terça-feira, 13 de julho de 2010

Preguiça ou desânimo?

É tudo a mesma coisa ou são coisas diferentes? Eu pensei em escrever aqui o que eu achava do caso Bruno, Mércia, da cabeleireira que eu esqueci o nome pq só passou uma vez na tv, do caso da menina estuprada pelo playba do filho do dono da TV Globo no Sul... Mas muitas coisas me impediram.

Bom, primeiro que a imprensa mostra, julga e condena em uma semana qualquer que seja, vítima ou condenado. Depois que o sua sentença está posta ela parte para os detalhes sórdidos. Quase um "chá com o legista", achando muito natural todas as escabrosidades cometidas por psicopatas. Sabe como é, os canais que não passam CSI arrumam rapidinho uma versão nacional com toques de veracidade. Depois desse show de horrores, eu sempre fico de cara com a incapacidade da mídia brasileira em discutir algo realmente sério em todas essas questões: porque essas mulheres foram mortas? Um amigo meu policial enxergaria claramente uma diferença entre esses crimes: um teria sido motivado por ciúmes e o outro por dinheiro. No primeiro ele enxergaria claramente uma razão sexista, mas preferiria achar que é normal, pois mulheres também matam seus parceiros por ciúmes. Seria então um problema psicológico dos autores. No segundo, nada de sexismo, afinal, era um cara que não queria pagar pensão para a mãe do filho acreditando que ela era uma vagabunda.

Aí vem a preguiça, ou melhor dizendo, o desânimo. Explicar isso é difícil pois leva tempo e muitos ouvintes acham que a gente fica batendo na mesma tecla achando que a causa de todos os problemas do mundo é um tal de sexismo. Eu concordo que muitos parceiros matam seus conjuges por ciúmes independente do sexo, mas eu tenho certeza, e isso sem olhar as estatísticas, que a maior parte das vítimas é mulher. E não digo só que no caso da advogada o único motivador foi ciúmes. Foi ódio, raiva, indignação. O ex ficou furioso em saber que a ex não precisava dele para nada, nem financeira nem emocionalmente. Ela não dependia dele e ele não tinha poder sobre ela. Não tendo poder sobre ela ele não a controla e isso fere sua masculinidade. Todo mundo sabe dos ditos populares e etc que espera-se que o homem mande na mulher? No caso do Bruno, parece que tem essa questão e uma outra: a da mulher pública x a mulher privada. O homem, se eu puder situar diria que mais depois do período vitoriano, tem bem dividido em sua mente a imagem da esposa casta e mãe de seus filhos (que se casou virgem com ele) e a outra da mulher sedutora e sexual que se afastaria totalmente da maternidade e do status de esposa. Ou seja, uma serve para cuidar da casa, ter filhos e cuidar deles e a satisfação sexual dela não é tema importante. Basta que reproduza e eduque a prole. A outra é a satisfação do impulso, da libido. O dinheiro nesse caso serve para o homem exercer o poder sobre ela, já que seu sexo não é dele e sim dela.

A Elisa provavelmente se encaixava no segundo tipo, mas nem sei dizer se recebia pra isso ou se somente gostava do que fazia. Mas ela quebrou o paradigma de mulher sexual se tornou mulher-mãe. Como? O goleiro deve ter pensado "quem é essa mulher pra me pedir qualquer coisa?". Certamente porque fêz com ela coisas que nunca pensou que uma "mulher direita" faria. Já que para ele a amante não tinha moral nenhuma para exigir nada, ele se julgava muito poderoso em relação a ela. Tanto que deu no que deu. Qual seria outro motivo? Porque um dos jogadores mais bem pagos do Flamengo se enfureceria em ter que pagar uma pensão merreca em comparação ao seu soldo para um filho que era legítimo?

No final, eu concluo sentindo pena por essas mulheres que confiaram nos homens que em certo ponto amaram e que por eles encontraram a morte. Sinto pena dessas mulheres ingênuas que não colocaram advogados entre elas e seus ex. Sinto pena das mulheres que acreditam que depender de um homem ainda é a forma mais fácil de ganhar a vida. Sinto pena das que ainda praticam o golpe da barriga. E acima de tudo, sinto pena daqueles que acham que isso tudo não existe, pois talvez esses não até sejam, mas certamente acobertam muitos outros que o são.