quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ossos do ofício

Estava procurando os dados da porcentagem de mulheres na população brasileira. Quantas delas são economicamente ativas e etc. Encontrei até bem fácil no site do IBGE, mas os indicadores socias de gênero (o filtro) não estavam funcionando. Então... google it! E achei o site da spm onde você pode acessar os dados on line e descobrir todas essas maravilhosas estatísticas que regem a nossa vida.

Para quem quiser se "divertir" como eu, aqui vai: http://200.130.7.5/snig/

E descobrir também que mesmo sendo a maioria da população em idade ativa somos apenas 49,7% da força de trabalho.

Já que a eleição é amanhã e eu vou demorar a pegar o ritmo de trabalho, resolvi fazer algumas perguntas aos candidatos que eu sei que nunca serão respondidas.

1- Quais serão os mecanismos legais utilizados para a punição de políticos e servidores públicos?
2- Como será feita a reforma política (se será feita)? Quais as principais mudanças?
3- Uma reforma tributária é essencial para o pais. Onde se concentrarão as mudanças?
4- Qual é a política de transporte público a nivel federal? Mais rodovias para carros?
5- Quando será aprovado o voto aberto para senadores e deputados?
6- O lobby será legalizado algum dia?

Para você que vai votar amanhã com esperanças de ver algumas dessas perguntas respondidas. Que tem esperança de alguém que será eleito amanhã realizar algum desses feitos, sinto lhe informar que não. Nada disso irá acontecer. Então, tanto faz votar em um ou no outro. Eles só estão preocupados em promoção pessoal, enriquecimento ilícito e fazer amigos (tráfico de influências).

E se a esperança é a última que morre, aguém traz um desfibrilador pois a minha está em choque.

Boa sorte, Brasil! É só com ela que poderemos contar na segunda-feira, porque com esses políticos...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Contra o estatuto do nascituro!


Estou fazendo parte da campanha contra esse estatuto absurdo que prevê, dentre outras coisas, a proibição do aborto em casos de estupro. Ou seja, é um retrocesso legal. Além disso garante a absoluta prioridade do nascituro (que passa a existir a partir da concepção) na garantia de seus direitos à saúde, inclusive psicológica. Mesmo em casos como o tratamento de doenças graves que a mãe venha a ter, se ameaçar a saúde do nascituro ela deverá morrer pois ele tem prioridade.

O texto da lei é cheio de pegadinhas para se usurpar o direito das mães. Dependendo da situação, pode-se interpretar que ir ao trabalho represente uma ameaça ao nascituro e a mãe deverá ser punida.

Eu aconselho muito que leiam a lei e a crítica no blog feito contra o estatuto. Esse projeto não pode passar. É a perda dos poucos direitos que conseguimos garantir nesse país atrasado onde religião interfere dessa forma no Estado.

O link para petição está aqui.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Surrealismo contemporâneo

Esposas-marionetes com possibilidades reais de serem manipuladas no governo do DF, quando direitos necessitam de 3 instâncias e uma infinita burocracia para se fazerem valer, nada mais normal que sacos de plásticos voarem pela minha janela, no terceiro andar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mi Buenos Aires querido!

Mudando um pouco o tom.

É, pessoal, fui "sequestrada" pelo meu marido para recuperar minha sanidade fazendo finalmente nossa viajem de lua de mel. Isso pra gente quer dizer ir para uma cidade sem nenhum conhecido ou parente pois somos especialistas em arrumar compromissos sociais. Claro que é porque gostamos deles, mas precisávamos relaxar.

Adorei a cidade. Super charmosa, cheia de vida com um transporte público decente e uma comida maravilhosa, mas nada saudável. Tem opções saudáveis, em muitos lugares carne de soja e talz, mas eu tirei uma folga da dieta também. Sabe como é, tinha que provar o churrasco argentino, o bife de chorizzo e as famosas papas. Sem falar nos vinhos que custavam em média 40,00 pesos e faziam a alegria do casal. A parte das compras que todos falam eu realmente não sei dizer. Não valia a pena pra mim comprar algo que eu não queria ou não precisava por um preço que ainda era caro por mais que fosse a metade do que era aqui no Brasil.

