segunda-feira, 31 de maio de 2010

Senso prático

Uma das vantagens de se ter um relacionamento estável é uma melhora no seu senso prático. Quando se é solteira muitas vezes nos vemos às voltas com conjecturas e dúvidas atrozes: "será que ele tá mesmo interessado ou só me enrolando?", "será que eu ligo ou melhor não?". Eu também devo o recente crescimento do meu senso prático ao fato de ter um emprego que exige muita responsabilidade de mim e também de não morar mais com a mamãe.

Eu entendo bem as dúvidas que acometem minhas amigas, mas não sofro mais com a maioria delas e muitas vezes me pego dando conselhos tão óbvios que passo por burra. O questão é que muitas vezes os dilemas são tão simples que a solução é mesmo óbvia. Uma das coisas que a maioria das minhas amigas reclama é o relacionamento com as mães. Mulheres em geral tem problemas com as próprias mães e eu já falei muito sobre isso aqui e não vou aprofundar muito. Mas uma coisa que acho que foi meu pai ou meu irmão que me disse "O que você acha mais fácil: mudar o seu jeito de lidar com a mamãe para evitar conflitos ou fazer ela te tratar do jeito que você quer para evitar conflitos?". Lógico que é mais fácil você encontrar uma alternativa para apaziguar as coisas. A sua mãe vai querer mandar em você e não vai querer enxergar vc como uma pessoa adulta e madura. Vc vai ser sempre a filha dela. É uma questão de orgulho e hierarquia. Eu ouço sempre reclamações das minhas amigas nesse ponto e não sou um exemplo de boa convivência com a minha mãe, mas a questão é, se vc tem um emprego, é maior de idade, formada porque vai ficar aguentando os abusos, insunuações e intromissões da sua mãe quando pode sair de casa? Chega a ser patético ficar dando murro em ponta de faca e querendo que sua mãe deixe vc dormir fora ou pare de colocar horário para vc chegar em casa. Existem mães que entendem uma argumentação, mas chega um momento que fazer vc seguir as regras da casa é a única forma de exercer um controle sobre vc e se sentir "mãe". Então ou vc obedece ou carca fora.

Esse costuma ser o tipo de conselho que eu dou. Eu sei que tem toda uma problemática envolvida, chantagem emocional e blá, blá, blá. Mas as vezes temos que analizar a questão friamente. Outra coisa que eu não entendo bem desde que sou solteira é esse lance de querer namorar, mas ficar com caras que abertamente não querem e depois que a menina se apaixona fica falando mal do cara porque ele não quer nada com ela. Se vc tá afim do cara e ele não está afim de vc, carca fora. Se quer vai, se não quer fica. Se quer tentar conquistar o cara blz, mas tenha em mente que a possibilidade de dar errado é grande. E pronto. É tudo muito prático. Quando não se trata da gente, é claro. Eu não sou tão prática quando se trata da minha vida familiar. Já entendi muita coisa depois que saí de casa, mas entro muito em conflito quando coloco a realidade da minha família com o modelo tradicional de propaganda de margarina. Mas do resto eu estou adquirindo um belo senso prático.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Uma volta ao lúdico

Essa café tá amargo demais. Vamos dar uma "adoçada" no assunto. Vou voltar a fazer algumas notas sobre livros que sou fatalmente obrigada a ler no mestrado. O dessa semana é "Como água para chocolate" da Laura Esquivel.

A autora antes de se embrenhar no mundo dos livros era uma hábil roterista. Talvez por isso o caráter visual de sua narrativa. Outro ponto interessante do livro é que ele acaba com qualquer dieta. Ao narrar os processos quase religiosos da preparação dos pratos a autora faz você sentir o cheiro e salivar ao começo de cada capítulo. Todos, diga-se de passagem, começam com uma receita. Na contra-capa fala-se que elas são perfeitamente realisáveis. Eu discordo. Não há correspondência entre os nossos igredientes e os mexicanos nem as técnicas da época para as de hoje. Ninguém mais se atreve a comer banha - domage...

