terça-feira, 10 de agosto de 2010

Vamos sair do eixo!

Televisão, internet, jornal... literatura. Tudo parece um pouco mais do mesmo. Vemos sempre as mesmas identidades que não as nossas. Conhecemos bem os hábitos paulistas e cariocas. A Mooca e a Lapa, o boêmio e o empresário, esteriótipos e marginalizados. Nesse eixo todos tem mais vez. E eu? E nós?

Teremos que sair de nossa cidade, de nossas vidas para nos identificarmos com alguém, com algo? O que é um brasiliense? Ou melhor, uma brasiliense? Passo meus domingos de sol no Parque da Cidade, no eixão, num churrasco na casa de alguém que tem casa. Sábado é buteco, ele pode ser na 8, na 10, na 4 sul, norte... Um brasiliense sabe onde fica e não vai perder a cerveja. Sem falar naquele almoço de domingo a céu aberto no Faisão Dourado que não vende faisão.

Mas eu tenho que ouvir falar de praia, de balada paulista e achar que aqui não tem nada pra fazer. Sou obrigada a me lamentar porque não temos peças toda semana com atores globais no teatro (realmente eu não me lamento). Sou obrigada a me sentir uma capial e ser levada a conhecer a Av. Paulista com seus estupendos arranha-céus que são iguais a qualquer prédio de Brasília, só que nós temos limite de altura. Eu vivo numa cidade que é a ambientação perfeita para um filme de ficção científica dos anos 80 e ninguém sabe. Será que preciso contar? Existe um mundo paralelo que aflora nessa cidade durante as noites. A periferia, os excluídos convivem com a elite na W3 Norte. Prostitutas e traficantes saem de trás da comercial da 500 de onde sempre estiveram e aparecem nas luzes. Brasília revela sua outra sedução, mas "ninguém" pode/quer ver.

As calçadas quebradas e abandonadas de uma cidade que insiste em achar que não tem vida obriga seus transeuntes a fincar os pés na grama. Como formigas nós marcamos nossa trilha, nosso caminho na grama e na frieza do concreto que insiste em ser impessoal. Aqui muitas vezes não conhecemos nosso vizinho, mas ninguém se importa com isso. Estamos o tempo todo em contato com o mundo no celular, na internet, mas o mundo não respode. Porque será que ele não quer nos ver?

Vamos sair do eixo. A cidade existe mesmo sem você nos ver.