. Eu já não sei mais o que fazer com ele, o que prometer para ele nem mais como convencê-lo de nada. Hoje tudo parece sem sentido. Amanhã também e depois de amanhã tudo vai continuar sem sentido. Eu escrevo esse post na pressa com medo dele acordar de madrugada, como ele tem feito desde o começo da pandemia e me pego chorando em frente a tela. Muitos dirão que eu devia deixá-lo me ver chorar, para entender que os pais também ficam tristes. Mas muitos do que disseram isso não tiveram que criar seus filhos no meio de uma pandemia nas condições mais do que peculiares e assustadoras que as mães brasileiras estão tendo que fazer. Eu não vou dizer para o meu filho para entender mais nada do que ele já está tendo que entender. Muito do que está acontecendo nem eu mesma consigo entender. As pessoas fazem cálculos, estipulam datas para saída do confinamento e dizem para si mesmas “quando a vacina ficar pronta”... A verdade é que muitos de nós não teremos a chance de tomar a vacina. Nossa expectativa de vida agora é uma incógnita e eu me pergunto se pegarei o vírus e se caso o pegue, conseguirei me curar. Aqueles quilos a mais do natal do ano passado que não consegui me livrar pesam ainda mais nas minhas incontáveis culpas agora do que em qualquer outra ocasião. Mas o que mais pesa, sem sombra de duvidas é não saber como criar o meu filho. A lista de dúvidas, arrependimentos e culpas também segue crescendo exponencialmente. Meu filho me interpela “mãe, porque antes do corona a gente não saia mais? A gente não fazia isso ou aquilo?” Minha vontade era de responder “porque eu era uma idiota”, a coisa mais sensata que se passa na minha cabeça, mas a verdade não é só essa. Eu tinha um emprego que não gostava que me ocupava um tempo monumental e que não me dava praticamente retorno algum. Essa é a mais pura verdade. Se eu soubesse que o nosso “confinamento” iria durar o ano todo teria comprado uma casa com jardim, teria saído com você, meu filho, toda vez que você me pedisse. Eu teria te comprado um cachorro e entrado no pula-pula com você. Teria me vestido como uma mandinga só para poder comprar passagens para visitarmos seus avós e teria engolido todas as ofensas dos adultos idiotas do condomínio para você brincar sem limites na área comum do prédio que agora parece o cenário de um filme de ficção-científica. Mas eu não sabia, ninguém sabia. A maioria de nós achava que isso duraria no máximo dois meses. Como nós chegamos a esse ponto? Como nós continuamos nesse ponto? Como nós conseguimos pioras a cada dia mais? Eu já tentei parar de ler as notícias, mas não consigo. Quero saber quando isso vai acabar, quero ter uma pista. É uma busca infrutífera, eu sei, mas não sei outra maneira de manter minha mente ativa. Bolo planos mirabolantes desde acampar na fronteira com a Argentina até vender tudo e tentar alugar um jatinho para tirar todos os que amo daqui. Mas no final eu acabo mesmo preparando o café da manhã e tentando viver um dia após o outro. Muita gente tenta entender o que faz as pessoas se arriscarem e saírem durante a pandemia. Eu não sei o que psiquiatras e psicólogos tem a dizer, mas exceto aqueles que precisam trabalhar, eu sei o que muitos sentem ao sair de casa. É uma tentativa de sobreviver nessa loucura que sabemos cada vez mais que seremos os últimos a sair. Enquanto eu recebo fotos da quase normalidade da Alemanha, eu vejo muitos se refugiando na fazenda de algum parente, eu nunca me senti mais estrangeira no meu próprio país como me sinto agora. São 1200km de distância que sem ter onde dormir ficaram intransponíveis. O que me resta são 80m2 de um porcelanato frio e sem sol com meu núcleo familiar. E torço para poder reencontrar todos os que amo, todos bem, quando essa loucura acabar. Eu tento fazer a minha parte, mas tenho que levar meu filho para tomar sol. Quando nós disseram para nos isolarmos, acredito que nem os médicos imaginavam que seria por tanto tempo. Meu filho precisa se exercitar, tomar sol, precisava brincar e ir para escola também, mas isso até pode esperar. Eu desço com ele com o coração na mão. Aperto o botão do elevador e passo álcool em gel, desviamos de todos os idiotas sem máscara na rua. Pouco são os que fazem menção de manter uma distância segura. Descemos nos horários mais inóspitos nos lugares menos convidativos porque queremos nos sentir um pouco seguros. Tem dias que meu filho não quer descer. Ele criou um mundo particular onde tudo é belo onde o Darth Vader é bonzinho e todos são amigos e na sua fantasia eu só ouço as onomatopeias de batalhas e corridas. Tem dia que o mundo dele está muito melhor que esse. Isso é quase todo dia. Tentamos fazer com que ele participe das tarefas, mas as batalhas parecem tão boas que quase nunca são interrompidas. E na hora da refeição é sempre uma mistura de uma pergunta sobre algum filme que ele assistiu com algum projeto que ele tem que começa quase sempre com a frase “quando o corona acabar”... mas ele tem cinco anos. É normal para ele pensar assim. O que mais me assusta são adultos acharem que ele vai acabar com certeza.<br />
Eu assisto e leio muita coisa sobre o que está acontecendo e quase nenhuma delas me serve enquanto mãe. Vejo os conselhos de “tente manter uma rotina” com bastante ceticismo no momento. A rotina já perdeu seu propósito quando não fazemos mais distinção entre dias de semana e finais de semana. Eu me sinto cada vez mais dentro da caverna de Platão me perguntando que tipo de fantasia vai existir lá fora quando tudo isso acabar e se acabar. Os conselhos de brincadeiras e atividades com as crianças também me parecem absurdos. Entre cuidados da casa e alimentação não me sobra mais quase tempo nenhum. Além de toda estratégia que tenho que fazer para conseguir descer com o meu filho, o que toma além do tempo que estamos lá fora, ao total, umas 3 horas. Meu orgulho é manter o café da manhã e o almoço quase sempre na mesma hora. O resto é lucro. No mais, a minha mãe, como sempre, fez fofoca com a família inteira no natal passado porque eu não queria conversar com fascista, agora que supõe que está tudo bem entre nós, já esqueceu que tem uma filha. Não liga, não quer saber e quando pergunta como vai e eu digo “não muito bem” ela não responde e diz que precisa terminar o almoço. No mais, o que me mantém em pé é mesmo a esperança de ainda poder salvar o que resta da infância do meu filho. Que eu consiga fazer ele passar da melhor maneira por isso tudo e que de certo modo nós consigamos compensar de alguma forma “quando o corona acabar” como ele sempre diz. E eu preciso parar por aqui, esse texto sem começo nem fim, que tinha um objetivo no começo, mas que eu nem lembro mais qual era.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-70844214380326829552020-03-25T10:14:00.000-03:002020-03-25T10:14:32.767-03:00Bolsonaro nunca está errado. A culpa é sempre dos outrosO governo Bolsonaro, todos sabem, já estava fadado ao fracasso desde o começo. As medidas "salvadoras" de Paulo Guedes visavam apenas mitigar o déficit fiscal, e nunca uma melhora real na economia. Se engana quem acha de desvinculando todas as despesas em contratações os empresários voltariam a contratar em massa. É um cálculo simples que todo empresário que pode, faz. É mais barato e eficiente automatizar. E isso vem sendo cada vez mais possível. Temos já porteiros e secretárias virtuais, cada um trabalhando de suas casas. Temos telemarketing, totens de lanchonetes, auto-caixas de supermercados. As poucas empresas que precisam de funcionários, precisarão cada vez menos deles, e na contramão do mundo, nós investimos cada vez menos em educação, a única saída para esse cenário desolador que nos espera.<br />
<br />
Os investidores já vinham "pulando fora" desse barco furado que virou o Brasil. Ao contrário do que muitos pensam, a presidência não é um cargo figurativo e a insegurança passada pelo nosso presidente e sua equipe de lunáticos, trapalhões, sádicos e antiquados não passa a menor credibilidade ao resto do mundo. Isso não seria nenhum problema se nós estivéssemos querendo virar uma "Venezuela", um país isolado que não segue as regras do jogo internacional. Mas me corrijam se eu estiver errada, toda essa sangria promovida pelo ministro da economia e chancelada pelo Congresso visava o contrário. Estávamos seguindo a risca a cartilha que FHC seguiu, privatizando, congelando salários e até falando em redução. Com feitos que teriam até feito FHC morrer de inveja, ele que nunca conseguiu flexibilizar as leis trabalhistas ou mexer no funcionalismo público.<br />
<br />
O governo Bolsonaro, seguido anteriormente por Temer, conseguiu deixar a grande maioria da população desprotegida e desamparada. O INSS é apenas a sombra do que já foi um dia. SUS sofrendo cortes, a aposta do Ministro da economia era que o governo se tornasse um mero banco para a arrecadação e repasse a juros módicos de impostos e tarifas, sem de fato fornecer praticamente nenhum serviço. Sim, para Guedes o ideal era não haver nenhum serviço público, nada gratuito. Não existe almoço grátis, muitos diziam. Como todos já sabiam, a reforma tributária foi deixada por último, significando como sempre aquilo que sempre significou - os ricos pagam menos impostos que os pobres e vão continuar pagando. Judiciário e legislativo mantiveram seus privilégios na reforma da previdência, seguido pelos militares, que assumiram um novo caráter de "bombril"da nação. O INSS está sem funcionários, coloquem os militares lá! A educação está ruim? Os militares resolvem! Eu ouvi até gente falando que os militares que deveriam construir estradas no lugar dos funcionários mal pagos.<br />
<br />
Com toda essa contenção de gastos, e contrariando uma máxima bem conhecida na economia keynesiana, é lógico que o país já estava em recessão. A felicidade da nossa balança comercial sempre foi o Agronegócio, que conseguia trazer uns dólares para o país a aliviar um pouco a balança comercial, mesmo sem empregar muita gente. Sempre que alguma gripe se abatia sobre o rebanho chinês, boom! Os bolsos se alegravam no Brasil. A gente não conseguiu ler os sinais do que acontecia por lá, e portanto, não nos preparamos. Aliás, estamos tão despreparados, que o estudo que apresentaram ao governo britânico, que fez com que ele mudasse radicalmente de política, poderia ter sido feito aqui, se a gente não tivesse desmontado completamente a ciência brasileira. Os cientistas que podiam, já foram embora. Os que ficaram, foram "delicadamente" chamados a fazerem coisas mais "importantes"do que pesquisar curas de doenças, ou apontar possibilidades de contenção de epidemias. Universidade é só para dar aula. Para melhorar ainda mais o cenário, o governo conseguiu cortar para 1/3 as bolsas de pós graduação. Isso acaba com as equipes de pesquisa do país. E não adianta apelar para "Deus iluminar nossos cientistas", pois sem dinheiro e sem pessoal, eles não tem o que fazer. Tão pouco os médicos que não tem testes para aplicar nem equipamentos de proteção para usar.<br />
<br />
Dentro desse cenário nos temos um presidente consciente da sua abissal incompetência, que culpou o PT e continuaria culpando durante todo o seu governo se agora não aparecesse a desculpa ideal para o seu fracasso - o coronavírus. Diante da inegável realidade, afinal, países muito mais ricos pelo mundo, e até mesmo o ultra-liberal Estados Unidos estão se mobilizando para conter o vírus e todos estão perdendo dinheiro com isso. Mas diante dessa realidade, o presidente que não sabe o que fazer, seguido do ministro que não entende porque não pode deixar os pobres do Brasil à sua própria sorte, arrumaram a estratégia perfeita para reduzir finalmente os salários do servidores públicos com a desculpa de que quando a crise passar - veja, todos falam de crise, e não da pandemia - quando ela passar os salários voltaram ao seu patamar. Mas sabemos que a crise vai durar pelo menos uns 5 anos, especialmente se contarmos com um ministro que acha que conter gastos vai magicamente recuperar a economia. E quando a pandemia passar, quem vai ter dinheiro para consumir o que quer que seja? Se antes da crise, muitos já estavam contendo gastos, saindo do plano de saúde, que estavam numa situação calamitosa, colocando seus filhos em escolas mais baratas e cortando todas as prestações de serviço que diziam desnecessárias, agora, depois da pandemia e sem 20% de salário, como fica a grande parte da economia brasileira, que vinha sendo o comércio e a prestação de serviços?<br />
<br />
Mas a estratégia do governo é perfeita! Conta com o desespero dos políticos que tem um pingo de discernimento para passar as medidas mais escabrosas de um dia para o outro, na esperança de vencer a crise e a pandemia, culpando de quebra governos estaduais pelo fechamento dos estados, tirando o dele da reta, e tendo de quebra o Coronavírus como bode expiatório perfeito. O governo bolsonaro está nos levando para o desastre completo e visa ainda por cima sair de pobre coitado. Como todo bom manipulador, nunca tem culpa de nada. Quando faz algo de errado, foi alguém que o convenceu a fazer algo de errado. Quando não faz nada, está tendo dificuldades para governar. Mas a culpa nunca é mesmo do Bolsonaro, e ele nos fará lembrar disso todos os dias até o final de seu governo, afinal, a culpa é do povo, não é mesmo. Ele que colocou o Bozo lá.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-63097852654490963302019-05-16T16:40:00.000-03:002019-05-16T16:41:52.635-03:00Dor e a dor de ser professor - parte 1<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Devido ao tamanho, esse post será dividido em duas partes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Eu sempre quis ser professora. Desde criança, dando aula de mentira para
amigas e bonecas até nos trabalhos de escola onde eu era intimada a falar em
público pelos grupos, que achavam que eu era boa de oratória. Nesse sentido
seguiu a minha formação. Entre assumir um sonho e desempenhar um papel sofri
bastante. Primeiro pelas pessoas que me diziam, "Mas você é tão
inteligente! Porque não faz um concurso público?" </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Todo mundo acha melhor fazer um trabalho entediante em troca de um bom
salário no final do mês. Eu já trabalhei na iniciativa pública e nunca gostei
do serviço. Nada contra, mas não era pra mim. Pode ser que eu não tenha achado
a posição certa, mas a gente só vive uma vida e a minha se desenhou dessa
maneira. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Durante muito tempo o processo foi de aceitação. Eu dava aula durante a
graduação e dizia para mim mesma que era só para me manter até eu me formar. Já
pensava em fazer mestrado e fui aceita em um programa em Lille, na França. Nada
relacionado ao ensino. Mas não fui. Meus pais não tinham como me manter lá,
mesmo eu dizendo que podia trabalhar para me manter. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14.0pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br />
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Minha mãe ficou com medo de não ter como pagar nem para eu voltar pro
país caso as coisas dessem errado. Meus pais não falavam francês, nunca haviam
saído do país e nós não tínhamos nenhum amigo ou conhecido na França.
Paralelamente as aulas continuavam. Cada vez mais gente me procurava e eu não
tinha tempo para encaixar os alunos. Eu cheguei a dar aula em 3 escolas ao
mesmo tempo. Trabalhava tanto, que não tinha tempo para preparar aulas ou estudar.
Tive que comprar uma moto para me locomover, pois do contrário, gastaria todo o
meu salário em transporte. Mesmo assim eu continuava repetindo para mim mesma
que isso era temporário. Tirei minha segunda habilitação para aumentar meu
leque de atuação. Era agora formada em Letras Francês e Português. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Foi um alívio momentâneo. Pensei que poderia então passar num concurso e
dar aulas no GDF. O salário era relativamente competitivo em relação à
iniciativa privada e eu teria coisas que nunca tinha tido antes: 13º, férias,
carteira assinada... Cheguei a passar em um concurso para minha primeira área,
mas como ainda estava na graduação, não consegui a pontuação necessária
no currículo. Fiquei em sexto lugar de cinco vagas. Depois que eu me formei eu
simplesmente não conseguia tempo para estudar. Tinha que fazer para a área de Língua Portuguesa, que não era parte do meu cotidiano. Além disso, as nomeações estavam uma confusão. Tinha gente para ser nomeada quando abriam outros concursos, greve. A situação não era muito convidativa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Durante esse tempo que trabalhei em escolas privadas eu vi de tudo. A
profissão de professor de língua estrangeira não é regulamentada. Isso quer
dizer que uma pessoa com qualquer nível superior pode dar aula de língua. Contrariamente
a isso, eu tinha uma licenciatura em língua e literatura francesa. Aprendi
inúmeras coisas na graduação. Até traduzir um texto do francês antigo para o
moderno. Fiz aula de expressão oral e escrita em língua francesa. Tive muitos
professores de outras nacionalidades, suíços, franceses, brasileiros que
viveram muitos anos na França e etc. Até um estágio de imersão eu fiz, pois
ganhei uma bolsa do governo francês. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Mas eu conviva com colegas que não eram professores, muito menos
formados em letras. Não sabiam o que era a forma nominal do verbo. Algo muito
útil de saber, pois os alunos brasileiros sempre se enrolam com tempos verbais
compostos. O que mais me marcou foi uma colega francesa. Nós dávamos aula numa
escola pequena e a dona me pediu para escolher o método de francês. Eu escolhi
um bastante comunicativo, com um pequeno foco na gramática. Bem dentro da
abordagem que estava (e ainda está) em voga no momento, a abordagem
comunicativa. A francesa veio trabalhar logo depois na escola e vinha reclamar
com um ar de superioridade a respeito do método. Muitos professores que eu
conheci tinham dificuldade com ele, pois davam aula de LE do mesmo jeito que
tiveram aula na sua língua materna, aula de gramática. Em sua maioria, esses
professores não eram formados em Letras, muito menos tinham uma licenciatura.
Ela não sabia usar o método. E era bem o boom do “professor nativo”, então,
para ajudar a dona da escola, de quem eu gostava muito, me ofereci para ajudar
os professores com o método.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">A aula (ou ateliê) quase acabou em briga. A francesa se concentrou em
testar meus conhecimentos e como não conseguiu atingir seu objetivo, começou
implicar com qualquer coisa, inclusive minha tentativa de usar o “tu” para
expressar que éramos colegas e aquele ambiente era seguro para expor qualquer
dúvida ou insegurança. Além disso, foi um fiasco tentar explicar para a
francesa que ela só precisaria explicar a regra gramatical, caso o aluno não
conseguisse entendê-la naturalmente. Ela achava super importante explicar todas
as conjugações verbais na primeira aula. Outra coisa que ela não conseguia
entender era porque os alunos brasileiros tinham dificuldade para entender qual
o auxiliar usar no passé composé. Ao mesmo tempo, explicar que coisas no método
poderiam ser ignoradas, como a diferença entre o fonema [p] e [b], claramente
colocada ali para os hispano falantes. Mesmo assim, naquela escola, e em muitas
outras onde trabalhei, o meu salário, independente da minha qualificação, era
igual ao desses professores. Mesmo que eles não soubessem preencher um diário
ou fazer um plano de aula. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Somava-se a isso o fato de eu sempre ganhar por hora. A hora da aula que
eu dei e não a que eu preparei. Pode parecer estranho, mas o professor não
chega na sala de aula e tira milagrosamente analogias e piadas da cabeça.