A transição da cultura antiga para a moderna mexicana que prima pelo elemento europeu e principalmente norte-americano recebe um tom de crítica ao colocar lado a lado sábias índias cozinheiras-curandeiras com médicos ingleses e americanos. O ponto fraco na minha visão fica por conta do romance entre a protagonista e seu cunhado que é por demais aguado. Vai ver que é daí que vem o nome do romance. De qualquer forma é um livro rápido de ler e interessante para quem gosta de conhecer países diferentes e épocas que parecem estar se perdendo na falta de avós, bisas que contavam do seu tempo numa maravilhosa mesa de almoço.

sábado, 22 de maio de 2010

A face da droga

Esse é um tema particularmente difícil pra mim, mas como sempre retorna, resolvi compartilhar aqui. Outro motivo é que sempre assisto os jornais da TV aberta, até mesmo os 'pinga-sangue' e neles sempre vejo muitos casos de viciados em crack. É meio estranho, pois moro perto da "crackolândia" de Brasília e nunca tinha visto ninguém se drogando na rua. Vi as fotos uma vez no jornal e fiquei abismada. E sempre tenho essa mesma reação de quem teve o tapete puxado debaixo dos pés e caiu com tudo na realidade nua e crua.

Essa é uma reação que venho tendo desde os 12 anos quando descobri a verdadeira causa dos comportamentos estranhos do meu pai e dos cheiros estranhos que saiam do quarto dele, onde a gente não podia chegar perto. Com o passar dos anos a gente vai deixando pra lá ou tentando. Mas ontem eu esbarrei com algo na esquina que me fêz relembrar todas aquelas sensações ruins da minha infância num só olhar.

Estava caminhando, como tento fazer pelo menos 3 vezes por semana, quando ao passar perto de uma igreja algo me chamou a atenção. Não sei se foi um estímulo visual ou sensorial, pois estava ouvindo música no talo. Mas me detive para olhar um canto escuro entre a cerca viva da igreja e a calçada. Estava escuro, pois era noite e naquele cantinho a luz do poste não alcançava. Quando me dei conta de que havia uma pessoa agachada naquele breu. Como estava perto consegui ver os detalhes da pessoa, mas as informações eram processadas muito lentamente pelo meu cérebro, pelo menos pro meu gosto. A primeira coisa que reparei é que essa pessoa (não deu para identificar o sexo) estava segurando um pano sujo de sangue. A primeira coisa que pensei é que estivesse passando mal e quase me inclinei para ajudá-la. Foi nesse momento que o resto do quadro foi processado pelo meu cérebro.

A pessoa usava um capuz e estava agachada no escuro - se escondendo, obviamente. Dava para ver a rua e os carros passando. Quando percebi o rosto da pessoa e olhei na direção dela tudo ficou mais claro ainda. Aquele sorriso e aqueles olhos escuros e excessivamente brilhantes me disseram tudo - eram olhos vidrados. Uma expressão que vi tantas vezes na vida e que é sempre a mesma, não importa a droga. A única coisa que muda é a moldura da expressão. A pessoa pode ter os cabelos lisos, crespos, estar mais ou menos pálida, mas aqueles olhos e aquele sorriso são sempre iguais. É uma ausência, aquela pessoa não está mais ali e pode ser que nunca volte. É uma expressão que eu arriscaria dizer semelhante a dos loucos, afinal de contas, dizem que um louco está fora de si. Naquela hora não senti medo de ser assaltada ou qualquer coisa eu só queria sair de perto. Senti uma dor no peito e comecei a ficar tonta. Tentei correr pra casa o mais rápido possível para esquecer que um dia não foi um desconhecido que vi assim, mas sim vários amigos, meu pai... Desejar que nada disso tivesse acontecido, que eu nunca tivesse sabido. Mas isso não é possível. Depois que alguém decide por esse caminho, resta aqueles que ficaram de fora esperar o fim da 'viagem' para contar mortos e feridos e saber quem volta e quem não voltará. Lamentar eu já sei que é perda de tempo, muitas vezes quem se lamente e se culpa não tem nada para se culpar. Quantas vezes eu verei essa face novamente?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sociologia x Biologia

Só para avisar ambos os profissionais da área, esse é um assunto que ainda pretendo me aprofundar. Isso quer dizer que só irei dar uam idéia geral.

Os sociólogos tentam entender o início da sociedade e invariavelmente tocam nos primeiros seres humanos e nos homo sapiens. O mais engraçado entretanto é que não entendem chongas de Biologia e sempre tentam colocar as coisas pelo filtro valorativo dos estudos sociológicos. Eu estava lendo um texto do Clifford Geertz e outro do Berger e do Luckman falando sobre o nascimento da cultura e das instituições.

