quarta-feira, 29 de junho de 2011

Associações difíceis, mas possíveis

Eu sou meio "caraminhocoladora"*, tô pensando em 3 coisas diferentes ao mesmo tempo e, as vezes, essas coisas acabam se relacionamdo por acaso. Ou não. Bom, estava lendo o meu e-mail e recebi um convite para um colócio sobre pensadores da cultura. Enquanto lia a programação me veio a cabeça um episódio dos Simpsons. Sempre gostei do desenho pq achava que a minha família parecia com a deles. Hoje vejo que temos muito pouco em comum e também consigo enxergar a parte adulta do desenho. Afinal, os Simpsons começou a passar no Brasil quando eu era criança. O episódio que eu estava assistindo era o dos Simpsons na Inglaterra. Eu gosto especialmente desses episódios onde eles viajam porque é uma esculhambação total. Eles fazem um retrato caricato do país, o país sacaneia com eles e proto, estão quites.

Mas o que eu me lembrei desse episódio que me fez pensar em outra coisa foi o final. Sim, vou SPOILIAR os Simpsons. se vc nunca viu esse episódio, não termine de ler esse post.

Quando o Homer, se eu me lembro bem, fica preso na Torre de Londres por ter batido na carruagem da Rainha. A família dele consegue achar uma passagem secreta para tirá-lo de lá. Mas na fuga ele se perde e acaba indo direto para os aposentos de sua magestade. Não tendo outra saída, Homer se ajoelha aos pés da Rainha e pede clemência, no estilo dele. Como ele pede é que eu acho fantástico. Vou tentar transcrever aqui:

"Por favor, magestade. Eu sei que eu, como muitos americanos aqui, me comportei como um perfeito idiota. Mas nós, os americanos, somos filhos da Inglaterra. Eu sei que não telefonamos com a frequência que deveríamos, nem somos tão bem comportados como nossos irmãos do Canadá [...]. Mas por favor, busque no seu coração cravado de jóias um jeito de me perdoar."

Eu tentei achar o texto em inglês, mas ficou muito complicado para o meu netbook e minhas habilidades internáuticas. Mas acho que era mais ou menos a mesma coisa, se me lembro bem.

Voltando ao colóquio, da lista de mais ou menos 10 pensadores, não tinha nenhuma mulher entre eles. Algumas apresentações não traziam o autor no título, mas eram apenas 3. Se forem mulheres, o que eu duvido, isso no traz 30% de presença feminina no pensamento cultura. É muito pouco se pensarmos que só no Brasil, as mulheres são 50% da população e que nas áreas da cultura e das artes figuram como maior parte do corpo docente e dicente. É difícil pensar que não temos pensadoras da cultura brasileira e até mesmo mundial que mereçam aparecer numa lista dessas. Eu as vezes tenho vontade de surtar como a personagem do conto da Lygia Fagundes Telle, Senho Diretor, e escrever cartas para esse povo. Mas no meu caso seriam cartas bem desaforadas, do tipo "Machado de Assis, de novo!?, ou "mais uma leitura de Shakspeare? Tem certeza que ele é inesgotável?. Ah, não! Tá de brincadeira que vai tentar me vender Bernardo Carvalho como cool e super novo, de novo? Ou que tal mais um Bosi, Cândido e Moisés, isso quando somos muito revolucionários em citar críticos brasileiros.

AAAAAAAAAAAA! Eu quero algo novo! AlôÔÔôu, academia, o povo lá fora ainda acha que a nossa capital é o Rio de Janeiro e que falamos espanhol e vcs ainda preocupados em venerar aqueles que um dia, por acaso, algum gringo veio aqui e estudou pq não tinha mais ninguém no país dele para estudar. Eu escolho Pagu em vez de Andrade, Lygia em vez de Clarice, Júlia Lopes de Almeida no lugar do Machado, Elvira Vigna em vez do Carvalho e que tudo mais vá pro... tororó.

Pronto, falei!

Você pode estar pensando que eu quero que haja apenas mulheres. Certamente eu gostaria que houvesse mais, mas não somente isso. Muitos desses autores que estão sendo estudados, são os mesmos que eu estudei na graduação. Os alunos ainda lêem as mesmas coisas. Tudo parece mais do mesmo...

E o que tudo isso tem a ver com o texto dos Simpsons? Sei lá, talvez estejamos ainda com medo de "sair da casa dos pais", tomar uma postura menos confortável e aceitar os riscos e as consequências, agindo como "crianças" esperando um amadurecimento que não estamos lutando para ter, esperando sermos perdoados pelo mundo pelos nossos eros. Talvez?!

PS: Para evitar defesas acolaradas sobre a qualidade dos autores criticados acima, gostaria de ressaltar que a qualidade deles é lugar comum e não discuto ou duvido disso. Mas o que estou querendo é uma renovada, uma cara nova nos currículos de literatura, na pós... Sei lá, algo diferente. Tá tudo com uma cara meio clichê. Mas graças tem boas pessoas trabalhando com coisas muito diferente, e felizmente, gente muito boa! Infelizmente, uma minoria nesse marzão.

*Expressão da personagem Lorena de As Meninas (Lygia Fagundes Telles)