Aquela musiquinha que encaixa tão bem com o conteúdo da aula, tudo aquilo foi
planejado. E um professor recém-formado leva entre 2 a 4 horas para preparar
uma aula de 45 minutos. Dependendo do assunto, se for algo que ele não gosta
e/ou não é muito bom, o tempo que ele vai passar estudando e preparando
aumenta. Eu, por exemplo, gosto muito mais de literatura do que de qualquer
outra coisa. Infelizmente, quase nunca tenho a oportunidade de juntar o “útil”
ao agradável. Até porque, na maioria das vezes, meu público só lê Harry Potter.
Então, até hoje, quando tenho que explicar o 3 groupe (ou a terceira
conjugação), perco algumas boas horas estudando e pensando novas maneiras de
abordar o assunto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Isso sem contar as provas. Elaborar prova é sempre um martírio para mim.
Achar um texto no nível certo com o vocabulário que meus alunos possuem é quase
um milagre. Na maioria das vezes eu mexo no texto para ficar mais “A1” ou “B2”.
E os áudios para as partes de compreensão oral? Quando eu trabalhava sozinha,
quase sempre tinha que usar alguma faixa do próprio método fornecido pela
escola. Não tinha essa de internet em sala ou achar no torrent. Hoje,
felizmente é muito mais fácil encontrar um áudio livre de direitos na internet.
Mas mesmo assim, ainda é preciso muita pesquisa para que ele se encaixe no
arcabouço dos alunos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Além disso, tem a rotina de correção de provas e trabalhos. Reuniões e
mais reuniões. Temos que nos manter atualizados. Cursos, seminários, simpósios.
Coisas que quando eu estava na iniciativa privada eram pouco valorizados.
Quanto maior a sua qualificação, pior para escola, afinal, terá que te pagar
mais. Mas se engana aquele que pensa que a coisa está fácil no sistema de
ensino privado. </span>
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Quando comecei a dar aula, era muito mais uma questão
de QI do que qualquer outra coisa. Ou no máximo um boca a boca. Uma vez que você
estava dentro das escolas, poderia fazer sua fama a assim almejar trabalhar
naquelas que pagam bem. Quando ia às entrevistas, na maioria das vezes bastava
ter um bom currículo, ter estudado em boas escolas. No meu caso não funcionava.
As pessoas achavam que pelo fato de ter experiência dando aula de línguas, eu não
conseguiria cuidar de uma turma de português, por exemplo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">Eu cheguei a trabalhar no ensino de Língua
Portuguesa. Uma escola que só fazia propaganda e entregava muito pouco para
pais e alunos, usa inclusive o nome da UnB disfarçado para atrair mais alunos. Afinal, convenhamos, quem vai pagar alguns mil reais para colocar seu filho numa faculdade privada? Hoje descobri que está sendo processada por dívidas trabalhistas.
Mas o que era pior na escola era a rotatividade dos professores que impediam
qualquer projeto pedagógico. Como a hora/aula era muito baixa, a maioria dos
professores trocava de emprego assim que podia. Mas dos alunos, o valor cobrado
era exorbitante. Dois alunos e meio serviam para pagar o meu salário, mesmo eu
trabalhando os dois turnos. E cada sala tinha em média 30 alunos. Sim, senhor
presidente, nós sabemos fazer essa conta básica...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073697537 9 0 511 0;}
@font-face
{font-family:"Helvetica Neue";
panose-1:2 0 5 3 0 0 0 2 0 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-452984065 1342208475 16 0 1 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
</div>
--><div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<i><span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;">continua</span></i><span style="font-family: "helvetica neue"; font-size: 14.0pt;"> (...) </span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14.0pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073697537 9 0 511 0;}
@font-face
{font-family:"Helvetica Neue";
panose-1:2 0 5 3 0 0 0 2 0 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-452984065 1342208475 16 0 1 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
--><style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:swiss;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536859905 -1073697537 9 0 511 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
@page WordSection1
{size:612.0pt 792.0pt;
margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;
mso-header-margin:36.0pt;
mso-footer-margin:36.0pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style>
-->Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-2163561663595459472018-09-17T17:59:00.000-03:002018-09-17T17:59:57.798-03:00Mais um ano sem vocêHoje fazem exatos 10 anos que eu não posso mais dar os parabéns para o meu pai. Ele faleceu em abril, mas em setembro a saudade bate mais forte. Quase toda a família é virginiana. Dava muito trabalho conciliar aniversários, presentes e presença nos eventos. Não tenho mais esse problema, pois além do meu pai ter-se ido, não moro mais na mesma cidade dos meus parentes. Me resta então mandar os parabéns por e-mail, facebook e whatsapp.<br />
<br />
Mas como eu queria ainda ter esse problema. Ligar para o meu pai reclamando de que ele havia marcado sua comemoração no mesmo dia da minha tia sendo que os dois poderiam simplesmente chegar a um acordo, afinal, desde que se conheciam, faziam aniversário no mesmo dia... O que eu falaria para o meu pai hoje? Eu não faço a menor ideia. Meu pai era um homem sem meias palavras, direto e muitas vezes vanguardista. Outras tantas, apenas amante de uma polêmica vazia. Talvez eu dissesse "Quem diria, 62!" Ele achava que ia morrer com 30 anos. Teve que rever a meta. Chegou aos 51. Dizem que até nisso fez piada. Morreu com a idade da cachaça. Era um bom vivant.<br />
<br />
Não é fácil ser filha de um. Conviver com o melhor e o pior dos vícios. Mas ele sempre foi um amigo. Nunca tratou a gente feito criança, nem na época que deveria. Mas pelo menos sempre respondeu as perguntas mais difíceis e nunca minimizou nossos sofrimentos. Lembro de muitas longas conversas, quando eu passei muitos meses insone com medo da morte, dos conselhos que me dava sobre minha mãe, apesar dele mesmo não saber lidar com ela. Dizia "faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Às vezes elogiava meu jeito, mas sei que algumas vezes me achava uma careta chata. Ele levava à sério a missão de criar os filhos para serem independentes. Talvez sério demais. Não me lembro dele me tratar diferente, e não posso dizer que foi machista comigo, apesar das piadinhas e das frases. Ele sempre quis que eu me virasse. Pode não ter sido da melhor maneira, ou da menos traumática, mas deu certo. Sou "um cidadão dito respeitado que contribui para sua parte no nosso belo quadro social".<br />
<br />
Ele não era de meias palavras. Vivia brigando com os irmãos e os amigos, mas não tinha falsos amigos. Também não era chegado à trivialidades. Achava as convenções sociais um saco. E, se alguém insistisse, falava mesmo. Acho que nisso era muito parecido comigo. Um cara sincero, que afastava aqueles que mentem para si mesmos de perto. No final, eles não fazem falta mesmo. Mas já você pai, faz uma falta imensa por aqui. Mesmo achando que você poderia ter dado uma guinada para a direita como muita gente por aqui deu. Não ia deixar de ser sincero consigo mesmo.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-1422152655485901712016-09-08T14:21:00.001-03:002016-09-08T16:22:03.580-03:00Escola sem partido ou a ode ao sem argumento<style>
<!--
/* Font Definitions */
@font-face
{font-family:Times;
panose-1:2 0 5 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:3 0 0 0 1 0;}
@font-face
{font-family:"MS 明朝";
panose-1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0;
mso-font-charset:128;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:fixed;
mso-font-signature:1 134676480 16 0 131072 0;}
@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1107305727 0 0 415 0;}
@font-face
{font-family:Cambria;
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073743103 0 0 415 0;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Cambria;
mso-ascii-font-family:Cambria;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"MS 明朝";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Cambria;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
@page WordSection1
{size:595.0pt 842.0pt;
margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt;
mso-header-margin:35.4pt;
mso-footer-margin:35.4pt;
mso-paper-source:0;}
div.WordSection1
{page:WordSection1;}
</style> Hoje resolvi ler mais a fundo a tal proposta da Escola sem Partido. Infelizmente ela confirmou o que eu já vinha pensando anteriormente. O que mais me chama atenção na proposta é o tom com que trata os professores, partindo do pressuposto que o professor carece de ética no exercício da profissão. Como se o professor estivesse em sala de aula com a única e exclusiva missão de doutrinar os alunos. Quase como um talibã, alguém que fosse incitar os alunos a defenderem seu ponto de vista com unhas e dentes.<br />
<br />
O mais interessante é que o próprio projeto faz parecer que seus idealizadores nunca lecionaram de fato no ambiente que visam "proteger". Partem do pressuposto que, além do professor ter uma visão única da coisa, não respeitando as opiniões dos alunos, os alunos em si não tem qualquer senso crítico para opinar sobre temas e que são facilmente convencidos. Usando termos "inexperiência do aluno", "cooptar" e "sectários" o projeto faz parecer que o ambiente escolar não é nada além de um ambiente partidário e o temor no conteúdo da proposta parece ser o de alguém possa a vir provar logicamente que a visão política e ideológica dos idealizadores do projeto esteja errada (por mais que isso não esteja escrito no texto). <br />
<br />
O projeto ainda instaura uma censura e um ambiente de desconforto para o professor, quem vem perdendo cada vez mais o respeito por parte dos alunos, devido ao modo como é visto tanto pela sociedade como pelo Estado.<br />
<br />
Além disso, o projeto parece desconhecer a clara divisão entre conteúdo e opinião, visando o professor a ser meramente um fantoche que repete acriticamente o que vem escrito em manuais escolares e respeitando forçadamente aquilo que vai se tornar o erro factual do aluno disfarçado de "opinião pessoal". <br />
<br />
No site oficial existe um <a href="http://www.escolasempartido.org/depoimentos-categoria/592-escola-sem-partido-nao-e-lei-da-mordaca-depoimento-de-ilona-becskehazy">guia</a> de 10 passos para você identificar uma situação onde está sendo doutrinado. Resolvi analisar o guia, pois além de ter mais conteúdo do que aquele da proposta original, parece deixar mais claro a visão sobre política e cidadania de seus proponentes. Para aqueles que se interessarem pelo projeto, acessem o mesmo site acima e lá estará o conteúdo da proposta. Vamos analisá-lo:<br />
<br />
1) se desvia frequentemente da matéria objeto da disciplina para assuntos relacionados ao noticiário político ou internacional; <br />
<br />
Isso não é doutrinação. Chama-se interdisciplinaridade e também é matéria que costuma ser bastante cobrada em concursos públicos e vestibulares: conhecimentos gerais ou atualidades. Além disso, o descolamento dos conteúdos da realidade torna-os entediantes e de difícil compreensão.<br />
<br />
2) impõe a leitura de textos que mostram apenas um dos lados de questões controvertidas;<br />
<br />
Normalmente os professores sempre justificam a escolha de determinado material para o conteúdo referido. Com o acesso à informação, inclusive, os alunos costumam ser bastante incentivados a procurarem matérias sobre os assuntos trabalhados em sala de aula. <br />
<br />
Talvez os propositores da lei estejam longe do ambiente escolar há algum tempo, mas o professor não é, não é mais visto como o detentor da verdade. Os alunos são sempre incentivados a procurarem suas próprias opiniões, fatos e ideias para argumentarem, concordarem ou discordarem daquilo que está sendo apresentado. <br />
<br />
Não podemos temer controvérsias, a argumentação é uma qualidade necessária a qualquer pessoa que viva em sociedade. E mesmo que o aluno não tenha nenhuma opinião sobre o assunto, a leitura de textos diversos pode auxiliá-lo na formação de uma e/ou na análise de todos os pontos de vista que permeiam determinado assunto. <br />
<br />
3) ridiculariza gratuitamente ou desqualifica crenças religiosas ou convicções políticas;<br />
<br />
De fato, esse comportamento não é aceitável. O professor deve respeitar crenças religiosas e políticas, desde que não sejam socialmente danosas a nenhum outro grupo e não firam os direitos já estabelecidos na Constituição. Acredito que o professor não deve estimular, por exemplo, alunos neonazistas nem tão pouco aqueles que acreditam, mesmo se tratando de uma posição religiosa, que gays devem ir para o inferno pois essa visão estimula a violência física e psicológica em sala de aula.<br />
<br />
4) pressiona os alunos a expressar determinados pontos de vista em seus trabalhos;<br />
<br />
Existem disciplinas que exigem que o aluno reflita e expresse seu ponto de vista. Como escrever um texto dissertativo argumentativo sem expressar pontos de vista? Um ponto de vista, qualquer que seja (à exceção daqueles já citados), quando bem elaborado, é sempre aceito, mesmo que o professor pessoalmente não concorde com a opinião do aluno.<br />
<br />
5) alicia alunos para participar de manifestações, atos públicos, passeatas, etc.;<br />
<br />
Professores e alunos são seres inseridos em sociedade. Os alunos tem, muitas vezes, idade e liberdade para votar. Podem, portanto, participar de passeatas e manifestações. Manifestações que, muitas vezes, são do próprio interesse do aluno, quando visam melhorias no sistema educacional e na escola. Manifestar-se é um exercício legítimo da democracia. <br />
<br />
Proibir os alunos de terem opiniões próprias e exercer sua cidadania é contrário ao regime político que vivemos, a democracia. Partir do pressuposto que os alunos só concordam com os professores quando são acuados e pressionados para tal é pressupor que os alunos são marionetes e fantoches sem senso crítico. Além disso, a pressuposição de crime quando o aluno concorda com aquele professor que tem uma visão política contrária ao Estado ou determinada lei ou grupo político que está em voga é proibir a pluralidade de visões, algo incondizente com um regime democrático. <br />
<br />
6) permite que a convicção política ou religiosa dos alunos interfira positiva ou negativamente em suas notas;<br />
<br />
Mais uma vez devemos procurar as vias já existentes para a resolução desse tipo de problema. Não é certo acabar com toda a autonomia do professor em sala de aula por conta de casos isolados. Existe ética na profissão e a maioria dos professores sabe respeitar esse limite. <br />
<br />
7) não só não esconde, como divulga e faz propaganda de suas preferências e antipatias políticas e ideológicas;<br />
<br />
Exprimir, ter preferenciais políticas e partidárias não é crime. É permitido por lei. Além disso, é mais fácil para o aluno contestar ou não a posição ideológica de um professor quando ele sabe qual é. Os alunos vão passar por situações diversas onde encontrarão pessoas com opiniões, preferências políticas, ideológicas e pessoais à sua volta. Precisam lidar com isso. Fica a encargo do professor expressar ou não suas opiniões. Sempre há o risco dos alunos se manifestarem contrariamente. Conheço muitos colegas que preferem não entrar nesse tipo de discussão, outros não veem mal em saciar a curiosidade dos alunos.<br />
<br />
8) omite ou minimiza fatos desabonadores à corrente político-ideológica de sua preferência;<br />
<br />
Algo que acontece em qualquer argumentação de qualquer nível. Mais uma vez, estamos falando de seres providos de inteligência, os alunos. Eles devem ser capazes de julgar os fatos por si mesmos. Além disso, mais uma vez, estamos na era de informação. Se os alunos não conseguem trazer para sala tais fatos desabonadores, ou não tem interesse no conteúdo aplicado ou não estão agindo com a autonomia e curiosidade esperada. Esse pode ser um problema individual e não algo que deva ser regido por lei.<br />
<br />
9) promove uma atmosfera de intimidação em sala de aula, não permitindo, ou desencorajando a manifestação de pontos de vista discordantes dos seus;<br />
<br />
Esse comportamento parece caracterizar um tipo de professor em extinção - aquele que se julga dono da verdade, única fonte do saber. Acredito que com o incentivo à capacitação dos professores e o conhecimento das novas correntes pedagógicas, esse comportamento não existirá mais.<br />
<br />
10) não impede que tal atmosfera seja criada pela ação de outros alunos; <br />
<br />
Mais uma vez, acredito que devamos estimular o debate em sala de aula. Estabelecer regras para a boa conduta do mesmo e a discussão entre os alunos são necessários. Mesmo assim, sempre existem aqueles que se sobrepõe na argumentação. Reconhecer uma derrota é parte da vida de todos nós. Não podemos acabar com a discussão de opinião apenas porque não sabemos argumentar. Esse é um incentivo para melhorarmos. Só porque um indivíduo é melhor que outro não significa que aquilo que ele faz bem deva ser criminalizado. <br />
<br />
** <br />
<br />
Na minha opinião (e sim, agora é pessoal), o projeto é um tiro no pé. Vai acabar com a autonomia do professor. O respeito ao professor é necessário para com ele para tornar o ambiente escolar saudável. Respeito mesmo sem hierarquização é indispensável para uma dinâmica saudável em sala de aula. <br />
<br />
Discordar das opiniões pessoais do professor sempre foi permitido e existem mecanismos legais e administrativos para lidar com professores que ultrapassam essa linha sem que seja necessário deslegitimar toda uma categoria que já sofre constantemente contra a força do Estado e que luta para que os menos favorecidos possam ter uma chance de acessar o mercado de trabalho e fazer parte da nossa sociedade.<br />
<br />
Analisando o projeto parece algo em defesa do medíocre. Aquele que não sabe argumentar e que, de algum modo, foi beneficiado pelo nosso sistema de marcar X. Alguém que não sabe defender seu próprio ponto de vista ou respeitar a opinião de terceiros. Confunde fatos com opiniões e insiste em uma educação apenas conteudista pois carece de senso crítico.<br />