Realmente eles falaram muito de Biologia, mas não citaram nenhum biólogo. O que mais me chamou a atenção foi descobrir que existe uma área da biologia chamada Sócio-biologia, pois o ser humano é um animal social com todas as implicações do termo. E os sociólogos me chegam ao final das suas análises chegando a essa mesma conlusão através de um caminho para lá de tortuoso. Devido a enorme complexidade da cultura humana os socioólogos, para justificarem sua existência acabam valorizando o homem como se este não fosse um animal. A única coisa que eu concordo é que o aspecto mais particular do ser humano é a sua linguagem. Não é a única, mas é a mais complexa. A existência de uma cultura ou de uma sociedade não é suficiente para anular a condição animal do ser humano. Eu acredito nos instintos, embora eu ache, por exemplo, que o instinto pode fazer com que dois homens se sintam sexualmente atraídos um pelo outro. Eu não posso provar a minha hipótese, preciso de mais leitura no âmbito da biologia, mas para falar de sociedade e cultura a posteriori eu não precisaria entender de biologia. Porque então meter o bedelho nessa área? Eu tenho uma hipótese: A ciência tem credibilidade, ela pode ser provada empiricamente (dados, números, gráficos, matemática). Diferente das Humanas onde a maior e melhor metodologia é a dialética (que as pessoas tem preguiça de entender, acompanhar ou ler).

A dialética não tem Qualis da Capes, não entra em avaliações de pós, não rende bolsas de estudo, não dá dinheiro. E a pesquisa hoje é um grande negócio onde os números provam a qualidade, mesmo que não façam o menor sentido dentro do campo do conhecimento que vc trabalhe. E vou falar a verdade, eu odiei o estruturalismo que colocou as ciências humanas nessa lógica científica e detesto ainda mais essa idéia cartesiana de que temos que provar nossos pontos de vista. Esse excesso de especialização e falta de "dialética" me faz sentir falta do tempo onde a maioria do conhecimento fazia parte da filosofia.

Na falta de alternativa, vou estudar socio-biologia e sociologia para apontar um novo ponto de vista. Se é para falar de evolução humana, que a entendamos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Falando de métodos contraceptivos...

A pílula faz 50 anos esse mês. Parabéns(?)(!)

Bom, como o outro tema rendeu (e eu gostaria de agradecer imensamente todas as contribuições que foram para mim muito frutíferas) eu resolvi continuar um pouco mais nele. O direito a maternidade sempre toca na questão do aborto. Tanto é que mesmo tentando falar de escolha como um ponto geral, eu me apoiei justamente numa reportagem sobre o aborto para ilustrar a questão da escolha.

Depois de ler atentamente todos os comentário, vou tentar responder alguns e para outros eu realmente não tenho respostas, e sim dúvidas. A minha área, pos incrível que pareça, é Literatura e eu trabalho com práticas socias numa vertente feminista. O meu foco é representação da maternidade olhando ambas as perspectivas, de mãe e filha. Mas sem mais delongas, ao aborto (ou a pílula?)

O que mais me deixou feliz com o post anterior foram os comentários de mulheres que fizeram abortos e não se arrependeram. Esses depoimentos servem um pouco para desmistificar o famoso arrependimento pós-aborto. Posso até acrescentar que pessoas imaginativas como eu chegam a pensar que após um aborto nasce uma verruga no seu nariz ou você se depara com algo como o coração do conto do Poe que fica batendo nos ouvidos do assassino sem parar para denunciá-lo a ele mesmo.

Brincadeiras a parte, o arrependimento não bate porque não é esse bicho de sete cabeças que todo mundo prega. Eu nunca fiz um aborto, acho que o medo da minha mãe me fazia criar uma capsula protetora em torno do meu óvulo que repelia espermatozóides. Mas eu não tinha como evitar uma gravidez por vias normais. Nunca entedi bem porque a minha mãe comprava camisinhas para o meu irmão mais velho que não as usava e para mim só absorvente. Eu roubava as camisinhas do meu irmão, mas quando se é adolescente e se tem que fazer essas coisas escondido "shits happens" (podemos falar de imaturidade). Falta de tempo, lugar, orientação... Faz tempo que eu não vejo uma campanha de distribuição de camisinhas ou dizendo que os hospitais públicos fornecem anticoncepcionais de graça. Será que isso acabou? E quem sabia disso quando era adolescente (se existia essa política na época)?

