sábado, 6 de julho de 2013

As manifestações, a esquerda, a direita, eu e a depressão

"Texto escrito no calor das manifestações e pode ser revisado em breve, mas precisava postá-lo"

Quando comecei a escrever esse texto, estava mesmo contente com o levante do povo brasileiro. Me surpreendeu ainda mais a quantidade de pessoas que preferiam manifestar do que assistir aos jogos da copa das confederações. Achava, no começo que a manifestação era legítima. Ainda acho, mas agora tenho algumas ressalvas.

Quanto à Copa, a audiência, aqui em Brasília, parece ter voltado ao normal. Olhando por esse ponto podemos nos indagar se os protestos não foram contra o monopólio da Rede Bobo nas transmissões e sua insistência em mostrar seu poder nos enfiando Gavião Nãobueno goela abaixo. Agora então fica a estranheza - assistir aos jogos na tv e depois ir para a manifestação. Isso parece combinar com a pitada de hipocrisia de todos os brasileiros à la "não sou preconceituoso, mas empregada deve comer na cozinha e andar pelo elevador de serviço".

Já para mim, a legitimidade da manifestação está na resposta àqueles que sempre disseram que o brasileiro é um povo pacífico e que no fundo quer dizer que somos acomodados. Para mim o nosso problema é um só: nossa indignação não é ouvida, nunca foi.

Eu era muito nova na época da ditadura, mas me lembro bem que na época as coisas estavam muito ruins. Comprávamos comida como guerrilheiros famintos, pois as maquininhas de preços não paravam. A nossa tão "comemorada" democracia se resumia a um presidente civil, escolhido pelos militares (que ainda por cima é imortal), e um mauricinho que dispensa comentários. Para mim, naquela época, o Brasil já era sim o lugar do "tudo acaba em pizza", mesmo depois do "fora Collor". Já tinha dentro de mim esse sentimento de derrotismo.

Agora, nesse momento tem aqueles que ressuscitam o movimento dos cara-pintadas, lembrando como "o povo" tirou um presidente do poder. Uaaaal!!! Mas minha pergunta é: quem estava mesmo a frente desse movimento dos cara pintadas??? Pense...

Desde que eu comecei a trabalhar, em 2004, há manifestações na Esplanada, mas, estranhamente, elas eram ignoradas, por mais transtornos que causassem ao trânsito. O que está acontecendo agora? Os olhos do mundo se voltam para o Brasil por causa da Copa e com isso alguém nos autoriza a falar?

Fato é que o estado de sítio da Fifa foi a gota d'água. Exigências absurdas, maquiagem nos hospitais para os estrangeiros enquanto nós, que nunca tivemos nada, que tivemos que batalhar por tudo, vemos o que o governo pode fazer quando é pressionado por alguém de fora, sem nos incluir na bonança, como sempre.

Rede Bobo mais uma vez cumprindo o seu papel de veículo imparcialíssimo na sua esquizofrenia sem pudores para ficar, a todo custo, por cima da carne seca. Ignorando seus primeiros posicionamentos sobre os protestos, ela agora se concentra em esvaziar qualquer sentido que haja nas manifestações, focando-se no mais fútil e inútil sobre o movimento - a violência. Violência sobretudo dos manifestantes, que antes eram todos acéfalos e agora, esses, são somente um grupo isolado, por maior que seja. Violência que não justifica o medo e a debandada dos políticos de seu próprio eleitorado. A apresentação de propostas da carochinha

Confuso? Nem tanto, deve ter um motivo pra isso. Sorte dela que ainda não vi nenhuma reivindicação para que o governo reveja a lei que regulamente as concessões de emissoras de televisão. Mas é claro que ela não precisa se preocupar. Quem são mesmo os donos das afiliadas da Bobo no Nordeste? Além de seguir o interesse de seus "acionistas", a rede Bobo, faz o que sempre fez, ignora por completo críticas, apaga todas as marcas que pode até convencer a todos de que elas não existem. Muda de assunto, desvia o foco... É assim, simples assim. Mas funciona.

E a esquerda? Por que não toma frente dos protestos? Ela está lá, minha gente. Não nos partidos, mas nas ideias. Você ser de esquerda não implica ser de um partido de esquerda. Agora, mesmo sendo de esquerda e apartidária, me preocupo um pouco com essa ênfase da Bobo no caráter apartidário das manifestações. Afinal, sendo dotada do toque de "Merdas", se a Bobo apóia deve ter algo de errado com isso.

No mais, o gigante, que nunca esteve dormindo, não pode voltar a apatia resultante da cooptação bobística. Acho que os protestos tem que continuar, mas precisamos repensar nosso classicismo.