<br />
Como aluna, desprezo o projeto pois fere minha inteligência e autonomia. Parte do pré suposto que ideias e pensamentos são controlados pela família e que o indivíduo não passa de uma massa amorfa a serviço do estado e da religião de seus parentes. <br />
<br />
Como professora desprezo o projeto pois limita a atividade em sala, instaura um clima de terror e delação tal como visto nos tempos de ditadura militar. Além disso, não impõe aos alunos as consequências de seus atos, pois qualquer coisa que desagradá-los pode ser visto como postura ideológica e política. Não incentiva o respeito à pluralidade de ideias, não incentiva o pensamento crítico e não proporciona a formação de um cidadão. Pois sim, cidadãos devem conviver com a diferença de pensamento e de ideias, sejam elas políticas ou ideológicas.<br />
<br />
Além disso, o projeto parece ter sido cunhado por pessoas que não admitem a discordância. Temem a discussão política e ideológica e ignoram os PCNs, o conteúdo e o próprio objetivo de qualquer instituição de ensino - a possibilidade de formar melhores cidadãos. Estamos inseridos em sociedade, isso é fato. Vivemos e convivemos com a diferença. Não podemos ignorá-la ou persegui-la. <br />
<br />Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-52552533231466156162016-03-17T00:18:00.000-03:002016-03-17T00:19:45.636-03:00Considerações sobre a esquerda e os recentes acontecimentosEu estou aqui, na frente desse computador agora, tentando entender o que está acontecendo. Mais cedo liguei para um amigo perguntando se em Brasília o estardalhaço era o mesmo. Parece inacreditável. É engraçado pra mim lembrar que em 2013 eu estava na Esplanada dos Ministérios, vendo os jornalista da Globo acompanharem a manifestação de dentro de um helicóptero, sem poder descer e obtusos a ponto de se restringirem a contar o número de lixeiras depredadas (eles, os únicos que acham as lixeiras nas ruas) e os vidros quebrados para apurarem, com imparcialidade, quem eram os manifestantes.<br />
<br />
Eu estava lá, esperançosa, pensando "dessa vez vai". Um movimento legítimo, apartidário... Mais um grande arrependimento para entrar na minha lista. Muita gente falava que essa coisa de não poder levar bandeira de partido era na verdade uma hostilização da direita contra a esquerda. Eu não conseguia enxergar nada disso. Se eu soubesse no que isso ia desencadear teria saído do clima antes do Passe Livre. Mas enfim. Agora acho que só me resta do desabafo.<br />
<br />
Não sou petista. E hoje em dia parece que essa informação é essencial para que meu texto seja de alguma forma lido. Mas já fui. De ter botton, bandeira e camisa. Estava na marcha dos 100 mil, no Fora Collor, e votei no Lula e na Dilma. Mas digo que só votei no Lula no primeiro mandato e na Dilma porque ela é mulher. Posso explicar posteriormente porque não me mantive petista, mas para mim, ver Lula aliado com Sarney bastou para saber que o partido estava corrompido. Mas acho que eu tenho o direito de falar. Todos temos o direito de opinar. Mas digo que o PT foi corrompido porque sempre teve uma ideologia forte e sólida, já não colocaria minha mão no fogo pelos outros partidos. Felizmente, mesmo no poder ainda fez mais pelo social do que qualquer outro. Infelizmente para mim, não acabou com as estruturas estruturantes de desigualdades do nosso país.<br />
<br />
Mas o que vejo hoje nas manifestações, elevadores e ruas é que estamos acuados. Todos que pensem um pouco mais além de "morte ao PT", "fora Dilma", são automaticamente suspeitos. Suspeitos de quê eu não sei bem. Tenho medo de me pronunciar publicamente. Estou aqui, realmente escondida na rede. Não é mais uma manifestação apartidária, é basicamente uma manifestação anti um partido e contra toda a ideologia de esquerda. Eu posso não concordar com o PT, mas sou obrigada a defendê-lo em muitas coisas que estão acontecendo simplesmente porque defendo o processo democrático. Louco isso, não? Tem gente que me fala, "Mas então você não quer que eles sejam punidos"? Sim, eu quero. Mas pelo quê? Temos provas? E vamos mais além um pouco: uma vez que os petistas saírem de cena, a investigação vai continuar?<br />
<br />
Outro motivo pelo qual me dispus a escrever esse texto. Lembrem-se de Collor. Lembrem-se dos 8 anos de FHC antes de vociferarem contra o PT. Infelizmente a direita não foi capaz de ganhar. O sistema eleitoral está corrompido. Certamente. Mas não são as urnas o problema. São os financiamentos de campanha, os partidos, a legenda. Mas não queremos mudar isso. Não estamos nas ruas clamando por reformas. Estamos nas ruas distribuindo nossos ódios e preconceitos, felizes de podermos falar nossas barbaridades e achando que não estamos sendo julgados e nada irá nos atingir.<br />
<br />
Meu desabafo aqui reside porque tudo que eu acompanhei ao longo dos anos como uma luz bem pequena aumentando paulatinamente no fim do túnel, está sendo levado e esfumaçado pelas fogueiras que se acendem contra o vermelho da esquerda. E a utopia de que as coisas podem ser conseguidas democraticamente parece ter dado um soco na minha cara. Estamos perdendo tudo, inclusive a liberdade de dizermos o que pensamos (lembrem-se do "Desculpem a nossa Falha"). E olha que não estamos usando essa liberdade para incitar o ódio, promover o estupro, a violência, o racismo. Mas mesmo assim somos odiados por tabela. Parece que um partido de esquerda fazer o que todos os outros fazem é motivo para odiar todo mundo que é de esquerda, mesmo que não sejam do partido e que não concordem com o que está acontecendo.<br />
<br />
Eu nunca acreditei que a História pudesse se repetir, mas hoje não consigo ser mais tão cética quanto a isso. Qual o problema de defender a igualdade social? De defender a igualdade de gênero? As cotas? Pode me dizer o que quiser, que é a favor de tudo isso, mas se eu sair às ruas de vermelho, porque vermelho é sim a cor da ESQUERDA, pode ser que você mesmo me hostilize.<br />
<br />
E o mais engraçado é talvez que nós, da esquerda, queremos mais ou tanto, o fim da corrupção. Mas não seja ingênuo. Como tem gente que defende que um campeonato roubado vale como qualquer outro no futebol, tem gente de esquerda que defende isso e de direita TAMBÉM.<br />
<br />
Só gostaria que essas opiniões diferentes fossem respeitadas e que no fundo as pessoas soubessem que os veículos de informação de direita defendem a direita. Parece um pouco óbvio, mas não é. E no fim, acho que vou tentar dormir, já que as buzinas se acalmaram.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-40578580948327357102015-08-11T22:30:00.000-03:002015-08-11T22:31:01.671-03:00"Parir com dor é muito bíblico pra mim"**Advertência: esse post é enorme. Leia com moderação.<br />
(finalmente sai o meu relato de parto) <br />
<br />
Eu nunca pensei que fosse chegar o dia onde eu iria colocar no meu blog um relato de parto. Ainda por cima o meu. Mas eu estou batendo o recorde de experimentar coisas que disse que nunca faria ou que nunca me imaginei fazendo na vida. Em suma, eu sou uma pessoa que sempre paga. Paga a própria língua.<br />
<br />
Como poderia ser o parto de alguém que não planejou estar grávida e que no começo da gravidez teve problemas em lidar com ela? Eu confesso que minha ficha demorou muito a cair. A barriga ia crescendo, o bebê mexendo, eu via o feijãozinho virar um bebê perfeitinho, com bracinhos, perninhas, seu coração batia e mesmo assim eu custava a acreditar que estava realmente gerando um bebê. Vamos e convenhamos, é muito louco saber que existe uma outra vida dentro de você e que é sim independente. Um ser diferente de você. Ele mexia e eu relutava em acreditar que não era mesmo o meu estômago (afinal, a gente não controla os movimentos digestivos ou intestinais), a sensação pra mim era muito parecida.<br />
<br />
Depois do choque inicial veio o pragmatismo. Eu estava grávida, prestes a mudar de cidade e sem muita ideia do que fazer da vida. Então, era hora de decidir. Lá fomos nós de mala e cuia, bebê na barriga, gato na caixinha de mudança pra Londrina. Fomos esperando um futuro melhor, uma vida mais tranquila e mais oportunidades de trabalho pra mim, já que o Marcos já tinha muito o que fazer por lá. Começou então toda uma peregrinação para achar outros médicos, dar continuidade ao pré-natal, descobrir uma padaria boa, decorar a casa (mais ou menos, pq a gente não tem tanto dinheiro quanto pobre de novela da globo) e sem saber, traçar o perfil de pais e de parto que queríamos ser e ter. <br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1B3IwYSV3xnC3_GSyAJWK0wdSUQYhsskQozr4Xbzh9nRGZ2EDrhH8jmh6A4TERWiZPWBM_g6CGUWRxPVfZup2VFfEB8cx3Tp6pJQPg-UCFKai2x5UVzQw6mJUtKv9R2b5mcxWZ5zBjLw/s1600/Cha%CC%81+de+bebe%CC%82_Bolo+de+Fralda.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="139" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1B3IwYSV3xnC3_GSyAJWK0wdSUQYhsskQozr4Xbzh9nRGZ2EDrhH8jmh6A4TERWiZPWBM_g6CGUWRxPVfZup2VFfEB8cx3Tp6pJQPg-UCFKai2x5UVzQw6mJUtKv9R2b5mcxWZ5zBjLw/s1600/Cha%CC%81+de+bebe%CC%82_Bolo+de+Fralda.jpg" width="200" /></a>Eu sempre tive problemas com excesso. Queria ser uma mãe moderada. Acho que depois de tanto estudo sobre pressões sociais em torno da maternidade acabei pegando um pouco de trauma de coisas como "centro de mesa em forma de bolo de fraldas", "new born álbum" além, é claro, de toda aquela avalanche de roupas e brinquedos já sexualmente orientados. Infelizmente não poderia criar meu filho como se morasse na Suécia. Por aqui tem gente que briga com mães que andam com seus filhos no sling e muita gente não arreda o pé da fila para deixar uma grávida passar. Mas seria possível achar um meio termo?<br />
<br />
Uma amiga minha doula escreveu em sua timeline que se você quiser tem um parto normal, vai ter que se esforçar e estudar muito porque as pessoas vão tentar te empurrar para uma cesárea. Como eu queria que isso fosse mentira! Mas infelizmente não é. Eu realmente não queria ter que estudar para ter o meu filho. Eu queria que o processo fosse calmo e tranquilo e não passar a gravidez ouvindo relatos de violência obstétrica.<br />
<br />
Percebi cedo que não teria como escapar. A primeira médica que eu visitei foi logo me perguntando qual era o meu tipo de plano, pois se fosse enfermaria ela não me atenderia. Ela não perguntou nada antes. Era melhor ter colocado uma placa na porta do consultório dizendo "Não aceito enfermaria nem Mastercard". Já aqui em Londrina, ouvi de outro médico que além de eu estar gorda demais para ter um parto normal, era muito baixinha e isso impedia o parto. Sério? Ele deveria ter perguntado o meu nível de escolaridade antes para inventar um caô melhor. Felizmente eu tenho amigas doulas que me deram a dica de procurar grupos na internet que apoiassem o parto humanizado e eu acabei encontrando o Gesta, que me levou ao encontro das doulas de Londrina que me apresentaram pessoas que pensavam parecido comigo.<br />
<br />
Através desse grupo eu recebi indicações de médicos adeptos do parto humanizado e dicas preciosas de como resistir as tentações do caminho mais fácil que na verdade é mais difícil depois. Quais as vantagens de um parto normal? Quer dizer, eu poderia muito bem ter marcado uma data, ter ido ao salão, feito cabelo e unhas, depilado a região e pronto. Sem trabalho nem sofrimento. Mas não acho que é bem assim. O parto normal, como o próprio nome diz, é o normal. A cesárea deve ser feita quando o parto normal não é indicado. Isso seria a minoria dos casos. Mas eu nem vou discutir essas coisas. Acho que as mulheres devem ter informação suficiente para optar sem ter um lobby por trás.<br />
<br />
Porque eu optei? Bom, o parto normal não é um procedimento cirúrgico, ou seja, menos risco de contaminação e melhor recuperação. Além disso, a recuperação é bem mais rápida. Tirando o cansaço muscular, no dia seguinte eu já estava me sentindo ótima. E vai por mim, toda a dedicação que o recém nascido demanda, é melhor você estar super bem para encarar o fardo.<br />
<br />
Eu não sou muito adepta da teoria do vínculo, mas realmente acho que para alguém como eu, que estava lutando para deixar a vida virar de cabeça pra baixo com a maternidade, ser a primeira pessoa a segurar o filho e falar com aquele ser que ficou quase 10 meses dentro de mim foi muito especial.<br />
<br />
Nossa, eu não consigo mesmo começar a contar a história do meu parto, mas é que sem o contexto a história perde metade da emoção.<br />
<br />
O que eu posso dizer? Eu procuro o meio termo na vida. Muitas vezes isso não é possível. Mas quanto ao quesito maternidade e parto, realmente queria algo relax. Afinal de contas, conhecia muito sobre a maternidade pela culpa, altruísmo obrigatório, tripla jornada...<br />
<br />
Quando o resultado apareceu positivo, pedi ao Marcos que lesse um livro chamado "A mãe de todos os mitos", de uma jornalista chamada Aminatta Forna, que é anglo-marfinesa. Ou seja, tem uma mãe inglesa e o pai da Costa do Marfim. Ela compara os dois tipos de maternidade, ocidental e africano.O que mais interessa no livro é que ele mostra como as mulheres ocidentais lidam praticamente sozinhas com a maternidade e as pressões psicológicas dela. Diferente das mulheres africanas que contam com uma família estendida, nós contamos, quando muito, com a mãe e a sogra. Isso quando essa dupla não se concentra em criticar o modo que escolhemos para criar nossos filhos.<br />
<br />
Porque eu pedi para o meu marido ler esse livro? Bom, estamos quase sozinhos aqui e eu sei que ele trabalha, mas se ele pudesse entender a monstruosidade de trabalho que dá um bebê, talvez seria mais fácil dividir as tarefas com ele. E deu certo. Eu tive a sorte dele ainda ter lido outras coisas por conta própria. Descobriu que amamentar não é fácil e que muitas mulheres desistem por falta de apoio. Ele acabou decidindo me ajudar nessa empreitada e minhas tarefas pós-parto se resumem a mim e ao bebê.<br />
<br />
Mas voltando ao parto. Por que eu falei do vínculo? Existe muita coisa que não é regra e que as pessoas fazem parecer que sim. Esse negócio de falar com o bebê e sentir uma ligação cósmica com ele a partir do momento que se descobre a gravidez é um deles. Eu nunca consegui levar muitos papos com o Antônio quando ele estava na minha barriga. Eu pensava e pronto. Não conseguia falar com ele como se ele ouvisse. Para mim era mais fácil acreditar que tínhamos uma ligação telepática do que acreditar que ele me ouvia de dentro da barriga.<br />
<br />
Por essas e por outras eu queria um parto normal. Precisava ver aquele ser que se mexia na minha barriga dar o ar da graça. Ver e sentir que ele saiu de dentro de mim e de fato, isso me ajudou muito a estabelecer o meu vínculo com ele, pois assim que ele nasceu eu amei aquela coisinha branca e enrugada que veio para o meu colo e que tentava se adaptar ao novo ambiente hostil que se encontrava. Foi o momento mais emocionante da minha vida. Até hoje eu choro ao lembrar do meu parto. É fato que o instinto de proteção que sentimos é tão forte que demora um tempo pra você sentir o amor pelo bebê. Mas esse só vai crescendo.<br />
<br />
Eu não sou uma pessoa que gosta de fazer o que todo mundo faz. Não tirei fotos do meu parto, não filmei e também não postei milhões de coisas na internet. Eu queria que aquele momento pudesse guardar a magia das memórias de infância onde quase sempre as fotos não condizem. Queria que cada um dos presentes guardasse suas próprias impressões e que cada vez que conversássemos sobre o assunto, algo novo surgisse.<br />
<br />
As vezes eu me pego lamentando pelos outros (o inferno são eles mesmo!) por não ter provas para me gabar do meu parto. Mas nessas horas eu me lembro do Marcos vestindo as roupas do hospital cortando o cordão umbilical com os olhos cheios de lágrimas. A nossa doula-fada Jéssica que soube interpretar a intimidade do momento e conseguiu tirar as poucas fotos que temos do nosso parto com toda a magia do momento... Eu não me arrependo de nada, nem do que deu "errado".<br />
<br />
"Finalmente"!!! <br />
<br />
Como foi então o meu parto? Bom, aconteceu numa segunda-feira. Eu estava com 41 semanas e cinco dias. Como toda mãe logo conhece a culpa, eu comecei me sentindo mãe pela culpa. Achei que o meu bebê estava muito quieto. Esse sentimento foi piorado pelo fato de muita gente me ligar perguntando se "já tinha nascido". Quando dizíamos que não, sempre ficava no ar aquela sensação de que estávamos sendo irresponsáveis e negligentes. Tentávamos explicar que a DPP é uma data PROVÁVEL e não certa do parto, mas não adiantou. Aquele sentimento de culpa me invadiu e eu fiquei com medo de estar arriscando a vida do meu filho. Com isso, a minha GO pediu que eu fizesse um exame chamado cardiotocograma (ou algo assim). Que marca os batimentos cardíacos e os movimentos do bebê num gráfico.<br />
<br />
Fomos fazer o exame e eu fiquei quase duas horas esperando. Nesse tempo, o meu café da manhã já tinha ido embora. O bebê estava quietinho para poupar energia, já que eu estava com fome. Na hora do exame a médica responsável, acho eu, que foi bastante irresponsável. Pois além de me deixar duas horas esperando ainda não tinha o aparelho certo para estimular o bebê. Ela simplesmente sacudiu a minha barriga e fez o exame. No seu laudo, não mencionou a precariedade do método de estímulo e ainda disse no final que com 41 semanas eu tinha que pensar seriamente no que fazer. Basicamente me deixou entender que eu estava sim colocando meu bebê em risco, já que escreveu que os batimentos cardíacos eram insuficientes.<br />
<br />
Minha médica ouviu meu relato e pediu que eu repetisse o exame em outro lugar. Acabei fazendo com ela mesma na Maternidade Municipal de Londrina, onde o resultado foi bem diferente. Ela me tranquilizou dizendo que poderia sim esperar até 42 semanas. Mas eu não aguentei. A semente da discórdia já havia sido plantada. O medo de qualquer coisa no bebê venceu a tranquilidade. E eu induzi o parto com um medicamento chamado misoprostrol (eu acho).<br />
<br />