Eu não sabia, mas sabia muito bem que nas condições que eu vivia era melhor vender a alma para pagar um aborto do que encarar todas as consequencias do que viria depois. É por isso que eu sou a favor do aborto mesmo em casos de "desleixo". Não acho justo condenar um jovem infrator a ficar na prisão até os 18 anos e a jovem "infratora da moral e dos bons costumes" ser condenada a miséria e ao sacrifício para o resto da vida. Se as famílias proporcionassem aos filhos (de ambos os sexos) uma orientação sexual não punitiva e efetiva eu não seria de todo contra a uma lei um pouco mais restritiva. Se bem que sempre sou tentada a desejar uma permissão total do aborto. Depois de um certo grau de esclarecimento da população, acredito que ele não seria tão mais empregado.

O fato é que faz 50 anos que temos a pílula e as meninas ainda ficam grávidas com 13, 14, 15 anos. O acesso é difícil, os efeitos colaterais são muitos e os métodos contraceptivos masculinos são muito primitivos. Porque não uma pílula masculina? Porque só o Viagra? E o que será daqui a 50 anos?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O direito ou o dever de ser mãe?

Já que o povo tá numa de discutir cidadania, eu resolvi debater um tema polêmico no meu bloguim. Por favor, pessoas, comentem. Isso pode ajudar bastante na minha pesquisa. Recentemente eu li uma reportagem atrasada na Veja falando sobre o aborto. Nela apareciam dois médicos que diziam sobre como procediam com suas pacientes caso elas quisessem fazer o procedimento e além disso possuia algumas entrevistas.

Dos dois médicos um se dizia a favor e o outro dizia-se contra, mas prestava auxílio às suas pacientes mesmo assim. O que era a favor não praticava o aborto, mas dizia a sua paciente o melhor período ou técnica para realizar o procedimento. Quando perguntados a respeito do que os levavam a essa atitude, ambos responderam ser impossível evitar que a paciente tomasse uma decisão contra o aborto caso elas estivessem realmente decididas, mas também não queriam se sentir responsáveis pela morte da paciente. Bom, a Veja conseguiu colocar os números alarmantes achando que era uma falta de informação eu percebi uma tendência anti-abortiva na notícia. Porque? A maioria das mulheres que fizeram o aborto e foram entrevistadas responderam que não foi uma decisão fácil e apenas uma disse que não se arrependeu.

Como não seria uma decisão difícil essa é a minha pergunta. Onde e quando ouvimos um discurso pregando que as mulheres não devam ter filhos? Ser mulher é ser mãe. A mulher que não é mãe e vista como uma pessoa seca, estranha e egoísta pela maioria das pessoas. E digo mais, depois que a mulher vira mãe ela deixa de ser o que era antes para se tornar a "mãe do fulaninho". É uma perda da individualidade para uma nova condição onde o filho é indivíduo que tem importância. Tanto é assim que a lei anti-aborto visa defender o feto como se ele, independentemente da fase da gestação, não fosse só um indivíduo, e sim um cidadão com direitos civis. Nessa disputa a mulher é o cidadão de segunda classe.

Eu posso estar parecendo bem rude, mas esse é um tema onde as pessoas tem muita dificuldade em enxergar outro ponto de vista. Os discursos sociais que envolvem a maternidade buscam uma naturalização de um desejo e um amor que não é "natural" nesse modo. A mulher que não baba por seu filho e não seria capaz de morrer por ele se colocando em primeiro plano é um monstro. Mas é estranho ao mesmo tempo. A medicina e a tecnologia de alimentos estão tão desenvolvidas que esse comportamento não é mais essencial para a sobrevivência das crianças. Porque as amarras ainda são tão apertadas?

Outra coisa interessante a se pensar é o porque a mulher decide ter um filho (e nisso, mães, talvez possam me ajudar). Eu não sou muito fã de colocar o lado biológico em discussão pois essa não é a minha área. Eu acho mais provável a mulher ter vontade de copular no período fértil do que ter vontade de ter um filho. Mas enfim, quem não sofreu nenhuma pressãozinha por parte de outras pessoas para adquirir o status de mãe? Afinal, é estranho, pega mal, depois de uma certa idade, nada. É bom pensar, afinal, depois dos quarenta é sempre arriscado, e você não vai ter pique para se matar de trabalhar e cuidar do filho ao mesmo tempo. Além do mais, vovó quer netinhos, irmãos querem sobrinhos, sobrinhos querem primos... Até que ponto essa vontade de ser mãe é algo legítimo da mulher?

