Como já havia comentado, a primeira vez que fui a Paris tudo me pareceu extraordinário. A cidade, as pessoas, os monumentos... Paris foi, sem dúvida, a primeira cidade velha que eu conheci. Sim, é preciso esclarecer um pouco. Eu nasci e cresci em Brasília, que tem hoje 51 aninhos. Isso quer dizer que concreto aparente, vidros e formas ousadas, não passam de trivialidades para mim. Sou uma pessoa acostumada a ver o sol nascer descendo o eixo monumental em direção ao Congresso Nacional. Uma visão estonteante, diga-se de passagem.
É verdade que eu já havia visitado o Rio de Janeiro (terra natal de madrecita) e Belo Horizonte (terra do papis, cidade, inclusive, que eu preciso rever), mas como era muito jovem, não guardava muitas recordações dessas cidades, mais das pessoas. Por isso Paris me surgiu como um mundo novo, ou um velho mundo-novo, diante dos meus olhos. Depois de oito anos desde a minha primeira visita, eu estava realmente excitada para rever a cidade luz. Mas confesso que minhas expectativas não foram alcançadas. Talvez porque eu esteja morando na Suécia, numa cidade pequena, ou talvez porque as coisas tenham realmente mudado, mas o fato é que para mim, Paris pode agora ser definida em duas palavras: cheia e suja.
Mesmo tendo diminuído a quantidade de cocô de cachorro, tinha muito lixo pela rua, de todo tipo. Folhas secas, mijo, muitas bitocas de cigarro... Argh! Me lembrei da descrição do cheiro de Paris que aparece no livro Perfume. Além da sujeira, a cidade é uma confusão. Os franceses não sabem colocar uma placa com a ceta apontando para o lado correto. Dá vontade de tirar foto. Uma hora ela tá para cima e logo em seguida para outro lado, mas se vc segue as placas, só anda em círculos. Uma hora a placa certa é a primeira, outra a segunda... Não dá nem para entender o sistema. E quando vc pergunta a direção para alguém da Gare, a pessoa te responde como se vc fosse um imbecil que não soubesse entender uma placa. A claro que o idiota sabe onde é, ele trabalha lá. Mas ninguém, provavelmente se imagina no lugar de um turista tentando entender as placas.
Outra coisa que me deixa puta. Em Estrasburgo todo mundo me entendia, em Paris, só pq vc não sabe onde fica tal coisa, identificando que não é um local, todo mundo te responde em inglês. Como se o inglês deles fosse melhor que o meu francês. Bof! Somado a tudo isso, ainda tem o fato dos termos bem particulares. Por exemplo, uma condução usada para completar um trajeto entre ônibus ou de trems, que nós chamaríamos de van, talvez, em francês é navette. Mas eu sempre entendi navette como um ônibus que faz a ligação, não um metro. Quando perguntei para o cara do terminal que liga Paris ao aeroporto como chegar no terminal ele me disse para pegar a navette em frente. Mas em frente tava escrito CVDG (ou algo assim), e tinha o desenho de um metrô. Entretanto, do outro lado, tinha o desenho de um ônibus escrito navette, mas ele fazia apenas as ligações entre os hotéis e o aeroporto. Voltei ao cara para confirmar, e ele ficou estressadinho. Ora, se o trem que serve de navette é um metrô chamado CDVG, pq o cara não disse logo? Ele que é burro.
Para completar, eu entendo porque multidão e loucura podem ser definidas pela mesma palavra em francês. Ponha a palavra “solde” na Galeria Lafayette e vc vai entender. Quem não entende mesmo sou eu. As pessoas se acotovelando para pagar pelo menos 60 euros numa bolsa que não tem nada de mais. Algumas delas nem a etiqueta dá pra ver. As roupas bonitas mesmo não entram na promoção. E, bom, deixar de pagar 100 euros num moleton para pagar 80 ou 75 ainda é pagar caro por um pijama. No mais, estou indo embora, Paris. E levo mais oito anos no mínimo para ter paciência de novo para encarar a correria, a multidão, a confusão e o senso de orientação torto dos franceses. As boas lembranças ficam sendo o Pompidou, o passeio de barco com o maridão, e o convescote com as meninas, Luci e companhia. E é claro, Estrasburgo!