sábado, 4 de dezembro de 2010

Dicas de livros

Existe uma personagem da literatura portuguesa que é desconhecida por muitos - Mariana. Mais conhecida ainda como Mariana Alcoforado ou Sóror Saudade. Conheci a história dela através de uma ótima professora que caiu de para-quedas na disciplina de realismo português. Nessa ocasião, eu, que estava crente que ia ler o Fernando Pessoa, acabei lendo A Casa da Malta.

Felizmente essa professora gostava de nos mostrar o lado underground da literatura e acabou comentando sobre a Mariana, Anaïs Nin e Florbela Espanca - expoentes da literatura de suas épocas sutilmente deixadas de lado por muitos estudiosos. Eis que um dia, vasculhando as estantes de livros de bolso da Banca mais famosa do Ceubinho eu encontro ela, Mariana Alcoforado, por r$ 8,00. Não resisti, ainda mais quando para valida-la havia depoimentos dos seus leitores: Rilke, Stendhal, Sainte-Beuve e Rousseau. Esse último queima filme (na minha opinião), mas é famoso.

Falando agora do livro, são 5 cartas de amor publicadas primeiramente de forma anônima, afinal, se trata de confissões amorosas de uma freira (de um convento em Beja). Por isso ainda o nome Sóror Saudade. Essa última informação não encotrei no livro e como foi a professora que comentou muito exitante, coloquei em itálico. Bom, a freira teve uma grande paixão por um oficial do exército francês que estava servindo em Portugal, dizem ser o conde de Saint-Léger, ou De Chamilly. Mas a questão é que, bom, eu estou muito pouco romântica ultimamente, então vou analisar friamente a carta: trata-se de uma mulher desesperada com o rompimento e a indiferença do amante. Eu a acho por demais solícita com ele, apesar de todo ódio que exala em suas cartas, afinal, ele fudeu com ela e com a vida dela.

Parece-me ainda que ela sofreu punições da família pela aventura, mas se recusou entregar o nome do amante, um homem covarde que desgraçou uma mulher sem experiência que viveu num convento a vida toda e não teve coragem para romper com ela pessoalmente. Essa é a minha leitura, afinal, eu sei que no séc. XVIII a educação das meminas em muitos casos era feita por freiras e os pais que não conseguissem ou não quisessem arrumar casamento para suas filhas chegavam a nunca conviver com elas, deixando-as mofar num convento, como parece ser o caso de Mariana. Mas ele também pode ter sido ameaçado pela família de Mariana, que era muito poderosa. Quanto a parte romântica da carta, a considerada por muitos como uma voz que se sobressai, vale a pena dizer que a dor de uma desilusão parece ser a mesma, não importa a época.

Cartas Portuguesas, Mariana Alcoforado