Nós somos adestrada para uma penca de coisas que conseguimos detectar, mas porque a maternidade é tão difícil de entrar nesse hall? Quase a maioria das mulheres da reportagem afirmou ter se arrependido de ter feito o aborto. Porque será? Será que tem alguma relação do discurso social pregar que uma mulher que aborta é uma assassina fria e sem coração? Será que não tem nenhuma voz dizendo "arrependa-se e serás menos monstra". Esse arrependimento é um discurso. Quando se criou a idéia do amor maternal, no séc XIX (ou XVIII) com Rousseau, apenas às mulheres das classes mais altas era permitido (ou dado o luxo) de sentir amor maternal. As trabalhadoras tinham uma jornada tão puxada que mal conseguiam amamentar seus bebês. Eram tão doentes que a mortalidade infantil era altíssima. Também eram pouco afetadas pelo discurso da família, pois em grande parte eram mães solteiras. As operárias e empregadas domésticas praticavam com frequência o aborto ou o infanticídio por falta de condições tanto de sustentar financeiramente os filhos como socialmente o status e o peso que carregavam. Mas não era interessante para a indústria da época ter pouca mão de obra e por isso continuou-se pregando que as mulheres deveriam ter filhos. E já que a quantidade foi se reduzindo ao longo dos anos, melhor era cuidar da mulher grávida para que o filho nascesse com saúde e conseguisse chegar na idade para produzir. Qualidade passou a ser melhor do que quantidade.

Será que não existe amor materno? Muitas vão dizer que é preciso ter um filho para saber. Existem mulheres que nunca poderão ter um filho. Esse discurso é uma injustiça com elas assim como o dia das mães para um órfão. Essa obrigação gera uma demanda louca por técnicas de reprodução. A mulher deve fazer tudo o que puder para alcançar a plenitude da sua condição (e depois da maternidade é a decadência). O amor materno é um discurso - ama-se um ser que não existe a não ser no imaginário. A mulher deve gostar de crianças antes mesmo de ser mãe e se não gosta, quando for passará a gostar. Por isso o arrependimento ao fazer o aborto, pois as mulheres são levadas a amar o bebê mesmo abominando a simples idéia de estar grávida. Eu acredito sim que a mãe pode amar o seu filho, mas é algo a posteriori e não a priori. Eu também posso estar errada, mas porque então ainda existe uma taxa tão alarmante de abortos praticados em todas as classes sociais? Não seria mais fácil tornar o aborto menos traumático para as mulheres que não desejam ter filhos visto que é uma cirurgia relativamente simples?

Concordem, discordem, acrescentem... Adoraria que comentassem (quem conseguiu chegar até aqui).

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Voto nulo

Eu li hoje um post no blog da Lola que me deixou um pouco desconfortável e por isso resolvi dar a minha opinião no meu blog. Não para provocar ou atacar, apenas porque não acho legal ficar enchendo os comments dela com o meu ponto de vista.

Bom, eu não sou da mesma geração da Lola e era muito pequena na época da redemocratização do país. Não tenho esse gostinho por votar que ela revelou ter principalmente por sua história e pelos acontecimentos que presenciou. Mas não me considero uma pessoa que não sabe dar valor às conquistas passadas do meu país. Antes de começar a votar eu acompanhei o ânimo dos meus pais em todas as eleições sempre apoiando o Lula e o PT. As duas primeiras vezes que votei para presidente, votei nele. O primeiro mandato do Lula teve sim a minha contribuição. Tentei inclusive colocar mais deputados e senadores do PT no Congresso.

Em muitas coisas eu não tenho motivos para reclamar. Mas confesso que esperava, inocentemente, uma mudança maior. Fiquei muito decepcionada ao ver os petistas enfiando os pés pelas mãos ao administrar a máquina pública. Não esqueço Delúbio, Daniel Dantas, Paloci, Zé Dirceu... Devo reforçar que ainda tenho essa visão ingênua. Não quero votar no menos pior. Não posso mais apoiar um partido que se mostrou muito parecido com a direita e que não honrou a imagem de honestidade que sempre pregou. A impunidade e a corrupção continuam e nada foi feito no sentido de reforçar os mecanimos de punição aos políticos corruptos. O foro previlegiado só me envergonha pois a muito deixou de ser usado para debater idéias e só tem sido usado para defender ladrões.