O que vale a pena é que Buenos Aires tem milhares de coisas para se fazer, n lugares para se visitar e meios viáveis para se chegar lá. Os museus são muito legais. Eu vi o Abaporu (sou fã da Tarsila). Mas adorei conhecer o Berni. Sou uma negação em modernismo latino-americano e tenho vergonha disso. Quando defender vou estudar mais a História da América Latina em geral. E olha que isso não é promessa de final de ano! Infelizmente o Museu do cinema estava fechado para reformas. O meu guia estava um pouco desatualizado e nós perdemos alguns passeios. Vale a pena conhecer a rosa, mas vá até o Museu de Belas Artes que fica em frente (muita gente não faz isso). Inclusive eles aceitaram minha carteirinha de estudante brasileira e eu paguei meia ;)!

San Telmo é bem legal porque não é tão turístico assim. Detesto passeio "pra inglês ver". Claro que visitei os pontos turísticos, mas esse negócio de ir de van com um monte de gente e um guia que para sempre estrategicamente numa lojinha e no restaurante não me diverte muito. O bom é esbarrar num restaurante super simpático onde ninguém fala português e vc tem que apontar os pratos e tentar se comunicar em portunhol. Não fomos enrolados como o pessoal falou. Talvez tenhamos sorte, mas os taxistas foram honestos, os garçons, as pessoas na rua... Minha experiência foi muito boa. Eu realmente recomendo.

sábado, 11 de setembro de 2010

Preciso falar!

Sei que havia prometido e dito que ia postar meus contos no blog, mas uma semana lendo intensivamente sobre os mitos da maternidades motivaram minha recalcitrância. Preciso postar!

No meio do caminho, entre as leituras feministas e literárias, me perguntei "porque estou estudando maternidade?". Parece um tema tão batido. Se pararmos para pensar, Simone de Beauvoir já falava nela como principal "defasagem" feminina em relação aos homens. Podemos colocar na lista Badinter, Chodorow e recentemente eu descobri Aminatta Forna. Filosofia, psicanálise ou jornalismo, seja qual for a linguagem essas mulheres concordam que o amor materno é uma invenção. Aliás, as mulheres relutaram muito em "assumir o posto". Aproximadamente 200 anos. Para se ter uma idéia, a amamentação era teimosamente combatida pelas mulheres cultas do século XVI ao XVIII, mesmo com as enormes taxas de mortalidade dos bebês que ficavam ao encargo das amas. Além disso o discurso filosófico, moral e médico variava em obrigar ou não esse ato que hoje nos parece óbvio ser necessário.

Fato é que os homens "tiveram" que nos ensinar algo que nos é "natural". Eles sabiam o que era uma boa mãe desde Rousseua até Freud. Nós só engolimos os discursos, não com uma certa ânsia, como a História mostra. Se toda a mulher deve ser mãe, se tem um "relógio biológico" que fatalmente vai chegar a essa hora, porque ainda é preciso ressaltar as qualidades e recompensas de ser mãe? Ainda sofremos hoje com discursos semelhantes aqueles que circularam entre o séc. XVIII e XIX para nos fazer voltar ao lar e às funções domésticas.

Eu estou exagerando? Outro dia vi no jornal comentando sobre a extensão da licença paternidade e apenas 2 das 6 pessoas entrevistadas foram a favor. Claro que isso é um universo ínfimo, mas não sei se o brasileiro está muito convencido da importância do papel do pai no desenvolvimento da criança. Talvez só se ache que as obrigações paternas começam quando a criança começa a falar, andar e etc. Afinal, enquanto mama é só a mãe, certo? Bom, daí surge a desculpa esfarrapada da psicanálise que afirma que as crianças "precisam" da mãe na primeira infância para poderem ter ela como objeto de amor pelo qual vão se livrar na fase edipiana. Besteira. A taxa de mortalidade no parto das mulheres de antigamente não causou uma epidemia de psicopatas. Aliás, o cuidado exclusivo da criança pela mãe parece ser muito mais problemático para ambos. Se a separação é necessária para o amadurecimento, porque torná-la tão difícil fazendo a criança se afeiçoar apenas pela mãe? Bom, Aminatta Forna, que foi criada em Serra Leoa pelo que chama de "família extendida" onde todos os adultos da família, inclusive amigos, são responsáveis pelo cuidado das crianças, ela mostra como esse tipo de cuidado pode ser muito mais saudável para a mãe e a criança. A mãe pode trabalhar e ter tempo pra si e a criança tem uma melhor experiência de socialização desenvolvendo melhor as habilidades de convivência. Muitos antropólogos afirmam isso, mas insistimos em pregar a maternidade ocidental como única, verdadeira e certa.