Cheguei no hospital super calma. Levei uma muda de roupa pra mim e uma para o Antônio. Achei que o negócio era parir, ele nascer e a gente ia embora no dia seguinte. Hahaha "What fools these mortals can be!" Fiquei lá tomando o medicamento para prevenir o Antônio do strepitococos e esperando o trabalho de parto começar. Até aí tudo bem. Mas a minha mãe e a minha sogra estavam na minha casa e não quiseram ficar lá esperando. Foram nos visitar com a promessa de que no máximo umas cinco da tarde iriam embora. Minha mãe de vez em quando soltava que não era muito tarde para mudar de ideia, que eu poderia fazer uma cesariana.<br />
<br />
Eu escrevi o meu plano de parto, mas o Marcos não me incentivou a imprimí-lo. Ele achou que era exagerado e burocrático demais. Mas no final descobrimos que nem nós dois tínhamos nos comunicado sobre tudo o que queríamos do parto. Eu escrevi que não queria duas pessoas no meu parto: a minha mãe e a minha sogra. Também escrevi que não me importava de parir no quarto, já que não era permitida a presença de doulas na sala de parto.<br />
<br />
Sei que a minha bolsa estourou umas 20h e o trabalho de parto foi logo começando. Minha mãe e minha sogra ainda estavam no hospital e eu me vi achando que ia ter meu bebê sob pressão. Nessa hora acho que virei bicho-mãe. Me tranquei no quarto e disse que não saia mais de lá e falei para o Marcos tirar as duas do hospital. E lá fui eu para a partolândia. Não sei exatamente que horas a Jéssica, minha doula, chegou lá, mas de repente o clima mudou. Eu ganhava massagem, umas palavras mágicas sussurradas no meu ouvido e ela e o Marcos tentando me ajudar a passar de uma forma mais tranquila pelas contrações que rapidamente estavam de matar.<br />
<br />
Mal sabia eu do rolo que o Marcos passou com a mãe e depois com o pediatra enquanto eu estava lá do outro lado. Nós tentamos marcar uma consulta com o pediatra inúmeras vezes, mas como ele era amigo dos meus sogros, também pediatras, disse que estava tudo bem que não ia ter problemas. Falamos que queríamos um parto mais humanizado, pegar o bebê no colo antes dele passar pelos procedimentos e etc, mas ele pareceu não dar ouvidos. Disse que era a favor do parto humanizado e da amamentação exclusiva nos seis primeiros dias de vida do bebê. Hoje desconfio que ele não sabia o que significava um parto humanizado. Meia hora antes do bebê nascer o Marcos estava ouvindo dele que no quarto ele não faria, que era parte da conduta profissional dele e que a Sociedade Brasileira de Pediatria também não recomendava que isso fosse feito.<br />
<br />
Ah, eu esqueci de mencionar que a minha sogra saiu do hospital brigando com o meu marido porque nós íamos ter o bebê no quarto e que estávamos colocando a vida do nosso filho em risco. O Marcos não comentou nada comigo, mas passou o trabalho de parto todo tenso com medo de acontecer algo com o Antônio. Depois eu me senti muito mal pensando no Marcos e como ele deve ter se sentindo ouvindo de sua própria mãe que ele estava colocando a vida do Antônio em risco. Eu já havia lido muita coisa sobre parto humanizado, mas descobri que ele não sabia a diferença entre parto natural, normal e humanizado. Que nem sempre um parto normal é humanizado.<br />
<br />
Eu agora me concentrava na dor e como respirar durante as contrações que vinham cada vez mais fortes. Eu gritava muito, mas achei que ia aguentar, e a princípio não queria anestesia. Não dei conta. Com oito de dilatação comecei a pedir a anestesia que fui receber com 11 (eu acho), mas mesmo assim não mudei de ideia. Comecei a parar de respirar durante as contrações e sabia que essa era a pior coisa que eu podia fazer. Fiquei com medo de não ter oxigênio suficiente para o Antônio, e isso eu sabia que era o maior medo do Marcos.<br />
<br />
Mas quando a anestesista chegou, pareceu bastante contrária a ideia de anestesiar uma paciente no quarto. Eu me lembro até que ela fez um comentário sarcástico, mas depois de um tempo dentro do quarto, foi contagiada pela aura da partolândia. Eu já estava recebendo minhas doses de ocitocina, mas achava que todo mundo esta envolvido no clima. A música estava muito boa. Florence & the Machine. Eu olhava a enfermeira e ela com uma expressão calma e feliz. Todos estavam assim. Acho que o Marcos nesse momento deixou um pouco as preocupações e começou a participar do clima.<br />
<br />
Eu tinha sono. Não me lembro se as pessoas falavam com o tom normal comigo ou se todo mundo estava falando baixinho. A anestesia fez efeito e eu fiquei muito feliz em não ter sido teimosa. Nada contra as mulheres que querem sentir ao máximo suas dores, mas no momento que a anestesia fez efeito me lembrei imediatamente daquela passagem na Bíblia em que Deus condena Eva e todas as mulheres a parir com dor. Nessa hora eu disse a frase que, para mim, foi a frase do parto: "Parir com dor é muito bíblico pra mim".<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZXvhN7D99OJkUsEw577_AaEPMK-NC1-Wh72LgMpCAEvlNlZyCTqCuqex7uyn6q02CvKfeAwXn0NOxwIUI5432HRn9e_d3Y1fcE7AHO7nXrhLjD4tKfl3DcuS4eM3a6zS-4TjnqYfvF84/s1600/IMG_2729.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZXvhN7D99OJkUsEw577_AaEPMK-NC1-Wh72LgMpCAEvlNlZyCTqCuqex7uyn6q02CvKfeAwXn0NOxwIUI5432HRn9e_d3Y1fcE7AHO7nXrhLjD4tKfl3DcuS4eM3a6zS-4TjnqYfvF84/s1600/IMG_2729.JPG" width="200" /></a>Nesse momento todos riram e eu vi uma pessoa que não estava lá antes. O pediatra. Não era aquele que conversamos, mas acabei dando sorte. Ele se apresentou super calmo e eu me dei conta que o Antônio devia estar quase saindo. O expulsivo estava a todo o vapor. A minha GO, Dra Marlene Nonaka (médica humanizada!!!) me orientava sobre como fazer força, já que eu estava anestesiada. Mas a quantidade foi pouca. Só para aliviar a dor mesmo. Eu ainda sentia os meus músculos contraírem. Fui fazendo força a cada contração e de repente vi aquela coisinha suja e pequena surgir ao mundo. Estava tocando uma música da Florence bem lenta e eu me esqueci o nome. Lembro que durante o TP pedi para colocarem algo mais animado para que eu não dormisse. Peguei o Antônio nos braços e disse "Oi, filho! É a mamãe!"<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn23vyUQEM5kFxD9O9dJOq_A0E8HjJcC6C0tfV98YT5b1O3qDQuogamSpr048sUC8LcwwGBXiqT-3qIB8LOxHLB4BXFmMADe66VXUE9KQ66K4PJvJrFfp-ifCAybllb4wWOq3YkSZn160/s1600/IMG_2730.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn23vyUQEM5kFxD9O9dJOq_A0E8HjJcC6C0tfV98YT5b1O3qDQuogamSpr048sUC8LcwwGBXiqT-3qIB8LOxHLB4BXFmMADe66VXUE9KQ66K4PJvJrFfp-ifCAybllb4wWOq3YkSZn160/s1600/IMG_2730.jpg" width="133" /></a>O Marcos falou com ele, mas nesse momento, parecia que o tempo havia sumido. Ele se aconchegou no meu colo, mamou e eu finalmente chorei com a sensação de dever cumprido. Com toda a emoção represada, pensei "eu pari". Coloquei o meu filho no mundo e isso ninguém pode me tirar. Deu tudo certo. Ele não teve absolutamente NADA. Ficou conosco o tempo todo. Nada de caixinha nem enfermeira. Do meu colo ele foi para o colo do pai e ficou mais um tempão. O que eu não consegui fazer o Marcos fez. Ele cortou o cordão umbilical, estava presente no primeiro banho (que eu não vi porque desmaiei de sono). Mas eu sei que depois que ele nasceu, a sensação foi de tranquilidade, paz. Me irritava continuar no hospital para fazer "teste do pezinho, da orelha, do olho...". Tudo que eu queria era estar no meu canto com o meu filho. Mas dos males o menor.<br />
<br />
A família estava completa e eu havia finalmente me tornado mãe. Algo que eu sinto que me torno mais a cada dia. Sem deixar de lado todas as outras identidades e papéis que vieram primeiro.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-16011781940674829002015-04-29T21:37:00.001-03:002015-04-29T21:37:41.111-03:00Difícil falar alguma coisaComplicada é a situação que me encontro. E falar alguma coisa em meio a essa barbárie orquestrada pelo governador do Paraná de conluio com 31 laranjas contra os professores do Estado me embrulha o estômago. Pensar que meu marido se tornará um professor nesse Estado me entristece. Chegamos aqui cheios de esperanças. Tínhamos a ilusão de que os estados do Sul eram menos retrógrados. Sabíamos que aqui não era a Suécia, onde moramos no ano de 2011. Também sabíamos que não estávamos na capital, e isso faz uma certa diferença. Mas foi lá onde tudo ocorreu.<br />
<br />
Como pode o país pensar em economia ou qualquer coisa quando algo desse tipo acontece com os professores??? Sabe quem são os professores? Os poucos que não pensam só no seu próprio umbigo. Que gastam suas pernas e suas cordas vocais todo santo dia tentando fazer algo que possa realmente mudar o país.<br />
<br />
É inadmissível sermos chamados de baderneiros. Nós sabemos bem o que é uma baderna. Lidamos com alunos indisciplinados, salas superlotadas, falta de infraestrutura todos os dias. Sabemos que fazer baderna é o pior jeito de se fazer uma reivindicação. Os professore do Paraná não foram ouvidos. Eu acho que depois dessa o governo não pode falar que tem qualquer compromisso que seja com a educação. Talvez que queria extinguir a mesma. Espero mesmo que o Governo Federal intervenha no Estado do Paraná para que os meus colegas possam recuperar a paz. Trabalhar com dignidade, serem pagos pelo trabalho nobre que fazem. Porque ao contrário dos políticos, que ao votarem algo em sessão extraordinária, ganham uma hora extra maravilhosa chamada jetom, nós, professores, não ganhamos extra pelo preparo de aula, pela correção de prova, pelo atendimento aos pais... Não dá nem pra comparar.<br />
Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-26846260134351844652015-02-05T18:07:00.000-02:002015-02-05T18:07:06.764-02:00A maternidade empodera mulheres?O problema dos conceitos é que eles podem ser estendidos até a exaustão e podem também acabar perdendo o sentido, ou se esvaziando, se preferirem.<br />
<br />
A palavra empoderamento me é muito cara. Lembro bem do meu caro amigo Davi Miranda querendo retirá-la da minha dissertação por não constar no VOLP. Claro, depois que eu expliquei que era um conceito do feminismo e que ele poderia deixar o empoderamento quieto no texto, ele concordou. ;)<br />
<br />
Empoderar não tinha um equivalente em português e foi uma tradução do termo em inglês empowerment. Não é o mesmo que dar poder e por isso não pode ser substituído pela expressão. Quando vc dá poder, cede algo que é seu a alguém. Como a mãe que no desespero para fazer o filho se comportar pega emprestada a autoridade do pai e diz "se vc não se comportar eu vou falar para o seu pai". Ela mesma não tem autoridade e precisa invocar a figura paterna para que o filho a obedeça.<br />
<br />
Por isso, no intuito de fazer mulheres como essas e grupos minoritários terem eles próprios poder, cunhou-se o termo. Empoderar é dar meios ou acesso aos meios para que os grupos desempoderados possam ter acesso ao conhecimento e mecanismos que possibilitem a tomada do poder. Coisa linda!<br />
<br />
(In)felizmente muitas mulheres apenas tomam conhecimento desse termo pelo parto humanizado ou pela maternagem. É bom pois assim elas tem a possibilidade de fazer com que seu parto seja algo humano e uma escolha própria, e não uma prescrição médica autoritária. Mas é ruim porque muitas vezes passa a ideia de que somente a maternidade é capaz de empoderar uma mulher.<br />
<br />
Agora que eu sou mãe, talvez possa falar às minhas colegas de pós-graduação que a maternidade é sim uma condição que reúne mecanismos de empoderamento feminino. Mas também ela pode ser travestida de um discurso empoderador e no fim, continuar responsável pela inexpressiva participação da mulher na sociedade.<br />
<br />
É um tema bem complicado e eu confesso que nem tenho mais opinião formado sobre o assunto. Tenho sim algumas reflexões. Uma coisa que eu tento optar, sempre que tenho dúvida, é pelo meio termo. Claro, nem sempre é possível, mas ajuda muito.<br />
<br />
Digo isso porque vejo algumas amigas mães tentando ser a mulher maravilha. Eu já assumo logo que não tenho super poderes e vou ser feliz comigo. Por exemplo, eu não tenho o poder de ir ao banheiro com o meu filho no sling. Não tenho o super poder de ficar com ele horas no colo pois minha mão fica dormente. Não tenho o super poder de adivinhar de imediato todas as necessidades dele e ele chora. Não tenho o super poder de me multiplicar e cuidar da casa e do desenvolvimento emocional, físico e motor do meu filho. E principalmente não tenho o poder de ser a melhor pessoa para ele o tempo todo. As vezes o colo do meu marido é mais gostoso, o banho dele é melhor e as vezes ele está mais descansado e tranquilo para tomar uma decisão sobre ele ou nós tomarmos em conjunto.<br />
<br />
Eu acho lindo criação com apego, mas acho um pouco complicado na nossa sociedade. Não li muito a respeito, mas me dá a impressão de ser mais uma cobrança para a mãe. Aliás, eu adoro o pediatra do meu filho, mas toda vez que ele me diz que é uma maravilha para o meu filho eu estar desempregada pois além de eu ser responsável pelo desenvolvimento do meu filho com a amamentação eu sou importante também pelo desenvolvimento psicológico dele, eu tenho vontade de mandar o doutor às favas.<br />
<br />
Todo o contato que o meu filho tem com o mundo é importante para o desenvolvimento psicológico dele! Esse discurso é muito freudiano. É como aquela passagem que ele diz que basta a mãe colocar uma foto do pai na parede e apresentá-lo a criança que seu papel na criação está feito. O que é importante não é a quantidade do contato e sim a qualidade. Se eu estou me matando para cuidar dele e frustrada não vou ter um contato tão bom como aquele da mulher que está bem consigo mesma, mesmo que tenha pouco tempo para ficar com o filho.<br />
<br />
E falo que tempo para ficar com o filho não é uma escolha na nossa sociedade brasileira. Uma mulher que abdica da sua carreira para ficar com o filho nem sempre toma a melhor decisão, pois corre o risco de, lá na frente, quando o filho estiver criado, ter um vazio enorme na vida. Mas estamos chegando ao ponto de termos apenas duas escolhas: ou você tem filho ou você trabalha. E o pior, nenhuma dessas escolhas te faz ter o respeito da sociedade, por mais que se diga que mãe é a coisa mais importante do mundo e etc.<br />
<br />
Se vc abdica da sua carreira para ser mãe, fica na dependência financeira do marido ou da família. Se vc continua, vive sob a culpa da negligência. O termo "menas mãe" que eu tanto odeio. Cada mãe é de um jeito e não existe apenas uma fórmula para criar filhos ou um jeito certo, um manual ou uma teoria.<br />
<br />
Eu concordo com minha amiga Stella. A gente tem que dar amor, carinho e respeito. O resto vai o que dá. Se tem leite, dá peito, se não tem, dá fórmula... O importante é a gente estar bem para não descontar nada na criança. Tem que ter sanidade acima de tudo. Não acho certo essa coisa de obrigar a mulher a fazer as coisas sob a lógica da culpa. Me dói o coração mulheres que passaram pelo maior sufoco e tiveram que fazer uma cesárea se sentirem mal e chorarem. Ou aquelas que tem complicações, que ficam com o seio sangrando, mas vão até o limite para tentar amamentar porque os manuais, panfletos e médicos dizem que o leite materno deve ser a ÚNICA fonte de alimento da criança.<br />
<br />
Que sociedade é essa em que começamos considerando a mãe como um ser do qual se pode tirar tudo? Não concordo. Eu estou bem, meu filho está bem. Se eu tiver que trabalhar e ele largar o peito, é porque era pra ser. Não quero que o meu filho cresça achando que é normal só eu cuidar dele ou que eu faça tudo por ele. Eu quero sim que ele tenha segurança ontológica para ser independente e feliz, mas quero que ele saiba que existe um limite para as coisas que eu posso fazer por ele. E eu faço sim tudo o que eu posso.<br />
<br />
É claro que eu gostaria de poder acompanhar todos os momentos do desenvolvimento dele. Mas eu gosto de trabalhar e não quero me sentir mal por isso. Além disso, para mim e muitas outras mulheres, trabalhar não é uma escolha. E para aquelas que podem escolher, é bom lembrar que a conquista dessa escolha foi um marco e um avanço na nossa sociedade do qual não podemos nem pensar em desejar um retrocesso.<br />
<br />
E se eu tiver que trabalhar e perder os preciosos momentos do desenvolvimento do meu filho, que fique registrado que a culpa não é minha, e sim dessa nossa sociedade cara de pau que diz que valoriza a família, mas não estende a licença paternidade, nem a maternidade, não constrói creches públicas em número suficiente, não promove cidades mais seguras para as crianças, não dá nenhum benefício (real) para quem tem filho e etc.<br />
<br />
Acha exagero? Talvez, mas coloco um questionamento: Porque as taxas de natalidade tem despencado no Brasil?<br />
<br />
É uma maravilha ter filho. Toda vez que eu vejo meu bebê sorrir feliz eu ganho o meu dia. Quando ele dorme tranquilo, também. Mas não é mais possível pra mim e para muitas outras mulheres, assumir um padrão de maternidade que não condiz com a realidade do dia a dia das mulheres brasileiras. Estamos cansadas da tripla jornada. E como diz Elizabeth Badinter, não estamos mais discutindo isso publicamente, estamos sim tendo o número de filhos que podemos ter, numa revolução silenciosa. <br />
<br />Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-78420242654960458852015-01-14T12:30:00.000-02:002015-01-14T12:30:27.122-02:00Maternidade no Brasil X SuéciaMuito tempo sem escrever no blog. Talvez eu tenha até perdido a prática. Mas a gente sempre tenta.<br />
<br />
Agora que sou mãe fica um pouco difícil falar de outra coisa. Eu assisto jornal e tudo, mas sinto uma preguiça de conversar sobre política... Acho "engraçado" o governo estar fazendo esse monte de corte em setores estratégicos e ter a cara de pau de me dizer que educação é a prioridade. Meio milhão de brasileiros tiraram zero na redação do ENEM. A educação tem mesmo que ser a prioridade. Mas vou deixar esse assunto para um outro post (se possível), pois não é sempre que consigo fazer o pimpolho cochilar durante o dia.<br />
<br />
Tenho duas amigas que moram na Suécia que estão mais ou menos na mesma situação que eu. Uma tem um bebê da mesma idade do meu e a outra está grávida. Eu não converso muito com elas porque o fuso horário complica as coisas, mas mesmo sem muito contato, apenas pelo facebook, eu morro de inveja, e muitas vezes me lamento de não estar lá. Não vou me mudar pra lá porque não tem emprego compatível com a minha qualificação e a do meu marido, mas as vezes não consigo deixar de me lamentar (nessas horas tento me lembrar do inverno)<br />
