É assim que alguns de meus amigos tem me apresentado a terceiros por aí. Eu achei bastante curioso da primeira vez, mas devido o meu baixo grau de sociabilidade presumida, apenas dei uma risadinha sem graça e cumprimentei a pessoa. Mas como isso ficou frequente, eu comecei a desconfiar que haveria algo mais por trás desse pensamento.
Outro dia tomando café da manhã com o roomie ele me falou algo que ajudou a matar a charada. Ele me disse que estava contando para mãe dele um pouco mais sobre os colegas de república e eis que ele fala "A Drica é feminista". E a mãe dele respondeu "Mas ela é casada e é tão normal!"
Outra amiga minha ficou um pouco constrangida ao mostrar os bicos de confeitar na minha presença. Ela disse "Sei que você não deve gostar dessas coisas, mas eu adoro". Eu achei estranho, pois até tenho alguns utensílios para confeitar, só não tenho habilidade para tal. Daí minha outra amiga acabou por me defender antes mesmo que eu soubesse que estava sendo de algum modo "acusada". Ela disse "O feminismo não tem nada a ver com negar a feminilidade, tem a ver com liberdade de escolha".
Pronto, eu entendi. Ainda aquela velha história de comparar feministas com mulheres mal realizadas, infelizes, masculinas. Ser feminista para mim é algo tão natural que as vezes esqueço de que as pessoas não sabem o que é o feminismo. Ou pior, fazem questão de estereotipar as feministas. Em parte eu concordo com o que minha amiga disse. Ser feminista é ser a favor da liberdade de escolha. Eu não sou contra a feminilidade e sim o que ela representa.
É a velha discussão, ser feminina deveria ser uma opção e não uma regra. Um comportamento que não deveria estar relacionado com uma característica "biológica". Mas o que é ser feminina? Ou, o que está por trás da feminilidade? Ser feminina é gostar de rosa, brincar de barbie, ser graciosa, submissa e servil? Ser feminina é ser mulher? Para aquelas que torcem o nariz para o feminismo, uma provocação: A feminilidade combina com o poder?
Outra dica, por mais que o feminismo seja considerado um termo pejorativo, as mulheres de hoje em dia, feministas ou não, gozam de privilégios adquiridos pelas lutas dos movimentos feministas. O voto, a pílula, a lei Maria da Penha... O próprio fato de nós podermos trabalhar e comprar bicos para confeitar é uma conquista adquirida através das lutas feministas. Antigamente as mulheres não podiam trabalhar sem autorização do marido. Dirigir, que eu sei que minhas amigas adoram, não era bem visto nem considerado "feminino".
Eu até acho graça ao ver a felicidade nos bicos de confeitar, mas mais por ignorância minha (eu não faço a menor idéia de como funciona todo aquele aparato) do que por desprezo. Uma feminista pode ser feminina? Algumas coisas são difíceis de mudar. Por exemplo, padrões de beleza. Eu, que já reneguei o feminismo, também já fui escrava do padrão. E talvez uma feminista que não seja "masculina" ajude um pouco as pessoas a desmistificarem a feminazi. Mas eu respeito todos, todas, todxs em seu estilo, modos de expressão e etc. Mas não me venha com essa de padrão. Mulher tem que ser assim ou assado. Mulher? O que é isso?
Eu não vou responder. Quero apenas dizer que ser feminista e legal não são coisas opostas. Eu não sei se sofreria do mesmo tipo de vocativo se fosse flamenguista ou petista ou comunista. Até entendo que sou uma das poucas feministas que meus amigos conheçem e talvez por isso a explicação "Ela é feminista, mas é legal". Mas se eu sou a única feminista que vc conhece e sou legal, porque não assumir que as feministas são legais? Talvez também as pessoas precisem de um espaço amostral maior para descobri que sim, feministas são legais.
Mas de novo, eu não posso generalizar. Afinal de contas, a liberdade de escolha está aí, para as feministas serem chatas, se elas quiserem. Mas elas não vão ser chatas porque feministas...
Para mais goles cafeinados de feminismo, eu recomendo, também especialidade da casa:
Ser feminista é como ser baixinha, partes 1 e 2
Feminista vegetariana