quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Enchente, de novo?

Numa aula de História Social e Política Geral (que era mais Hosbsbawm para dummies e deveria se chamar História da Europa e dos Estados Unidos), o professor foi dizendo como os fenômenos naturais, com a revolução industrial e agrícola, o conhecimento sobre o clima e talz foi capaz de evitar os efeitos de catástrofes como enchentes, secas e etc na Europa.

Nesse momento ele colocou uma pergunta para a classe que ficou perplexa: Porque será que algo que não acontece na Europa há mais de 300 anos pode ainda causar tantas mortes no Brasil? Ele se referia a última grande seca do Nordeste. Mas eu logo fiz a associação com as cheias que vemos todo final de ano, tão tradicionais quanto as rabanadas. É incrível, pois desde que me entendo por gente chove no final do ano. Todo final de ano é a mesma coisa: os estados afetados decretando estado de calamidade pública, o governo federal repassando dinheiro (ou dizendo que vai repassar) e bom, no final das contas é sempre remediar o mal.

Estava ouvindo no rádio os municípios de Minas Gerais que decretaram tal estado. Engraçado que foram justamente os das áreas mais pobres: Vale do Jequitinhonha.
Lembrei também do Morro do Bumba - um festival de incompetência, maldade, classismo. Na minha interpretação, a pessoal que deixou que se construíssem casas na região deveria estar na cadeia. Mas aí eu me lembrei de outra coisa na nossa sociedade que me deixa bastante irritada: filho feio não tem dono.

É muito difícil alguém dar a cara a tapa aqui. Todo mundo culpa o coitado do goleiro que perdeu a Copa de 50. Muita gente nem estava viva na época, mas conhece a famosa culpa do Barbosa. Mas quem aqui assume as responsabilidades? Não me entenda mal, dizer "putz, foi mal"não é assumir responsabilidade nenhuma, pois nessa caso, a gente sempre espera um perdão, um tapinha nas costas, um entendimento. Quero dizer que é difícil arcar com as consequências. E nesse caso não pode ser uma só pessoa e sim uma cadeia de gente que foi empurrando a coisa com a barriga na mesma velocidade que os moradores foram construindo suas casas.

Eu não responsabilizo tanto os moradores do morro, afinal, são o elo mais fraco dessa cadeia. Muitas vezes não sabem o que é erosão e não tem alternativa habitacional. Depois que o morro caiu, os moradores receberam 400 reais de aluguel social. Mas será que 400 reais para alguém que perdeu tudo não me parece muito justo. Como essa pessoa vai comprar uma geladeira com isso? Refazer a vida? E vamos pensar ainda na escolaridade da maioria dessas pessoas que é um agravante no fato de conseguirem entender onde estavam construindo seus barracos em primeiro lugar. Já os moradores de Águas Claras e dos condomínios irregulares de Brasília sim sabem onde estão se metendo. E o pior, entram na piração dos políticos brasileiros. O cara acha que no futuro, porque o fulaninho quer se reeleger, vai regularizar o condomínio e pronto! O papel vai protegê-lo dos desastres naturais.

Aliás, é bom lembrar do que aconteceu com o Palace II. Muitos moradores estão até hoje sem seus imóveis. E os responsáveis? Sérgio Naya faleceu. Não sei dizer se por culpa ou por desgosto. Não me lembro se ele foi preso. Mas a gente sabe o que acontece no final do festival de incompetência: nada. Então temos que pensar em duas coisas: qual é a consequência de um desastre natural para um rico e para um pobre (a classe média se ferra quase o mesmo tanto que um pobre, como vocês podem perceber no caso do Palace II).

Mas voltando a questão das catástrofes naturais, que n ós parecemos incapazes de prevenir. Vem a questão: qual é o aspecto eleitoreiro da coisa? Até que ponto o cara que aceita esse aspecto, esperando que sua casa seja regularizada não é co-responsável? E será mesmo que os ricos e os políticos serão sempre imunes às consequências dessa negligência? E até quando as pessoas vão se reconfortar com o "passar a bola" da responsabilidade para outra?

Resumindo: Feliz 2014, Brasil!