<br />
Motivos da minha inveja: Elas tem 18 meses de licença maternidade. Essa licença pode ser dividida com o pai da criança, o casal decide. Desses 18 meses o pai é obrigado a ficar com o filho por 2 meses.<br />
<br />
Além disso, tem outras coisas, como por exemplo, a mobilidade urbana. Eu mal consigo sair do meu prédio com o Antônio no carrinho sozinha porque a porta fecha em cima de mim, além de ser muito estreita. E não é só isso. A maioria dos lugares pressupõem que vc vai de carro. Não tem a menor infraestrutura para quem quer passear a pé. Pode me chamar de louca, mas eu morro de medo de andar na calçada com o meu filho no carrinho. A velocidade com que os carros passam e a calçada estreita faz com que qualquer colisão entre os carros vá parar em cima da calçada. A chance de sermos atingidos é muito alta. E ninguém em Londrina para na faixa de pedestre, isso torna a tarefa de "passear" nada simples. Eu tenho que sair correndo para atravessar o sinal, porque o tempo que ele fica verde pra mim é ridículo...<br />
<br />
Nessa horas eu me lembro daqueles ônibus que inclinam para os passageiros idosos, para os cadeirantes e os carrinhos de bebê entrarem e suspiro de saudade. Me lembro das calçadas largas, da cidade arborizada, calma, sem motos potentes acordando o meu filho quando eu finalmente consigo colocá-lo pra dormir. Fico pensando em como as minhas amigas vão poder confiar na creche do governo, e eu vou ter que pagar um dinheiro que eu não tenho para poder colocar o meu filho na creche...<br />
<br />
E nem me lembre do preço das coisas. Nossa indústria reclama quando o dollar está baixo, mas não conseguimos competir, não adianta. Os carrinhos de bebê nacionais não conseguem ter a mesma qualidade. E me diz, porque tudo de bebê, nacional ou importado é tão caro? Porque tem imposto sobre isso?<br />
<br />
Fico pensando nos malucos que aparecem querendo benzer o meu bebê ou sendo extremamente indelicados dizendo "tá muito quente pra ele", "tá muito frio", "ele é muito novo pra sair de casa"... E penso que na Suécia ninguém ia nem reclamar se eu colocasse uma saia nele ou fizesse um moicano. Penso ainda que essa "preocupação" é uma baita hipocrisia porque no dia a dia ninguém pensa nem em fazer uma cidade melhor para nossas crianças nem um país. Todos querem que eu compre um apartamento que tenha um play e pague uma babá para ficar com ele lá.<br />
<br />
Acho que eu já sei porque não converso muito com minhas amigas na Suécia sobre como está sendo a maternidade pra elas...Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-54868710874683362012014-10-28T17:03:00.000-02:002014-10-28T17:03:42.235-02:00Algumas reflexões sobre políticaNão sou especialista no assunto, mas como posso votar, acho que tenho o direito de opinar. De fato, o voto é secreto e eu não precisaria anunciar minhas escolhas políticas na internet. Outro fato é que eu não votei nessa eleição. Também não me arrependi de não tê-lo feito.<br />
<br />
Dizem que o Brasil está dividido e ressaltam que a diferença entre Dilma e Aécio foi de apenas pouco mais de 3 milhões de votos. Mas acredito que a diferença seria maior se pessoas como eu tivessem ido votar. Fico feliz e triste por Dilma ter levado essa. Eu até achei que ela não parecia muito animada em concorrer novamente. No início da campanha, me parecia estar cansada da política. Mas enfim, isso são apenas especulações.<br />
<br />
Uma prima minha disse que queria saber porque eu voto no PT por ideologia. Dois erros nessa afirmação, eu não sou petista e não voto no PT por ideologia. Acho até que o PT não tem mais a mesma ideologia que teve no passado, mas é bom ressaltar que, por mais que os eleitores não tenham, todos os partidos políticos tem uma ideologia.<br />
<br />
O humorado dicionário filosófico de Comte-Sponville diz que o termo ideologia significava a ciência das ideias e que seria então a ciência das ciências. Mas essa acepção caiu em desuso e o sentido que conhecemos hoje é o que foi dado à palavra por Marx. Esse seria:<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i> "a ideologia é um conjunto de ideias ou representações (valores, princípios, crenças...) que não se explicam por um processo de conhecimento - a ideologia não é uma ciência -, mas pelas condições históricas da sua produção, numa sociedade dada, especialmente pelo jogo conflitual dos interesses, das alianças e das relações de forças. É como um pensamento social, que não seria pensado por ninguém mas que pensaria em todos, ou melhor, dentro do qual todos, necessariamente, pensariam. A ideologia é inconsciente: ela é o lugar social e historicamente determinado de toda a consciência possível. É a linguagem da vida real. Ela é por natureza, heterônoma: sua história está submetida à da sociedade material, ela própria dominada "em última instância" pela infraestrutura econômica". </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O verbete se estende por mais 3 páginas, só para se ter uma ideia da tarefa complexa que se é definir "ideologia". Acho que a última parte é mais esclarecedora, as ideologias são próprias de uma sociedade. Eu diria ainda que cada segmento dela, devido a sua história, tem sua própria ideologia. Eu não me lembro se estudamos isso no segundo grau, mas em termos de política existem ideologias de esquerda e de direita muito parecidas. Por exemplo, se falarmos de extrema direita e extrema esquerda ou centro direita e centro esquerda. No Brasil temos uma certa dificuldade em entender essas diferenças também pela boa qualidade da nossa imprensa. Só para termos uma ideia, a notícia depois das eleições foi o que a capa dos principais jornais estrangeiros diziam sobre o nosso pleito. Os nossos realmente não tinham o que dizer. Pareciam estar esperando que os de fora lhes dissessem o que tinham que pensar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sempre me perguntei o que levava uma pessoa a ser de direita. Tive muita dificuldade em aceitar, até por preconceito. As ideologias de direita não pregam a igualdade entre os homens, por mais que digam serem todos os homens iguais perante a lei. Elas acreditam a liberdade de oportunidades, no estado mínimo, no livre comércio e no respeito a propriedade privada. Esse é um resumo, pois as ideologias tem muito mais do que isso. A direita não é necessariamente conservadora. E o grande atrativo dessa ideologia é a redução do estado, pois isso implica em redução da carga tributária. Mas na minha visão essas bandeiras acabam sendo conservadoras no sentido que se concentram em conservar privilégios de quem já está estabelecido quando se resolve "abrir" o comércio e reduzir o estado, deixando os mais fracos desamparados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muita gente da classe média é seduzido por essa proposta, pois a carga tributária tem um grande peso nessa classe, já que os mais pobres estão fora da faixa dos que pagam imposto de renda. O que muitos ignoram é que os mais pobres pagam proporcionalmente muito mais impostos, pois quase tudo o que consumimos é tributado no nosso país. Se levarmos em conta o gasto que uma família pobre tem com transporte, por exemplo, talvez seja muito mais alto do que uma de classe média gasta com imposto de renda. Mas quem se importa, não é mesmo? Farinha pouca o meu pirão primeiro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que eu acho que as pessoas de direita ignoram é que a desigualdade social aumenta a violência. Além disso, contrario ao que muita gente acredita, é muito melhor uma sociedade onde a diferença entre ricos e pobres não é grande. Uma sociedade rica é aquela onde todos são ricos. Outra coisa que eu gostaria de comentar sobre o assunto é a famosa política "assistencialista". Todo mundo adora falar sobre o bolsa família, mas pouca gente gosta de se informar sobre o assunto. Alguns mitos merecem ser desfeitos. Nós não estamos dando esmola, o programa tem outras ações vinculadas a ele que funcionam como aperfeiçoamento e política de saída. Outra questão é o montante de dinheiro destinado a ele. Eu considero uma política direta e indireta. Tirar esse montante de pessoas da miséria ou da miséria absoluta tem consequências além da melhora na vida delas. Nós diminuímos gasto com saúde, reduz a violência, entre outros. De um certo modo o dinheiro não é só para eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que muita gente não consegue entender é que isso é um exemplo de política direcional, na tipologia cunhada por Gøsta Sping-Andersen. Um governo falha em estender o estado do bem-estar social à todas as camadas da população. Direciona as políticas a uma só camada e acaba fazendo com que os setores da sociedade se desunam em vez de cobrar do governo que a política seja ampla. Exemplo, nem todos precisam do bolsa família, mas se a saúde fosse de qualidade, não seria necessário pagar um plano de saúde e todas as classes poderiam usufruir do sistema de saúde. O que muita gente acha é que o governo só ajuda a classe baixa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Só que no lugar de querer que todos tenham os mesmo direitos, muitos querem que os menos favorecidos sejam menos favorecidos ainda. A classe média, até certo ponto, pode arcar com um plano de saúde e fazer cortes para economizar no orçamento, mas como fazem aqueles que mal podem pagar uma cesta básica? É claro, a centro direita não é contra políticas sociais, mas pelo que eu já vivi até hoje, sei que o foco dela não é esse.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Qual o meu problema com a "livre iniciativa" e o "estado mínimo"? É histórica. Os países mais desenvolvidos do mundo não adotam mais essa política. E quando falo desenvolvidos eu excluo os EUA por 2 motivos: não conheço muito o que se passa lá e seu que a desigualdade lá é grande. Falo dos países europeus, pois conheço um pouco mais sobre eles, o Canadá e, infelizmente, não sei como a política funciona nos Tigres Asiáticos e no Japão, então ficarei só com os ocidentais acima citados. Os "avanços" da Inglaterra na era Thatcher são um bom exemplo do quão ruim o neo liberalismo pode ser. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Reduzir o estado deixa uma lacuna. Quem pode pagar pelos serviços paga, quem não pode se lasca. Transferir para a iniciativa privada aquilo que o governo deveria fazer nunca funcionou no Brasil. Tem gente que pode argumentar que foi porque o modelo das agências reguladoras foi falho ou foi mal feito. Mas em alguma configuração seria diferente no Brasil? Voltando à livre iniciativa. O discurso é velho. Usam exemplos vitoriosos para dizer que todo mundo pode conseguir, mas esquecem que os vitoriosos são uma exceção e não a regra. Sem se lembrar também que os ricos tem mais oportunidades do que os outros. Ora, se pregam tanto a meritocracia, deveriam zerar as heranças familiares e a condição de vida de cada um para a competição ser justa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em resumo, é por isso que eu sou de esquerda. Poderia falar muito mais coisa sobre meu posicionamento, mas acho que uma hora é preciso resumir. E só para provocar, eu fico muito feliz com pessoas ricas e bem de vida serem de esquerda, a esquerda caviar, pois eles se beneficiariam muito mais com um governo de direita, mas mesmo assim, querem uma sociedade mais justa. Eu não. Estou mais para esquerda sardinha mesmo.</div>
Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-47093838994152821132014-08-25T16:34:00.000-03:002014-08-25T16:37:47.977-03:00#vamosprarua<br />
Eu tenho algumas teorias, sem muita base, que muitas vezes gostaria de compartilhar, mas acho que serei mal compreendida. Mas talvez por escrito a coisa não seja tão absurda.<br />
<br />
Outro dia estava caminhando pela cidade e vi um grafite que dizia:<br />
<br />
<h2 style="text-align: center;">
<i> "que mundo você vai deixar para os seus netos?"</i></h2>
<br />
Isso me fez pensar que talvez esse raciocínio seja a razão de estarmos vivendo num mundo que desperdiça tanto e pouco liga para os recursos naturais. Não herdamos um bom mundo dos nossos avós e certamente não vamos deixar nada de bom para os nossos netos. Talvez porque ainda esperamos que os nossos filhos façam por nós o que deveríamos estar fazendo agora.<br />
<br />
Eu já fico pensando no mundo que o meu filho vai herdar e eu não posso dizer que não tenho uma parcela de culpa. Me envolvi muito pouco no processo político, não importa em qual esfera da minha vida. Mas não é motivo para desistir. Ainda tenho muita vida pela frente e ainda posso deixar um legado do qual meu filho possa se orgulhar.<br />
<br />
Mas voltando ao grafite. O que me incomodou? Bom, estamos diante de fatos que poderiam nos motivar a termos uma atitude mais inteligente diante dos desafios da modernidade. Por exemplo, a escassez de água do sistema da Cantareira em São Paulo. Porque as coisas chegaram a tal ponto? Primeiro porque temos um monte de político que imagina a vida do país apenas em termos da duração de seus mandatos. Depois, temos na nossa mente que o Brasil é um país continental, com recursos infinitos e para que eles comecem a acabar vai demorar muito tempo. Sempre podemos gastar um pouquinho mais. Além disso, temos uma economia baseada no agronegócio, que além de não nos alimentar acaba com as nossas terras e usa a nossa água potável. Mas infelizmente, todo mundo acredita ser crucial para o nosso crescimento. Tem gente que até pensa "A Europa consumiu seus recursos naturais e chegou onde chegou, para a gente chegar a algum lugar, temos que consumir os nossos também". <br />
<br />
Eu não concordo. Acho que é por isso que estamos sempre um passo atrás, porque nosso pensamento está parado no século XIX. Nós não podemos comer dinheiro nem beber dotz ou sei lá o que. Os nossos recursos naturais são sim a nossa maior riqueza, mas não para serem explorados, e sim para serem preservados. Eu vejo uma enormidade de pessoas com carros que bebem 8 litros de óleo a cada 5 meses, consomem 1 litro de gasolina a cada 8 quilômetros e andam sempre sozinhas dentro desses carros. Um utilitário enorme que nunca sai da cidade. Para quê a pessoa tem um carro desses? Qual a justificativa? Eu tento usar o mínimo possível o meu carro.<br />
<br />
Aliás, esse lobby das indústrias automotivas é um absurdo. Ela não gera tantos empregos assim, manda a maior parte dos lucros para suas matrizes e nós ficamos com a poluição que esses carros geram, e sua má qualidade. A maior parte dos carros produzidos aqui não passaria nos testes de segurança. A indústria automotiva não é algo tão bom assim para o Brasil. Nós não ganhamos em tecnologia, somos apenas mão de obra barata.<br />
<br />
Queria andar de bicicleta em Londrina, mas confesso que grávida ou com o bebê pequeno, tenho medo. As pessoas em geral, deixam de ser seres humanos para se tornarem bestas-feras-assassinas dentro de seus carros. E aqui não tem nem calçada para a gente escapar. Mas sabe de uma coisa, eu vou tentar. Vou tentar usar fralda de pano também, embora todo mundo me desencoraje.<br />
<br />
Quanto a minha teoria maluca, ela se conecta um pouco a todos esses problemas no sentido de resolvê-los. Estou morando em Londrina e uma coisa que me animou é o preço das casas. Relativamente bem mais baratas que os apartamentos e não tão isoladas da cidade como as de Brasília. Mas todo mundo diz que é muito perigoso.<br />
<br />
Eu acho que em parte, é porque as pessoas se fecham e deixam os espaços livres para os bandidos. Ninguém usa as pracinhas, anda pelas ruas. É todo mundo trancado, no carro, em casa, no trabalho. A sensação é ainda mais agoniante para mim, porque aqui é tudo muito apertado. Os carros se amontoam pelas ruas, as calçadas são minúsculas e você não tem nem onde esperar o sinal abrir, isso quando eles tem o de pedestre, pois muitas vezes a gente tem que adivinhar quando atravessar. Eu me pergunto, as pessoas gostam mesmo de viver assim? Eu não entendo, Londrina é uma cidade tão bonita, mas os moradores não conseguem perceber porque estão o tempo todo passando de carro pelas coisas, sem aproveitar nada. Ao mesmo tempo as crianças tem que brincar sempre em lugares fechados porque não dá pra ficar na rua. Se um menino perde a bola e sai correndo pela rua para pegar, provavelmente vai morrer atropelado. Pro isso eu acho que deveríamos ir pra rua<br />
<br />
<h2 style="text-align: center;">
<i>#vamosprarua</i></h2>
<br />
Ocuparmos os espaços, levarmos uma vida longe da loucura do trânsito é termos mais qualidade de vida. Temos que acreditar. Andar de transporte público quando formos percorrer longas distâncias, andar a pé quando o dia estiver bonito ou de bicicleta. Respirar um pouco de ar puro, conhecer os menores recantos da cidade. A gente tem um clima tão bom e não aproveita. Aqui não neva, faz sol, quase não tem chuva horizontal e nós sempre trancados, enjaulados.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/XuBdf9jYj7o?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
É mais barato, mais democrático, mais saudável e acrescenta mais qualidade de vida na rotina das pessoas. Eu acredito que seja possível. Se os holandeses conseguiram, a gente também consegue. E não adianta esperar que o governo faça. A gente tem que começar.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-49119284297927413612014-08-16T20:12:00.003-03:002014-08-16T20:12:52.649-03:00Assunto encerradoRealmente é muito triste e trágico o acidente aéreo que matou o candidato à presidência Eduardo Campos, mas a noticia para por aí. As investigações não foram encerradas e noticiar todo e qualquer movimento que se faça nesse sentido de pouco ajuda. Imagino que as famílias das vítimas devam estar sendo informadas do andamento da mesma. O resto, é enrolação de quem não entende o que mais está acontecendo no mundo e fica explorando a desgraça alheia.<br />
<br />
Do que adianta mostrar a área afetada? Eu não ouvi em lugar nenhum alguém falando de indenização às vitimas. A empresa que alugava o avião tinha seguro? Ninguém quer saber. Queremos sabem onde foram parar os pertences pessoais dos passageiros. Muito mais importante. Mais importante especular o que aconteceu com o avião sem nenhuma evidência ou prova, adivinhar o que tinha na caixa preta que nem ela mesma sabia. Mas enfim, isso é notícia no Brasil.<br />
