quarta-feira, 11 de maio de 2011

Do lado errado

Outro dia recebi um e-mail da minha irmã me contando as novidades. Entre outras coisas, ela me contou como vai minha cidade natal, Brasília. Uma cidade planejada, muito mal planejada. Eu digo e podem anotar aí, não sou Nostradamus, mas aposto que daqui há 10 anos Brasília será tão caótica quanto São Paulo é hoje.

Porque eu digo isso? O que vc espera de uma cidade que mal tem calçadas, mas a cada dia que passa destroe cada vez mais área verde para contruir ou alargar suas avenidas? E o pior, não investe num sistema de captação de águas pluviais decente e chove pacas lá. Hum... alguém consegue perceber a semelhança com São Paulo?

Bom, há uma outra semelhança (ou não) com São Paulo, o uso de carros de passeio como o único meio de transporte. De início, parece algo bom. Afinal, Brasília ainda não tem aqueles engarrafamentos de 3 horas ou os estacionamentos de 10 reais a hora. Ainda, mas logo vai ter. O que chamou a minha atenção foi uma manifestação ridícula que alguns idiotas de Brasília tentaram fazer contra o aumento da gasolina. Tudo bem que forçar os postos a emitir nota é algo que todo mundo deveria fazer sempre. Mas a situação não vai melhorar se a gasolina não aumentar. É só uma questão de tempo para o governo e os usineiros, petroleiros e outros eiros arrumarem um pretexto para subir o preço do combustível.

O que eu acho errado é combater o aumento do combustível achando que essa é o único problema. Quando você chegar no trabalho, seu carro não vai encolher e você não terá como colocá-lo na bolsa. O que vai fazer? Bom, o jeitinho que a gente acha é parar em cima da calçada, fila dupla, tripla, dar a chave para o guardador de carros e depois quando a polícia multa pq ninguém consegue passar, você fica puto e pensa "mas não tem onde parar o carro". Bom, se você pagar um estacionamento, tem como estacionar. Ah, não, mas é muito caro! Acho esse pensamento um pouco egoísta. É como dizer, eu tenho mais direitos do que quem tenta passar, do que aquele que espera a ambulância que está presa no engarrafamento que você causou por causa do seu carro.

A questão é, o brasiliense prefere fazer um esforço descomunal para conseguir comprar um carro e pagar todos os impostos que se estivessem sendo bem utilizados, deveriam oferecer uma alternativa mais barata, ou mais prática, para ele se locomover. Acho que no lugar de protestar abastecendo o carro com 50 centavos e exigindo nota, as pessoas deveriam se unir, como se unem na corrida da cerveja, e tentar ir ao trabalho de transporte público. Muitas vezes é impossível, mas nesse caso, uma comoção popular poderia exigir uma melhora e ampliamento das linhas. Ou quem sabe até plantar árvores perto das calçadas para melhorar as condições de caminhada, ciclovias por toda cidade. Mas qual é a primeira coisa que as pessoas pensam? Tornar mais barato o uso do carro.

Isso não deve e não vai acontecer porque o carro acaba exigindo muito mais dinheiro e manutenção do que todas as outras alternativas. Demanda muita infra-instrutura, espaço ocioso em estacionamentos e coisas afins. Isso é o que eu chamo de "pensando do lado errado".