O problema é que essa maternidade não mudou muito. As mulheres ainda são definidas como "mães em potencial". Outro dia fomos a um almoço de família eu e o Marcos. Numa mesa estavam os adultos e na outra as crianças (que já estão mais para adolescentes). mas na prática, a mesa dos adultos era a dos casais com filhos e para as pessoas que babavam por crianças. Nós nos sentamos na mesa das crianças, mas nos sentimos meio sem lugar pois somos velhos para eles, não sabíamos os nomes dos jogos ou desenhos que eles gostavam, mas também não estávamos por dentro do papo dos adultos, pois eu acho extremamente entediante esse papo de falar de criança. Os adultos sem filhos não tem lugar na mesa. Até conseguirmos falar de política ficamos excluídos. Até porque se você é casado e não tem filhos causa estranheza nos demais. As perguntas começam "Quando vem o de vcs?" ou podem ser ameaças como "Vcs são os próximos...". O que me intriga é que sempre ouço um deles reclamando de ter tido filho.

As mulheres, pelo menos as jovens mães que eu conheço, são dignas de pena. Não conseguem nem fazer o marido lavar uma louça carregam a casa e o cuidado com os filhos sozinhas. Quando eu falo que eu e o Marcos dividimos tudo em casa e que ele cozinha na maioria das vezes porque eu não gosto de cozinhar me olham como se eu fosse um ET. Eu quase perguntei como elas tiveram coragem de ter filho se não tinham outra pessoa para cuidar da casa ou dividir as tarefas. Mas eu sou a diferente e seria indelicado da minha parte dizer isso, afinal, existe um pacto de não questionar a "normalidade" das divisões de papéis em público. Em resumo, porque mostrar pra pessoa que a vida dela é uma merda e ela está sendo explorada? Nos casos em que conheço, as mulheres são capazes de compreender isso por conta própria, só não o fazer porque teriam que recomeçar do zero. É melhor fingir que se é feliz, afinal, a sociedade não discute que a mãe merece algum reconhecimento.

As revistas e programas de televisão até hoje se regozijam em mostrar mulheres que tinham uma carreira brilhante e decidiram abandonar tudo para ser mãe. Ninguém discute o porque uma união dessas parece impossível. Eu detesto ver na legenda de uma entrevistada o nome seguido de "mãe da fulana ou do fulano". Muitas vezes não aparece nem o nome, só "mãe do fulano". E sua magestade a criança aparece coroada e invariavalemente a mãe parece uma abestada. Muita gente vai falar que eu reclamo ou desdenho porque não sou mãe. Eu preciso ser? Porque? Depois que eu for perderei minha individualidade com medo de ser taxada de egoísta ou de uma mãe má? E se não gostar da função, faço o que? É um problema, pois dizem que mesmo que uma mulher não goste de crianças ela será "tocada" pelo amor materno quando tiver seu próprio filho. E se ela resolver testar e seu "botão" estiver estragado? Fará o que? Com certeza a tomarão por doente. Eu conheço casos assim. O pior, poderão acusá-la de golpe da barriga. Que teve o filho para "segurar" o marido. Imagina se num casamento uma criança chorando o tempo todo e precisando de cuidados quase o tempo todo pode ajudar em alguma coisa. Me parece meio estúpido.

