terça-feira, 9 de março de 2010

quando diferenças são divergências

Fui criada num ambiente bem contraditório. Meu pai era louco por Brasília, já a minha mãe dizia sempre detestar a cidade. Ela fazia planos e mais planos de se mudar, mas meu pai só podia ser transferido para o Rio de Janeiro pois o órgão onde ele trabalhava só possuia outra cede lá. Nessas divagações dos meus pais eu ficava sempre com a impressão de que eles eram infelizes.

E não era só a cidade que não agradava minha mãe. O lugar onde morávamos nunca a satisfez. Um dos programas da minha mãe era passear no Lago Sul vendo as casas por fora. Muitas vezes ela pegava o telefone daquelas que estavam a venda e ligava para saber o preço. Nunca pudemos comprar nem um lote lá. Uma casa qualquer no Lago Sul não é menos que 1 milhão de reais. Quando era criança entrava na onda dela. Ficava imaginando como seria legal mudar de cidade, de escola ou para uma casa que tinha até quadra de tênis.

Por outro lado, meu pai tinha uns alqueres de terra seca num núcleo rural a 30km de Brasília. Ele nos arrastava para lá quase todo o final de semana. Era praticamente só mato. Quando era criança até me divertia com os cachorros vira-lata, as sensitivas e a brincadeira de jogar pedra nas garrafas cheia de terra que equilibrávamos na cerca. Já na adolescência a única coisa que tinha pra fazer lá era o rio. Tinha uma quedinha d'água que funcionava como uma hidromassagem. Mas quando chovia ele ficava sujo e não podíamos entrar. O pior é que ele de vez em quando bolava um negócio maluco pra fazer lá e iam-se embora todas as economias da família.

Enquanto o meu pai queria ficar rico com uma vida "aurea mediocritas" minha mãe queria luxo e riqueza, mas ninguém parecia se entender. Com o tempo meu pai entendeu que riqueza não traz felicidade, mas sem saber já estava perto da morte. Minha mãe, pelo contrário, apesar de endividada ainda olha casas pra comprar no Lago Sul (pois o Norte é coisa de pobre) ou no Park Way. Fala horas nos seus planos de mudar de cidade e não faz nada. No fim culpa a minha irmãzinha de 20 anos q pode muito bem se virar sozinha e fica resmungando da vida.

Acho que meus pais realmente nunca seriam felizes juntos, tinham objetivos e sonhos muito diferente. Mas será mesmo que os nossos objetivos pessoais tem que combinar perfeitamente com o do nosso parceiro para que a vida a dois dê certo?