<br />
É uma notícia simples e fácil. Colocam-se dois ou três jornalistas no local do acidente e eles exploram tudo com afinco. Entram nas casas atingidas com os moradores e mostram os estragos. Que beleza mesmo um apartamento todo queimado...<br />
<br />
Meus sentimentos a todas as famílias das vítimas, não só do mais conhecido candidato. Que não era meu nem antes nem depois do acidente, mas devo confessar que esse assunto está para lá de esgotado. Nada do que a imprensa tem noticiado pode ser aproveitado. Inclusive, deve ser muito chato para as famílias, que além de lidar com a dor da perda, momento de introspecção, reflexão, devem aprender a lidar também com a superexposição. <br />
<br />
Mas enfim, depois que o avião caiu o Ebola acabou, os confrontos mundo afora terminaram e o Sistema Cantarera está revigorado.<br />
<br />
<br />
Eu realmente acho que de nada fez falta eu ter ficado tanto tempo sem televisão. A maior parte do tempo os jornais falam de futebol e no mais, tudo aquilo que você precisa ser informado, passa correndo no
jornal local, batido no nacional e a gente ainda precisa aguentar o
sensacionalismo com o que todos os eventos comoventes, como o tal acidente, são noticiados. Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-55700611652761193912014-07-14T16:15:00.001-03:002014-07-14T16:15:25.528-03:00Aprendendo a lidar com os trolls...Não existe fórmula mágica. Por melhor ou pior que os seus textos sejam, cedo ou tarde você se deparar com eles. Confesso que pelo volume de leitores que tenho todo dia no blog, acredito que até tenho poucos trolls comentando por aqui.<br />
<br />
Antes de mais nada, devo dizer que muitas vezes fico lisonjeada em saber que tem gente que perde tempo para achincalhar alguém que não conhece na internet só porque não concorda com essa pessoa. Eu sempre priorizei criticar o comentário no lugar das pessoas. Afinal de contas, muitas vezes mudamos de opinião, o que significa que agimos de uma maneira x, mas não significa que somos assim. Mas os trols tem essa capacidade de argumentação superficial e de visão enviesada do todo que me surpreende muito. Muitos textos desse blog não recebem nem mais o meu olhar pela quantidade de comentários que mostram claramente que a pessoa que está comentando o texto não leu o que eu escrevi e está usando o meu espaço na internet para falar o que pensa, mesmo que não tenha relação com o assunto abordado no texto. É, as vezes parece uma coisa de louco.<br />
<br />
No começo eu me irritava e perdia mais tempo do que o tempo que o troll levou me xingando para respondê-lo, pois eu tentavam "elevar" o nível da argumentação. Como diria um amigo meu, um trabalho contraproducente. Ninguém que perde 2 minutos lendo um texto e 15 procurando adjetivos para xingar você nos comentários vai perder tempo para ler calmamente sua resposta e ponderar se por acaso poderia estar errado ou que talvez tenha um aspecto na sua argumentação que valha a pena rever. Para falar a verdade, na maioria das vezes, quando alguém argumenta anonimamente existe 80% de chance de se tratar de um comentário que contenha pelo menos uma ofensa à sua pessoa, mesmo que no texto não haja espaço para esse tipo de interpretação.<br />
<br />
Numa segunda fase, eu confeso, cheguei a me irritar tanto que descia ao nível do troll. Me irritava muito pensar que alguém poderia chegar ao ponto de me ofender gratuitamente na internet e não levar nem ao menos uma resposta desaforada. Infelizmente eu acabava me irritando mais e no fim, acabava chegando a conclusão de que a pessoa, ao ler o meu comentário desaforado ou nervoso, tinha atingido o seu objetivo. Objetivo esse que não era nem um pouco debater o tema em questão e sim me irritar. Como alguém que nem me conhece pode ter prazer em me irritar? Eu realmente não sei porque ou para quê, mas resolvi não dar o gostinho.<br />
<br />
Atualmente eu cheguei a uma conclusão que pode não ser perfeita, mas tem me agradado por enquanto. Eu deixo o comentário lá desde que não use palavras muito ofensivas, mas não respondo. Eu ainda leio porque ainda existem os 20% dos comentários anônimos que vale a pena serem lidos. Consigo até achar graça de muitos, sempre na linha do "como essa pessoa conseguiu pensar isso desse texto?". Outras me deixam um pouco triste ao ver o analfabetismo funcional em ação. Mas não vamos encarar isso como um problema social e fazer deste texto algo que não é. Basta dar uma olhadinha em qualquer fórum pela internet para perceber que esse problema trolístico não é uma exclusividade brasileira.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-61643172314401453682014-07-08T21:55:00.001-03:002014-07-08T21:55:33.367-03:00É, perdemos.Podia acontecer, não?! Aliás, a gente já tinha perdido antes no Maraca. Mas enfim, eu não estava animada para essa copa. Mas eu nunca estive muito animada para nenhuma copa. Realmente eu não gosto muito de futebol, mas a minha questão é mais outra. Época de copa é uma overdose. Parece que nada acontece no mundo.<br />
<br />
O Brasil realmente não para, mas a mídia cai em cima como se não houvesse amanhã. Isso me irrita um pouco. Devo assumir até que depois de ver 80% de todos os jornais repetindo a mesma coisa sobre a copa, eu sempre ficava com um pensamento "tomara que acabe logo". E de verdade, depois da copa, minha vida volta ao normal, como a da maioria das pessoas.<br />
<br />
Quanto a vangloriar a seleção alemã… Eles eram melhores que a gente desde o começo. O problema é que a gente sempre espera um milagre. Montamos um time em cima da hora, escolhemos um treinador teimoso, apostamos 100% no craque. Olha a receita e o resultado. Mas é claro que isso não é culpa da nação brasileira. Nós, meros brasileiros não temos nem como votar no elenco.<br />
<br />
Mas comparar o país Brasil com a Alemanha eu não acho correto. Somos um país ex-colonia sofrendo com a exploração econômica e com uma elite que não se identifica com o seu povo. Só na copa. Aí vemos todos pintados de verde amarelo torcendo nos estádios, vaiando a presidenta sem fazer a menor ideia da diferença entre protocolo e política. Vaiando o hino da equipe adversária e depois, na hora que perdemos, sentindo "vergonha".<br />
<br />
Vergonha de quê? De perder um jogo?! Eu tenho vergonha dessas pessoas que deveriam sentir vergonha de não assinarem as carteiras de suas empregadas domésticas, de usarem a máquina de xérox do serviço para tirar cópia dos livros didáticos "na brodagem" para os coleguinhas de turma porque é "de graça" se não for ele quem está pagando. Vergonha a gente tem que ter de sempre culpar os professores quando eles fazem greve e nunca apoiar o movimento de verdade. Tem que se ter vergonha de reclamar do transporte público quando nunca se pegou um ônibus. Vergonha de só torcer pelo Brasil na Copa, de só se sentir parte do povo bem longe da pobreza, na área elitisada que a FIFA transformou nossos estádios. Vergonha dessas pessoas que mesmo que o Brasil ganhasse, falariam mal de tudo, não veriam nosso mérito mesmo quando temos, mas não aceitam crítica dos outros. Vergonha desses obtusos, dos torcicolados intelectuais, dos verdadeiros coxinhas (por mais que a expressão já esteja bastante esvaziada).<br />
<br />
Não acho vergonha perder um jogo para uma equipe que jogou melhor e talvez seja a campeã. O placar poderia ser melhor? Poderia. Mas o futebol é assim, uma caixinha de surpresa. Nós inventamos o ditado e não sabemos o que ele significa?!<br />
<br />
A Copa é um evento onde jogam times que são compostos por pessoas que tem inteligência esportiva. Não podemos esperar que seja uma arena para um debate político produtivo, que seja a tradução do Brasil como nação. Claro que o futebol ajuda na coesão social, no sentimento de pertencimento do brasileiro. Mas todos sabemos que ganhando ou perdendo o futebol não apaga nossos problemas. Quem são esses 200 milhões em choque?<br />
<br />
Eu não estou em choque. Estou chocada com o número de casos de dengue em Londrina. Com a novo vírus que é agora carregado também pelo mesmo mosquito. Com o número de vítimas das enchentes todos os anos pelo país afora.<br />
<br />
Então, sinceramente, me desculpem os mais abalados, mas acho que a gente chora e entra em choque por coisas que realmente afetam a nossa vida e a da nossa comunidade.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-82092023042243924792014-06-25T16:20:00.000-03:002014-06-25T16:26:15.214-03:00Brasília é uma cidade turística, mas não é preparada para receber turistasMais uma vez eu me espanto com a maneira com que vemos as críticas.<br />
<br />
Felizmente eu tive a chance de turistar em algumas cidades do Brasil e outras fora daqui. Entendi muito do que o crítico do <a href="http://www.nytimes.com/2014/06/23/sports/worldcup/world-cup-2014-brasilia-a-distinctly-un-brazilian-city.html?_r=0">New York Times</a> falou em sua reportagem e achei um pouco exagerada a reação por parte de <a href="http://sobresambasesaudade.blogspot.com.br/2014/06/nao-se-sinta-mal-por-eu-morar-em.html">alguns brasilienses</a>.<br />
<br />
Não me entendam mal, todos tem pontos em seus argumentos. Começo dizendo que a percepção de alguém de fora e de alguém que mora na cidade são diferentes. O modo como a cidade lida com turistas e com nativos também é. Brasília, como muitas outras cidades no Brasil não é preparada para receber turistas, por mais que tenha potencial turístico.<br />
<br />
Não temos mapas da cidade em locais de fácil acesso. Não existem itinerários dos ônibus nas paradas ou qualquer outra informação em outra língua que não seja nas recentes placas de sinalização. Não existe um cartão da cidade que te dê desconto em peças e shows e que sirva também para o transporte público. Eu não sei como funciona o cartão do metro e se existe alguma integração entre ônibus e metro em Brasília, mas pela simpatia dos funcionários que vendem as passagens, eu, mesmo quando morava lá, nunca me senti impelida a perguntar. Mas será que eles falam inglês? Eu duvido.<br />
<br />
Onde fica o Turist Office de Brasília? No aeroporto? Nas outras cidade que visitei, a maioria deles ficava no centro, mas Brasília não tem centro. O lugar mais movimentado da cidade é o trecho entre o Conjunto Nacional e o Pátio Brasil, passando pela Rodoviária e o Setor Comercial Sul. Nada muito turístico.<br />
<br />
Aliás, é bom ressaltar que a maioria das pessoas prefere conhecer os pontos turísticos à pé e se deslocando entre grandes distâncias pelo transporte público. Algo muito difícil de fazer em Brasília por isso a sensação de isolamento. Se optar por andar a pé, não se chega a lugar algum em menos de 15 minutos de caminhada. O brasiliense (e talvez o brasileiro em geral) gosta do binômio carro-shopping, mas isso é algo que se faz e que existe em quase toda cidade do mundo. E vamos e convenhamos, shopping é tudo igual, as lojas são quase todas as mesmas. Bom mesmo é andar à pé, e de repente descobrir algo diferente do que estava planejado. Uma pracinha charmosa, um café, um monumento que não estava no guia...<br />
<br />
Mas enfim, voltando ao texto. Veja bem, o cara é turista, ele não está frequentando a escola para fazer amigos. Como vai conhecer as pessoas em Brasília? Eu morei 30 anos lá, desde que nasci até pouco tempo, e acho, sinceramente, que se você não tem ninguém para te introduzir a alguma turma, fica muito difícil fazer amizades ou descobrir onde ir e o que fazer. Se virar sozinho então, sem falar português parece um desafio e tanto.<br />
<br />
Bem, quanto ao entorno de Brasília, existem lugares bonitos, cachoeiras, natureza e etc. Mas as cidades satélites em si são mais uma massaroca de concreto desordenado e feio. Não discuto que são bons lugares para se morar, mas se eu fosse turista em Brasília não gastaria meu tempo conhecendo Águas Claras ou o Guará. É o tipo de lugar que a gente só vai se tem o que fazer ou quem visitar.<br />
<br />
É claro que o colunista do NYT usou um monte de clichês para falar de Brasília e suas críticas parecem ter sido embasadas por uma observação bem superficial. Um lugar frio o pouco acolhedor. Bom, você pode usar quase todos os argumentos referêntes a esse aspecto da cidade a críticas feitas ao bairro da Défense em Paris. Acho que o concreto armado inspira esse tipo de comentário.<br />
<br />
Mas Brasília tem sim seus paraísos perdidos em meio ao concreto. O parque da cidade, muitos jardins nas entrequadras, bares charmosos e cafés acolhedores… Pena que não dá para ver quase nada disso da janela do carro.<br />
<br />Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-26288400655368011902014-05-30T11:31:00.003-03:002014-05-30T11:31:59.009-03:00Sensibilidade moderna<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 15px; line-height: 1.15; white-space: pre-wrap;">Não se pisa em ovos esses tempos </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os ovos se quebraram</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Sobraram as cascas</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pisamos em porcelana fina</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Do sentimento de gente argelina</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Fake!</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Todo um é mais frágil que o original</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Cópias são sensíveis demais,</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">não duram, não resistem.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Lidam mal com o tempo, com a comparação</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os cegos de espírito se confundem</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Fragilidade por sensibilidade</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Agressividade por verdade</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Bem vindo ao século da falsidade!</span></div>
Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-88479101817166146692014-05-21T16:04:00.000-03:002014-05-21T16:04:59.442-03:00Como reivindicar algo do jeito que a imprensa quer?Esse post surgiu depois de refletir um pouco sobre o que a mídia quer da população. Sabe, desde as manifestações de junho do ano passado que escutamos coisas como "a população tem o direito de manifestar, mas sem violência", "as manifestações devem ser pacíficas", "nada de vandalismo" (e olha que muitas vezes os ônibus que são queimados já deveriam estar fora de circulação a muito tempo)... E dá-lhe críticas aos Black Blocs...<br />
<br />
Mas é engraçado, pois na maioria dos países do antigo 3º Mundo as manifestações sempre acabam em violência por conta da intervenção da polícia. Mas enfim, eu pensei bem e queria compartilhar alguns pontos:<br />
<br />
- Os manifestantes tem sido enquadrados pelo crime de formação de quadrilha.<br />
Na ditadura um aglomerado de pessoas conversando no meio da rua era caracterizado de que mesmo? Alguma semelhança? Todos aqueles que foram presos fizeram alguma coisa?<br />
<br />
A rede Globo não precisa lembrar, afinal, o Estado detém o uso legítimo da violência. Mas sabe, eu não me lembro se Max Weber se referia ao regime democrático. E mesmo se fosse, não acham que essa visão está um pouco ultrapassada. Falamos em democracia representativa e participativa a mídia puxa essa carta amarelada e mofada de "uso legítimo da violência".<br />
<br />
Tudo bem, vamos voltar com o quesito reinvidicações. Como a mídia espera que façamos as tais reivindicações? Os abaixo assinados podem (e muitas vezes) são ignorados. O que eu tenho impressão de que querem que façamos, no lugar das manifestações, algo tal um carnaval fora de época. Ou uma espécie de CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem) que lutava por máquinas de refrigerantes nos corredores da escola e recreios de 1 hora. A imprensa não gosta da população séria externando sua indignação com palavras de ordem. Não, temos que estar todos de mãos dadas, caras felizes e flores nos cabelos. Nada de coisas sérias, por favor. Dá trabalho para os repórteres. Eles vão ter que estudar para entender, quem dirá explicar.<br />
<br />
Mas porque manifestar então. Achei que o propósito de ir às ruas era justamente bradar para que a população seja ouvida, incomodar. Pois eu tenho a impressão de que os políticos não fazem a menor ideia e não tem o menor interesse em agradar o seu eleitorado. Vide a "mini-reforma eleitoral".<br />
<br />
Quais são os mecanismos democráticos de reivindicação? O voto? Muitos caçoaram o #nãomerepresenta, mas o que fazer quando isso é verdade? Eu tenho um voto para gastar com um candidato que pode ou não ser eleito. Dentre as opções de candidatos que são apresentados, o que fazer se nenhum me agradar? Eu sou mesmo obrigada a escolher o menos pior? Se a minha única ação política é votar, porque eu não posso votar diretamente nos assuntos que me interessam? Porque tenho que escolher um representante? E porque esse representante, mesmo sendo eleito por mim, vota de acordo com as afiliações partidárias, troca votos por postos, ministérios... E eu, tenho que ver isso e ficar contente? Falar "pelo menos eu votei consciente", deitar minha bunda no sofá em frente a televisão e ficar esperando um milagre acontecer?<br />
<br />
Ou ainda, até que ponto estratégias como tentar colocar membros de um mesmo partido no poder para que o governo tenha uma maioria x ou y não é ser condizente com um sistema que confunde ideologia com interesse? Agora estamos mais uma vez próximos das eleições e o que eu mais vejo são comentários vesgos sobre política. Confunde-se o governo com uma pessoa, o partido com um político, uma ideologia com uma barganha.<br />
<br />
Outra coisa que me preocupa é a pouca representatividade dos sindicatos e a aparelhagem da CUT. Regulamentação de greve e a simples possibilidade de se considerar uma greve ilegal para mim soa como um modo de impedir as reivindicações da população, das classes de trabalhadores. Os sindicatos sempre foram a forma dos trabalhadores se organizarem, pois os partidos políticos sempre exigiram tempo e dinheiro que essas classes não dispunham.<br />
<br />
Entretanto eu não acredito que não exista a diferença entre esquerda e direita. Acho apenas que muita gente se esqueceu o significado disso. Eu sou de esquerda, mas o PT não é o meu partido.<br />
