Televisão, internet, jornal... literatura. Tudo parece um pouco mais do mesmo. Vemos sempre as mesmas identidades que não as nossas. Conhecemos bem os hábitos paulistas e cariocas. A Mooca e a Lapa, o boêmio e o empresário, esteriótipos e marginalizados. Nesse eixo todos tem mais vez. E eu? E nós?
Teremos que sair de nossa cidade, de nossas vidas para nos identificarmos com alguém, com algo? O que é um brasiliense? Ou melhor, uma brasiliense? Passo meus domingos de sol no Parque da Cidade, no eixão, num churrasco na casa de alguém que tem casa. Sábado é buteco, ele pode ser na 8, na 10, na 4 sul, norte... Um brasiliense sabe onde fica e não vai perder a cerveja. Sem falar naquele almoço de domingo a céu aberto no Faisão Dourado que não vende faisão.
Mas eu tenho que ouvir falar de praia, de balada paulista e achar que aqui não tem nada pra fazer. Sou obrigada a me lamentar porque não temos peças toda semana com atores globais no teatro (realmente eu não me lamento). Sou obrigada a me sentir uma capial e ser levada a conhecer a Av. Paulista com seus estupendos arranha-céus que são iguais a qualquer prédio de Brasília, só que nós temos limite de altura. Eu vivo numa cidade que é a ambientação perfeita para um filme de ficção científica dos anos 80 e ninguém sabe. Será que preciso contar? Existe um mundo paralelo que aflora nessa cidade durante as noites. A periferia, os excluídos convivem com a elite na W3 Norte. Prostitutas e traficantes saem de trás da comercial da 500 de onde sempre estiveram e aparecem nas luzes. Brasília revela sua outra sedução, mas "ninguém" pode/quer ver.
As calçadas quebradas e abandonadas de uma cidade que insiste em achar que não tem vida obriga seus transeuntes a fincar os pés na grama. Como formigas nós marcamos nossa trilha, nosso caminho na grama e na frieza do concreto que insiste em ser impessoal. Aqui muitas vezes não conhecemos nosso vizinho, mas ninguém se importa com isso. Estamos o tempo todo em contato com o mundo no celular, na internet, mas o mundo não respode. Porque será que ele não quer nos ver?
Vamos sair do eixo. A cidade existe mesmo sem você nos ver.