quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O buraco é mais cedo

Reta final do mestrado, últimas leituras e... Parece que não saio do lugar. Eu já passei da fase de discutir gênero/sexo, feminilidade. A maternidade ainda está nas minhas aspirações, mas putz, parece que tudo o que falam sobre maternidade é parecido. Ainda com a Beauvoir, em 1949, quando dizia que as mulheres eram seres além da maternidade e reinvicava o direito de não ser mãe não vejo muito progresso.

Alguém aqui vai me matar, mas estou sendo inocentemente sincera. Eu gosto do ponto de vista que desncontroi a identidade feminina formada à partir de uma matriz de gênero que exige uma heterossexualidade compulsória e uma fatidica maternidade identificadora. Para que serve uma mulher sem filhos? Bom, essa discussão é bem produtiva. Mas o que eu quero saber é porque não podemos formar uma identidade relacional com a nossa mãe? Porque o Édipo só se resolve entre sexos? Como não enxergamos a mãe como um ser diferentes e formamos nossa identidade nessa alteridade? Se a sexualização primária das crianças se dá a partir do contato com o corpo dos pais, mulheres e homens adultos apresentam muitas diferenças entre meninos e meninas. Porque a criança nota apenas a falta do pênis na mãe? Não nota a presença dos seios? Como? Ela está em contato com eles constantemente.

É somente a falta de poder da mãe que faz a filha odiá-la? Porque as feministas não reinvidicam o lugar de filha? É uma identidade em comum. Nem todas as mulheres serão mães, mas todas são filhas. Claro que existem excessões, mas acredito que existam também no caso de mulheres que não possam se realizar socialmente com a maternidade. Muitas feministas trabalham a formação da identidade feminina a partir do embate entre a escolha de ser ou não mãe. Essa imposição se dá cedo na vida das meninas, mas a mãe tem um papel fundamental nessa cultura da maternidade. Quem nunca ouviu aquelas palavras jogadas em nossa direção como uma maldição secular "Um dia você terá uma filha igual a você!".

Talvez seja mais simples tratar mais de perto essa relação para poder afrouxar essas amarras. Quem sabe se a mãe disser "Filha, faça o que quiser". E sem traumas parar de culpar sua filha por tudo de bom que a sociedade capitalista oferece aos homens e que ela não pode ter porque foi mãe. Culpe a si mesma e não jogue o fardo na pobre menina. Ela deve saber que pode escolher e que não vai tornar-se amarga e seca e nem um pária dentro da família por não ter filhos. É um saco ouvir as pessoas perguntando quando vou ter um filho se nem sei se quero a carreira acadêmica...

Mas na verdade, acho que inverti a ordem das leituras e por isso tudo me parece tão repetitivo, afinal, estou de volta aos anos 80.