<div>
<br /></div>
Certa vez eu disse que o brasileiro vota no político e o que quis dizer com isso é que muitas vezes ignora o funcionamento do executivo e supõe que seu candidato possa de alguma forma ser um ser todo poderoso que deseja e faz. Quase um justiceiro que não está sujeito às regras do nosso regime, ou que de fato o regime o permite fazer o que quer e que não beneficie aquele que age como todos. Enfim, votamos no político, mas ele não está sozinho. Os partidos que aí estão são cada vez mais do mesmo. Eu e a maioria do país votar nulo não irá anular o pleito nem obrigará uma mudança nas candidaturas. O sistema que aí está não permite aos pequenos, os ainda idealistas, que realmente disputem.<br />
<br />
- Me diga então, oh, grande mídia toda poderosa, o que devo fazer?<br />
- Votar ou não votar, eis a questão? Só?<br />
<br />Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-28964550345296155292014-05-20T19:15:00.000-03:002014-05-20T19:15:11.125-03:00O paradoxo da maternidadeMuitos ainda acreditam que o papel da mulher é ser mãe. A alegação se baseia no papel supostamente "natural" e "biológico" do sexo feminino. Para continuar com essa afirmação em tempos onde os instintos são tão pouco valorizados e tentamos ao máximo nos separar da natureza, fala-se do gratificante papel da mãe. Temos até um dia para elas (!) Mas contrariamente ao que se possa imaginar, a maternidade não é tão valorizada assim no nosso país.<br />
<br />
Apesar dos clichês existe um paradoxo na maternidade. Ele reside na sua real importância e na competência da mulher para exercê-la. Desde a gravidez até o parto e para o resto da vida. Ao mesmo tempo que é valorizada como mãe, não é dado a mulher autonomia para gerir seu corpo, seu parto, seu filho. E contraditoriamente é a pessoa mais autorizada a exercer essa função. Em algumas sociedades, como a nossa, de base extremamente sexista, nem ao menos empurrar o carrinho é uma função que pode ser exercida por homens.<br />
<br />
Bourdieu, em seu livro "A dominação masculina" expõe a teoria de que todos os papeis da mulher na sociedade contemporânea tem relação com a maternidade e o cuidado que deriva dela. Secretária, professora, enfermeira... Como se o papel da mulher fosse uma grande continuação da maternidade over and over.<br />
<br />
Felizmente o debate e a luta contra esses papéis vem se acirrando. E a famosa frase que eu ouvi durante todo o meu mestrado e que ressoa aos meus ouvidos "quando você for mãe, você vai entender", pode conter um futuro menos apocalíptico do que parece. Mas uma coisa eu devo confessar, por mais que tenha aprendido, com a gravidez mais do que nunca, a fazer ouvidos de mercador, o que mais sinto é indignação feminista na veia. Pois a verdade é que ao ser mãe não ganhamos tanto respeito ou autoridade quanto poderíamos esperar.<br />
<br />
Duvida? Porque então as mulheres são tão mal tratadas na sala de parto? Porque são vítimas do teto de vidro no mercado de trabalho por conta a simples possibilidade de serem mães? No fundo no fundo não tem autoridade para decidirem nem como querem parir. Depois ainda temos a enorme responsabilidade de cuidar do bem estar físico e emocional dos bebês, levando todas as frescuras da sociedade em consideração pois podemos ser acusadas de negligência o tempo todo. Como disse a Badinter, o sinônimo de maternidade é culpa.<br />
<br />
Culpa que nos fazem sentir desde o instante em que engravidamos. "Mas você não se preparou antes de engravidar?", "está tomando isso, comendo aquilo, fazendo assim, pesando assado"... Tem que ler um monte, pois nem o que vai comer ela tem autonomia para decidir. E o que eu acho mais engraçado é que as cervejas importadas vem um símbolo de que mulheres grávidas são proibidas de ingerí-las (o que sabemos que não é verdade absoluta), mas outras coisas que grávidas não deveriam comer, não são reconhecidamente proibidas para gestantes. Se você não está informada, pode acabar comendo algo que não deve, fazendo algo que não deve. Nenhuma informação é de fácil acesso, nada é confiável. E ainda assim, a culpa é 100% sua, só sua.<br />
<br />
Paralelamente a isso, temos que lidar com o fato de não sermos autoridade suficiente para escolher pelos nossos filhos e lidarmos com as consequências. Parece que a sociedade toda é um grande espião. Devemos entender que o cuidado com a criança não deveria ser nem chamado de maternidade. Algo que poderia sim ser dividido entre os sexos deveria ser entendido como cuidado parental. O próprio termo maternidade influencia homens a continuarem negligentes com a função. Praticamente tudo o que a mãe faz o pai pode fazer.<br />
<br />
Muitos falam que só a mulher pode amamentar. Bom, agora eu sei que o percentual de mulheres que não tem leite ou do qual o leite não é suficiente é grande. Insistir nesse argumento faz com que essas mulheres se sintam menos mulheres (visto que isso e o parto parecem ser as exclusividades femininas em termos de parentalidade), mas também faz com que homens, que poderiam participar desse momento, onde muitos afirmam ser onde se a cria o vínculo com a criança, fiquem de fora tornando a relação deles com os filhos distante. Se qualquer um pode dar leite para a criança no copinho, porque o pai não pode fazer?<br />
<br />
A maternidade é função da mulher, muitos dizem e afirmam. Mas as mulheres estão cercadas de autoridades masculinas mais capazes de julgar seu papel do que ela. Médicos, juízes… Sinto muita vontade de não ouvir nada. Sinto muitas vezes raiva de quem fala, com sarcasmo, "você vai ver, vai entender". Porque jogar uma praga nos outros? Se ter um filho é uma experiência tão única porque supões que todxs a encararão da mesma maneira?<br />
<br />
Enfim, seria tão melhor se as pessoas esperassem a gente perguntar do que saírem por aí se metendo na maternidade dos outros, ou melhor, na parentalidade dos outros.<br />
<br />
Em contrapartida, governo e sociedade não fazem nada para aliviar o fardo. Ter um filho não tem nenhum incentivo do governo. O bolsa família é exclusivo para uma faixa da população. Deveria ser estendido à todas. Não ganhamos o enxoval do bebê, não temos creches, berçários, nada em quantidade suficiente. Em suma, não ganhamos nenhum incentivo por colocarmos mais um brasileiro no mundo, no máximo um dia por ano e uma comemoração ridícula, um "feriado" com fins comerciais para quem já gasta tanto por negligência do governo.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-50254641903593915052014-05-08T12:02:00.001-03:002014-05-08T12:03:10.635-03:00A sinceridadeEsse é um tema bastante espinhoso. Falar a verdade por aqui pode ser um comportamento muito criticado. Desde coisas bobas como "não gostei" ou "não quero" até colocar suas opiniões em relatórios supostamente "objetivos".<br />
<br />
Um exemplo clássico dessa dificuldade nacional é recusar um convite. Sempre temos que estar tencionados a comparecer, por isso devemos inventar algo, nem que seja a famosa consulta ao dentista ou o exame de sangue para recusar um barzinho com os amigos. Parece que dizer "não estou muito a fim" ou "não estou muito animado" é equivalente a dizer "você é um chato e eu não quero sair com você".<br />
<br />
Eu percebi isso com mais clareza quando estava na Suécia. Minhas amigas sempre faziam "diners parties"e muitas vezes eu só queria ficar em casa na companhia do meu marido que trabalhava umas 10 horas por dia. Eu, no meu hábito brasileiro, com vergonha de dizer "não", soltava um "maybe". Pra que!? Depois eu ficava sabendo que era presença contada na festa. Que para eles, os alemães, talvez era quase "sim", quando aqui, é mesmo "não".<br />
<br />
Uma amiga minha indiana me ensinou bastante sobre sinceridade, embora eu nunca tenha dito isso a ela. Uma pessoa franca, não sei se a cultura indiana é assim, ou se era ela mesma. Mas não tinha medo de dizer que não comia comida ocidental, que não gostava disso, daquilo e que achava isso ou aquilo. E era engraçado, pois ela não tinha papas na língua. Falava sem floreios. Não é à toa que era o guia da turma. Sempre que alguém precisava de um conselho, recorria à ela. E é engraçado, pois eu quase sempre concordava com ela. Mas acredito que se ela vivesse por aqui, não teria tal posição. Acho que seria considerada grossa ou tosca.<br />
<br />
Outra coisa interessante é que você aprende a ouvir os outros de uma maneira mais tranquila e principalmente, respeitar sim as diferenças. E talvez por isso, consiga até conviver melhor com seus amigos. Uma certa vez, um amigo nosso recusou um convite dizendo "Vou tomar café e ler artigos. Sempre faço isso às quintas-feiras". No começo achei estranho alguém ter uma agenda assim, mas depois de uns tempos morando por lá, percebi que muitas vezes para dar conta de se fazer tudo o que se tem que fazer é preciso colocar na agenda, senão não sobra tempo para se fazer o que quer. No fim, ele acabou aparecendo no bar para nos encontrar, mas desconfio que só depois de ler uns artigos antes.<br />
<br />
Quando estava lá, recebi muito poucas visitas. Uma delas me desapontou muito nessa "brasilianidade". Eu não tinha muito dinheiro para viajar e precisava organizar as coisas com antecedência. Essa pessoa ficou hospedada na casa de amigos numa cidade próxima. No mesmo período, meus sogros estavam na nossa casa e iriam embarcar no tour pela Escandinávia em poucos dias. Resumo da ópera, eu deixei meus sogros no hotel e fui encontrar essa amiga. Mas algo me chamou a atenção: ela não parecia fazer muita questão de me ver. Achei deselegante essa atitude, sendo que ela sabia que eu estava abrindo mão de passar mais tempo com eles para encontrá-la. Mas se ia me tratar com descaso, porque não me poupou a viajem?<br />
<br />
Eu sei que muitas vezes as pessoas se magoam com a gente e a gente não sabe ao certo o motivo. Acredito que quando a gente não acha que fez algo errado, não consegue prever os melindres alheios. Mas será que esse descaso não foi um resultado desse hábito de ter que estar, em tese, sempre disposto? Ou pior, talvez ela tenha pensado que eu fosse me magoar ao ouvir que ela de fato não queria me ver e fosse preferir ser mal tratada por ela. Faz sentido, né...<br />
<br />
Outra coisa que considero parte da hipocrisia nacional é o respeito às diferenças. Todo mundo fala, mas quem é que realmente respeita? Em toda a discussão parece que quem puxa a carta da diferença é aquele que não tem argumentos ou que não consegue aceitar outro ponto de vista. No fim, o que você percebe mesmo que sua diferença será respeitada sim, quando for igual a de todo mundo, ou seja, não seja diferente.<br />
<br />
Outra coisa que me irrita muito é a máxima de que existem diferentes maneiras de se dizer a verdade, indicando que haveria uma certa e uma errada. Quando eu digo "verdade" é no sentido de dizer o que o outro realmente acha ou pensa. Ninguém é de fato dono da verdade. Mas as pessoas confundem aquela mentirinha de elogiar uma roupa que você de fato não gostou porque percebeu que a pessoa está se sentindo bem nela e perguntou sua opinião com coisas mais sérias, como trabalhos de escola, feedbacks profissionais e etc. Tudo sobre a desculpa do "existem maneiras de se falar isso ou aquilo". A discussão sai do plano do conteúdo do que foi falado e vai para o da forma como foi falado e aquilo que se disse não tem mais importância.<br />
<br />
Eu confesso que sofri muito durante a minha adolescência por ser sincera. Claro que quando era adolescente, acrescia uma dose de sarcasmo à minha sinceridade, e isso sim, eu descobri que é, em muitas vezes, desnecessário. Mas hoje não me arrependo de ser como sou. Ao contrário de muitos que se fixam na minha imagem adolescente, eu não saio por aí falando as minhas verdades ao vento. Reservo sim minhas opiniões mais sinceras ao crème de la crème dos meus amigos, mas também não sou hipócrita. Aquilo que sei que não será bem recebido, não minto, omito.<br />
<br />
Não me envergonho de ser sincera. Não digo que sei tudo, mas tem muita gente que gosta de interpretar assim. Fica sentido pelo o que eu falei e racionaliza dizendo a si mesmo "quem ela pensa que é? acha que é a dona da verdade?". Para esses, fica o meu lamento. Quem souber ouvir uma opinião sincera, e desencanar se não concordar, talvez se beneficie da companhia, mas quem não souber, se poupe e não me pergunte o que eu acho. Também não tenho medo de ouvir respostas de qualquer jeito e esse eu acho que é o segredo. Como diz o batido ditado "Quem fala o que quer ouve o que não quer".<br />
<br />
No mais, por mais "autista social" (como um amigo meu me chamou outro dia) eu possa ser, sinto que estou bem comigo mesma nesse aspecto e talvez aqueles que não gostam da divergência e chamem isso de falta de tato social, não tenha muito do que se orgulhar.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-3677720407872255162014-05-06T17:24:00.002-03:002014-05-06T17:26:10.905-03:00Porque eu AMEI Breaking BadAntes de mais nada, gostaria de avisar aqueles que ainda não assistiram a totalidade do programa que NÃO leiam esse post. Muitos SPOILERS.<br />
<br />
O principal motivo pelo qual gostei do seriado, foi a narrativa: simples e direta. Além de cumprir a proposta que faz . Não é necessário ler livros para se entender o que passa na série. Os dois principais personagens, Walter White e Jessie Pinkman foram muito bem pensados. Os atores ajudaram. Mas o que eu mais gostei foi o sentido dado ao título do seriado que norteia toda a narrativa.<br />
<br />
O meu marido tem um certo problema com expressões idiomáticas. Muitas vezes traduz literalmente do inglês expressões que ele presume que serão idênticas no português. Uma que eu sempre achei engraçada foi o tal do "quebrar a personalidade". Não sei como deve ser a original em inglês, mas assumo que tenha "breaking" em algum lugar.<br />
<br />
Temos então os dois protagonistas: Walter White e Jessie Pinkman. A princípio tudo leva a crer que Breaking Bad é uma referência a falência do personagem principal por conta da incapacidade de pagar pelo tratamento de câncer que precisa. <br />
<br />
Ao olharmos para Walter White da primeira temporada, imaginamos um homem comum, honesto, que tem dois empregos para dar conta de prover sua família como se deve. Ele aparece nessa temporada como um homem discreto. Mas uma coisa parece não encaixar: sua escolaridade. Incompatível com os demais membros de sua família e de seu núcleo familiar. A então modéstia do personagem levanta algumas suspeitas. Quando aparecem os ex-sócios de Walter, imaginamos que ele foi injustiçado na sociedade, como tantos outros casos que vimos por aí. Talvez essa tenha sido a razão pela qual se encontra na posição em que está no início da trama: professor de um College durante meio período e lavador de carros no outro.<br />
<br />
Tudo bem que essa parte de lavador de carro eu não consegui entender muito bem. Um trabalho que ainda tem relação com sua formação, como professor de Química de uma escola, eu até entendo, mas lavador de carros, eu confesso que não consigo entender. Mas é preciso entender um pouco de como funciona o mercado de trabalhos braçais lá fora. Talvez o segundo emprego pagasse melhor do que o primeiro e ele só continuasse dando aula para se manter perto da sua área de formação.<br />
<br />
Já Jessie Pinkman começa a série como um dependente químico controlado pelo vício que parece ter problemas em perceber a idade que realmente tem. Ele age como um adolescente, se veste como tal e fala como tal. Impulsivo e inconsequente, o jovem é menos carismático no princípio que o íntegro professor de Química. Esse porém nos deixa com pena, pois ao descobrir que tem câncer, ele tenta continuar suas atividades normalmente para não alarmar a família.<br />
<br />
Com o passar das temporadas o papel se inverte. Vamos percebendo que a postura íntegra de Walter White é sim um papel que ele representa e só o faz por ser orgulhoso. Incapaz de ser rico, talvez por culpa do próprio orgulho, ele faz de tudo para conservar a reputação de homem correto. Vemos então o orgulho que ele tem da droga que elabora e como fica irritado quando alguém tenta imitar o seu produto. As provas desse orgulho aparecem nas últimas temporadas, quando alerta o cunhado policial sobre a possibilidade de Gael não ser o famoso Heisenberg e quando mantém guardado o livro que o primeiro lhe dá de presente pois contém comentários elogiosos a respeito dele.<br />
<br />
Já Jessie, mesmo sem ter no que se agarrar, sem ter uma desculpa, não concorda em matar, extorquir ou mesmo se meter com gente perigosa. Já Walter tenta se convencer de que aquilo é um negócio, como se assim pudesse se distanciar do mal que a atividade causa ou que pelo fato de estar fazendo o que faz para proteger sua família, seu pecado seria menor. Chega a parecer as vezes que ele se sente injustiçado pelo mundo e está no seu direito de reagir.<br />
<br />
Outra coisa que causa estranheza a primeira vista é como a relação dos dois vai se intensificando. A princípio, Walter despreza Jessie e só propõe uma parceria porque precisa de alguém para introduzí-lo no meio. É engraçado pensar que Jessie fora aluno de Walter e detestava o professor que aparentemente se decepcionou com o aluno. Quando os dois se reencontram, tempos depois de Jessie ter largado a escola, ele está justamente trabalhando no cozimento da droga, uma atividade química. Ele também é o único que consegue repetir o processo de Walter e produzir o "blue sky". Mas nem por isso ganha o respeito de Walter.<br />
<br />
A relação dele com Jessie é como se o último fosse o único resquício de humanidade e bondade que pudesse emanar de Walter. Ele se apega ao garoto e o protege na tentativa de se fazer parecer mais humano frente aos outros. Mas o pupilo vai conhecendo cada vez mais a natureza sórdida de Walter que o faz desprezar o professor. Infelizmente ele se vê preso a ele e ao negócio e age como um autômato em vários momentos da série por ser incapaz de agir como Walter, sem escrúpulos.<br />
<br />
Ainda nesse momento da série muitas vezes duvidamos se Walter é realmente esse monstro, mas para quem reluta em acreditar, nos últimos episódios da série, ele dá um telefonema para a mulher confessando o assassinato de seu cunhado (que não diretamente praticado por ele, mas que havia de fato sido arquitetado por ele) e ameaçando a esposa. Pela primeira vez ele se revela completamente na trama, pois não busca se justificar com motivos nobres suas atitudes.<br />
