quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os dilemas da vida adulta

Eu lembro muito de minhas reflexões adolescentes. Outro dia estava escutando Raul Seixas e lembrando o quanto as músicas dele me tocavam. O que eu mais queria era sair da aba dos meus pais, ou usar meu "sapato 37". A minha vida se resumia a técnicas para alcançar esse objetivo. Eu pensava que uma lambreta e um apê alugado seriam minha felicidade eterna. Eu tinha planos apenas para esse estágio. Agora estou reescrevendo meus sonhos. E isso leva tempo para sair da bruma dos pensamentos e tomar forma.

Hoje me dei conta que passei muito tempo no mesmo caminho, tentando apenas conquistar minha independência. Muitas vezes ouço os sonhos das minhas amigas e tento me lembrar se algum dia sonhei com algo assim. E até certo ponto fico feliz em perceber que ganhei da vida muito mais do que esperava. Por muitas razões, que não vou explicar aqui, achei que era incapaz de amar e ser amada. Sempre respondia quando me perguntavam se eu queria casar e ter filhos que apenas o faria se encontrasse a pessoa perfeita, mas caso isso não acontecesse eu seria feliz com minha vida e talvez comprasse um gato para me fazer companhia.

Não era egoísmo da minha parte, mas nunca sonhei com meu casamento ou com meus filhos. Acho que de certa forma eu tentava provar, assim como a Carie Bradshaw, que era possível ser feliz solteira. E eu fui, até meus 20 e poucos (sou péssima com datas...). Hoje sou muito feliz casada e não sei se vou seguir o script tradicional. Acho que até hoje eu não sigo. De uma certa forma eu casar foi mais do que inesperado, tanto para mim quanto para todos que me conhecem bem. Talvez fosse o contrário, todos esparassem que eu seguisse o "destino" de toda mulher... Mas o fato é que, como já diria Peter Pan, "nunca diga nunca". Afinal, eu achei que nunca fosse ser feminista, e cá estou eu.

Ninguém tem obrigação de fazer o que a sociedade ou a família espera que façamos. Não devemos perseguir sonhos que não são nossos. E hoje em dia eu acho que muita gente põe o carro na frente dos bois. Não acho que casar muito novo ou constuir família jovem demais é uma boa idéia. Se por um lado se tem juventude, por esse mesmo lado juventude significa imaturidade. E fazer as coisas na pressa não dá tempo para pensar se é isso mesmo que queremos para o nosso futuro. Quem nunca morou sozinho não tem idéia do quanto cuidar de uma casa dá trabalho.

Não acho que eu sigo exatamente a prescrição de vida de toda a mulher. Acho que as mulheres podem ser o que quiserem. E não me vejo como apenas um apêndice ao lado do nome do meu marido. Aliás, as vezes fico puta em saber que se por um lado é mais prático ser formalmente casada, por outro é um tanto quanto sacal. O casal, para a justiça, é uma pessoa incompleta, afinal para tudo que um faz, o outro precisa assinar. Gostaria que fosse como na Suécia, onde para o governo e para Receita Federal o casal são pessoas independentes vivendo juntas e como elas se organizam, se pagam ou não as contas, se compram um carro sem contar para o parceiro, é problema delas. E também não é apenas porque me casei que fiquei "careta" ou "old school", ou que eu vá fazer exatamente o que querem que eu faça, afinal se cada pessoa é um universo, um casal são dois universos gerando um universo paralelo.

Hoje não tenho sonhos definidos, sei mais ou menos em que direção eles vão, mas não vou cometer o erro de sonhar colorido demais, afinal, é sempre bom deixar uma brecha para as boas surpresas da vida (porque as más vem sem serem convidadas).