Existem diversos ambientes de trabalho. Alguns mais competitivos que os outros. Durante a maior parte do tempo em que trabalhei, exerci a função de professora de francês. Algo que parece charmoso ou até mesmo peculiar, reserva surpresas inesperadas. O ofício de professor pode ser aprendido. Existem técnicas didáticas, manuais e etc, mas digamos que um bom professor é aquele que segue a cartilha, um ótimo professor segue muito mais do que a cartilha.
Para ser um ótimo professor, deve-se além de tudo ter um dom. Podemos comprar o dom de lecionar ao de atuar. O ator aperfeiçoa sua técnica, mas tem em si o dom do ofício que o torna um grande ator. O professor idem. Eu me considero uma ótima professora, mas quando comecei minha carreira, me faltava experiência, obviamente, e um pouco mais de conteúdo. Podemos dizer que nem o professor de português, nascido no Brasil, tem o domínio de todas as regras gramaticais; sintáticas, ortográficas, morfossintáticas e etc. Tente imaginar então um professor que ensina uma segunda língua que é também sua segunda língua.
Isso não quer dizer que seja desqualificado para o ofício, pelo contrário. Ele sabe pro exemplo, que alunos brasileiros tendem a abrir mais as vogais, ter dificuldade em escolher os verbos auxiliares no passado ou confundir os possessivos. Isso um professor nativo pode levar anos para notar. Além disso, como não é um nativo, o professor tende a estudar e prestar bem mais atenção, além de não ter muitos vícios de linguagem, coisas das quais um professor nativo nem sempre consegue se livrar. Além do conhecimento do conteúdo, ensinar línguas é diferente de ensinar matemática ou biologia. Acredito que para cada disciplina existam técnicas apropriadas de ensino. Isso implica dizer que um nativo não é um bom professor apenas porque domina a própria língua, afinal, muitas vezes, como adquiriu sua língua do modo mais "natural", nunca pensou na sua língua como algo a ser aprendido. E muitas vezes tende a minimizar dúvidas e menosprezar peculiaridades e usos. Portanto, podemos sim ter professores nativos que são mal professores.
Mas quando se está num meio competitivo onde tudo o que vale são egos e aparências, pois dinheiro nenhum tem, o que vale é saber as gírias, ser "parigot", "normand" ou até mesmo (apenas) francês. E no final estamos comparando bananas e batatas tentando achar na verdade um alface. No meu caso eu acabei estendendo uma má experiência que tive em um ambiente muito competitivo e cheio de QI's que eu entrei porque faltavam pessoas qualificadas entre os influentes, para todo o contexto profissional da área. O francês não é o único ambiente de ensino de línguas, nem a escola onde tive minha má experiência a única ou a melhor. Isso quer dizer que tudo aquilo que eu ouvi, agora eu sei, não passou de uma estratégia sórdida para me fazer trabalhar por miséria e continuar me sentindo inferior frente aos nativos. Mas quando a gente tende a se cobrar demais pode acabar sendo um prato cheio para pessoas manipuladoras. Como foi o meu caso. Mesmo sendo sempre elogiada por professores e colegas eu dei ouvidos a única pessoa que me criticou e carreguei uma marca no meu ego profissional. Hoje em dia, reconheço olhares invejosos e mesquinhos como esse de longe e não me deixo mais abalar por uma única crítica mal formulada ou um olhar de soslaio de quem se diverte pisando nos outros. Não vou deixar as crítica se sobressaírem aos elogios, mas também não vou deixar de escutar aquelas que fazem crescer.
Ops, estou me desviando muito para um desabafo. Mas enfim, agora eu sei que se quiser continuar como professora de francês tenho conteúdo e conhecimento para isso. Voltei a me divertir falando francês. Mas o fato de saber que posso, não quer dizer que quero, mas se tiver que fazer não será mais um fardo. E o que tem Estrasburgo a ver com isso? Bom, venha conhecer essa cidade "super simpa" e entenda vc mesmo.