segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Mais um ano sem você

Hoje fazem exatos 10 anos que eu não posso mais dar os parabéns para o meu pai. Ele faleceu em abril, mas em setembro a saudade bate mais forte. Quase toda a família é virginiana. Dava muito trabalho conciliar aniversários, presentes e presença nos eventos. Não tenho mais esse problema, pois além do meu pai ter-se ido, não moro mais na mesma cidade dos meus parentes. Me resta então mandar os parabéns por e-mail, facebook e whatsapp.

Mas como eu queria ainda ter esse problema. Ligar para o meu pai reclamando de que ele havia marcado sua comemoração no mesmo dia da minha tia sendo que os dois poderiam simplesmente chegar a um acordo, afinal, desde que se conheciam, faziam aniversário no mesmo dia... O que eu falaria para o meu pai hoje? Eu não faço a menor ideia. Meu pai era um homem sem meias palavras, direto e muitas vezes vanguardista. Outras tantas, apenas amante de uma polêmica vazia. Talvez eu dissesse "Quem diria, 62!" Ele achava que ia morrer com 30 anos. Teve que rever a meta. Chegou aos 51. Dizem que até nisso fez piada. Morreu com a idade da cachaça. Era um bom vivant.

Não é fácil ser filha de um. Conviver com o melhor e o pior dos vícios. Mas ele sempre foi um amigo. Nunca tratou a gente feito criança, nem na época que deveria. Mas pelo menos sempre respondeu as perguntas mais difíceis e nunca minimizou nossos sofrimentos. Lembro de muitas longas conversas, quando eu passei muitos meses insone com medo da morte, dos conselhos que me dava sobre minha mãe, apesar dele mesmo não saber lidar com ela. Dizia "faça o que eu digo, não faça o que eu faço". Às vezes elogiava meu jeito, mas sei que algumas vezes me achava uma careta chata. Ele levava à sério a missão de criar os filhos para serem independentes. Talvez sério demais. Não me lembro dele me tratar diferente, e não posso dizer que foi machista comigo, apesar das piadinhas e das frases. Ele sempre quis que eu me virasse. Pode não ter sido da melhor maneira, ou da menos traumática, mas deu certo. Sou "um cidadão dito respeitado que contribui para sua parte no nosso belo quadro social".

Ele não era de meias palavras. Vivia brigando com os irmãos e os amigos, mas não tinha falsos amigos. Também não era chegado à trivialidades. Achava as convenções sociais um saco. E, se alguém insistisse, falava mesmo. Acho que nisso era muito parecido comigo. Um cara sincero, que afastava aqueles que mentem para si mesmos de perto. No final, eles não fazem falta mesmo. Mas já você pai, faz uma falta imensa por aqui. Mesmo achando que você poderia ter dado uma guinada para a direita como muita gente por aqui deu. Não ia deixar de ser sincero consigo mesmo.