Eu, de vez em quando, dou uma olhada nas notícias do Brasil, mas confesso que quase sempre me entristeço. Os brasileiros pagam a mesma porcentagem de impostos que os suecos, talvez mais pois os impostos sobre produtos não aparecem na sua nota fiscal, como aqui, e nós não temos NENHUM retorno por parte do governo. Nem controlar a economia o governo consegue pois as agências reguladoras não desmantelam carteis e os serviços são uma porcaria no Brasil. Por exemplo, aqui na Suécia, tem uma penca de operadoras de telefonia móvel e eu, que só posso ter telefone pré-pago (pós pago só após 6 meses de residência no país) ainda pago menos no preço da ligação internacional do que qualquer plano pós pago de operadora brasileira.
Mas o que mais me chateia mesmo é o crescimento do extremismo no Brasil. É verdade que boa parte daquele discurso a respeito do Brasil ser um país livre, multiracial e blá blá blá era só para inglês ver. Mas eu tenho a impressão que demostrações públicas de opiniões facistas, racistas, homofóbicas, tem crescido cada vez mais. Recebi um vídeo hoje da Luci que me deixou de cabelo em pé. Era uma defesa descarada da homofobia proferida pela deputada Myrian Rios, do Rio de Janeiro (e eu que sempre achei os cariocas tranquilos!)
Só para esclarecer meu choque, pois sei que muitos não entenderam o problema desse vídeo. Bem, a deputada acha que não pode demitir uma lésbica por pedofilia apenas por ela ser lésbica. Como se o fato da orientação sexual de uma pessoa a eximisse de sofrer as penas da lei. Traduzindo, como se o fato da mulher ser lésbica a autorizasse a cometer crimes sexuais impunimente. Pedofilia é crime, deputada. Outro preconceito, achar que homossexuais são pedófilos. Será que o homem que abusa de menininhas é bem visto por ela, afinal, ele é hetero? O segundo exemplo é ainda mais interessante. Do chofer que é travesti e que ela não pode demitir por ele se vestir de mulher no exercício da função, pois isso seria um preconceito. Na verdade, eu daria duas dicas para a deputada: número um, não conte para os seus filhos que ele é homem, e nesse caso, tudo bem. Na número dois, peça para ele usar uniforme, afinal, normalmente, isso faz parte da função.
Nos dois discursos há um erro semelhante, acredito que muito difundido: o de que a sexualidade é uma escolha e que os filhos hipotéticos de Myrian Rios se tornarão homossexuais apenas pela convivência com homossexuais. Quem me dera a sexualidade fosse tão simples assim! Será que conto a porcentagem de homossexuais em conventos onde tericamente não se tem nenhum exemplo nem tão pouco a prática é aprovada? Mas voltando a parte da escolha, vc acha que qualquer pessoa em sã consciência escolheria ser homossexual num país regido por preconceituosos que discursam barbaridades como essa na Câmara e ainda não ovacionados na internet?
O preconceito e a não aprovação da emenda não vai fazer ninguém deixar de ser homossexual, vai apenas fazer com que os homossexuais se sintam mais rejeitados pela sociedade, ainda mais temerosos em se assumir. E vc, deputada, vai contratá-los sem saber, pois isso acontece há anos. Mas para mim, o pior é essa idéia de que o homossexualismo é uma doença contagiosa. O homossexualismo é natural e é praticado entre animais assim como entre humanos desde que o mundo é mundo. O que não é o ser humano além de um animal? Aí vai uma boa explicação da bióloga Joan Roughgarden sobre seleção sexual (mas os últimos 2 min não tem muito a ver com o post).
Eu tenho muitos amigos gays e eles são maravilhosos. Espero que meus filhos convivam com eles e tenham a orientação sexual que lhes for natural e tenham liberdade para se assumir. E bem, deputados, o que mais uma justificativa preconceituosa para a não aprovação da PEC 22 significaria além de preconceito?
Porque eu tenho medo de voltar para o Brasil? Bom, eu tenho medo de crescimento do extremismo evangélico e de manifestações públicas de preconceito provenientes das autoridades que deveriam zelar pelas diretrizes formadoras do nosso país: a liberdade de religião, por exemplo. O Brasil é um país cada vez menos laico a ponto de termos legisladores que legislam de acordo com suas orientações religiosas, o que está muito além de suas obrigações políticas. Eles deveriam zelar pelo interesse comum e não pelo interesse paroquiano. O Estado brasileiro se separou da igreja há muitos anos atrás e o crescimento desses interesses não parece significar nada além de um retrocesso. Começa aos poucos a perseguição clara aos homossexuais, daqui a pouco perseguirão outras religiões e estaremos de volta aos tempos da inquisição. Eu, como atéia, não posso deixar de me preocupar.