De algum tempo pra cá tenho a impressão de que me tornei uma pessoa chata. Eu sei que isso se deve ao crescimento ou aguçamento do meu senso crítico, mas no lugar de ser uma qualidade como poderiam pensar, acho, em muitos casos, um defeito.
Nas mesas de bar, quando todos conseguem falar de trivialidades, da vida, do trabalho, do chefe, das unhas, da moda eu simplesmente só consigo me esforçar para disfarçar o meu tédio. Eu acho que parte disso se dá pela natureza do meu trabalho, autônoma. Eu posso dizer que tem um lado muito ruim, que é a instabilidade, mas existem outras vantagens. Eu não tenho chefe, não tenho rotina, não tenho enxeção de saco e ainda tenho uma sensação muito boa quando recebo de que o meu trabalho vale cada centavo do que recebo. Mas devido a essas particularidades, fico de fora da maior parte dos assuntos de buteco.
Outra coisa que venho notando é que depois de começar a estudar o feminismo eu não consigo mais rir das piadinhas sexistas, dói em mim. Ver gente falando mal de puta, de viado ou fazendo piadinha com baranga é apelação pra mim. Quando sou minoria na mesa, me calo, quando percebo que não adianta falar fico na minha, mas quando é com meus amigos mesmo eu falo, mas muitas vezes acabo com o clima festivo do momento e os deixo sem graça.
Ontem estava no barzinho com meu amore, um fotógrafo e um designer. Pela primeira vez em muito tempo consegui conversar com alguém sobre as coisas que venho estudando. Achei divertido porque eles desenvolviam a conversa e pareciam estar gostanto, tanto que fomos embora bem mais tarde do que planejamos. Não sei porque começamos a falar do relativismo dos critérios artísticos, passamos por um fotógrafo cego, falamos de Saramago x Paulo Coelho, Duchamp, rap, funk, clichês e é claro, literatura feminina. Mas o que mais me deixou feliz, não foi falar. Podemos falar sozinhos mesmo estando na mesa de um bar com os amigos. Fique feliz em conversar.
Tenho me tornado uma pessoa difícil, eu sei. Consigo agora entender o que uma colega da pós disse. "Nós não estamos mais abrindo mão de muita coisa!". E realmente, eu tenho deixado minha diplomacia de lado em muitos casos. "Você quer me converter? Então me vença na conversa. Não vou mais colocar panos quentes dizendo que tudo tem o seu valor se não concordo com isso. Religião pra mim é filosofia e portanto pode ser discutida e desmentida. Você acha que as mulheres são inferiores? Fale isso pra sua esposa. Você não liga pra política? Então não reclame de pagar impostos. Você acha a Europa maravilhosa? Vá morar lá pra ver como te tratam. Você não acredita em racismo? Pergunte a um negro se ele já sofreu com isso. Você acha que dinheiro é tudo? Reflita se o Michael Jackson foi feliz."
Eu concordo que existam conversar desinteressadas onde a trivialidade é agradável, mas será que não dá pra ser agradável conversando coisas menos triviais?
Nas mesas de bar, quando todos conseguem falar de trivialidades, da vida, do trabalho, do chefe, das unhas, da moda eu simplesmente só consigo me esforçar para disfarçar o meu tédio. Eu acho que parte disso se dá pela natureza do meu trabalho, autônoma. Eu posso dizer que tem um lado muito ruim, que é a instabilidade, mas existem outras vantagens. Eu não tenho chefe, não tenho rotina, não tenho enxeção de saco e ainda tenho uma sensação muito boa quando recebo de que o meu trabalho vale cada centavo do que recebo. Mas devido a essas particularidades, fico de fora da maior parte dos assuntos de buteco.
Outra coisa que venho notando é que depois de começar a estudar o feminismo eu não consigo mais rir das piadinhas sexistas, dói em mim. Ver gente falando mal de puta, de viado ou fazendo piadinha com baranga é apelação pra mim. Quando sou minoria na mesa, me calo, quando percebo que não adianta falar fico na minha, mas quando é com meus amigos mesmo eu falo, mas muitas vezes acabo com o clima festivo do momento e os deixo sem graça.
Ontem estava no barzinho com meu amore, um fotógrafo e um designer. Pela primeira vez em muito tempo consegui conversar com alguém sobre as coisas que venho estudando. Achei divertido porque eles desenvolviam a conversa e pareciam estar gostanto, tanto que fomos embora bem mais tarde do que planejamos. Não sei porque começamos a falar do relativismo dos critérios artísticos, passamos por um fotógrafo cego, falamos de Saramago x Paulo Coelho, Duchamp, rap, funk, clichês e é claro, literatura feminina. Mas o que mais me deixou feliz, não foi falar. Podemos falar sozinhos mesmo estando na mesa de um bar com os amigos. Fique feliz em conversar.
Tenho me tornado uma pessoa difícil, eu sei. Consigo agora entender o que uma colega da pós disse. "Nós não estamos mais abrindo mão de muita coisa!". E realmente, eu tenho deixado minha diplomacia de lado em muitos casos. "Você quer me converter? Então me vença na conversa. Não vou mais colocar panos quentes dizendo que tudo tem o seu valor se não concordo com isso. Religião pra mim é filosofia e portanto pode ser discutida e desmentida. Você acha que as mulheres são inferiores? Fale isso pra sua esposa. Você não liga pra política? Então não reclame de pagar impostos. Você acha a Europa maravilhosa? Vá morar lá pra ver como te tratam. Você não acredita em racismo? Pergunte a um negro se ele já sofreu com isso. Você acha que dinheiro é tudo? Reflita se o Michael Jackson foi feliz."
Eu concordo que existam conversar desinteressadas onde a trivialidade é agradável, mas será que não dá pra ser agradável conversando coisas menos triviais?