Dentre as muitas coisas que eu não gosto na vida, uma delas e falar de perebas. Como o próprio nome já diz, pereba é uma coisa nojenta, quase sempre tem pus e fede. Também não gosto de falar de doença simplesmente porque não é agradável. Acho que é um assunto íntimo que se conversa com pessoas do seu convívio quando for algo importante. Não tem porque discutir a consistência do catarro de uma gripe com um colega de trabalho a menos que queira fazê-lo perder o apetite.
Hoje cedo fui ao médico, não vou descrever a minha doença, mas era coisa simples. Como sabia que ia esperar coloquei o ipod e fiquei esperando. O hospital estava vazio e isso me agradou. Foi só eu ficar contente que apareceu uma mulher do meu lado esperando ser atendida pelo mesmo médico. Não percebeu que eu estava ouvindo música e começou a conversar comigo. Para não deixá-la no vácuo eu tirei os fones. Ela foi logo perguntando "Você gosta do Dr. Rogério?" Eu achei estranho ela saber o nome do médico. Clínico geral pra mim é aquele médico que quando vc tem um problema emergente e o seu médico está lotado, vai nele. Achei estranho mas pensei que era melhor não tirar conclusões precipitadas...
Não contente com a minha cara de desinteresse ela continuou "Sabe que eu acho a cara dele muito engraçada. As vezes eu não entendo se ele é engraçado, doido ou tarado. (?!)" Eu comecei a ficar preocupada, será que estava para ser atendida por um psicopata? Mas logo em seguida pensei: em menos de cinco minutos de contato com uma completa estranha a mulher já chegou nesse estágio acho que talvez ela que não bata muito bem.
A moça parecia estar intrigada pelo fato de eu não conhecer o médico e não estar nem aí pra isso. Continuou a conversa por mais que eu rezasse internamente para ser chamada ou para que o meu celular tocasse. "Sabe que eu vim aqui a primeira vez porque estava com uma gripe que não melhorava e fiquei com medo dela se tornar uma cinosite, então o Dr. me deu um atestado de 2 dias para que eu ficasse longe do ar condicionado do Banco. Sabe que aquele ar condicionado do Banco (como se eu trabalhasse lá) só piora a nossa gripe. Mas aí depois eu estava com problema na visícula (aí me matou. Odeio papo de visícula. Arranca logo a porra e fica livre de encher o saco dos outros!) e o médico me mandou logo pra cirurgia. Eu fiquei muito encucada e comecei a tratar com halopatia (idiota! Halopatia só pra frescura mesmo)..."
Isso tudo às nove da manhã sendo que eu levantei às oito e estava não sei quanto tempo esperando, mas não o suficiente para acordar e a mulher nada de se tocar.
"... então eu fiquei encucada de fazer uma cirurgia baseada num exame que eu fiz um ano atrás..." Eu até pensei em falar "Porque você não pediu outro exame?" Pra ver se ela se tocava que além de idiota estava sendo inconveniente. A criatura não me disse bom dia, não perguntou o meu nome, não quis saber nada, só falar das ziqueziras dela. Já estava começando a pensar que o assunto se prolongaria num monólogo sobre visículas e burcites quando o Dr. finalmente me chamou.
A consulta foi rápida sem nada de mais que pudesse confirmar as suspeitas da doida. Quando saí de lá ela estava contando o caso da visícula para outra pessoa, mas ao contrário de mim ela também tinha uma pereba para compartilhar com a doida.
Acho que a modernidade está mudando até as conversas de elevador e salas de espera. Em vez de política, futebol ou o tempo as pessoas vão começar a falar de -ites, -oses doenças e perebas em geral. Mas estou começando a pensar numa tática, já que sou obrigada a ouvir vou começar a descrever as coisas mais nojentas que já vi na vida com uma riqueza de detalhes impressionante. Sabe que uma vez meu pai pegou um berne?...