sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O maior cego é aquele que não quer ver

Fugindo um pouco do debate político, mas resvalando nele, eu estive pensando no assunto que parece importar - fé dos candidatos. Parece que principalmente pro Serra, o importante é convencer de que ele é realmente um temente a deus. Pois bem, eu acho muito estranho dizer "católico não praticante".

Quer dizer, acredito, mas não pratico a minha fé. É um tipo de blasfêmia, não? Traduzindo melhor essa expressão ela quer dizer, eu acredito só pra vc que pergunta não me olhar torto e ter lá no fundo uma paz de espírito que me conforta com a idéia de que se existir um céu, eu tô garantido. É aquela coisa, já que duvidar da existência de deus é pecado, eu me garanto com ele achando que acredito e a minha preguiça e descrença em praticar a religião ficam perdoadas porque tenho fé.

Uma das minha melhores amigas é católica praticante. Ela é tão praticante que vai a missa sozinha, e não por imposição da família, que também é católica. Nós somos amigas desde a adolescência. E passamos muito tempo discutindo religião. Ela sentia uma certa dificuldade em entender a minha descrença e eu a crença dela. Pelo que eu entendi a fé é acreditar em algo sem provas, uma confiança cega. Depois que eu entendi isso percebi que a única fé que eu tinha era nas pessoas (constantemente abalada, mas sempre renovável).

Ela queria me levar para igreja dela, achava que meus conflitos familiares iriam melhorar se eu frequentasse a igreja. Eu era mesmo uma jovem triste e obscura. Fui umas duas vezes realmente procurando um conforto. As palavras batiam em mim e voltavam. Podem dizer que eu não "abri meu coração". Mas ele estava realmente sangrando de tão aberto e a igreja não conseguiu penetrar. Eu não tenho essa fé religiosa. Mas não perdi a amiga. Depois de muitas conversas ela entendeu que seria muito pior eu frequentar a igreja sem ter convicção naquilo. Eu cheguei a dizer a essa minha amiga que não conseguiria ser hipócrita a esse ponto porque eu achava que para os crentes aquilo era coisa séria. Porque eu iria invadir aquele lugar sem acreditar naquilo? Para mim isso é um desrespeito. A mesma coisa nos cultos evangélicos. Já fui em alguns. Todos dizem que faz uma enorme diferença de um para o outro e etc. Pra mim é a mesma coisa da missa, só que as pessoas cantam mais e o sermão é mais acessível.

Realmente o que eu acho é que as pessoas tem tanta dificuldade para conversar com os vizinhos, serem amáveis e fazerem amizade que muitas recorrem a religião apenas para fazer parte de uma comunidade. Os que realmente acreditam naquilo são uma parcela muito pequena. A maioria quer amigos e um "alívio rápido para consciência". Além daqueles que acham que podem cometer os maiores pecados e indiferença que basta comer uma hóstia ou dizer "aleluia" que pronto, passou. Existem pessoas que realmente acreditam, como é o caso dessa minha amiga. Mas eu realmente acho que essas pessoas estão tão realizadas com a própria fé que não tem necessidade de reafirmá-la a todo instante nem tão pouco angariar ovelhas para o seu rebanho (ou fundos para seu investimento).

Podem ainda me lembrar que minha amiga tentou me convencer a fazer parte da igreja dela. Bom, era algo que a fazia bem e ela achou que poderia me ajudar. Também era uma fase de questionamentos para ela e eu acho que as conversas comigo a ajudaram a reafirmar a própria fé e aprendar a não julgar os outros por causa disso. Além disso ela descobriu que eu tinha minhas próprias convicções. Quando para ela era um mandamento para mim era lógico, respeitar o próximo como eu gostaria de ser respeitada e assim por diante.

Daí eu me pergunto, que religiosos são esses que preferem uma mentira deslavada ao respeito às suas crenças? Que religiões são essas intolerantes e superficiais?