Não discordo que exista amor nessa relação, mas como ele pode surgir, aflorar normalmente com a alta taxa de imposições feitas às mulheres? Mesmo eu que divido as tarefas as vezes me pego com as pressões sociais atuando na minha cabeça. A casa está bagunçada eu ouço um "vc tem que arrumar". Imagina quando se é mãe o quanto essas pressões não são mais fortes? Será que as mulheres querem ser mães ou acham que devem ser? Afinal, todos são hunânimes em dizer que devemos ter essa experiência antes que gastemos todos os nossos óvulos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tirando os escritos da gaveta, ou do HD

Como estou beem sem tempo de postar e morrendo de vontade de fazê-lo resolvi publicar um conto meu. (que medo!) Mas um amigo me disse certa vez para não ser uma escritora de gaveta, ou de HD. Honestamente, tenho coisas melhores, mas inacabadas.
Esse é um dos muitos que tenho escrito sobre minha cidade, Brasília. Antes que me descasquem gostaria de lembrá-los que sou uma amadora. Espero apenas distraí-los. Alguns erros de concordância e ortografia são propositais, no futuro serão estilo. Outros, desatenção.

Um conto, encontro

Ela chegou elegantemente cinco minutos atrasada. Eu já havia chegado. Tinha no rosto uma expressão difusa que variava entre a indecisão de chegar tarde e parecer indiferente ou chegar cedo e denunciar a ansiedade. Sorria um pouco nervosamente. Eu, por outro lado não me lembrei bem se falei algo, pois sua figura me atraiu mais do que pude esperar. Fui surpreendido por uma mulher de calça jeans, sapatos baixos e camisa branca como alguém que diz “esta sou eu, decifra-me ou devoro-te”. Talvez eu deva ter balbuciado algumas palavras ou frases naquele ambiente intimidador. Era a primeira vez que marcava um encontro real numa exposição de arte. De fotos. Sei lá. Não entendia nada de arte, mas ela parecia bem à vontade. Tão à vontade que era quase um crime desviá-la da contemplação. Agora me lembro. Foi essa atitude dela que me fez passar quase uma hora apenas a contemplando. De fato ela me parecia bem mais atraente que fotos de “chão” cinza e sujo. Devia ser São Paulo. Brasília é muito bonita para alguém se recusar a olhar pra frente, pra cima. Taí outra coisa que pra mim não era Brasília: um encontro numa exposição de fotos. Como não entendia bem o porque das fotos, continuei tentando decifrar minha companhia. Era realmente peculiar. Não me parecia em nada com a maioria das mulheres daqui. Tinha cabelos enrolados e curtos, talvez. De um castanho variável. Eles estavam presos de uma forma que não revelava o tamanho real dos cabelos, mas dava um ar leveza ao seu rosto. Olhos brilhantes e penetrantes. Ela não olhava pra minha boca quando falava com ela. Seu olhar era direto. Mas isso eu descobri no final do encontro, porque até então eu me dividi na complicada tarefa de observá-la sem que percebesse e estar atento para olhar para uma foto sempre que ela olhasse pro meu lado. O que me deixou mais intrigado foi o fato dela não ser feia. Um encontro assim, às cegas, marcado numa exposição de fotos me parecia mais algo de uma matrona metida a intelectual. Eu estava acostumado a marcar encontros pela internet, mas esse foi, com certeza, o mais original. Continuei olhando a composição do quadro. Era mesmo uma obra de arte. Depois de olhar atentamente percebi o objetivo da roupa: esconder os atributos. Não era como se usasse um moletom para disfarçar a barriga ela tinha busto, mas não usava decote e a combinação da camisa social com a calça jeans disfarçava a cintura e as formas perfeitamente onduladas das coxas e da “brasilidade”. A única coisa chamativa nela era o grande anel em forma de rosa vermelha na mão. Talvez ele fosse o ponto de equilíbrio da obra. O de fuga, pelo menos da minha, eram os olhos. Me davam vontade de fugir e ficar ao mesmo tempo, “decifra-me ou devoro-te”. Ela então começou a comentar as fotos. Não sei bem quanto tempo se passou. Nesses lugares o tempo passa mais devagar, no silêncio e na calma. Fazia comentários engraçados e interessantes ao mesmo tempo. Fez até uma piadinha ao ver uma tampa de bic encostada num meio-fio dizendo “Será que é aí que todas vão parar?”. Começamos aos poucos a jogar conversa fora e decidimos ir tomar um café. Graças a deus aquele lugar tinha um café! Mas os preços eram esplêndidos, tal o tamanho da palavra. Mas eu só precisava ir tomando um café depois do outro. E foi exatamente o que eu fiz. Depois do quarto expresso e já com uma asia que estava quase para a denunciar eu decidi convidá-la para irmos a outro lugar. Perguntei então se ela estava com fome. Caso a resposta fosse sim, a convidaria para um lugar aconchegante (e mais barato) onde tivéssemos mais opções de comida e que sabe até um vinho. Estranhamente a resposta dela foi “não muito”. O quê eu faria agora? “Não muito” é sim ou não? Tinha que tomar alguma atitude, mais um café e eu estaria eliminado, vencido, direto pro banheiro. Que resposta enigmática era essa? “Não muito”? Não podia esperar mais, tinha que agir antes da cafeína. Mas onde? Um bar? A mulher me chama para uma exposição de fotos e eu a levo num boteco? Mas era o melhor que o meu gene brasiliensis podia pensar. Estava me apressando para dizer isso quando ela fez menção de falar. Parecia que ia dar sua sugestão. Eu já me sentia aliviado quando ela tirou a carteira da bolsa e deixou a sua parte na conta se desculpando por ter que ir embora. Eu estava tão surpreso quanto da primeira vez que nos vimos naquele dia. Foi quando percebi que por baixo da flor do seu anel havia uma aliança dourada. Não me contive e segurei-lhe delicadamente o pulso esquerdo fazendo-a perceber com o meu olhar que havia visto a aliança. Ela disse, um pouco constrangida, que não queria flertar nem brincar comigo. Queria apenas conhecer gente nova, que não a julgasse por ser casada. Acho que a minha cara devia estar mais confusa do que antes porque ela continuou se explicando. Eu ainda não tinha me dado conta do que estava acontecendo até que se desculpou pela última vez e disse então frase do enigma: “- … !”. Devorou-me e eu nunca mais a vi. Não devia mesmo ser de Brasília.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Fotos de família

