sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Violência contra mulher - Kav Magá nela!

Essa é uma piadinha muito triste que rola entre eu e o meu marido. Comentei com ele que mais de 40% das mulheres brasileiras já foi vítima de violência. O índice de punição não passa nem perto, mesmo dos casos que chegam a ser denunciados. Diante dos relatos que eu já ouvi sobre os absurdos processuais que são cometidos contra as vítimas, que passam de vítimas a incitadoras da violência cometida contra elas, eu e o maridão chegamos a simples conclusão: se tivermos uma filha ela via fazer krav magá desde pequena.

Sinto muito, mas não vou colocar os números aqui, mas sabe-se que a maioria dos casos acaba em nada. A mulher só consegue que justiça seja feita quando o agressor quase a mata. Eu fico muito feliz por não ter passado por nenhuma situação dessas, mas conheço muita gente que se calou ou por medo de impunidade ou por medo de ficar com uma fama de vagabunda porque mudou de idéia quando já estava dentro do quarto do motel.

A minha sorte talvez se deva aos ensinamentos do meu pai, não baixar a cabeça para ninguém. "Olha no olho e encara com raiva", era o que papai falava. Dizia ainda, "Ou o cara pensa que você está armada ou que é louca. Nas duas ocasiões você vai ter tempo para agir. Se você ver que o cara não vai embora, você foge, se ele for, melhor". Meu pai também era um doce, dizia para o meu irmão mais velho "Se você bater na sua irmã eu te quebro, sabe muito bem que é covardia bater em mulher". Nunca bateu na minha mãe, apesar dos dois terem brigas homéricas, mas já na gente, ninguém tinha pudores de bater.

Essa "proteção" me dava confiança para não levar desaforo para casa mesmo quando não tinha ninguém da família por perto. As vezes confesso que queria mesmo que acontecesse uma briga, pelo menos assim eu poderia extravasar toda raiva que sentia por ser o saco de pancadas dos meus pais. Acho que por isso escapava mesmo, devia ter cara de doida. Eu nunca precisei de ajuda em situações sociais, mas confesso que não eram raras as vezes que meus amigos se sentiam impelidos a defenderem a mim e as meninas da turma de investidas mais agressivas em baladas.

Eu me incomodava muito com isso. Quem é de balada sabe que um homem repele o outro. Mesmo que vc esteja com um amigo, as chances de um cara se aproximar de vc se reduzem quase a zero. O cara fica com medo de ser seu namorado ou bater nele por achar que ele está sendo inconveniente. Por outro lado, quando está sozinha fica sujeita a todo tipo de investida. Os caras as vezes acham que vc está implorando por uma cantada, desesperada. Seguram, puxam cabelo, alguns chegam ao ponto de te rodear com uma série de amigos e forçar um beijo. Patético, mas verídico.

Isso implica que no fundo as mulheres não tem liberdade para ir e vir. É um corpo que te prende numa situação inconveniente. A todo momento vc é lembrada de seu sexo porque vc é o seu sexo. Sua personalidade se esvai e te colocam quase sempre entre duas categorias, puta ou santa. E a linha entre elas é relativa e ténue. Que mulher nunca desejou ser homem pelo menos uma vez? Ou para ter liberdade de sair pela rua sem ouvir nenhuma gracinha ou para poder sair sem dar mil explicações para não cair no grupo das putas? Sim, pois os nossos pais e a sociedade estão o tempo todo nos vigiando para não nos perdermos. Sexo, sexo, sexo! Não queremos nem pensar nele, mas ele tá ali, tachado de sexo frágil. Frágil como a felicidade de uma mulher que sai para balada sozinha para dançar e se divertir.


Mas esse sexo frágil tem dona e é a mulher. Só para ilustrar, eu gostaria de mostrar uma cena de um filme que eu não gosto, mas tem essa sacada fantástica do cara que se fantasia de mulher e sente toda invasão e arrogância dessas cantadas que dizem que no fundo não passam de um recado "eu posso atacar vc".

Assistam ao 1'39"de sorority boys

O que eu queria deixar claro aqui, é que não devemos nos amedrontar. Vamos lutar contra isso. Não vamos legitimar opiniões e preconceitos que incitem a violência. Não vamos julgar outras mulheres baseadas em preconceitos. Não vamos ser cúmplices de homens violentos. Vamos denunciar, relatar, ajudar aquelas que precisam de orientação. Não vamos dar brecha para coisas do tipo "ela tava pedindo para apanhar". Nada justifica covardia. E só para explicar o porque da minha filha (se a tiver) fazer Krav Magá!