domingo, 16 de outubro de 2011

Gisele Bünchen e a campanha da Hope

Dentro da enorme discussão que gerou a propaganda da Hope onde Gisele Bünchen aparece ensinando mulheres a explorarem seus maridos com a lingerie da marca aparece outro ponto que merece ser observado além do estímulo ao consumismo feminino. Esse ponto é um dos pontos cruciais do feminismo atual: afimar sua importância. Muitos ainda tentam dizer que o feminismo é uma luta ultrapassada, mesmo sabendo dos números alarmantes de violência doméstica. Propagandas como essas da Hope fazem com que feministas do mundo inteiro fiquem de cabelo em pé. Ao brincar com a relação de marido e mulher a empresa colocou de forma irônica algo muito perigoso. No comercial fica evidente quem manda e o que a pobre loira sensual tenta fazer e trocar seu sexo e seu corpo por um poder de barganha.

O comercial tenta passar isso de modo divertido, mas é deprimente. Imagine numa situação real essa mulher seria totalmente dependente do marido não tendo voz nenhuma para dialogar. Porque ela quer que o marido não se zangue? Na realidade de muitas mulheres, desagradar o marido significa apanhar. E, bom, sejamos francos, muitas mulheres da high society apanham mesmo sendo maravilhosas, gostosas e usarem chanel. Elas apanham caladas pois muitas delas casaram para terem uma vida melhor. Não é isso que a nossa sociedade vende? Que dinheiro é tudo? Então, quando uma mulher que tem dinheiro apanha do marido rico tem que ficar calada.

Muitas mães ensinam suas filhas que um bom partido é um cara que tenha dinheiro acima de tudo. Isso é uma prostituição assistida. Mas o que me irrita na questão da propaganda é muitos tentam atacar apenas a Gisele. Não podemos ataca-lá, pois isso é o que ela sabe fazer, vender a imagem. Falando assim parece pesado, mas se analisarmos que o trabalho de modelo consiste em vender apenas a imagem feminina (e do corpo feminino) preenchida de significados pelos discursos patriarcais, podemos encarar, se não como uma prostituição, uma exploração em muitos sentidos, sexual. Para maiores informações, sugiro que assitam esse documentário. Sim, pois ela não está passando a imagem de uma pessoa que é independente e dona de si. Não dá nem um pouco para pensar naquela situação como uma brincadeira entre casais. Aquilo é humilhante. E o mais "irônico" é uma mulher, com toda a fama e dinheiro que tem ainda ficar fazendo campanhas sexistas vendendo a imagem de uma mulher que precisa "agradar" o marido para poder ter dinheiro.

Isso acontece porque as mulheres não são autorizadas pelos discursos econômicos a falarem por si próprias. O corpo feminino é objeto do discurso médico, comercial, mas quem fala nessas instâncias é sempre o homem. Gisele estava apenas seguindo um roteiro que passaram para ela. Mas quem escreveu? Aposto que se perguntarem para ela porque usar a lingerie ela vai dizer tudo, menos isso. Se perguntassem sobre a lingerie, as mulheres responderiam, confortável e básica pois combina com qq roupa e não marca. É isso que uma mulher quer de uma lingerie e não perdão do marido. Até porque a Hope não fabrica lingeries sexys. Se realmente perguntassem para as mulheres porque usamos alguma coisa, as propagandas seriam muito diferentes. Por exemplo, as de absorvente que colocam uma mulher andando maravilhosa, feliz e contente com um vestido branco arrancando olhares dos homens por onde passa porque pode confiar que seu absorvente não vai vazar é ridícula. O que mulher quase nunca quer ter que passar durante a menstruação é uma cantada idiota. No meio das preocupações do dia a dia a gente quer, pelo menos, não se preocupar com o absorvente.

Eu não acho que o humor deve ser ofensivo. Existe muito humor inteligente, aquele que ofende é simplório, coisa de quem não consegue ler um texto com mais de 140 palavras e faz pose de intelectual. Não concordo com a defensivas à propaganda. E bom, se me perguntarem o que eu acho de uma mulher que defende esse tipo de "humor" eu digo que ela é uma idiota, que não sabe que está sendo ofendida. Mas porque ainda existem mulheres que agem dessa forma? Será que é mesmo necessário se encaixar no rótulo de "feminista" par se incomodar com o comercial?