sábado, 27 de junho de 2009

As intermitências da vida

Existem sempre muito mais que duas formas de ver as coisas. Mais também de encarar os problemas. Descartes disse que não existem formas fáceis de resolver problemas difíceis. Eu discordo e concordo (como disse, sou uma pessoa antagônica). Acho que difícil é encontrar a solução para o problema. Depois que isso acontece, mesmo que seja difícil resolvê-lo, aos nossos olhos o problema é praticamente resolvido. E se a gente pensar um pouco em outro francês, o Sartre, que disse que o inferno são os outros, quantos dos nossos problemas não são no fundo o fruto de uma preocupação com o que os outros vão pensar?

Será que realmente a motivação louca por "vencer na vida" não provém daquela de mostrar para os outros que você é bom (melhor que alguém)? É engraçado pra mim pensar que os esforços da maior parte das pessoas se concentra em motivações extremamente egoístas. Não me tiro do bloco, mas não consigo deixar de achar engraçado.

É claro que quando escrevo aqui sempre penso em algo ocorrido à minha volta. Conversando com duas pessoas diferentes consigo perceber claramente motivações completamente distintas. Para uma conforto é tudo. Depois de uma ceta idade aquilo que não se realizou na vida ou toma uma importância extrema ou é superado. É interessante ver nas pessoas de mais idade comportamentos dessa natureza. As que superaram ou até realizaram são normalmente mais tranquilas, conseguem ter uma visão mais ampla e menos reguladora do mundo. As que não se resolveram não são pessoas legais de se conviver. Analisam tudo e todos com base em si e no seu comportamento. Aqueles que agem e pensam como eles estão certos, os que pensam ou agem diferente estão errados. E o pior, não são pessoas felizes estão sempre reclamando da vida.

Eu citei o exemplo do "vencer na vida" porque sou constantemente criticada pela minha mãe por não ter um carro. Eu concordo que em algumas situações eu queria muito ter um carro, mas não acho que a minha vida seria melhor por isso. Escolhi pagar mais caro no meu aluguel e morar um lugar mais perto do trabalho (vou à pé) e onde seja fácil pergar ônibus porque fiz as contas e vi que a manutenção do carro seria mais cara do que o "a mais" que eu resolvi pagar de aluguel. Além disso, não tenho renda fixa e não quero ser explorada pelo banco e ter que trabalhar pra eles. Mas ela não entende essa parte do raciocínio. Me acha uma perdedora porque moro na Asa Norte e pra ela é lugar de pobre. Não sou funcionária pública, hunf, que horror! Eu nem entro mais no mérito que ela mora num lugar super bacana, mas não tem dinheiro pra comer fora, ir ao cinema, ao teatro, tomar uma cerva com os amigos. Tudo isso eu faço com o dinheiro do carro que eu não comprei. Nenhuma vez, desde que comecei a trabalhar (já nem me lembro quando foi), eu fiquei no vermelho na minha conta. E olha só, passei na seleção do mestrado depois da morte do meu pai tendo apenas 1 mês pra estudar e preparar o projeto, estou indo super bem, tenho praticamente dois artigos para serem publicados... Mas realmente, eu sou um lixo, não tenho carro!

Eu entendo a frustração dela, e é isso que eu acho engraçado. Todos os pais tem aquela tendência de que os filhos realizem os sonhos deles, nem que seja só por um breve período. Normalmente eles desistem da idéia ao verem os filhos darem os próprios passos na vida, outros não.

Desculpem o desabafo, mas acho que a gente sempre passa por umas dessas.