quinta-feira, 31 de março de 2011

Da paternidade

Há pouco tempo eu defendi meu mestrado falando sobre a repressão sexual transmitida de mãe para filha na obra da escritora Lygia Fagundes Telles. Como a relação entre mãe e filha era um dos meus principais focos, eu estudei bastante a maternidade. Gosto de observar e refletir sobre esse tema como toda mulher. Mas ao contrário de muitas, meu pensamento vai na direção contrária.

Claro que a maternidade é essencial para a sobrevivência da espécie, como todo biólogo gostaria de frisar. Outros, no entanto, ressaltam que os homens são animais racionais que se organizam socialmente de forma complexa. Não apenas os instintos, mas muitos outros interesses nem sempre "naturalmente" instintuídos (mas muitos usando o caráter natural como falsa premissa) atuam no campo da reprodução. Uma das coisas mais interessantes que eu li na minha vida foi o argumento de Elisabeth Badinter no seu livro "Um amor conquiistado". Ela faz uma reconstrução histórica da maternidade e do pensamento acerca dela (inclusive da criação da infância) procurando reinterpretar aquilo que todos julgam ser "o relógio biológico" de toda mulher, ou seja, um momento que chega para todas e que chega para todas onde a vontade de ser mãe é simplesmente inevitável.

Tentando não fazer uma volta tão grande, o que eu percebi é que a premissa do que é natural ou não dentro desse campo da maternidade varia de acordo com o país, a sociedade a época. Tudo bem que a Badinter já falou isso, mas perceber algo que vc leu acontecendo na sua frente é bem mais interessante do que apenas citar um parágrafo entre aspas. O que eu percebi aqui na Suécia e que realmente me saltou aos olhos é que a maternação parece algo bem mais compartilhado entre o casal do que tem sido nos exemplos que vejo do Brasil.

Pq eu estou dizendo isso? A quantidade de pais passeando com seus bebês e crianças pequenas é de saltar aos olhos. Eu já vi vários pais saindo no mesmo horário todo dia para passear com seus filhinhos. Coisas que a gente acha super estranho no Brasil. Digo isso porque a quantidade de pais SOZINHOS com seus filhos por aqui é igual ou maior do que a quantidade de mães. Na verdade eu acho que é maior, mas eu posso estar dizendo isso pq reparo mais nos pais (algo totalmente diferente pra mim) do que nas mães. E o mais interessante é que eles não parecem desesperados, perdidos, atrapalhados nem nada. Ou seja, isso por aqui é normal. Inclusive quando o estabelecimento comercial tem um trocador para bebês costuma ter um no banheiro masculido e outro no feminino. A licença paternidade aqui é para o casal e dura 18 meses, que o casal divide como preferir. Pode ser meio a meio ou 1/3 para a mãe ou o contrário.

Vcs podem achar que a Suécia é um país rico, mas a gente paga uma carga tributária igual a deles (tá, eu não tenho certeza disso, mas qq imposto que pagamos no Brasil é dinheiro mal gasto), porque não temos esse tipo de incentivo para divisão do cuidado parental por parte do governo? Talvez pelo mesmo motivo que me faz acreditar que muita gente na academia ache que a maternidade não vale a pena ser estudada ou que devemos estudar a paternidade e esquecermos que ela é omissa porque a maternidade é super valorizada.