Estava pensando no assunto outro dia, acho que também devido ao fato de estar estudando na casa dos meus sogros onde as paredes são cobertas de fotos. Como o significado delas mudou ao longo do tempo. Quando eu era criança, meus pais tiravam fotos da gente, mas em ocasiões especiais. Revelavam e tudo ia para um álbum. Cada um de nós tinha um e quando fomos ficando mais velhos as fotos iam todas para os mesmos álbuns.

A questão é que pra gente, as fotos não eram uma coisa muito barata. Tínhamos muitas, mas era fruto do esforço da minha mãe de guardar as lembranças. O meu pai preferia tirar fotos de paisagens. Eram bonitas, mas eu preferia ver as nossas.

O que me intriga é que hoje as coisas são bem mais fáceis e as fotos bem menos representativas. Toda saída do pessoal aparece um álbum no picasa. Milhões de fotos com as mesmas poses. Quando aparece uma foto diferente é quase uma agulha num palheiro. Não estou aqui discutindo as fotos profissionais, só aquelas que tiramos com o intuito de guardar como lembrança. Existe toda uma questão sobre capturar a essência de um momento ou de uma pessoa na foto. É para isso que as tiramos, para que ao olharmos possamos reconhecer e relembrar aquela pessoa. Existe uma fotógrafa, que colocarei o nome aqui assim que me lembrar, que diz que a foto é uma boa foto quando o fotografado se enxerga nela como sendo ele mesmo.

Quantas fotos será que temos assim? Muitas pessoas pensam que isso quer dizer estar "bem" na foto. Mas eu acho que não. Se for um período bom isso será nítido, mas a vida não é sempre assim. Me lembro das fotos do meu pai. As vezes olho tentando recordar. Ele era um cara bem divertido com comentários ácidos e inteligentes e nada convencional. Muitas fotos dele aparecem essas qualidades, mas outras acabam revelando algo muito mais profundo que eu só descobri depois que ele se foi.