Eu me decepicionei com o PT e não voto na Dilma só porque ela é mulher. Não voto na Marina porque ela é crente e eu não aprovo a política da bancada evangélica que muito provavelmente será uma de suas bases no governo. Eu não voto no Serra porque não considero que o FHC fez um bom governo e não quero as oligarquias de volta ao topo (muito embora elas não tenham saído do comando). Eu não acho que nenhum desses candidatos tem reais intenções de fazer a reforma política ou a reforma tributária nem realizar uma nova constituinte. Vão continuar governando a base de MPs e afins. E muito menos a parte que mais me interessa, um investimento pesado na Educação. A UnB está a mais de 50 dias em greve e ninguém no governo parece realmente preocupado com isso.

Também não voto mais no PT porque ele fez alianças assombrosas, inclusive com o Sarney. Mas quem concorda com algum dos três candidatos citados acima que vote neles. Mas e quem não concorda? Vota no menos pior? Eu acho isso jogar o voto fora. É uma violência além de não concordar com a obrigatoriedade do voto ser obrigada a votar sem concordar com as propostas e as condutas dos candidatos e partidos. Isso é realmente consciência política?

Eu não acho que uma pessoa que vote nulo não possa reclamar da política. Pelo contrário. O governo deve governar a todos, é para todos. Inclusive para aqueles que não transferem o título e justificam. Eu concordo que o cidadão que não participa da política deixa a brecha para aqueles que se valem dela apenas para o bem próprio. Mas vamos e convenhamos, votar no cara sem nem saber quem são os membros do partido dele, quem são os lobbys que o apoiam, qual é a política característica do partido dele também não é consentir com o cenário atual? E será que votar é a única forma de exercer sua cidadania? O que fazemos nos 4 anos que intercalam uma eleição da outra?

domingo, 2 de maio de 2010

Falando de... Política?

Hoje eu coloquei a minha vergonha de novo na cara e decidi escrever no blog. Afinal, o café é velho, mas não precisa criar fungo (será q isso acontece com café? hum...). E como a primeira coisa que meu TOC de blogueira me ensinou foi atualizar as leituras antes de começar a blogar, afinal, nada pior do que repetir um tema. A gente pode até escrever sobre o mesmo assunto, mas dentro da sua rede, é indelicado continuar um assunto sem citar o blogueiro que comentou primeiro. É quase um texto acadêmico, tem que citar as fontes. hehe

Pois então. Nessa brincadeira eu começo sempre pelos mais atuais ou aqueles que eu ainda não li. Posso ficar longos períodos sem blogar, mas estou sempre lendo. Foi então que tive uma alegre surpresa e uma chocante constatação. Estava lendo um dos meus blogs favoritos (e não digo para puxar o saco ou retribuir o elogio, digo pq é verdade), o blog da Luci, caso me esqueçam, quando percebi que ela me elencou como um dos seus blogs favoritos. Na hora e minha reação foi "hein?". É meio estranho quando alguém que você admira ou acha muito legal pensa o mesmo de você. Eu sempre fico chocada. Não reajo muito bem a elogios desde a infância. Fiz terapia e tudo, mas ainda tenho aquela primeira reação automática de incredulidade. Passado o primeiro susto, fui ler o porquê dela ter me colocado no ranking. Voilà, choque número 2: um blog de uma brasiliense que fala de política. E incrivelmente ela disse que eu falo sobre o tema de forma séria. "Hein?"

Tive que averiguar essa informação. Eu não acho que eu entenda de política e isso me faz sentir um pouco aleijada. Não tenho uma boa base, afinal, estudei numa escola onde as pessoas só queriam entrar na UnB e quando entrei foi pra fazer o curso de Letras. Tenho uma cabeça péssima. Nunca lembro quem foi a UDN ou ARENA, quem eram os políticos de cada lado e no fundo sempre tenho a impressão que a diferença é "seis" e "meia dúzia". Mas não é que a Luci tem razão. Acho que em quase todos os temas eu tento dar um enfoque "político" no sentido amplo do termo. Será esse o meu hobby? Alguns cozinham, são aficcionadas por cinema, fazem croché e eu meto meu nariz na política só pra colocar o meu ponto de vista leigo.

Que seja então. Afinal de contas, "o pessoal é político".