<br />
Por fim, e eu vou parar por aqui, mesmo tendo mais coisas para comentar, há um confronto final entre Jessie e Walter onde o primeiro tem a chance de se vingar do segundo. E ao invés de se desumanizar como Walter, Jessie o deixa viver, o que é uma pena para Walter, pois ele não tem mais a máscara de bom moço nem a justificativa de estar zelando para o bem de sua família. Ou seja, todo o seu disfarce de desfaz por completo, um processo que vem acontecendo desde a primeira temporada, e aí que ele "breaking bad".<br />
<br />
O seriado ainda poderia se estender mais, mas esse é o bom dele, afinal, quando começa, já sabemos que Walter vai morrer. Só nos resta saber se em decorrência do câncer ou do envolvimento com o tráfico de drogas. Ele não tem porque enrolar. Eu entendo que os processos são inversos: a desconstrução da falsa normalidade e honestidade de Walter em contraponto com o fortalecimento do caráter de Jessie. O primeiro vai de herói a anti-herói e o segundo sofre o processo inverso.<br />
<br />
#breakingbad Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-27247579936792353552014-05-05T14:34:00.000-03:002014-05-05T14:34:08.901-03:00Mudar é difícil, mas é precisoDepois de quase um mês em Londrina, arranjo pela primeira vez um tempinho para blogar. A saudade é imensa, inclusive dos espaços virtuais aos quais me habituei. Mas as miudezas do cotidiano nos consomem e quando paramos para pensar, quase nada era realmente necessário. Infelizmente, refletir sobre isso não é produtivo ou permitido. Vamos em frente.<br />
<br />
Durante todo o processo eu achei que estava indo devagar, mas um mês aqui já temos quase tudo o que precisamos, temos médico para o bebê, fogão, geladeira e máquina de lavar. Cama e bom, só. O dinheiro acabou, agora só quando o pagamento cair. O mais difícil são os detalhes. Muitos. Tantos que nem nos damos conta do quanto gastamos e do que precisamos. Talheres, copos, pratos, panos... Isso sem contar os mantimentos. Temos que comprar tudo novamente, desde o sal até os temperos. Nada é de graça.<br />
<br />
Realmente não é fácil. E as perguntas parecem não entender a odisseia que é montar uma vida. Não estamos começando, estamos continuando, mas tivemos que resetar o sistema. Ainda me cobro por não ter o mesmo pique que tinha antes de engravidar. Aos poucos estou entendendo o que a amiga Pati disse: Nada vai ser como antes.<br />
<br />
O apoio vem de onde não esperávamos. Chegam cartinhas lindas de amigas de luta para as quais nem expus meus anseios, mas que tiveram sensibilidade e empatia para dizer com eficácia "sim, você vai conseguir e sim, estamos aqui". Eu também estou aqui.<br />
<br />
Impressões ainda estão bem turvas. A cidade parece legal. Tem falafel e chorinho no bairro. Mas ainda é cedo para dizer o achei, como vai ser a vida aqui. Mais uma vez acho bom não me precipitar. Já ouvi dizer que a gente gosta de onde vive bem. Tudo indica que viverei bem aqui. Assim espero. E quem sabe daqui a pouco não me inteiro sobre os modos e costumes do londrinense a ponto de adicionar outra sessão ao blog, <i>crônicas londrinenses</i>.<br />
<br />
De Brasília saudades também. Da beleza, das histórias, da vivências, dos amigos, da família, do clima. Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-14338591356867431182014-03-26T14:44:00.000-03:002014-03-26T14:45:07.322-03:00Espero que vocês fiquem entalados no trânsito! Desculpem o tom, mas é mesmo um desabafo...<br />
<br />
Desde que saí da casa da minha mãe, nunca tive carro. Usei uma scooter como meio de transporte e uma bike. Não concomitantemente. Da scooter eu abri mão quando uma madame tentou me matar, da bike, quando parei de trabalhar perto de casa.<br />
<br />
Hoje, para a minha infelicidade, tenho um carro. Não que eu ache ruim poder ter um carro, mas acho ruim ter que ter um. Carro implica gasto com manutenção, seguro, gasolina, estacionamento e impostos. Além de muito estress. Se você tem um carro, vai ter que andar com ele no trânsito e aí vai lidar com o melhor tipo de pessoa #sqn.<br />
<br />
O carro é um símbolo de poder. Ter um carro coloca você acima de quem não tem (ou de quem não está no carro naquele momento). Para algumas pessoas, ausente de qualidades individuais, o carro é a única maneira de se conseguir respeito. Muitos colocam todas as frustrações no veículo. A sensação de poder, de estar protegido pela couraça de metal, de ser quase um mascarado, permite aos projetos de delinquentes cometer todo o tipo de delito com a desculpa de "mas onde eu ia para o MEU CARRO?".<br />
<br />
Tudo é desculpa. O do carro maior "não" viu o menor, o mais caro podia sim fechar o mais barato, afinal, ele não ia chegar a tempo mesmo. Tudo pode, menos parar no lugar permitido, dar passagem, para no sinal vermelho quando não tem pardal…<br />
<br />
Eu odeio o trânsito porque as pessoas são egoístas e mal educadas. Vale mais botar a mãozinha pra fora e fechar o outro do que dar a seta avisando que vai virar. Somos uma legião de inválidos parando no meio fio, subindo a calçada, estacionando em fila dupla, porque não podem andar 5 minutos até o destino. Eu me pergunto se o estacionamento subterrâneo (a ideia de jerico mor) vai funcionar, afinal, quanta gente não insistirá em estacionar em cima porque dá muito trabalho subir escada.<br />
<br />
"Servidor público, ai como eu odeio você nessa hora!" Só entende quem mora na 402 Sul e quer sair da sua própria quadra entre 14 e 18 horas. O pessoal do setor de autarquias estaciona em fila dupla, sendo que tem vários prédios repletos de vagas devidamente reservadas para esse fim. Mas os inválidos mentais não podem andar um pouquinho. Eles precisam tornar a nossa vida um inferno. E ainda assim, não tem nem o bom senso de não estacionar na curva. Correm demais para quem está andando numa residencial, trancam a pista de modo que só pode passar um carro de cada vez, onde passariam 2. E ah, são todos apressadinhos e rápidos na buzina.<br />
<br />
Mas eu gosto mesmo dos donos de utilitários. Sempre sozinhos nos seus carros, nunca parando no lugar certo, ainda tem a ilusão de que seus carros não são um trambolho, param de qualquer jeito. Só porque sabem que as encostadas dos outros, no máximo, pegarão nos seus pneus. Como vocês são incômodos! Espero que no fundo, sintam-se felizes por estarem na contra-mão do mundo. Tem gente que diz que é o carro ideal para a família, mas qual? A menos que essa família possua 7 integrantes e esteja sempre de mudança, não vejo a utilidade de um utilitário.<br />
<br />
De todo modo, nada pior do que o DETRAN que NUNCA multa esse povo. Eu me pergunto para que ele serve. Quando alguém já viu um veículo estacionado em lugar indevido ser rebocado? Realmente não dá pra confiar no bom senso alheio, tem que multar. Mas só multa no pardal, na câmera. Porque o cara não quer nem sair do lugar. Fica lá, olhando a telinha e arrecadando dinheiro. É mesmo um absurdo. Qualquer voltinha no Setor de Altarquias, Bancário e na 402 Sul no horário comercial ia render uma fortuna em multas para o governo. E quem sabe com o dinheiro ele pensasse melhor e colocar um asfalto "à prova d'água"?Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-32973251748715611502014-03-01T22:06:00.001-03:002014-03-01T22:07:05.101-03:00Mais um carnavalLantejoulas e paetês<br />
cerveja e brilhantina<br />
a música não interessa<br />
não precisa nem ter rima<br />
<br />
Uma beleza quando começa<br />
A grandeza da nossa festa<br />
Ninguém liga para o dinheiro que se gasta<br />
Nem organizar tamanha arruaça<br />
Só importa a farra<br />
Beber pra esquecer o merda que é você<br />
<br />
E no fim do glamour<br />
O perfume se mistura com suor<br />
O corpo salpicado de papel picado<br />
O chão mijado<br />
O lápis borrado<br />
<br />
Mas quem liga?<br />
Valeu a pena<br />
E a alma, é pequena?<br />
<br />
<br />
*poema inédito e meu mesmo.Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1240751434607581739.post-29513517352121573432014-02-27T17:09:00.000-03:002014-02-27T17:38:15.955-03:00Para entender um pouco sobre literatura - a representaçãoEu deveria falar mal de algo da moda sempre, para dar ibope para o blog, mas sou uma pessoa sem TV e as tendências e temas da moda me dão um pouco de preguiça.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgo34ej0UpWnghM7YuudesLlz1kBy0ymXO-XkkqLrQdmtY7TKo28OKjOtO8QRmxNuID1t8EohOYNsHpCdWMmVW7M86RrcWqea7MSBecUCu2ZbUjnfefjYrE7rhxfSr4wjR69ap-MpRhdA/s1600/livros.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgo34ej0UpWnghM7YuudesLlz1kBy0ymXO-XkkqLrQdmtY7TKo28OKjOtO8QRmxNuID1t8EohOYNsHpCdWMmVW7M86RrcWqea7MSBecUCu2ZbUjnfefjYrE7rhxfSr4wjR69ap-MpRhdA/s1600/livros.jpg" /></a></div>
<br />
Mas algo que eu gostaria de abordar para que os fãs de Game of Thrones, e outros que critico, entendam um pouco melhor o meu ponto de vista. A crítica literária não é uma ciência. Tem gente que até <a href="http://revistacult.uol.com.br/home/2012/12/literatura-brasileira-e-coisa-de-branco/">colhe dados</a>, mas tem sempre um aporte teórico por trás. E tudo depende da sua "escola". Mesmo assim, teoria literária não é a casa da mãe joana. Eu não posso falar o que eu quiser. Claro, quando estou colocando a minha opinião pessoal, posso até dizer o que penso sem embasamento teórico. Mas acaba sendo meio difícil isso acontecer, pois determinado tipo de abordagem faz com que você veja tudo, até as coisas mais simples do cotidiano, com outros olhos. Por isso resolvi colocar alguns tópicos caros aos teóricos da literatura tentando abordá-los de uma maneira simples para, quem sabe, sensibilizar alguns leitores.<br />
<br />
A representação.<br />
<br />
Muita gente se defende dizendo que novela é só para passar o tempo, que revistinha é só para se divertir e etc. Bom, parte da minha formação literária tem uma forte base sociológica e psicossocial que diz o contrário. Como nossa identidade individual é formada? Numa bolha? Não. Nas relações familiares e sociais. A questão da representação dialoga com isso no sentido que parte do imaginário social é auxiliado pela literatura e por outras produções ficcionais como a novela, os filmes e seriados. Quanto você não atribui aos Simpsons da cultura americana? Ou quanto você não acaba imaginando que nos EUA as coisas aconteçam como nos seriados?<br />
<br />
A mesma coisa por aqui. Benedict Anderson acredita que a Nação é uma comunidade imaginada. Mas imaginada por quem? Escritores, jornalistas, cineastas, músicos, artistas… Eles reproduzem muito do que veem, e muito do que veem é cheio de preconceito e estereótipos. Muitas vezes eles reproduzem aquilo que querem acreditar. Mulher é dona de casa ou puta, negro é pobre e bandido. Comparando com os dados do senso, isso está longe de representar a realidade. Mas aí tem muita gente que alega ser ficção. Mas porque então a maioria das obras não foge do lugar comum? Sugiro que aqueles que gostarem da discussão deem uma lida na entrevista do link acima.<br />
<br />
Mas ainda, porque se preocupar com o que um escritor escreve? Não é só a nação que é fruto da imaginação. Nós temos muitos elementos exteriores que contribuem para a formação do nosso inconsciente e consciente - ou ainda, da identidade. O que eu encontro de mais simples para explicar isso é o fato, por exemplo, das meninas serem sempre representadas de rosa, brincando de bonecas, de vestido. Como se sente a criança, na fase concreta, a pequena menina que quer andar de skate e que sua cor predileta é azul? Pode ser que ela não ligue, se a família dela estimular, mas pode ser que achem que isso não é coisa para menina, afinal, não se vêem muitas meninas por aí representadas dessa maneira. Qual das princesas da Disney anda de skate? O processo é mais complexo, mas eu estou tentando passar de uma maneira mais simples.<br />
<br />
Outro exemplo que pode ajudar. A questão dos negros no Brasil. Como eles aparecem na literatura, nas novelas, nos filmes? Pobres, subalternos e sobretudo - bandidos. Todo mundo condena o rolezinho porque já tem na cabeça que negro é bandido, mesmo que não tenham feito nada. Será que o fato deles serem as maiores vítimas da violência policial é apenas coincidência? Eu acho que não. Podemos trabalhar com a lógica tostines: <i>a literatura reflete o preconceito da sociedade que é racista ou a sociedade é racista porque a literatura é racista?</i> Eu prefiro acreditar que eles se retroalimentam. Uma fomenta a outra.<br />
<br />
Mas a gente pode colocar a culpa do racismo ou do preconceito na literatura? Eu acho que a responsabilidade total por isso não, mas na atual conjuntura, a reprodução disso é bem problemática. A gente não vive mais na época onde se discutia em público se os negros possuíam ou não alma. Racismo é crime inafiançável. Temos sim que nos responsabilizar pelo que falamos e escrevemos. Mas muitos escritores se escondem atrás do eu-lírico para propagarem livremente todos os seus preconceitos. Alguns ainda acabam sendo considerados como inovadores, o que para mim soa como uma simples repaginada (ou releitura - termo um pouco mais apreciado). O chato é isso acontecer logo na pós-modernidade e da crise da autoria, qual a alegação do autor nesses casos?<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1N7H7tKrwERGRsQCw9KHAJ5BIPz7lLabKAQDMgp_p1U1Ms8cMyWoN1ii1YhsmbnbptSXpBujk_vis3H24GAjX5XLbwqoyTZTWhWfa3t5P-N16vXp3L5h-pKUx1dlkRVlmJDZv7AuzKw0/s1600/escritora.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1N7H7tKrwERGRsQCw9KHAJ5BIPz7lLabKAQDMgp_p1U1Ms8cMyWoN1ii1YhsmbnbptSXpBujk_vis3H24GAjX5XLbwqoyTZTWhWfa3t5P-N16vXp3L5h-pKUx1dlkRVlmJDZv7AuzKw0/s1600/escritora.jpg" /></a></div>
A autoria<br />
<br />
Para ficar um pouco mais claro, a pós-modernidade recebeu muitas contribuições da teoria feminista para desmistificar a identidade dominante e universalismo. A revelação foi que o universal não era algo neutro que representava todos os seres da humanidade. Ele era masculino, branco e ocidental. Depois disso, muito começou a se discutir sobre a legitimidade do autor para escrever sobre determinados temas. Será que aquele escritor estava qualificado para escrever sobre determinado grupo? Porque no lugar de dar voz aos negros, sem nunca ter vivido na pele de um os seus dramas, não dar espaço para que o próprio negro escrever sobre si? A discussão complicou quando a competência do autor como produtor de ficção começou entrar em xeque. Como serei inovador e criativo, onde fica minha sensibilidade se só poderei escrever sobre o que eu vivo e o que eu conheço? Complicado, né? Mas escrever sem levar essas questões em conta é, no mínimo, irresponsável.<br />
<br />
Para aqueles que gostaram dessa última polêmica eu sugiro um exercício bem simples; releia A Hora da Estrela, da Clarice Lispector, e preste atenção na relação entre o narrador da história, o Rodrigo SM e a Macabéa. Tenho certeza de que no Ensino Médio, quando você foi obrigado a ler o romance, passou batido por essa discussão. Outro interessante é O Discurso sobre o Método, do Sérgio Sant'anna. Existem vários outros, mas eu gosto especialmente desses.<br />
<br />
A obra<br />
<br />
Muitas correntes teóricas pregaram que o que importava ao estudo da Literatura era a obra. Roland Barthes chegou a declarar a morte do autor. O objeto da Literatura seria apenas o livro. Eu confesso que não sei se ainda existem correntes que acreditam nisso, mas essa crença está um pouco fora de moda. O autor tem importância sim pois ele seria o filtro entre a realidade e a ficção. Daí podemos citar a hermenêutica, teoria que parte do pressuposto de que a literatura (e outras obras do gênero), são uma interpretação de mundo e assim sendo, não podemos excluir por completo o autor. Mas além disso, o leitor traz a sua interpretação para a leitura da obra e o processo todo seria uma dupla interpretação.<br />
<br />
Eu gosto também de trabalhar com a questão da voz e dos vazios do texto. Dentro de uma obra você tem, claro que através do filtro do autor, várias vozes, vários grupos e várias realidades representadas. Essas vozes podem ser verossímeis ou não e o autor pode te dar espaço (o vazio) para preencher o texto com suas próprias visões de mundo ou não. Se você não consegue entrar no texto, se ele te causa um desconforto ele pode estar mal escrito ou não (e isso pode ser proposital ou não).<br />
<br />
O pacto da leitura<br />
<br />
Uma das teorias prega que quando abrimos, ou até mesmo escolhemos um texto para ler, fazemos um pacto com o autor. Por exemplo, eu vou ler um romance policial. O que eu espero? Eu espero que haja um crime a ser resolvido, um mocinho e um bandido. O bandido vai ser um lobo em pele de cordeiro e eu vou tentar durante toda a leitura descobrir quem ele é. Ah, e eu quero que tenha ação. Se eu estiver lendo um romance policial que de repente me aparece um mutante soltando raios pelos olhos e o detetive vira um deus grego para combatê-lo é, no mínimo, fora da proposta. Pode ser que se ele estiver bem escrito, a proposta pareça convincente.<br />
<br />
Eu faço sempre a analogia com a dança. O gênero literário é como um tipo de dança. Os passos e a música devem se combinar e o autor prepara o cenário, pega a sua mãe e te conduz. Você deve dançar tranquilamente, sem reparar que os músicos estão fora do tom, que os passos do autor estão em desacordo com a música ou que ele está dançando uma valsa no lugar de uma salsa. Se isso acontecer, o pacto foi rompido e você não vai querer mais ler o livro.<br />
<br />
Bom, eu vou parar um pouco por aqui e depois, se tiver ânimo, escrevo um pouco mais sobre os elementos do romance ou algo que interesse. Fiquem à vontade para comentar, criticar, pontuar algo que tenha esquecido, e até para me corrigirem, afinal, como pseudo-crítica, eu aceito críticas (confesso que nessa parte ainda não sou muito experiente, mas estou me esforçando).<br />
<br />
Caso alguém queira se aventurar, recomendo fortemente:<br />
<br />
Antoine Compagnon - O Demônio da Teoria<br />
Antonio Cândido - Literatura de dois gumes (in A educação pela noite)<br />
Roberto Schwarz - Que horas são?<br />
<br />
<br />
<br />Drixzhttp://www.blogger.com/profile/10739354055797115870noreply@blogger.com