Se do alto dos meus 30 anos de idade a vida me permite aprender algo, posso dizer que esse algo é mesmo que a velhice é um banho. Ou talvez, reformulando a frase, que a velhice fede e por isso você que está velho necessita de um banho.
Quando você é criança, seus parentes e amigos entram numa loja de brinquedos e perguntam para o vendedor onde fica a sessão correspondente a sua idade (e infelizmente també, sexo). Alguém pode até te dar uma roupa, como a minha avó as vezes fazia, mas eu nunca vi criança gostar de roupa. Se gosta, tem algo de errado com ela.
Com a chegada da adolescência os presentes podem ir desde roupas, sapatos e livros até video-games e também alguns acessórios esportivos. A gama de lojas que devem ser percorridas para se encontrar um presente para um adolescente aumenta consideravelmente. Entre quatro e cinco tipos.
Mas quando se é adulto, temos lojas exclusivas até para meias. É tanta opção que chegamos até a ficar sem opção. Dentre as milhões de marcas e preços qual é aquele que irá agradar mais? As pessoas talvez tenham suas lojas prediletas, cores, estilos. Mas se você sabe exatamente o que a pessoa irá gostar, qual é a chance dessa pessoa já não ter aquilo? As opções, apesar de muito variadas, parecem diminuir substancialmente após uma séria reflexão. Pensando bem, para que dar presente se uma pessoa bem resolvida que sabe o que quer, vai lá e compra?
Hum, mas o ato de presentear é uma convenção social muito forte. Presentear porque se gosta de agradar eu nem digo, mas presentear para ser lembrado, para ser impecável, para não dar o que falar. Não importa o que se diga no ato "não precisava". Do presente muitas vezes não se precisa, mas presentear é preciso. E quanto mais o tempo passa, mais presentes estamos acostumados a ganhar. Na sociedade do consumo, presentear é quase um hábito perecível nos presentes. Com tanta superposição, chega uma hora que parece faltar opção. Então se começa a ganhar sabão. Literalmente.
De todos os tipos, cheiros, marcas e utilidades. Muito além do simples poder de lavar, eles lavam a alma, relaxam, são fabricados com as lavandas mais puras colhidas por uma camponesa francesa desdentada e despeteada. Maravilha! Quero eu conseguir viver para usar todos esses produtos de banho antes que eles percam sua validade. Mas porque isso? Uma nova moda? O que aconteceu com o chocolate? Nada contra o sabão, mas me assusta um pouco essa recente semelhança entre mim e as mulheres de 80 anos que conheço. Mais do que uma coleção de poderosos cosméticos milagrosos, temos uma coisa em comum: uma vasta coleção de sabonetes.
Será que isso é só mesmo uma falta de opção, uma coincidência? Ou é um sinal de que começo a exalar aqueles cheiros de quem não consegue mais limpar entre as dobras e precisa de um sabonete espanta gambá? Afinal, desodorante é muito na cara... Será mesmo que envelhecer é feder?