segunda-feira, 13 de junho de 2011

Klämrisk

Postar só por postar pode ser um problema. Parece meio óbvio dizer isso, mas cada dia que passa me dou conta disso. Antes de viajar, sim, pessoas, eu fui para Londres! Mas essa é uma outra história. Sabe, não gosto de contar coisas divertidas nesse blog. Ele é café velho, é amargo, sacou?! Bem, voltando ao assunto, antes de viajar estava encucada com umas coisas que minha amiga indiana me fez pensar e escrevi o post abaixo. Depois que voltei de viagem reli o post pela primeira vez pois não tive tempo antes e cheguei a conclusão de que ele estava realmente péssimo. Não tinha a opnião bem formada e essa minha amiga sempre me faz me sentir mal em relação a situação de nossas amigas asiáticas. Só que depois de uns dias me dou conta de que ela é uma ótima argumentadora e meu inglês é uma merda e eu não sei se a idéia que eu tenho é minha mesmo ou ela deu umas retocadas.

Mas para me lembrar disso, vou deixar essa porcaria de post bem aí embaixo. Para me lembrar também que não devemos abrir a boca sem pensar, ou escrever sem "estudar" o tema. Pensando nisso eu volto ao título da postagem, klämrisk. Essa é uma palavra do sueco que significa risco de acidente grave, ou melhor dizendo, de morte. Agora observem a foto abaixo:



Vcs repararam que o cara foi esmagado pela lixeira? É essa a analogia que venho fazendo com algumas idéias ruins que temos. Elas podem esmagar vc. Tá, a analogia não é tão inteligente assim, mas a questão também não é fácil. Deixem eu me explicar melhor. Vim de uma família, como tantas, onde muitas coisas não são faladas ou porque são "óbvias" ou porque não devem ser nomeadas, tal como Voldemort. Ao contrário desse último, os pensamentos são reais e assustadores. O que entra nesses dois tipos de idéias? Basicamente no primeiro grupo, sexo e drogas, no segundo, preconceito e racismo.

Ninguém na minha família vai dizer que é racista, mas ouço comentários do tipo "aquela sua amiga nem é negra, tem os traços tão fininhos" e por aí vai. Homossexuais na família, nem pensar! Na dos outros não tem problema, mas o menino de 4 anos que é educado já envergonha o pai. Ele devia mesmo estar brincando de dar espadadas em todo mundo e cuspindo nas meninas. Sexo? Depois que vc aprendeu tudo sozinha vem a sua mãe e fala, assistindo a um programa de televisão "mas esse povo não usa camisinha, minha gente? Que absurdo!". Mas nem olha pra gente, não compra camisinha para as filhas e etc. O pai fala demais e vc fica com nojo, mas só enquanto vc não tem idade para fazer, depois são só olhares inquisidores. Bebidas, só depois dos 18. Drogas, a mãe diz uma coisa, o pai diz outra, mas as coisas ficam mais confusas quando vc descobre que existe uma hipocrisia maior de que parece nas opiniões de cada um. Enfim, fui criada sofrendo choques de opiniões e posturas durante toda minha vida. Nunca fui uma pessoa muito safa e descobrir nesses pensamentos a verdadeira opinião da minha família me chocou muitas vezes.

O que não quer dizer que eu não tenha meus próprios motivos para me envergonhar, mas quando você está afastada da sua própria cultura e dessa dinâmida das coisas inomináveis e das subentendidas vc é constantemente forçada a lidar com seus próprios preconceitos. Vc acaba sendo perguntada diretamente, numa festa, na frente de outras pessoas, sobre o que pensa a respeito de drogas, o que vc acha delas. É uma terapia de choque. Tudo aquilo que vc negou, escondeu lá no fundo do seu inconsciente volta abruptamente numa simples frase. E então vc aprende a responder o que realmente pensa e lidar com isso, e ponderar, e pensar. E subtamente aquele peso que eu carregava começa a fazer graça. Afinal, vc descobre que vc não consegue ir longe carregando aquele lixo de bagagem, como na foto. E se forçar a barra, pode ser esmadado.