segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Nepotismo não é só político

O nepotismo é uma prática desonesta e injusta. Ele elimina a competição e não avalia as capacidades individuais. Muitos brasileiros recorrem a essa prática mesmo tendo qualificações suficientes para conseguir um posto sozinhos. Recorrem a ela porque é mais fácil e "garantido". Muitos desses brasileiros depois reclamam do nepotismo na política. Vai entender...

Existe outro tipo de nepotismo, o intelectual. Nele apenas as pessoas que sempre tiveram acesso ao discurso são autorizadas e emitir juízos e opiniões. Quando há alguma mudança em quem pode falar notamos que sai da mão de um poderoso para a de seu protegido e/ou filho, esposa, sobrinho. O problema dessa prática é que além de colocar muitas pessoas sem competência controlando os meios intelectuais, ela inibe, reduz ou barra a diversidade de idéias e opiniões. Promove hoje o efeito "intelectual no carro importado", uma versão mais moderna do intelctual na torre de marfim. Esse novo intelectual conhece um pouco mais do mundo, saí de casa e chega até a ver os problemas de sua cidade, mas dentro de seu carro importado com película e ar condicionado digamos que sua persepção da realidade fica bastante comprometida.

O nepotismo artístico é um velho conhecido. Quantos cantores e atores que estão em voga não são filhos de outros? Muitos deles tem talento, é certo. Mas será que aqueles que não tem saem da mídia por causa disso? Os que não tem talento tem dinheiro para esconder a falta dele. Podem contratar um bom produtor, letrista, uma boa banda, e pronto, tá aí o talento $. Entre os atores a situação é mais gritante ainda quando temos uma emissora que detém uma enorme fatia do mercado cultural brasileiro atuando inclusive no cinema e promovendo uma dezena de novelas ruíns, programas sem conteúdo e nenhum desafio para seus atores. Mas realmente eles não parecem se importar em ficarem guardados na gaveta recebendo um bom salário e um por fora para aparecerem na balada. O mais engraçado, que no lugar de participarem da intelectualidade brasileira, eles ficam alheios de todos os processos sociais e usam a imagem e o alcance que ela tem para promover apenas a eles mesmos. Não são todos, é verdade, mas aqueles que não são "globais" são tão locais que quase ninguém repara. É uma pena.

Seguindo o pensamento de Terry Eagleton, que muita gente cita, mas pouca gente segue; enquanto deixarmos apenas os mal intencionados tomarem conta do processo estaremos sendo coniventes com tudo o que fizerem. Não podemos deixar apenas os nepotistas fazerem parte do processo, temos que abrir uma fresta para a competência e a honestidade entrarem.