Só uma palhinha do texto que estou lendo no momento para uma disciplina. Eu mesma fui vítima desse preconceito e hoje enxergo o quanto falei de coisas que não conhecia. Pensava, eu não quero parar de depilar o suvaco pra ser feminista nem virar lésbica (como se isso fosse um problema). Vejo agora que fui mais um alvo desse discurso divertinho com um ar de modernoso que é a condenação acrítica das idéias politicamente corretas. Claro que muitas merecem sim críticas, mas eu acho que a crítica ao racismo, por exemplo, não deve ser mal vista. Tão pouco essa postura de dizer que racismo é coisa de americano e que aqui não tem isso.
Temos racismo sim e quando velado mais difícil de ser combatido. Temos sexismo sim e eu estou cansada de ver isso no meu dia a dia. Ouvi outro dia desses num concurso para professor titular do meu departamento uma besta da banca soltar a seguinte afirmação: "Vejo aqui que você trabalha também com as teorias de gênero. Não entendi bem porque, já que você trabalhar também com sociologia. Todos nós sabemos que as mulheres são a maior parte dos estudantes universitários no Brasil. Elas tem livre acesso aos postos de comando. Se ainda não os ocupam deve ser por um receio do poder e não por machismo". Era um homem falando e a candidata ao cargo era mulher. Dos 4 candidatos ao cargo apenas um era homem. Adivinhem quem ganhou? Será que nenhuma das outras candidatas era competente o suficiente? Se eu não tivesse ouvido isso da banca poderia até pensar que foi um processo justo, mas quando vi essa postura me retirei do recinto e pensei "Estamos falando para as paredes da academia". Claro que a minha raiva já diminuiu, mas não venha me dizer que o feminismo está superado.
Citando um trecho do artigo de uma crítica literária de quem sou super fã, Rita Terezinha Schmidt:
"A complexidade dos fatores que se conjugam na articulação desse fenômeno que é o antifeminismo brasileiro impõe, obviamente, que sua apreensão se dê para além do limite das associações que se possam fazer com a repulsa ao “politicamente correto”, ou com o rechaço às idéias “fora do lugar”, expressão inventada por Roberto Schwarz para explicar o nosso torcicolo cultural, isto é, a dependência de idéias forjadas nos centros metropolitanos de poder e o seu transplante acrítico para o contexto de uma realidade brasileira em descompasso com a realidade onde tais idéias são produzidas, ensejando entre nós uma vida cultural artificial, mascarada e alienada das condições materiais de vida. Fazendo um jogo com a expressão de Schwarz e invertendo seu sentido, afirmo que o antifeminismo, entre nós, enraizou-se no âmbito da cultura letrada como uma idéia muito própria do lugar, na medida em que foi se consolidando no curso do próprio desenho do desenvolvimento econômico e da organização social brasileira, como decorrência das relações materiais de produção e da consolidação de um pensamento patriarcal e senhorial que ancorou um sistema social de relações de poder em que formas de misoginia e de racismo foram instrumentais na materialização dos interesses de classe da elite dominante. "
Temos racismo sim e quando velado mais difícil de ser combatido. Temos sexismo sim e eu estou cansada de ver isso no meu dia a dia. Ouvi outro dia desses num concurso para professor titular do meu departamento uma besta da banca soltar a seguinte afirmação: "Vejo aqui que você trabalha também com as teorias de gênero. Não entendi bem porque, já que você trabalhar também com sociologia. Todos nós sabemos que as mulheres são a maior parte dos estudantes universitários no Brasil. Elas tem livre acesso aos postos de comando. Se ainda não os ocupam deve ser por um receio do poder e não por machismo". Era um homem falando e a candidata ao cargo era mulher. Dos 4 candidatos ao cargo apenas um era homem. Adivinhem quem ganhou? Será que nenhuma das outras candidatas era competente o suficiente? Se eu não tivesse ouvido isso da banca poderia até pensar que foi um processo justo, mas quando vi essa postura me retirei do recinto e pensei "Estamos falando para as paredes da academia". Claro que a minha raiva já diminuiu, mas não venha me dizer que o feminismo está superado.
Citando um trecho do artigo de uma crítica literária de quem sou super fã, Rita Terezinha Schmidt:
"A complexidade dos fatores que se conjugam na articulação desse fenômeno que é o antifeminismo brasileiro impõe, obviamente, que sua apreensão se dê para além do limite das associações que se possam fazer com a repulsa ao “politicamente correto”, ou com o rechaço às idéias “fora do lugar”, expressão inventada por Roberto Schwarz para explicar o nosso torcicolo cultural, isto é, a dependência de idéias forjadas nos centros metropolitanos de poder e o seu transplante acrítico para o contexto de uma realidade brasileira em descompasso com a realidade onde tais idéias são produzidas, ensejando entre nós uma vida cultural artificial, mascarada e alienada das condições materiais de vida. Fazendo um jogo com a expressão de Schwarz e invertendo seu sentido, afirmo que o antifeminismo, entre nós, enraizou-se no âmbito da cultura letrada como uma idéia muito própria do lugar, na medida em que foi se consolidando no curso do próprio desenho do desenvolvimento econômico e da organização social brasileira, como decorrência das relações materiais de produção e da consolidação de um pensamento patriarcal e senhorial que ancorou um sistema social de relações de poder em que formas de misoginia e de racismo foram instrumentais na materialização dos interesses de classe da elite dominante. "
Refutações ao feminismo: (des)compassos da cultura letrada brasileira. Revista de Estudos Feministas - REF, setembro-dezembro 2006.